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AÇÕES MITIGADORAS DE RISCOS À SEGURANÇA OPERACIONAL

Para Santos e Vieira (2011, p. 912), “O diagnóstico da situação atual das grades curriculares das escolas de aviação aponta para a insuficiência dos conteúdos relacionados ao desenvolvimento de habilidades de comunicação [...]”. Há um descompasso entre as necessidades atuais das empresas aéreas em relação aos praticados nas escolas de aviação, ou seja, o conteúdo ministrado nas escolas de aviação não atende às necessidades das empresas aéreas atuais.

As Escolas de Aviação treinam os seus alunos de acordo com parâmetros prioritariamente técnicos, como fora nos primórdios da Aviação, desconsiderando circunstâncias típicas de ambientes dinâmicos, complexos, e integrados de modo sistêmico. Tal postura leva o profissional a deparar-se com um novo desafio na sua rotina de trabalho, o de se comunicar de forma interativa e assertiva com os seus pares, principalmente em situações extremas e de pressões contínuas. (SANTOS; VIEIRA, 2011, p. 912)

Baseando-se nos conteúdos básicos do Treinamento de Habilidades de Comunicação (THC), proposto pelas mesmas autoras Santos e Vieira (2011), pode-se eleger alguns conteúdos de treinamentos e técnicas pertinentes as necessidades observadas nas empresas aéreas.

Este treinamento objetiva a mitigação de riscos à segurança operacional decorrentes de falhas de comunicação com recomendações de que estas ações devam ser implementadas no treinamento de Comunicação em Escolas de Aviação, Aeroclubes e Empresas Aéreas que ministram treinamentos de CRM.

Os conteúdos e técnicas ministrados devem envolver entre outros: a) Ensinar e treinar o processo da comunicação;

 Identificar por meio de uma série de exercícios estruturados, os diferentes estilos de comunicadores e suas influências (assertivo, passivo, agressivo), e praticar técnicas para manter o equilíbrio das relações interpessoais.

 Avaliar o próprio estilo de comunicação.

Treinar as habilidades para dar e receber feedback.

 Ensinar e praticar estratégias eficazes de comunicação num sistema de gestão de emergência.

 Aplicar técnicas de gerenciamento de comportamentos inconvenientes utilizando linguagem verbal e não verbal.

 Utilizar simuladores de fonia para treinar a fraseologia padrão em inglês e português.

b) Técnicas de treinamentos:

Dramatização (jogos de papéis, role playing).

 Vivências.

Cenários de CRM.

Prática do feedback

Video feedback – permite a observação do desempenho por meio de filmagem. O importante nestas propostas de treinamentos é que os gestores tenham uma visão sistêmica e dinâmica em relação às necessidades dos envolvidos, bem como com as necessidades organizacionais, atuando em consonância com o treinamento das competências necessárias em cada momento.

Portanto os treinamentos de CRM - Crew Resouse Management (Gerenciamento de Recursos da Tripulação), também deverão estar voltados para esta mesma visão.

O CRM – e uma ferramenta muito importante para mitigar riscos decorrentes dos problemas relacionados às comunicações aeronáuticas.

“A comunicação entre membros da tripulação é um requisito essencial para um bom

CRM” (SANTOS, 2014, p. 131).

Historicamente, sabe-se que a maior causa de um acidente aéreo é a falha humana, ficando com cerca de 67% das causas de acidentes, sendo seguida pela falha técnica com cerca de 21% e o mau tempo com 6%. Estes dados foram apresentados no III Congresso Internacional de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, no ano de 2014, onde foi

38 apresentado o tema Implantação do CRM na aviação Brasileira.

O CRM, também conhecido como Gerenciamento de Recursos da Tripulação, tem

como objetivo minimizar as chances de um acidente causado por uma falha humana.

O CRM foi desenvolvido pela dificuldade de se encontrar respostas para vários acidentes aeronáuticos. De acordo com Lima e Melo (2014), um investigador de acidentes aéreos teve a idéia de criar e instalar na cabine de comando das aeronaves um dispositivo que fosse dividido em duas partes, a primeira era capaz de gravar todas as conversas que tinham ocorrido na Cabine de Comando, durante o voo.

A segunda unidade tinha a capacidade de gravar todos os dados relacionados com a operação da aeronave, seja dos motores, freios, sistemas de navegação, entre outros. Esses dispositivos mais tarde foram chamados de caixa preta. Com a obrigatoriedade da instalação das caixas pretas nas aeronaves comerciais, a aeronáutica teve um avanço significativo nas investigações dos acidentes.

O CRM – (Gerenciamento de Recursos da Cabine da Tripulação) foi desenvolvido como uma resposta, às novas compreensões em relação às causas dos acidentes, as quais surgiram com a introdução dos gravadores de voo e gravadores de voz de cabine, dentro da aeronave a jato moderna. A informação reunida por esses instrumentos sugeriram que muitos daqueles acidentes não eram o resultado de um mau funcionamento técnico da aeronave ou de seus sistemas, nem de uma falha da aeronave, em lidar com as habilidades, ou, uma falta de conhecimento técnico por parte da tripulação; ele aparece, em vez disso, como sendo causado pela inabilidade da tripulação para responder, apropriadamente, à situação, na qual eles próprios se colocaram. Por exemplo, comunicações inadequadas entre os membros da tripulação e outras partes conduzem, por sua vez, a uma perda da consciência situacional, a uma quebra no time da aeronave, e, ultimamente, a uma má decisão ou uma série delas, as quais, resultaram em um incidente sério ou em um acidente fatal. (ANAC, 2010).

Para mitigar a comunicação inadequada, as empresas aéreas nos treinamentos anuais colocam os tripulantes técnicos (Pilotos) e de cabine (Comissários), em sala de aula para reciclagem, utilizando vários cenários do dia a dia e de situações de emergência no treinamento CRM, para chamar a atenção dos tripulantes sobre a importância de todos falarem a mesma língua.

Os participantes do treinamento são divididos em grupos menores, e recebem alguns cenários para analisarem e depois apresentarem para os demais, situações tais como, fogo a bordo, falha de pressurização, falha de motor, estouro de pneu na decolagem, etc. Primeiro as equipes analisam seus cenários e depois cada equipe apresenta seu cenário para as demais e após todos opinam sobre a melhor maneira de lidar com a situação apresentada.

administração, dos facilitadores e dos participantes, em suma, de toda a organização no comprometimento com a filosofia de CRM” (SANTOS, 2014, p. 128).

As Cabines de Comando dos aviões são os “escritórios” de seus Tripulantes Técnicos. A combinação das tripulações por escala de voo, faz com que tenhamos uma variedade enorme de composições das mesmas, daí a importância da padronização. É necessário que todos “falem a mesma língua” em benefício da Segurança. Os Pilotos em uma mesma cabine devem estar sempre prontos a atuar um como “back-up” (reserva do outro, pessoa pronta para substituir ou ajudar a outra), em todas as fases do voo. A comunicação dentro da Cabine de Comando é fator fundamental para detecção de falhas cometidas ou eventuais casos de incapacitação de Tripulantes, os “callouts”, padronizados tornam-se uma importante ferramenta na troca de comunicação.

Callouts - são respostas dadas pelo outro piloto, que asseguram que ele está atento ao

que está acontecendo, como por exemplo, em uma aproximação por instrumentos, com visibilidade nos mínimos para o pouso, ao receber o aviso sonoro do rádio altímetro de

“minimums”, (altitude onde se decide por pousar ou arremeter), se o tripulante técnico que

estiver pilotando não disser “landing”, (vou pousar), ou “goaround” (vou arremeter), o outro piloto assume os comandos para pousar ou arremeter, o que for mais seguro. Pois significa que o piloto que estava voando pode estar incapacitado por um mal súbito.

40 3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 MEIOS DE COMUNICAÇÃO UTILIZADOS NO TRANSPORTE AÉREO E SUAS

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