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P RODUÇÃO C IENTÍFICA X P ATENTEAMENTO A CADÊMICO

Posto em reflexão as novas funções que as universidades adquiriram na atual sociedade do conhecimento, faz-se importante entender também a relevância da produção científica contrapondo-se ao patenteamento acadêmico. A cultura que ainda vigora na academia em relação à produtividade está calcada na quantidade de publicação, que, por sua vez, estabelece hierarquia entre autores e universidades (GARCIA, 2006).

O enfoque dado mais especialmente para a quantidade de publicações pode estar atrelado a outros aspectos dessa cultura vigente, como o fato de que as universidades “são geralmente mais focadas no compartilhamento do que na proteção”. (BOGERS, 2011, p. 104, tradução nossa). Os critérios de premiação e de argumento estão vinculados a:

[...] publicação de artigos científicos, na orientação de teses e dissertações, na participação em conselhos departamentais e demais instâncias de decisão da universidade, conferindo-se pouco ou quase nenhum mérito à cooperação com empresas em projetos de desenvolvimento ou ao depósito de patentes [...]. (FUJINO; STAL; PLONSKI, 1999).

O olhar apenas para a quantidade de publicações deve ser minimizado, principalmente quando se trata da publicação de resultados de pesquisas que envolvem um sigilo ou segredo industrial. Por outro lado, outras formas de avaliação/pontuação para os currículos dos docentes/pesquisadores nas

universidades devem ser repensadas e discutidas, talvez por meio de novas políticas de desenvolvimento de planos de carreiras, nas quais o fruto das pesquisas realizadas seja considerado como elemento mais importante, incentivando-os a direcionar, quando possível, suas pesquisas para resolução de problemas mais pontuais na sociedade, agregando assim melhorias imagináveis para o desenvolvimento social e econômico junto ao desenvolvimento da ciência.

Sabe-se que a produção científica brasileira tem proporcionado ao país despontar como uma força emergente e de grande potencial no cenário acadêmico mundial. Contudo, percebe-se que ainda há uma descrença na concepção de transformar o conhecimento e as criações científicas em produtos palpáveis. Embora este cenário esteja mudando, ainda é frágil a cultura da propriedade intelectual nos ambientes acadêmicos, ou seja, pouco se realiza em direção a proteção do conhecimento para concretizar a inovação (GEUS, 2010; CHERUBINI, 2009).

Galembeck e Almeida (2005, p. 1002) trazem à tona essa problemática, dizendo que embora o Brasil “tenha sido um dos primeiros países a aderir às convenções internacionais de patentes, e embora haja patenteadores brasileiros importantes no cenário internacional”, o tema da propriedade intelectual é ainda desconhecido por grande parte dos pesquisadores brasileiros.

Abordando ainda a falta de conhecimento dos pesquisadores em relação à questão da propriedade intelectual, Garcia (2006, p. 219) destaca que mesmo onde o conhecimento está em ascensão e a proteção incentivada, o número de patentes depositadas é pequeno. Lembra que “a cultura da patente não é difundida amplamente, apesar dos esforços para implantar núcleos descentralizados de estímulo à propriedade industrial nos institutos de pesquisa e nas universidades”. Vale ressaltar que o processo de proteção e comercialização dos resultados de pesquisas acadêmicas se deu no início do século 20, quando “algumas universidades e laboratórios públicos de pesquisa dos EUA realizaram suas primeiras atividades de patenteamento”. (OLIVEIRA, 2011, p. 1). No Brasil, a atividade de patenteamento por parte das universidades brasileiras é bem recente, tendo ocorrido o primeiro registro em 1979, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PÓVOA, 2008).

Nos Estados Unidos, uma das medidas que alavancou significativamente o patenteamento acadêmico foi a aprovação da Lei Norte

americana Bayh-Dole Act, que de acordo com Matias-Pereira e Kruglianskas (2005, p. 8):

Foi direcionada para a questão de propriedade intelectual uniforme, permitindo às universidades, institutos de pesquisa e pequenas empresas reterem a titularidade de patentes de invenções derivadas de pesquisas financiadas com recursos públicos federais e facultar às instituições beneficiárias desses recursos transferirem tecnologia para terceiros.

Segundo Póvoa (2008, p. 80), a aprovação da Bayh-Dole Act, no ano de 1980, teve como finalidade incentivar a comercialização de descobertas acadêmicas patenteáveis, possibilitando “que resultados de pesquisas financiadas por fundos federais fossem patenteados em nome das universidades dos pesquisadores sem precisar negociar com a agência financiadora, o que simplificou o processo para as universidades”.

Póvoa (2008, p. 81) segue afirmando que:

[...] a ideia básica por trás do Bayh-Dole Act era a de que as universidades constituíam-se em fontes e depósitos de invenções, mas as empresas só estariam dispostas a investir nestas invenções para transformá-las em produtos se tivessem como se apropriar dos retornos dos investimentos em P&D. Assim, se a universidade patenteasse e licenciasse com exclusividade as suas invenções, as empresas teriam mais incentivos a investir, aumentando o número de invenções acadêmicas que chegariam ao mercado. Ou seja, a patente seria um mecanismo de transferência de tecnologia.

A administração do sigilo nas universidades deve se tornar uma realidade que vai além das políticas públicas de incentivo à inovação. Até então, os pesquisadores, pela tradição acadêmica de livre circulação de ideias, não estão acostumados a guardar informações e, às vezes, sem perceber, revelam questões de caráter sigiloso se considerarmos a proteção de resultados passíveis de registro de patentes. As publicações dos resultados de pesquisas ou mesmo algum tipo de divulgação em eventos temáticos comprometem todo o processo, além de disponibilizar os resultados a concorrentes cada dia mais especializados em gestão de informações disponíveis nas universidades em todo o mundo (RODRIGUES JÚNIOR et al., 2000).

No ambiente acadêmico, as finalidades e vantagens das patentes devem ganhar visibilidade. Além dos incentivos ao desenvolvimento tecnológico, a

patente acaba desempenhando um papel de encorajamento à pesquisa científica, à disseminação do conhecimento prático e econômico, à criação de novos mercados e à satisfação das necessidades latentes dos consumidores (FERREIRA; GUIMARÃES; CONTADOR, 2009).

Jorge (2006, p. 2) apresenta alguns benefícios do licenciamento de patentes no meio acadêmico ao afirmar que “ao repassar seu produto à empresa, ela não apenas gera inovação como também [...] transfere ao plano do ensino os frutos do conhecimento novo sistematizado ao longo da pesquisa”.

A pesquisa, por sua vez, além de gerar excedente de conhecimento essencial à ampliação do acervo da ciência, pode gerar um conhecimento útil ao setor tecnológico produtivo, conhecimento esse passível de ser aplicado na produção de bens e serviços que poderão se tornar de fato inovação no mercado competitivo (GARCIA, 2006).

No Brasil, as universidades públicas superaram as empresas em solicitações de patentes junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. A Universidade que mais tem se destacado é a Unicamp. Sabe-se também que a porcentagem de participação das universidades brasileiras é de 59%. Entre os anos de 2001 e 2008, as universidades solicitaram 1.359 patentes e as empresas 933. (DAGNINO; SILVA, 2009).