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Estágio Probatório e Avaliação de Desempenho: pré-requisitos para a

1 O ESTÁGIO PROBATÓRIO PARA PROFESSORES NA REDE MUNICIPAL DE

1.4 Estágio Probatório e Avaliação de Desempenho: pré-requisitos para a

Conforme previsto na Constituição Federal (BRASIL, 2012, art. 41) e no Estatuto do Servidor (BELO HORIZONTE, 1996b, art. 30), depois da lotação e do ato de posse, o professor inicia o exercício de suas atividades docentes, tendo que cumprir três anos de efetivo trabalho até a aquisição da estabilidade no cargo. Cabe sublinhar que esse período de três anos de efetivo trabalho, compreendido entre o início do exercício profissional e a aquisição da estabilidade, é denominado estágio probatório. De acordo com Reinaldo Bruno e Manolo Olmo, o estágio probatório é

[...] o período estabelecido nos Estatutos dos Servidores Públicos, e que impõe ao servidor ingressante, regularmente investido em cargo público, mediante aprovação prévia em concurso público, a

submissão à avaliação de seu desempenho funcional, objetivando assegurar, para a Administração, uma atuação funcional eficiente (BRUNO; OLMO, 2006, p. 114).

De acordo com esses autores, durante o período probatório, a atuação do servidor deverá ser avaliada por seus superiores hierárquicos, tendo como referência os aspectos objetivos relacionados ao seu desempenho profissional, como “assiduidade, disciplina, capacidade de iniciativa, produtividade, responsabilidade” (BRUNO; OLMO, 2006, p. 115).

Em consonância com a Constituição Federal (BRASIL, 2012, art. 41, parágrafo 4º), o Estatuto do Servidor (BELO HORIZONTE, 1996b, art. 30) estabelece a aquisição da estabilidade no cargo, após o período do estágio probatório mediante avaliações de desempenho14 satisfatórias. De acordo com esse Estatuto, os servidores municipais serão avaliados sobre os seguintes aspectos:

I - desempenho satisfatório das atribuições do cargo;

II - participação em atividades de aperfeiçoamento, relacionadas com atribuições específicas do cargo;

III - disponibilidade para discutir questões relacionadas com as condições de trabalho e com as finalidades da administração pública; IV - elaboração de trabalhos ou pesquisa visando o melhor desempenho do serviço público;

V - iniciativa na busca de opções para melhor desempenho no serviço;

VI - observância de todos os deveres inerentes ao exercício do cargo (BELO HORIZONTE, 1996b, art. 30).

Entretanto, cabe ressaltar que, nessa fase, o professor recém-nomeado na Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte (RME/BH) não passa por nenhum processo de formação específico que vise sua capacitação ao exercício da docência e nem mesmo por um acompanhamento sistemático de profissionais da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (SMED/BH) ou da própria escola onde o servidor se encontra lotado. Corroborando a essa ideia, a professora Marina (entrevista cedida em 10 de maio de 2012) afirma que: “A situação é essa! É assim que a coisa é jogada pra nós. Não tem um trabalho! Como é que faz? O que é pra fazer? A gente vai aprendendo na marra”.

14 A avaliação de desempenho é prevista no Estatuto dos Servidores Públicos Municipais desde a

A falta de ações voltadas para a inserção do professor demonstra que, de maneira geral, as escolas agem como se o professor recém-empossado estivesse capacitado para o exercício da profissão. Entretanto, o que ocorre, em grande parte, é a aprendizagem através da prática, por erros e acertos conforme exposto pela professora. Helena Pereira, em seu depoimento, reafirma essa condição docente.

O estágio probatório, em minha opinião, não funciona na PBH, como não funciona em todas as experiências que eu conheço. Não conheço nenhuma experiência exitosa de avaliação do estágio probatório (gestora municipal Helena Pereira, entrevista cedida em 1º novembro de 2011).

Note que a atuação eficiente do professor durante o estágio probatório, é a condição para que ele seja considerado estável. No entanto, nem sempre a SMED/BH oferece a ele as condições necessárias para sua adaptação ao ambiente escolar e para o seu desenvolvimento profissional nessa fase inicial da carreira na RME/BH. O foco de análise desta pesquisa parte dessa constatação.

É significativamente emblemático um episódio que pude presenciar participando de um workshop, realizado pela Fundação Dom Cabral com professores e gestores da SMED/BH e das escolas de Ensino Fundamental da PBH. No referido evento se discutia as competências necessárias para o exercício da profissão, buscando, então, a definição de um perfil ideal. Uma diretora fez a seguinte observação: “os professores novatos chegam às escolas, caem de paraquedas e ficam totalmente perdidos”. Martin Carnoy (2009), em estudo comparativo da educação no Brasil, Chile e Cuba, destaca a importância da supervisão do trabalho do professor para que ele adquira as habilidades necessárias para a prática de um ensino eficaz. Segundo o autor, a maioria deles, se deixada à própria sorte, se tornará ineficaz, sem ao menos perceber ou se importar com isso. Portanto, ele adverte sobre a responsabilidade dos gestores de criar oportunidades para que os professores possam se desenvolver através da experiência cotidiana e, com isso, garantir o funcionamento adequado dos sistemas educacionais. Uma vez que a RME/BH não supervisiona o trabalho pedagógico e não promove ações formativas específicas para o professor durante o estágio probatório, como avaliar o seu desempenho funcional, sem incorrer em uma cobrança, sem nenhum investimento prévio? Talvez esta seja uma justificativa para o atual modelo de avaliação utilizado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

É importante esclarecer que a avaliação citada é a mesma utilizada para os demais professores estáveis para progressão profissional15 e ocorrem com a mesma periodicidade. Ou seja, não há uma avaliação específica para verificar o desempenho dos profissionais sem estabilidade. Por isso, considera-se esse outro ponto frágil do processo de seleção, pois além dos recém-admitidos terem a certeza da aquisição da estabilidade, diante do atual modelo de avaliação, a SMED/BH não faz um acompanhamento sistemático desses profissionais. Dessa forma, a Secretaria de Educação perde a oportunidade de capacitar o professor iniciante e de avaliar adequadamente o seu desempenho.

De acordo com a Constituição Federal (BRASIL, 2012), o processo de avaliação deve ser realizado periodicamente e os resultados devem ser apresentados aos servidores, garantindo-lhes o direito de contraditar e defender-se quanto aos conceitos recebidos. Dessa forma, o estágio probatório pode se tornar uma oportunidade de diálogo formador entre a Administração e os servidores, uma vez que ele possibilita a realização de intervenções, antes que os professores recém-ingressos sejam considerados estáveis no serviço público.

A forma como o estágio probatório e a avaliação de desempenho funcional acontecem atualmente na RME/BH pode impactar negativamente o desempenho profissional dos professores recém-ingressos, bem como o desempenho dos estudantes, pois a docência nas escolas públicas municipais, conforme apresentado anteriormente, tem suas especificidades que demandam professores competentes para trabalhar com o público atendido.

Constatada a ausência de um programa sistemático de apoio e acompanhamento dos professores durante o estágio probatório, tornou-se necessário investigar, no contexto da escola, como vem ocorrendo a inserção desses profissionais. Antes de proceder à investigação proposta, na próxima seção, apresento o perfil das duas escolas selecionadas para o estudo de caso.

15

“Progressão Profissional é a promoção do servidor ao nível imediatamente superior ao de sua respectiva classe. Representa um acréscimo de 5% (cinco por cento) do vencimento, conforme a tabela de vencimentos dos cargos efetivos do Plano de Carreira. Ela ocorre a cada 1095 dias ou três anos de efetivo exercício e é concedida ao servidor aprovado na Avaliação de Desempenho” (BELO HORIZONTE, 2011b, site).

1.5 Exercício Profissional: o início da carreira pública municipal no contexto da