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AÇÕES A SEREM TOMADAS PELAS ESCOLAS DE AVIAÇÃO E AEROCLUBES

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.3 AÇÕES A SEREM TOMADAS PELAS ESCOLAS DE AVIAÇÃO E AEROCLUBES

INSTRUÇÃO DE VOO

A fim de mitigar o número de incidentes e acidentes na instrução de voo nas escolas de aviação e aeroclubes, é importante que sejam implantados sistemas e procedimentos dentro dessas organizações, voltados para a segurança operacional.

“Como em qualquer sistema complexo, o funcionamento de uma organização se formaliza como um conjunto de partes integrantes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e função. ” (CAMPOS, 2014, p.42)

Visando uma melhora no que diz respeito à área da segurança da aviação civil a International Civil Aviation Organization (ICAO) desenvolveu um modelo de prevenção de acidentes e incidentes aeronáuticos com busca de conscientizar os Estados-membros quanto à importância e à necessidade da harmonização e padronização de todos os integrantes desse complexo sistema. O novo modelo foi denominado Safety Management System (SMS), ou seja, Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO). (SANTOS, 2014)

O SGSO visa criar um padrão para a supervisão gerencial enfatizando os aspectos relacionados à segurança, importante para qualquer empresa que atua na área da aviação, quer ela seja grande ou pequena. Segundo Santos (2014, p.22) “o SGSO deve ser utilizado como uma ferramenta para auxiliar nas decisões e não como um programa de segurança tradicional, separado e distinto dos negócios”.

Ao conhecer a estrutura de uma organização e seu funcionamento, todos os envolvidos poderão entender como funciona o processo de tomada de decisão, seja este individual ou

coletivo, e as influências organizacionais desse processo, principalmente aqueles voltados para as áreas de atuação de operações e manutenção de uma escola de aviação ou aeroclube. (CAMPOS, 2014, p.42)

Segundo a ANAC (2016) os processos chave de um SGSO são:

• Reporte de Eventos de Segurança Operacional (ESO) – processo de aquisição de dados e informações relacionados à segurança operacional.

• Identificação de Perigos: conjunto de atividades voltadas para identificação de perigos relacionados com sua organização.

• Gerenciamento de Riscos: processo padronizado para avaliação e definição de medidas de controle de riscos.

• Medição de Desempenho: ferramentas gerenciais definidas para avaliar se os objetivos de segurança operacional da organização estão sendo atingidos. • Garantia da Segurança Operacional: conjunto de atividades voltadas para

padronização da prestação do serviço conforme critérios estabelecidos de desempenho. A implementação e supervisão adequada de um SGSO nas escolas de aviação e aeroclubes pode reduzir significativamente a quantidade de ocorrências, visando uma melhora na supervisão gerencial e consequente profissionalismo de todos incluindo os instrutores, responsáveis pela operação do voo em si.

De uma maneira geral a gestão da segurança operacional, nas escolas de aviação e aeroclubes deve ser politizada em todos os níveis hierárquicos da organização, começando com o compromisso da direção na implantação e fiscalização da gestão da segurança, este compromisso seria a alocação de recursos, pois sem estes, não há como promover a segurança operacional. (SANTOS, 2014)

Um ambiente de trabalho que possibilite ações e notificações voluntárias por meio do pessoal é essencial para a coleta de dados que posteriormente vai possibilitar extrair e analisar informações de segurança operacional a partir daqueles dados. De nada adianta coletar dados se eles ficarem em uma gaveta. Além disso, é necessário compartilhar as informações de segurança operacional como todos aqueles que exploram o sistema diariamente, eles estão em contato com o perigo e busca-se mitigar este, através dos reportes. (SANTOS, 2014)

As investigações dos eventos que afetam a segurança não devem ter o foco em identificar um culpado e sim o objetivo de encontrar as deficiências sistêmicas (SANTOS,

2014). De nada adianta as investigações focarem naquele que “fez aquilo” se a causa está em “como aquilo aconteceu”. Se o foco for encontrar um culpado, poderão ocorrer ocultações de fatos, devido aos envolvidos criarem um certo receio da culpa cair em cima deles e receberem algum tipo de punição.

Uma cultura de compartilhamento dos dados de segurança, quando se trata de aviação, deverá sempre ser mantida (SANTOS, 2014). Reuniões formais e informais, com todo o pessoal e pessoal específico dependendo da operação, trocas de informações, e-mails, folders educativos, são maneiras de compartilhar os dados de segurança de uma instituição.

Não poderíamos deixar de citar a implementação efetiva de procedimentos operacionais padronizados sendo uma solução não mais importante, mas tão importante quanto todas as outras para mitigar as deficiências na segurança. Este inclui uso de lista de verificação e briefings, seja na cabine de comando do piloto, no hangar para a equipe de manutenção e de solo ou até mesmo nas dependências administrativas da instituição, essas listas de verificação são um dos mecanismos de segurança operacional mais efetivos disponíveis para o pessoal, no cumprimento de suas responsabilidades diárias. Também se constituindo em um poderoso mandado da organização, no que diz respeito à forma com que a alta administração quer que se desenvolvam as operações. Nunca deverá ser subestimado o valor dos procedimentos operacionais padronizados para a segurança operacional. (SANTOS, 2014)

4 CONCLUSÃO

A presente pesquisa teve por objetivo identificar as medidas que podem ser tomadas pelas escolas de aviação e aeroclubes brasileiros, a fim de reduzir o número de acidentes e incidentes ocorridos na instrução de voo.

Com foco no objetivo estabelecido, foi feito o levantamento de dados para a compreensão e exposição dos acidentes e incidentes com instrução de voo no período de 2005 a 2014, onde foram identificados os principais fatores contribuintes para esse tipo de ocorrência, sendo eles, julgamento de pilotagem, supervisão gerencial e aplicação dos comandos.

A sequência deu-se com a demonstração e análise de três acidentes ocorridos neste tipo de voo, dos quais tinham pelo menos um dos três fatores contribuintes anteriormente identificados.

Diante da análise dos fatos e sabendo-se que a ocorrência de um acidente é gerada por uma cadeia de fatores, conclui-se que não se deve pensar em mitigar apenas um fator contribuinte, mas sim criar um sistema para neutralizar essa cadeia de fatores.

Desde a origem da prevenção de acidentes foram testadas e aperfeiçoadas experiências formando um conjunto de fundamentos, princípios, conceitos e normas definindo o conhecimento sobre a referida atividade, desenvolvendo a segurança operacional, que é fundamental para o sucesso de qualquer organização.

A implantação de Procedimentos Operacionais Padronizados e Checklists dentro de um SGSO eficaz, que proporciona um ambiente harmônico entre a alta direção e os colaboradores, prevalecendo a comunicação, com reportes, notificações voluntárias, coleta de dados e investigações que objetivam a causa da ocorrência e não a punição, para a tomada de medidas preditivas, são consideradas as principais soluções para a mitigação de acidentes na instrução de voo. Os profissionais envolvidos nesta atividade irão pensar e agir de maneira preventiva e principalmente preditiva com intuito de aprimoramento ao profissionalismo individual, reduzindo significativamente as taxas de incidentes e acidentes na instrução de voo, cujas principais causas são oriundas de fatores humanos.

A implementação do SGSO pelos exploradores de aeronaves e empresas de manutenção e a efetiva fiscalização da própria gerência da organização podem proporcionar uma melhoria na segurança operacional, resultando em um bom treinamento do aluno que futuramente estará exercendo a profissão de piloto em suas diversas áreas, inclusive na

instrução de voo, gerando assim um círculo vicioso.

O treinamento do profissional tem grande importância para aprimorar suas habilidades, visto que este está diretamente ligado às suas atitudes e ao seu profissionalismo com reflexo positivo ou negativo em situações de emergência.

Para melhorar a qualidade da instrução de voo no Brasil ainda há muito a ser feito. O pensamento de que a instrução de voo é algo simples e que não exige padronização em sua atividade está desatualizado. Instrução de voo é coisa séria e requer proporcionalmente o mesmo nível de segurança aplicado a uma empresa de grande porte, com sua visão operacional em segurança de voo e treinamento aos seus instrutores e alunos, sendo eles o futuro da aviação.

Assim, o presente trabalho dá-se por concluído estimulando que sejam feitas posteriores pesquisas para a investigação e o desdobramento de medidas que possam melhorar o nível de qualidade da instrução de voo no Brasil.

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