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5. FATORES DE INFLUÊNCIA

5.2. Ações do Poder Público

A educação não se trata de uma ação isolada, mas sim de um processo contínuo, de forma efetiva e real. O processo educacional do trânsito, mesmo sendo contínuo, pode ser subdividido em três partes básicas: a educação primária (escolar), a educação técnica (curso de formação de condutores) e a educação contínua (campanhas).

[...] a educação propriamente dita, iniciando-se nos primeiros anos de escolarização (o que não ocorre no Brasil) e prosseguindo por toda uma vida, através de treinamentos específicos e reciclagens; o exame de habilitação e seus requisitos; as campanhas sistemáticas, sobre temas específicos de trânsito (VASCONCELLOS, 1985, p. 77).

A necessidade de inclusão do tema trânsito, no currículo integral educacional, é confirmada através de estudos realizados no campo de educação para o trânsito. É necessário envolver o aluno na temática de conhecimentos da vida social, bem como a criação e prática de novos hábitos, atitudes e comportamentos coerentes (HOFFMANN; LUZ FILHO, 2003).

[...] poucas crianças morrem por não saberem português, matemática, história ou geografia, mas é absolutamente certo que por ano, 3000 crianças morrem no trânsito por não saberem se comportar adequadamente no trânsito (ROZESTRATEN4, 2004 apud CRIANÇA SEGURA BRASIL, 2006, p. 49). O processo educacional brasileiro pode ser considerado deficiente em diversos níveis, permeando desde atividades escolares inadequadas, exames de habilitação falhos, até campanhas realizadas de forma esporádica e sem planejamento (VASCONCELLOS, 1985).

Educar adultos para o trânsito não é tão eficiente quanto educar crianças e adolescentes, isto porque os adultos já passaram do seu processo de formação como indivíduos, possuindo comportamentos já consolidados, exigindo o uso adequado de estratégias especiais, como por exemplo, o marketing social. Outra questão se refere ao fato de que ao educar as crianças, o que se promove é uma mudança em médio e longo prazos, alterando o comportamento adulto (OCDE5, 1993 apud FARIA, 2002).

Ações educativas que promovam a formação e a mudança de atitudes, que por sua vez se materializam em comportamentos adequados, tanto

4 ROZESTRATEN, R.J.A. Psicopedagogia do Trânsito. Princípios da Educação Transversal do Trânsito para Professores do Ensino Fundamental, 2004.

de crianças e adolescentes como de adultos, podem contribuir para um trânsito mais seguro (FARIA, 2002, p. 24).

A educação para o trânsito não faz sentido como disciplina de conteúdo independente, visto que deriva da educação ético-social. Deve permitir ao aluno entender o mundo ao seu redor e seu papel ativo, tornando-o um cidadão livre e responsável, que questiona, resolve problemas e toma decisões acertadas com base nesta análise. Deste modo, a preparação científica e profissional do professor deve ser um elemento chave para a construção dos valores dos alunos, visto que educando de forma ineficaz pode se tornar um agente de confusão e entorpecimento no desenvolvimento normal do aluno (HOFFMANN; LUZ FILHO, 2003).

Para Criança Segura Brasil (2006), o trânsito não deve ser ensinado somente por ensinar, por isso, a capacitação dos professores é essencial, de modo que o profissional conheça bem o conteúdo que irá ensinar sobre o trânsito. Desta forma, o conteúdo pode ser incluído em diversas disciplinas, tornando o assunto interessante e motivador.

Em um estudo realizado pelo Instituto de Seguridad y Educación Vial (ISEV, 2006), onde países da América Latina foram questionados em relação à educação no trânsito, apenas 3 de 11 países abordados capacitam seus educadores para aula de trânsito: El Salvador, Nicarágua e Peru. Em relação ao Brasil, assim como na Argentina e Colômbia, apenas alguns profissionais são capacitados.

5.2.2. Campanhas de conscientização

As denominadas campanhas de prevenção, ou intervenções sociais, entram no contexto conceitual educacional quando não se refere à educação formal e restrita ao âmbito escolar (PERFEITO; HOFFMANN, 2003). A mídia é uma valiosa ferramenta auxiliar na campanha educacional, colaborando para a conscientização dos pais e comunidade em geral em relação às ações de segurança (CRIANÇA SEGURA BRASIL, 2006).

Ao relembrar os seis Es do trânsito seguro, considera-se que o E de Educação pode atuar de diferentes formas, tanto em ambientes escolares, como em centros de formação de condutores (CFC), quanto no âmbito social. Os ambientes escolares e CFC tem como objetivo a aquisição de comportamento e atitudes seguras no trânsito e, aprendizagem técnica e manuseio do veículo, respectivamente. No entanto, a educação em âmbito social, que engloba

as campanhas, deve cobrir as lacunas deixadas pelos dois anteriores (PERFEITO; HOFFMANN, 2003).

Campanhas e outras ações pertinentes ao trânsito não são e não podem ser tarefas exclusivas de governos e algumas categorias profissionais. Ações conjuntas nas suas diversas instâncias são necessárias e importantes. Todos devem contribuir para a formação e conscientização das crianças para no futuro serem agentes contra a violência no trânsito (MÉA; ILHA, 2003). Segundo Waksman e Pirito (2005), ações educativas realizadas com o envolvimento dos pais resultam em melhoria no nível de supervisão e atitudes como modelo de comportamento seguro.

As campanhas têm como papel principal a finalidade de informar. Além disto, a ocorrência das campanhas se dá em virtude da insuficiência dos mecanismos preventivos anteriores e da necessidade de se construir e manter atitudes favoráveis de segurança (PERFEITO; HOFFMANN, 2003).

O ensino na escola de como atravessar a rua diminui o número de vítimas de 5 a 9 anos no trânsito, em média 11% e, crianças de 9 a 12 anos, em 20%. O ensino de como conduzir a bicicleta para crianças entre 6 e 16 anos, diminui cerca de 6% (FERRAZ et al., 2012).

Diversas são as formas e procedimentos das campanhas de educação de trânsito. Essas mobilizações podem ocorrer através de: a) campanhas pela mídia; b) campanhas em empresas, escolas e organizações sociais; c) concursos e prêmios; d) concentrações, carreatas e passeatas; e) veiculação de informações educativas através de outdoors, cartazes, panfletos e cartões. Estas ações foram definidas por Ferraz, Raia Jr. e Bezerra (2008) da seguinte forma:

a) Campanhas pela mídia: Tratam-se das campanhas de educação no trânsito, de iniciativa, principalmente, por parte do poder público, veiculadas pelos grandes órgãos de comunicação: rádio, televisão, jornal e outdoor. Pode ser realizada com dois objetivos: atingir toda a população ou um grupo específico de usuários.

As campanhas dirigidas para um determinado grupo (pedestre, ciclista, motociclista, etc.), abordando aspectos específicos, apresentam melhores resultados, que são maximizados quando as campanhas são acompanhadas da intensificação da fiscalização.

b) Campanhas em empresas, escolas e organizações sociais: São campanhas promovidas pelo poder público, ou por organizações não governamentais que

promovem a educação para o trânsito através de palestras e cursos, tanto em escolas, como em empresas e outras organizações.

c) Concursos e prêmios: Este tipo de campanha procura atingir principalmente estudantes. Os concursos de desenho, redação entre outros, desenvolvidos nas escolas, através da atribuição do prêmio, motiva a participação e promove a reflexão sobre o trânsito entre os alunos.

d) Concentrações, carreatas e passeatas: São realizadas com objetivo de divulgar a importância do comportamento correto das pessoas no trânsito para evitar acidentes. De modo geral, estes eventos são divulgados com auxílio da mídia e distribuição de panfletos informativos e educativos. Contam com a animação de música e outras atrações.

e) Veiculação de informações educativas através de outdoors, cartazes, panfletos e cartões: São outros tipos de procedimentos que visam a divulgação de informações no contexto da educação no trânsito.

Para Waksman e Pirito (2005), “campanhas bem sucedidas incluem estratégias educativas, modificação ambiental e aplicação da legislação”.

A partir do lançamento pela ONU-Organização das Nações Unidas da “Década Mundial de Ações pela Segurança no Trânsito 2011-2020”, o DENATRAN passou a coordenar, por meio do Ministério das Cidades, a campanha “Parada – Pacto Nacional de Redução de Acidentes”, com o objetivo de promover campanhas de conscientização, ações de mobilização e educativas para diminuir o número de mortes e feridos no trânsito (PARADA PELA VIDA, 2013).

Em outubro de 2012, foi lançada a “Campanha Nacional para a Prevenção de Acidentes com Crianças no Trânsito – Paradinha”. O objetivo foi conscientizar pais e responsáveis e alertar as crianças sobre os perigos decorrentes da imprudência no trânsito. A campanha foi desenvolvida com ações em vídeos, materiais gráficos (anúncio, folder e cartaz), peças para parceiros (camisetas infantil e adulto, banner, moldura de foto e faixa), áudio e mídia exterior (busdoor, motodoor, taxidoor, display posto, MUB, vansdoor). Também foram realizadas ações com material digital: mídias sociais (Facebook) e banners para site (PARADA PELA VIDA, 2013).

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