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Inicialmente, é relevante evidenciar o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo no Brasil, o qual é celebrado na data de vinte e oito de janeiro, este foi instituído no ano de 2009 e faz condecoração aos auditores fiscais brutalmente assassinados durante uma investigação cujo intuito era averiguar denúncias anônimas de trabalho em condições análogas à de escravo no estado de Minas Gerais, em 2004. (RAMOS, 2015 p. 1).

A Organização Internacional do Trabalho, através do seu Projeto de Combate ao Trabalho Escravo no Brasil, destacou que, apesar de numerosos problemas existenciais no país e diante de sua cultura entranhada, o mesmo tem apresentado avanços no que se refere ao assunto, tornando-se referência mundial à erradicação do crime previsto no artigo 149 do Código Penal Brasileiro (OIT, 2019 p. 1).

A princípio, em 1995, realizou-se a criação do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado - GERTRAF, o qual possuía, como principal objeto, a condenação do trabalho escravo contemporâneo, que utilizava o modo de execução do trabalho forçado. Porém, somente em abril do ano de 2002, juntamente com a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil desenvolveu o projeto denominado Combate ao Trabalho Escravo no Brasil, com o propósito de fortificar as entidades nacionais, cujas finalidades tornaram-se as mesmas: resguardar os direitos humanos dos desfavorecidos (OIT, 2019, p. 1).

Costa complementa, demonstrando a importância do projeto para o auxílio dos resultados das uniões entre as entidades governamentais e as não governamentais, contribuindo com a finalidade de prevenir o crime de escravidão moderna, provendo a recapacitação do neoescravo em meio à sociedade. Em razão de o ex-escravo ter passado pelo sistema da escravidão moderna, o mesmo sente-se hesitante em relação a viabilidade de outras obrigações, portando graves consequências que a escravização contemporânea lhe ocasionou. Em vista disto, pode-se ratificar que a Organização Internacional do Trabalho, implementa condutas, cooperando com o Brasil na coibição do trabalho em condições análogas à de escravo (2010, p. 126).

Hodiernamente, a CONATRAE - Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo - apresenta maior exercício no meio jurídico brasileiro. A Comissão foi

criada em 2003 mediante decreto presidencial e compreende distintas entidades que tencionam abolir a neoescravidão. Ela é composta por representantes dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e, conta, ainda, com a cooperação de segmentos da sociedade civil (COETRAE, 2019, p. 1).

A mesma tem a finalidade de fiscalizar e de acompanhar as metas ratificadas em um agrupamento de ações estabelecidas pelo governo brasileiro no Acordo de Solução Amistosa, firmado perante a Organização dos Estados Americanos (OEA) junto à Organização Internacional do Trabalho. A entidade obteve significativos efeitos no Brasil e tem auxiliado em amplos aspectos no que diz respeito ao trabalho em condições análogas à de escravo (CONATRAE, 2019, p. 1).

Acerca do assunto, Casado Filho declara que

A Comissão não tem função jurisdicional, mas exerce uma enorme influência sobre os países-membros. É ela que recebe as denúncias de violações que lhe são apresentadas pelas vítimas ou por quaisquer pessoas ou organizações não governamentais, contra atos que violam os direitos fundamentais por parte dos Estados ou que não tenham encontrado reconhecimento ou proteção por parte dos mesmos Estados. Tal fato faz com que a Comissão tenha uma função, nesta área, semelhante à atuação do Ministério Público.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos processa essas denúncias, e, após examiná-las e admiti-las, faz recomendações aos Estados. Ao final, decide se apresenta ou não o caso à Corte Interamericana. Assim, a Corte só passa a decidir sobre os casos que lhe são apresentados pela Comissão ou por um Estado-parte (2012, p. 87).

O autor acrescenta que, apesar de a Comissão não ser um órgão jurisdicional, trata-se de um importante defensor da repressão ao crime descrito no artigo 149 do Código Penal Brasileiro.

Outra importante referência pertence ao projeto instaurado pela Portaria nº 540/2004 do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM), é conhecido como “lista suja”, a qual é integrada pelas identificações dos empregadores flagrados expondo os trabalhadores ao regime de trabalho de condições análogas à de escravo. Tal lista permanece exposta perante toda a sociedade, acarretando malefícios às empresas contidas na mesma, as quais passam a não ter acesso a financiamentos bancários, como, por exemplo, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e do Banco do Brasil, os quais assinaram o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (FERNANDES, 2019, p. 1).

A atualização da mesma é realizada semestralmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o qual divulgou, em abril de 2019, os estados contidos na Lista Suja, como demonstra a imagem a seguir:

Figura 4 – Ranking do trabalho escravo por região do Brasil

Fonte: Fernandes (2019, p. 1).

Contudo, é meritório elencar que os grupos móveis auxiliam na fiscalização do trabalho análogo à condição de escravidão, sendo que os mesmos são integrados por auditores fiscais do Trabalho e, ainda, por procuradores, policiais federais. Sakamoto, coordenador do Órgão Não Governamental Repórter Brasil discorre sobre o tema, afirmando que

Em 1995, atendendo a reivindicações da sociedade civil, o governo federal criou os grupos móveis de fiscalização com o objetivo de averiguar as condições a que estão expostos trabalhadores rurais, principalmente em locais remotos. Quando encontram irregularidades, como trabalho escravo, trabalho infantil e superexploração do trabalho aplicam autos de infração que geram multas, além de garantir que os direitos sejam pagos aos empregados. Auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), agentes e delegados da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT) integram esses grupos. Hoje, são sete equipes – podendo se desdobrar em 14 – que rodam o país e respondem diretamente a Brasília (2006, p. 54).

Ainda complementa, argumentando que

De 1995 até 2005, 17.983 pessoas foram libertadas em ações dos grupos móveis de fiscalização, integrados por auditores fiscais do Trabalho, procuradores do Trabalho e policiais federais. No total, foram 1.463 propriedades fiscalizadas em 395 operações. As ações fiscais demonstram que quem escraviza no Brasil não são proprietários desinformados, escondidos em fazendas atrasadas e arcaicas. Pelo contrário, são latifundiários, muitos produzindo com alta tecnologia para o mercado consumidor interno ou para o mercado internacional. Não raro nas fazendas são identificados campos de pouso de aviões. O gado recebe tratamento de primeira, enquanto os trabalhadores vivem em condições piores do que as dos animais (SAKAMOTO, 2006, p. 24).

Porém, cabe salientar que esta intolerável herança da escravidão irradia da mesma maneira sobre os agentes públicos, aos quais comportava a responsabilidade de erradicar o crime do trabalho em condições análogas à de escravo. Encontram-se relatos de acontecimentos em que agentes, responsáveis pela prevenção do crime abordado, transladaram para a prática do ato ilícito por ambição. Temos, como exemplo, o caso do adolescente José Pereira, que foi vítima do sistema de trabalho em condições análogas à de escravo, na Fazenda Espírito Santo, localizada no Sul do Pará. Este relata que houve cumplicidade dos agentes do estado com os empregadores, perceptível pelo fato de aqueles inibirem as tentativas de saída dos neoescravizados ou de devolverem os mesmos ao âmbito da escravidão contemporânea. Segundo Scaff, as denúncias de tais feitos foram realizadas através de entidades não governamentais (2019, p. 203).

Esse exemplo demonstrou a cumplicidade do estado do Pará na efetivação do crime, a partir da corrupção presente no Brasil. Scaff complementa, dizendo que

Afirmam que as autoridades do Ministério do Trabalho e as da polícia federal não tomaram medidas capazes e eficazes para prevenir, impedir ou reprimir o crime em análise. Por fim, concluíram que o estado brasileiro é omisso quanto ao combate ao trabalho forçado. Isto porque a polícia federal não investigou as denúncias feitas desde 1987 com respeito à Fazenda Espírito Santo (2010, p. 205).

O agente, ao interpor tal sistema aos trabalhadores, está infringindo as leis trabalhistas bem como o artigo 149 do Código Penal, podendo ser penalizado tanto pela Justiça do Trabalho quanto pela Justiça Comum, responsáveis por julgar tais crimes.

É necessário compreender que tal violação aos direitos humanos apenas poderá ser erradicada das três seguintes maneiras: oportunidade de educação para todos, assistência ao neoescravizado libertado e a efetivação da repressão ao crime. Esses requisitos estão inclusos no 2º Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, aprovado no ano de 2008 pela CONATRAE, com o propósito de combater o trabalho em condições análogas à de escravo no Brasil. É importante destacar que tal documento é de prestígio mundial, uma vez que o mesmo é referência para a aniquilação ao crime (CASTRO, 2018, p. 1).

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