• Nenhum resultado encontrado

7.5 A A GÊNCIA DE I NOVAÇÃO T ECNOLÓGICA DA UEL

7.5.3 Ações de Sensibilização

A cultura da propriedade intelectual e inovação no meio acadêmico pode ser fortalecida por ações constantes de sensibilização. Por meio dessas ações, a importância e os benefícios da proteção do conhecimento são levados a conhecimento dos inventores e, consequentemente, pode-se tornar uma ação prioritária no âmbito universitário.

Castro (2006, p. 75) considera um desafio a criação de estratégias para divulgar a importância da propriedade intelectual no meio acadêmico. Ações de sensibilização poderão promover um interesse coletivo da comunidade acadêmica em proteger conhecimentos oriundos de suas pesquisas, noção que poderá possibilitar que o número de depósitos de patentes acadêmicas seja acrescido com o tempo.

A UEL realizou, no decorrer de sua história, 42 pedidos de patentes. Desses, vale lembrar que apenas um pedido está passando por avaliação no INPI, segundo o Coordenador de Propriedade Intelectual da AINTEC, o primeiro contato com a agência ocorreu recentemente, após 11 anos da submissão do pedido.

O estreitamento das relações entre a AINTEC e os departamentos também pode colaborar no estabelecimento de uma cultura positiva em relação à propriedade intelectual. Nesse aspecto, o participante “A” ressalta que essa relação varia de departamento para departamento, afirma que com alguns é mais fácil, já com outros é mais difícil. Sobre isso, o participante assevera que em alguns departamentos há uma forte postura individual sobre o assunto “não existe posicionamento, uma discussão, um estilo por parte dos coordenadores de pós- graduação, é muito pouco”. O entrevistado ressalta ainda que desta forma não há uma contribuição efetiva do departamento, “porque ele não se envolve diretamente”. A sensibilização também pode ser vista como estratégia de conscientização e disseminação da principal finalidade da proteção do conhecimento. Há ainda no ambiente universitário, segundo o participante “A”, muitos professores que não compreendem o conceito de inovação. Esses acreditam, segundo o entrevistado, que a inovação pode ser somente de ordem tecnológica, desconhecendo, portanto, que ela também pode gerar transformações em setores sociais.

Segundo o participante “A”, seria importante que os professores trabalhassem as temáticas de suas pesquisas consoantes com as necessidades reais da sociedade. Sobre esta proposição, afirma:

O bom é quando a pesquisa ou o projeto surgiu de uma demanda real, ou seja, alguém identificou e tem certeza que, no momento que ele encontrar uma solução, vai ter interessados. Essa é a situação ideal, e muitos professores, muitas áreas já trabalham assim, não ficam inventando um problema [...].

Uma mudança de sentido rumo a essa conscientização também poderia ocorrer por meio da intensificação de ações de sensibilização, que indiscutivelmente colaboram para ampliar o conhecimento de elementos importantes na geração de inovação.

O participante “A” enfatiza que grande parte dos pesquisadores é contra a proteção do conhecimento sem ter muito conhecimento de causa e, por essa razão, vê na sensibilização uma forma de se achegar aos pesquisadores e ratificar o objetivo fim da existência da AINTEC, aproveitando a oportunidade para orientar os pesquisadores dizendo: “[...] você não precisa fazer um esforço muito grande, o esforço na verdade é relativamente pequeno se comparado com o esforço que você tem que fazer para publicar”.

Além disso, pode-se aproveitar as circunstâncias para disseminar que todo o processo de proteção do conhecimento é realizado pela AINTEC, sendo necessária a participação do docente apenas na fase inicial do processo. Na ocasião, os pesquisadores contribuem trazendo informações mais pontuais da pesquisa desenvolvida. Segundo o participante “A”, “tem muita gente ainda que não conhece a Agência e suas atribuições”.

Na visão do participante “A”, muitos pesquisadores acreditam que a proteção do conhecimento não é importante, pois compartilham da visão de que o conhecimento é universal, portanto não passível de proteção, e sim de compartilhamento. (RODRIGUES JÚNIOR et al., 2000; BOGERS, 2011). Na opinião do participante este argumento é muito simplório, “porque em nenhum momento, quando se faz a proteção, significa que o conhecimento não está disponível, inclusive fica publicado e é disseminado da mesma forma, mas de uma maneira diferente”.

Partindo desse princípio, o participante “A” lembra que a não proteção do conhecimento “pode privilegiar exatamente aqueles que já têm situações econômicas altamente favoráveis, como as grandes empresas nacionais e multinacionais”, impossibilitando que a universidade e o próprio pesquisador sejam favorecidos de alguma forma, obtendo um retorno financeiro como incentivo, além do mérito da publicação. Os recursos advindos da proteção, segundo o entrevistado, podem beneficiar não só o pesquisador, como a instituição, tornando possível, por exemplo, o investimento na ampliação e melhoria dos laboratórios.

Quanto às formas de sensibilização, as mais utilizadas pela AINTEC se resumem em: palestras, eventos oficiais, site, informativo impresso e serviço de prospecção tecnológica.

Não obstante, o participante “A” salienta que esses mecanismos de sensibilização não possuem ainda uma periodicidade consolidada. No que diz respeito ao informativo, o mesmo é publicado a cada três meses. O site existente é classificado pelo participante como ruim. Ele ressalta que um novo está sendo elaborado e em breve será disponibilizado.

No que diz respeito aos eventos oficiais, o participante “A” cita a “Jornada de Inovação Tecnológica” e a “Feira da Ideia”. O primeiro trata de temas relevantes para a academia e para o setor produtivo. O participante enfatiza que a intenção é que este evento seja promovido todos os anos ou, pelo menos, a cada dois anos. Já a Feira da Ideia contempla uma amostragem de protótipos, passíveis de serem protegidos.

A prospecção tecnológica, de acordo com o participante “A”, é realizada por meio do Sistema de Informação sobre os projetos no site da PROPPG, no qual são identificados projetos de pesquisa que têm potencial para ser protegidos. Na sequência, os pesquisadores envolvidos são contatados por e-mail com o intuito de alertá-los nesse sentido, mas esses, muitas vezes, nem respondem ao e-mail, mostrando desinteresse com esta questão. No tocante aos cursos de graduação, as ações mais comuns são as visitas técnicas.

Ao se manifestar sobre a importância de realizar ações que visem sensibilizar os pesquisadores para a proteção do conhecimento, o participante “A” admite que a iniciativa deve ser em primeira instância da Agência, em estabelecer uma relação mais próxima com os departamentos e esclarecer as atribuições da AINTEC. Com este propósito, entende a urgência do estabelecimento de um

Programa de sensibilização que prime por ações contínuas de aproximação Agência x Pesquisador e pela divulgação dos serviços prestados pela AINTEC. Salientou, entretanto, que há um colaborador trabalhando diretamente neste propósito, mas que a atuação da Agência ainda é limitada neste sentido, também por falta de pessoal.

O participante “A” concluiu dizendo que a proteção do conhecimento por meio da patente está começando a ser interessante, haja vista que a própria CAPES começou a pontuar os pedidos de patentes. Contudo, destacou que “a própria CAPES ainda considera a publicação o mais importante”. A esse respeito, Moreira, Antunes e Pereira Júnior (2004, p.63) apostam que falta uma política nacional de inovação que “valorize a patente como indicador de produtividade”. Segundo os autores, “os pesquisadores são avaliados pela publicação de artigos científicos, participação em congressos etc., não têm estímulo para aprender acerca do tema patentes” e, consequentemente, proteger os resultados de suas pesquisas antes de disseminá-los.

Neste contexto, os incentivos das Agências de Fomento acabam sendo direcionados para a publicação, ainda há pouco para a proteção. É o que afirma Santos (2003, p.16): “A primazia da publicação sobre o patenteamento ocorre, principalmente, porque os sistemas adotados pelas agências de fomento avaliam e recompensam o pesquisador pelo que ele publica, e não pelo que patenteia”. A autora ressalta que como decorrência deste pouco reconhecimento, grande parte dos pesquisadores ainda não conjectura a patente “como produto acadêmico, pois para ele não é uma questão primordial”.