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5. FATORES DE INFLUÊNCIA

5.1. Instrumentos Legais

Cerca de 90% dos países de alta renda dispõem de lei nacional pertinente ao uso de sistemas de retenção para o transporte de crianças em veículos. No entanto, esse número se reduz a apenas 20% dos países de baixa renda. As leis sobre o uso obrigatório de DRI e a vigilância do seu cumprimento contribuem para aumentar o uso dos sistemas de retenção infantil (OMS, 2009).

Para Rozestraten (1986) ocorre uma diminuição nos índices de acidentes quando a fiscalização no trânsito é mais rígida. O que se observa é que quanto mais severas forem as penalidades das infrações das leis e regras do trânsito, menor será a quantidade de acidentes e, consequentemente, menor a quantidade de vítimas fatais e não fatais.

O infrator passa a respeitar e fazer o uso de equipamentos de segurança devido à severidade das penalidades, fazendo-se necessários, além da legislação apropriada, a efetiva fiscalização, no sentido de inibir a desobediência por parte dos usuários, e promover a segurança viária (FERRAZ; RAIA Jr.; BEZERRA, 2008).

Diversas ações têm sido tomadas para mitigar a acidentalidade viária, no entanto, há necessidade de ações mais rápidas e certeiras que proporcionem melhores resultados e maior segurança (WHO, 2013). Assim, se recomenda aos países que legislem de forma abrangente e satisfatória sobre todos os principais fatores de risco, e invistam recursos financeiros e humanos de modo que se faça cumprir as leis, procurando apoio através da sensibilização da opinião pública.

Algumas diretrizes foram sugeridas pela Organização Mundial da Saúde juntamente com a Organização Panamericana de Saúde, tais como promulgar leis de obrigatoriedade no

uso de cadeiras de segurança para crianças e fazê-las cumprir. Tais diretrizes deveriam ser seguidas pelos diversos países para minimizar os impactos do trânsito, contemplando os diversos grupos atingidos. Especificamente, para crianças, sugere-se que (MOHAN et al., 2008; OMS, 2009):

 Seja obrigatório, por lei, o uso de cintos de segurança e de dispositivos de retenção para crianças;

 Faça-se cumprir estas leis e reforçar os controles policiais mediante informações públicas e campanhas para aumentar a sensibilização da população;

 Promova o controle primário (possibilidade de deter o condutor na primeira infração por não usar o cinto de segurança);

 Se utilize programas de incentivo para reforçar o controle policial, consistindo em monitorar o uso dos cintos de segurança e premiar as pessoas que cumprem a lei vigente;  Promova o uso do tipo apropriado do dispositivo de retenção infantil. Para que a proteção seja adequada, é necessário que o tipo de retenção corresponda à idade e peso da criança.

 Estabeleça mecanismos para tornar o acesso aos dispositivos financeiramente acessíveis;

 Estabeleça programas de incentivo ao uso dos dispositivos de retenção, abordando as normas sociais e promovendo a cultura de segurança. É necessário conscientizar a população quanto às vantagens em termo de segurança do uso dos dispositivos para crianças.

De acordo com Ferraz et al. (2012), no Brasil, o tema trânsito é contemplado nas legislações: Constituição Federal, Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), em portarias do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) e em decretos e leis específicas.

A Lei nº 9.503/1997, referente ao CTB e a Resolução 277/2008, referente ao uso de DRI, são os instrumentos legais que contemplam em suas regulamentações, obrigatoriedades, penalidades e infrações diretamente relacionadas ao transporte de crianças.

5.1.1. Código de Trânsito Brasileiro - CTB

A lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, instituiu o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Em vigor desde 1998, dispõe de normas de conduta, infrações e penalidades para os

condutores. Formado por 20 capítulos, contempla algumas disposições relacionadas ao transporte de crianças.

O capítulo III trata das normas gerais de circulação e conduta, e os artigos 64 e 65 tratam das condições do transporte de crianças e do uso de cinto de segurança para os condutores e passageiros, respectivamente.

Art. 64. As crianças com idade inferior a dez anos devem ser transportadas

nos bancos traseiros, salvo exceções regulamentadas pelo CONTRAN.

Art. 65. É obrigatório o uso do cinto de segurança para condutor e passageiros

em todas as vias (BRASIL, 1997, p. 27).

O capítulo XV trata das infrações, e o artigo 168 prevê as penalidades em caso de irregularidades frente às normas de segurança estabelecidas pelo CTB.

Art. 168. Transportar crianças em veículos automotor sem observância das

normas de segurança especiais estabelecidas neste Código: Infração – gravíssima;

Penalidade – multa;

Medida administrativa – retenção do veículo até que a irregularidade seja sanada (BRASIL, 1997, p. 36).

A criança, assim como qualquer pedestre, tem direito de passagem preferencial previsto no CTB, sujeito a penalidades em caso de descumprimento, conforme estabelece o Art. 214:

Art. 214. Deixar de dar preferência de passagem a pedestre e a veículo não

motorizado:

I- Que se encontre na faixa a ele destinada;

II- Que não haja concluído a travessia mesmo que ocorra sinal verde para o veículo;

III- Portadores de deficiência física, crianças, idosos e gestantes: Infração – gravíssima;

Penalidade – multa

IV- Quando houver iniciado a travessia mesmo que não haja sinalização a ele destinada;

Infração – grave;

Penalidade – multa (BRASIL, 1997, p. 41-42).

As crianças são indiretamente contempladas no Art. 76 do CTB, que trata das ações pertinentes a campanhas educativas de trânsito em pré-escolas:

Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas

de 1°, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação (BRASIL, 1997, p. 28).

Em 1998, através da Resolução nº 15 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), especificou-se algumas regras para o transporte de crianças, a fim de se estabelecer condições mínimas de segurança para o transporte das mesmas em consideração aos artigos 64 e 65 do CTB (BRASIL, 1998).

A Resolução nº 15 aperfeiçoou os artigos 64 e 65 do CTB e estabeleceu, de forma clara, as condições mínimas de segurança para o transporte de crianças. No entanto, esta resolução ficou em vigor até 2008, quando foi revogada e a Resolução 277/2008 instituída. A Resolução 277 dispõe sobre o transporte de menores de 10 anos e o uso do dispositivo de retenção para o transporte de crianças em veículos (BRASIL, 2008).

5.1.2. Resolução do CONTRAN 277/2008

A Resolução do CONTRAN no 277, de 28 de maio de 2008, trata da definição dos

dispositivos de retenção para crianças, as exceções (como a não obrigatoriedade do uso dos dispositivos em veículos que não são particulares), a posição do uso das cadeiras de retenção, instruções para fabricantes de veículos e seus manuais, o cronograma de divulgação da lei, bem como os prazos de ações para conscientizar a população por parte dos agentes de trânsito através de campanhas educativas.

A Resolução 277 traz, anexo, as especificações dos dispositivos de retenção para o transporte de crianças em veículos particulares. Especifica, também, as faixas etárias indicadas para cada dispositivo, contendo a ilustração de cada um deles e indicando o uso do cinto de segurança para as crianças entre sete anos e meio e dez anos. A seguir são apresentadas as especificações contidas no anexo da Resolução:

1. As crianças com até um ano de idade deverão utilizar, obrigatoriamente, o dispositivo de retenção denominado “bebê conforto ou conversível” (Figura 2a);

2. As crianças com idade superior a um ano e, inferior ou igual a quatro anos deverão utilizar, obrigatoriamente, o DRI denominado “cadeirinha” (Figura 2b);

3. As crianças com idade superior a quatro anos e, inferior ou igual a sete anos e meio, deverão utilizar o DRI denominado “assento de elevação” (Figura 2c);

4. As crianças com idade superior a sete anos e meio e, inferior ou igual a dez anos, deverão utilizar o cinto de segurança do veículo (Figura 2d).

Para as crianças com idade superior a dez anos, deve-se cumprir a obrigatoriedade do cinto de segurança, como os demais passageiros do veículo. A Figura 2 traz as ilustrações contidas no anexo da Resolução 277/2008.

Figura 2 – (a) Bebê conforto ou conversível; (b) Cadeirinha; (c) Assento de elevação; (d) Uso do cinto de segurança

Fonte: Brasil (2008)

Mannix et al. (2012) realizaram um estudo sobre a influência das taxas de fatalidades das crianças, em relação as leis estaduais do Estados Unidos, que exigem o uso do DRI para crianças entre 4 e 5 anos, ou 4 e 7 anos, variando de acordo com o estado. O estudo demonstrou que existe uma associação entre as leis e a fatalidade, principalmente para crianças com 6 e 7 anos, evidenciando a necessidade de se fazer obrigatório o uso do DRI para estas faixas etária em todo o território dos Estados Unidos.

5.2. Ações do Poder Público

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