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CAPÍTULO 4 ATIVIDADE CRIADORA DOS PRATICANTES DO ORDINÁRIO:

3) A 34ª Reunião Anual da SBPC realizada em Campinas

A Reunião Anual da SBPC, promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, constituiu-se, ao longo de sua existência, um fórum de debates a reunir pesquisadores de todas as áreas das ciências bem como representantes de sociedades científicas nacionais e internacionais visando à "difusão dos avanços das ciências nas diversas áreas do conhecimento"191 e o debate sobre as políticas públicas na área de ciência e tecnologia. Após sua fundação em 1948192, os encontros anuais

190 O professor Florestan Fernandes, do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas da Universidade de São

Paulo não pode comparecer na II CBE e enviou uma carta aos participantes da Conferência que foi lida na sessão de abertura.

191 Reunião Anual da SBPC, dados retirados do site; www.sbcpnet.org.br, acesso em 22/03/2017.

192 Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência fundada em 8 de julho de 1948. A iniciativa partiu de

um grupo de professores formado por Paulo Sawaya, professor da cátedra de Fisiologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP; José Reis, pesquisador e professor do Instituto Biológico de São Paulo; e Maurício Rocha e Silva, pesquisador e professor do Instituto Biológico de São Paulo que viram a necessidade de criar uma associação para o progresso da ciência inspiradas no modelo americano e inglês que se desenvolviam naquele período. Na primeira diretoria eleita em assembleia, a presidência foi ocupada pelo professor Jorge Americano, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; para o cargo de vice-presidente foi designado o professor Maurício Rocha e Silva; como secretário geral da entidade foi nomeado o professor José Reis e como tesoureiro, o professor Paulo Sawaya. No final do primeiro ano de atividades, a entidade reuniu 265 sócios e já promovia várias palestras e conferências de pesquisadores renomados. A revista Ciência e Cultura cuja primeira edição data do início do ano de 1949, foi um dos primeiros empreendimentos da diretoria eleita, e, passadas quase sete décadas, continua ainda a circular, em versão impressa e edição on-line. Também em 1949, teve início o ciclo das Reuniões Anuais, evento de maior porte que congregava cientistas do país e do exterior objetivando debater os problemas e temas de interesse da comunidade científica. Desde as primeiras reuniões, além da especificidade de cada tema escolhido como objeto do debate, havia a preocupação de vincular os conhecimentos científicos produzidos à realidade social e política do país. As Reuniões Anuais agregavam grande número de participantes trazendo para a entidade um número expressivo de sócios. Logo na 2ª Reunião Anual, em 1950, o número de sócios já chegava a mais de 700 e desde então, a

tornaram-se referência na agenda de encontros científicos e acadêmicos no Brasil. Cabe lembrar o papel da SBPC na divulgação das ciências e, em especial, a atuação da entidade em defesa do desenvolvimento da ciência em momentos marcantes da história do país, pautando-se pela "manutenção de elevados padrões de conduta científica, combatendo a pseudociência ou a meia-ciência" e assumindo "atitude definida e ativa de combate no sentido de assegurar, contra possíveis incompreensões, a liberdade de pesquisa, o direito do pesquisador aos meios indispensáveis de trabalho, à estabilidade para realização de seus programas de investigação, ao ambiente favorável à pesquisa desinteressada", objetivos básicos constituídos por ocasião da fundação da SBPC (CADERNOS SBPC, 2004, p. 35).

A primeira Reunião Anual da SBPC foi realizada em Campinas, no período de 11 a 15 de outubro de 1949. As diversas sessões do congresso tiveram lugar no Instituto Agronômico de Campinas, no Centro de Ciências, Letras e Artes e na Sociedade de Medicina e Cirurgia e delas participaram 104 congressistas com 86 trabalhos193. A sessão de abertura do evento foi realizada no Centro de Ciência, Letras e entidade tem crescido ano a ano, chegando a 18 mil sócios. Entre os cientistas de renome que colaboraram para o crescimento da entidade podemos citar o educador Anísio Teixeira, o professor Aziz Ab'Saber, a professora Carolina M. Bori, o professor Crodowaldo Pavan, professor Ênio Candotti, professor José Goldemberg entre outros. (SBPC,2004).

193 O Instituto Agronômico de Campinas foi fundado como Imperial Estação Agronômica de Campinas

em 1887 por D. Pedro II. Sua finalidade era desenvolver pesquisas e recursos para a agricultura e a justificativa para a instalação da instituição em Campinas veio do fato da cidade alcançar a cifra de 15% da produção cafeeira do país no final do século XIX. O primeiro diretor do Instituto Agronômico de Campinas foi o químico austríaco Franz J. W. Daefert. No período de 1924 a 1942, o Instituto Agronômico passou por transformações importantes sob a gestão de Theodureto Leite de Almeida Camargo, engenheiro agrônomo formado pela Escola Politécnica de São Paulo. Theodureto proporcionou a ampliação do pessoal técnico do IAC, modernizou os laboratórios, renovou o acervo da biblioteca e implantou campos de estudos e seções específicas de pesquisas como a seção de genética visando à seleção e melhoramentos de plantas. Um dos pesquisadores da seção de genética foi Carlos Arnaldo Krug, especialista em genética e citologia pela Universidade de Cornell dos Estados Unidos, que ocupou a presidência do Instituto em 1949. Carlos Krug foi também sócio fundador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e um dos incentivadores da realização da 1ª Reunião Anual da entidade em Campinas.

Instituto Biológico, inicialmente designado Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, foi criado em dezembro de 1927, pouco tempo depois dos cafezais do estado de São Paulo terem sido atacados por uma praga no ano 1924. À época, a Secretaria de Agricultura do Estado instituiu uma comissão de combate formada pelos pesquisadores Arthur Neiva, Ângelo da Costa Lima e pelo engenheiro agrônomo Edmundo Navarro. O sucesso da campanha foi decisivo para que as autoridades criassem uma instituição de pesquisa visando à defesa sanitária da agricultura. Entre os pesquisadores de renome que atuaram no Instituto estavam José Reis e Henrique da Rocha Lima, ambos fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência juntamente com o professor Paulo Sawaya

O Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (CCLA), fundado a 31 de outubro de 1901, figurou desde então como espaço de debate intelectual, científico e cultural junto à comunidade campineira. No início do século XX, o CCLA reuniu políticos republicanos, intelectuais e cientistas de renome do Brasil, em especial os pesquisadores que fundaram a Imperial Estação Agronômica de Campinas que, posteriormente, viria a se tornar o Instituto Agronômico de Campinas. Figuram entre os fundadores do

Artes com as conferências dos professores Eduardo Braun Menendez, secretário geral da Associação Argentina para o Progresso da Ciência, e Gleb Wataghin, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Vários pesquisadores e professores universitários, cujos trabalhos se destacavam no cenário nacional ampliaram o alcance e a representatividade do evento. Simpósios como: 1) “Recursos Minerais”, com palestras de Othon Leonardos, professor do Museu Nacional, Cel. Bernardino de Mattos, representante do Conselho Nacional do Petróleo; e de Octávio Barbosa, geólogo e professor da Escola Politécnica de São Paulo; 2) “Genética e aperfeiçoamento de plantas úteis”, cuja mesa foi presidida por Carlos Arnaldo Krug, presidente do Instituto Agronômico de Campinas; 3) “Genética de populações e conceito de espécie” com conferências dos professores André Dreyfus e Crodowaldo Pavan, da Universidade de São Paulo tiveram lugar no evento. O evento contou com a presença de cientistas já de renome como Carlos Chagas Jr, Paulo Sawaya, Paulo Galvão, Oto G. Bier entre outros, além de eventos paralelos como o Seminário de Estatística, organizado pelo Instituto Agronômico de Campinas e o Instituto Biológico de São Paulo194.

Em julho de 1982, trinta e quatro anos após a realização da primeira edição da Reunião Anual da SBPC, Campinas voltou a abrigar o evento, que teve a presidência do professor Crodowaldo Pavan, um dos participantes do evento fundador em 1949195. Com exceção da sessão de abertura e instalação dos trabalhos do congresso que tiveram lugar no Centro de Convivência de Campinas, região central da cidade, a 34ª edição da

CCLA o escritor Coelho Neto, o primeiro presidente civil da República Manoel Ferraz de Campos Salles, os republicanos Francisco Glycério, Jorge Miranda, Cesar Bierrenbach, Theodoro Sampaio, o compositor Alberto Nepomuceno, a escritora Adelina Lopes de Almeida, o naturalista Barbosa Rodriguez, Olavo Bilac, Ruy Barbosa, o jurista Sylvio Romero, o médico Nina Rodrigues, etc.(TAKAMATSU, 2011).

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Não há dúvida de que a 1ª Reunião Anual tenha alcançado as expectativas dos organizadores e, igualmente, projetado a entidade como um espaço de relevância para os debates e divulgação dos conhecimentos científicos. Nesse sentido, e como resgate da memória da SBPC, cabe lembrar um dado curioso exposto na conferência de abertura da X Reunião Anual da SBPC em 1958, comemorando os dez anos da Reunião, o professor Maurício Rocha e Silva faz um breve relato a respeito da primeira edição do evento: Na realidade, a Reunião foi um sucesso completo. O programa de uma semana de apresentação de trabalhos foi realizado à risca, com mínimo de faltas. [...] Historicamente, a Reunião de Campinas foi a primeira do gênero, realizada na América do Sul e teve como visitante de honra, o representante da Associação Argentina, Eduardo Braun Menendez, que esteve presente a quase todas as sessões, tomando parte nas discussões e realizando uma conferência "Liberdade de Pesquisa" na sessão inaugural. Tivemos ainda como hospede de honra, na primeira Reunião Anual de Campinas, o fundador da Física Experimental no Brasil, Gleb Wataghin, que discorreu na sessão inaugural sobre a "Origem do Universo". (CADERNOS SBPC, 2004, p. 40).

195 Em 1949, o professor Crodowaldo Pavan já pertencia ao quadro docente da Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e atuava como assistente do professor André Dreyfus, um dos fundadores da Universidade de São Paulo e pesquisador renomado na área de genética. A palestra do professor Pavan na 34ª Reunião Anual da SBPC teve como tema a genética e as espécies.

Reunião Anual da SBPC concentrou as atividades na Unicamp em diversos institutos e faculdades.

A da 34ª Reunião Anual da SBPC em Campinas, propiciou à ALB, ainda nos momentos iniciais de sua trajetória, a oportunidade de maior contato com pesquisadores de diversas partes do país e ampliação do diálogo com vários segmentos da ciência, da pesquisa científica e da comunidade universitária. Dessa forma, a diretoria provisória da ALB considerou que a ocasião era também uma oportunidade de mobilização dos associados da entidade bem como de divulgação de seus programas e políticas de atuação. A Reunião Anual poderia também configurar um novo canal de comunicação entre os congressistas e a ALB, permitindo, inclusive, novas adesões à entidade196.

Concomitantemente aos trabalhos da SBPC, ocorreu no dia 08 de julho de 1982, a reunião dos associados da ALB na Faculdade de Educação da Unicamp197 e que teve como pauta de reunião as discussões sobre os Estatutos da entidade, a recolha de contribuições para a revista Leitura: Teoria & Prática e para a organização do 4º COLE previsto para o ano seguinte, o planejamento e organização de seminários regionais e a discussão das estratégias de divulgação da ALB. Uma das preocupações da diretoria relacionava-se ao propósito de formar grupos de pesquisas regionais; entretanto, o pequeno número de associados adiou as expectativas de efetivar a criação desses núcleos de pesquisas. Todavia, foi possível discutir entre os participantes da reunião algumas propostas para divulgação e consolidação da entidade. Num primeiro momento, o grupo debateu a perspectiva da entidade estabelecer uma relação de proximidade com outras associações que compartilhavam o interesse pela leitura visando ao intercâmbio e ao fortalecimento das ações em prol da leitura198.

Cabe notar que, naquele momento, havia no Brasil duas associações que compartilhavam interesses sobre o tema leitura, uma sediada no Rio Grande do Sul e outra no Distrito Federal. Em toda a América Latina, constavam seis associações todas

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A sugestão de realizar a reunião de associados durante a 34ª Reunião Anual da SBPC foi feita na reunião da ALB realizada na II CBE (Informativo ALB 01, setembro de 1982)

197 Convocatória nº 01, carta enviada aos associados para convocação de reunião em 08/07/1982, na

Faculdade de Educação da Unicamp, sala 38, às 16 hs. (Arquivo de correspondências expedidas, ano 1982.). Na reunião do dia 08 de julho foi registrada a presença de 16 associados: Olga Molina, Lilian Lopes M. da Silva, Alcebíades Luizan, Else Benetti Marques Válio, Silvia M. Hilkner, Maria Jose C. Gomes, Maria Lucia de S. D'Alessandro, Norma L. Leite, Emília Amaral, Carmen Lucia T. Cunha, Nelsina Rita de Almeida, Sylvia B. Terzi, Ezequiel T. da Silva, Mariza T. B. Mendes, Helly F. Ferley, Doralice C. b. Soares.

vinculadas ao International Reading Association (IRA)199. A ALB vislumbrava na aproximação com outras instituições congêneres a possibilidade de fortalecer os trabalhos e as ações em prol da leitura, reforçando e realinhando a importância do tema no contexto educacional. Daí a preocupação da diretoria provisória quanto à importância de estabelecer maior proximidade com associações que perseguissem objetivos similares bem como a vinculação da entidade a uma instituição reconhecida internacionalmente como a International Reading Association (IRA). Cabe, entretanto, lembrar, que não poderia ser uma adesão tácita. Tanto que, ao longo dos anos de 1982 e 1983, a diretoria debateu sobre essa questão em reuniões ponderando os benefícios e dificuldades que estariam envolvidos na filiação da ALB a uma organização internacional. Os questionamentos estariam em torno das condições que facilitariam a consolidação da ALB como entidade, mas isso pressupunha também uma relação de dependência e mesmo de subordinação à instituição, tendo em vista as exigências do protocolo para filiação com orientações específicas em relação aos objetivos, estatutos etc200. Ao lado desses questionamentos, havia a inquietação dos membros da diretoria em traçar diretrizes que permitissem a construção de uma identidade para a ALB, levando-se em conta as especificidades que faziam parte do momento político e social do Brasil. Essas questões, que podem ser observadas nas atas de reuniões da diretoria201, resultaram no consenso entre os membros da diretoria provisória de que a ALB deveria consolidar uma orientação própria e o objetivo maior seria "o estabelecimento de uma instituição de cunho nacional"202.

Na reunião de associados da ALB realizada durante o encontro da SBPC foi também debatida a questão a respeito da realização de seminários regionais. Contudo, houve um consenso de que seria necessário, num primeiro momento, formar os núcleos de pesquisas regionais e estabelecer uma estrutura mínima para a organização e

199 International Reading Association (IRA), hoje conhecida como International Literacy Association

(ILA) foi criada em 1956 visando ao estímulo e criação de programas de incentivo à leitura. A organização tem sede nos Estados Unidos e conta com 70 mil membros e 1250 associações afiliadas. O nome da associação foi alterado em 2015 depois de reflexões e discussões entre os associados e conselhos sobre seus rumos. A instituição tem por objetivo criar uma rede internacional de profissionais ligados à alfabetização por acreditar que toda a fundamentação da leitura está no processo de alfabetização. Dessa forma, a instituição passou a promover a alfabetização através de pesquisas, programas de incentivo para educadores e professores, cursos, publicações etc.

200

Carta recebida do IRA, 31/05/1983

201 Ata de reunião da diretoria provisória, 26/02/1983. As discussões sobre a filiação da ALB ao IRA são

registradas em atas posteriores com informes sobre as correspondências trocadas entre as entidades (Atas de reuniões de 30/4/1983 e 18/06/1983).

divulgação dos seminários; além disso, a viabilização desses núcleos viria como suporte para que a ALB pudesse desenvolver atividades de interesses em várias regiões do país. Um aspecto relevante projetado para os seminários regionais dizia respeito à necessidade de atenderem uma pauta que respondesse às preocupações mais imediatas dos associados da entidade, e que oferecessem aos professores da rede pública de ensino cursos de capacitação e atualização capazes de ofertar recursos pedagógicos para a atuação em sala de aula e estratégias que visassem um melhor desempenho dos alunos em relação à leitura. Outro tópico debatido na reunião dos associados dizia respeito à organização e planejamento do 4º COLE a ser realizado no ano 1983, projeção que preservava o intervalo de dois anos entre os congressos. Dentre as sugestões de temas para o 4º COLE estava "a televisão como concorrente da leitura". O tema seria uma tentativa de vincular as discussões do congresso às preocupações em relação ao veículo de comunicação de grande poder persuasivo que era a televisão. No sentido de facilitar a participação dos professores das redes de ensino público e privada, ponderou-se que o congresso deveria ser realizado no período de férias escolares, facilitando a resolução do problema de justificação do período de participação no congresso. Na avaliação da diretoria provisória a reunião dos associados da ALB teve resultado positivo embora contasse com um número restrito de associados. As propostas debatidas foram importantes para o encaminhamento das atividades da ALB e, sobretudo, reforçavam as diretrizes para a consolidação da entidade.

Ao constituirmos a memória de um período tão relevante para a história recente do país, é importante observar detalhes que se incorporaram no tempo, mas que, em sentido geral, têm sua importância para a composição do momento que desejamos compor. Como já foi dito anteriormente neste trabalho, o momento de criação da ALB coincidiu — ou, mesmo, derivou — de um período de intensa mobilização da comunidade universitária e que, dentre outras reformas, reivindicava um amplo processo democrático de consulta para a reestruturação da universidade.

No período de realização da 34ª Reunião Anual da SBPC, em julho de 1982, a comunidade universitária da Unicamp ainda mantinha a mobilização pela institucionalização da universidade, fato que gerava atenção maior e mais repressiva do governo estadual em relação às manifestações públicas na universidade. Um incidente envolvendo o estudante paraibano Josino Reinhault ilustra essas disposições e o acirramento dos ânimos. Logo nos primeiros dias da Reunião Anual, soldados da

Polícia Militar do Estado de São Paulo prenderam Josino, acusando-o de afixar faixas com conteúdo político nos prédios da universidade. O estudante foi solto horas depois, mas Romeu Tuma, então delegado geral do DEOPS, chamou a atenção do Reitor da Unicamp, o professor Aristodemo Pinotti, em relação à ilegalidade das propagandas políticas de partidos clandestinos. Dentre os “partidos clandestinos” apontados pelo delegado Tuma, estava o Partido Comunista do Brasil (PCdo B) cuja bandeira estava afixada na área onde a secretaria geral do evento fora instalada. A reação da diretoria da SBPC frente à intervenção gerou polêmica. O professor Crodowaldo Pavan, presidente da instituição, solicitou a retirada da bandeira, determinando que, caso não houvesse entendimento através do diálogo, a possibilidade de encerramento da Reunião Anual antes do prazo previsto não estava descartada (FOLHADE SÃO PAULO, 1982, p.17). A reação da diretoria da SBPC suscitou dúvidas em relação ao posicionamento político da entidade; alguns segmentos da imprensa chegaram a acusar a diretoria da entidade de alinhamento com o governo militar. Em resposta e, através de reiteração pública noticiada pela Folha de São Paulo, o professor Pavan marcou posição de que a SBPC não mantinha qualquer vínculo político com o regime militar, pois a entidade sempre fora "completamente autônoma e independente" e "sempre saiu em defesa da intelectualidade e jamais admitiu arbitrariedades para com o pensamento", seu compromisso único é de "colocarmos nossa inteligência e pessoal a serviço da ciência e do país" (FOLHA DE SÃO PAULO, 1982, p.17).

Cabe, entretanto, lembrar que o incidente não era apenas um fato isolado. As tensões que tiveram lugar durante a Reunião Anual eram resultado do processo de intervenção sofrido pela universidade no ano anterior e que, na mesma medida, resultara de ações repressivas contra a comunidade universitária reivindicando a reestruturação e a institucionalização da Unicamp.

Era consenso entre a comunidade universitária e as forças democráticas da sociedade que a institucionalização da universidade significava um importante passo para o desenvolvimento de uma instituição sólida, com estatutos que amparassem uma estrutura organizacional democrática sem o jugo paternalista e centralizador na qual a universidade fora criada na década de 1960203. As lutas pela institucionalização da

203 A Unicamp foi fundada oficialmente em 05 de outubro de 1966, em cerimônia que contou com a

presença do então presidente da República Marechal Humberto Castelo Branco. Em 1965, foi criada a Comissão Organizadora da Universidade de Campinas visando ao estudo e formação de institutos da