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CAPÍTULO 2 PAISAGEM QUE É MEMÓRIA E PALIMPSESTO: Os primeiros

4. A Feira das Feiras em 1979, uma Feira do Livro ampliada

O sucesso da edição da Feira do Livro de 1978 motivou seus organizadores a planejar um evento de maior amplitude e, no ano seguinte, veio a edição denominada Feira das Feiras, que teve lugar entre os dias 14 e 28 de outubro de 1979. Visando à organização do evento, a parceria entre o Departamento de Metodologia da Faculdade de Educação da Unicamp, a Secretaria Municipal de Cultura de Campinas e a Associação Campineira de Bibliotecários foi novamente constituída. Na edição número 1 da revista eletrônica Linha Mestra, de 2007, um dos principais organizadores do evento e do COLE, Ezequiel Theodoro da Silva, recordou a inciativa da "Feira das Feiras":

O 2º COLE, de 1979, foi realizado no Centro de Convivência Cultural de Campinas. Como ainda não existia a ALB (fundada posteriormente em 1981), o evento nasceu na Faculdade de Educação da Unicamp tendo como co-promotora a Secretaria Municipal de Cultura de Campinas, à época dirigida por José Roberto de Magalhães Teixeira, o popular “Grama”, depois prefeito de Campinas por duas gestões intermitentes.

Para agitar ainda mais a cidade e fazendo justiça às ideias arquitetônicas de Fabio Penteado (autor do projeto do Centro de Convivência), desenhei um mega-evento chamado “Feira das Feiras” para acontecer junto com o 2º COLE. Dessa forma, no mesmo local foram realizadas várias feiras paralelas: do livro, do verde, do artesanato, do sorvete e dos quitutes, além de serviços como a banca

de trocas de livros, mostra de cinema baseados em livros da literatura brasileira (SILVA, 2007).

O professor lembrou ainda que o evento foi um grande sucesso de público e fazia “plena justiça ao espaço [Centro de Convivência de Campinas] que, como desejava o arquiteto Fabio Penteado, deveria promover a integração de toda a população campineira”. O relato do professor Ezequiel reforça o pressuposto de que o objetivo do evento oferecer à população campineira uma conscientização do valor dos múltiplos objetos culturais e ressaltar a importância das diferentes formas pelas quais a cultura pode ser divulgada; além, de poder reunir um conjunto de pessoas ligadas ao mundo das artes e da educação (DIÁRIO DO POVO, 1979, p.5).

Cabe lembrar que a Feira das Feiras teve papel importante para as comemorações da Semana Nacional do Livro, em Campinas, parte da agenda do Ministério da Educação e do Instituto Nacional do Livro. Além da Semana Nacional do

Livro, houve a incorporação de comemorações do Ano Internacional da Criança, cujo

propósito, naquele momento, como lembrou o jornal local Correio Popular, era “despertar na criança o amor pela leitura”69

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Na Feira das Feiras, a Feira do Livro ocupou o maior espaço do Centro de Convivência de Campinas, organizou estandes de livros, revistas pedagógicas, banca de troca de livros, estande para divulgação da produção científica da Unicamp, estande sobre a imprensa local, literatura de cordel, literatura infantil e um para brinquedos pedagógicos. Além disso, havia o espaço para os lançamentos de livros com a presença dos autores (DIÁRIO DO POVO, 1979, p. 7). Os descontos para a compra de livros tiveram uma faixa mais ampla — de 10 a 60% —, uma tentativa de oferecer melhores condições para a aquisição dos livros. A ampliação da margem de descontos em relação à Feira do Livro de 1978 e a diversificação de atividades culturais, aliadas à maior duração da Feira, permitiram o aumento do público frequentador, em especial a parcela de menor poder aquisitivo (DIÁRIO DO POVO, 1979, p.5).

69 A Semana Nacional do Livro foi oficialmente instituída pelo presidente João Figueiredo e pelo ministro

da Educação Eduardo Portella, através do decreto nº 84.631 de 09 de abril de 1980, delimitando o período de 23 a 29 de outubro. Instituiu também o Dia Nacional do Livro no dia 29 de outubro e o Dia do Bibliotecário no dia 12 de março. Coube ao Instituto Nacional do Livro a promoção e organização das comemorações da Semana em todo o território nacional (decreto nº 84.631, 09/04/1980). Na edição de 25 de outubro de 1979, o Correio Popular trouxe o artigo “O hábito de ler começa na escola”, publicado na coluna “Educação e Ensino”. In: Correio Popular, Campinas, 25/10/1979, pág. 03.

A Feira do Verde, organizada pelo Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura Municipal de Campinas, ocupou a área externa do Centro de Convivência — a Praça Imprensa Fluminense70 — com exposições de plantas, ciclo de palestras e distribuição de 20 mil mudas para plantio, entre plantas ornamentais e árvores. Outro segmento que ocupou a Praça Imprensa Fluminense foi a Feira do Sorvete, com a venda de picolés a preço de custo (DIÁRIO DO POVO, 1979, p.5). A Feira de Artesanato e Artes Plásticas trouxe exposições de objetos da cultura indígena e exposições de obras de artistas campineiros, enquanto a Feira da Música Popular Brasileira, por seu turno, realizava apresentações de grupos da música popular brasileira no Circo das Feiras — um circo de lona armado no Teatro de Arena71 — e contava também com estandes de discos72. No teatro interno do Centro de Convivência aconteceu a mostra de cinema

Grandes Momentos do Cinema Brasileiro que contava com sessões diárias de filmes

inspirados na literatura brasileira como Sinhá Moça e Vidas Secas, além dos filmes que tiveram importância na cinematografia nacional como O Cangaceiro (1953), do cineasta Lima Barreto, premiado no Festival Internacional de Cannes); O Bandido da

Luz Vermelha (1968), de Rogerio Sganzerla, considerado um clássico do cinema

marginal brasileiro; e o polêmico Os Cafajestes (1962), filme de Rui Guerra.

Entre as atividades da Feira do Livro em sua edição de 1978, a doação de livros para as bibliotecas escolares ganhou maior visibilidade, pois foi transformada em campanha de mobilização pelo jornal local Correio Popular, que adotou o mote "Livro em prateleira é literatura morta ― O livro deve circular". As chamadas veiculadas no jornal colocavam em evidência o fato de que apenas 20% das escolas de Campinas dispunham de material bibliográfico para estudo e pesquisas em bibliotecas escolares. A proposta da campanha visava a angariar livros suficientes para a formação de cinco bibliotecas escolares e o acervo doado foi tombado pela Associação Campineira de Bibliotecários. Através de sorteios, as escolas que tivessem maior carência em suas

70O Centro de Convivência de Campinas está localizado próximo à região central da cidade, incorporado

à Praça Imprensa Fluminense, cujo nome foi uma homenagem ao papel que a imprensa do Rio de Janeiro, então capital do país, teve no apoio à cidade de Campinas por ocasião da epidemia de febre amarela em 1889.

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O Centro de Convivência Cultural possui um teatro ao ar livre denominado Teatro de Arena.

bibliotecas eram contempladas. Tencionando incentivar maior número de doadores, o jornal oferecia gratuitamente uma assinatura àqueles que doassem mais de 50 livros73.

O Serviço Social da Indústria (SESI), também marcou presença na Feira das Feiras, apresentando o carro-biblioteca no qual os usuários podiam realizar empréstimos de livros gratuitamente. O carro-biblioteca um dos quatro formatos de biblioteca que a instituição mantinha para difundir o hábito da leitura entre a população. Além dele havia a Biblioteca Circulante, bibliotecas escolares instaladas em centro educacionais, e as caixas-estantes, instaladas nas indústrias para facilitar o acesso e o empréstimo de livros pelos trabalhadores74. Essas parceiras, bem como outras iniciativas vindas em nome da diversificação das atrações do evento, fizeram da Feira das Feiras uma realização de grande porte, capaz de reunir um grande público presente às atividades realizadas no evento. Cabe lembrar que, em relação ao formato idealizado em 1978, as dimensões da Feira das Feiras foram mais abrangentes, não se concentrando em aspectos acadêmico e da literatura, características da primeira Feira do Livro. Supomos, então, que procedimentos como a avaliação do evento75, realizado na primeira edição, não puderam ser efetivados em função do grande fluxo de pessoas. Embora não se tenha encontrado no acervo nenhum documento dessa natureza, lançamos mão de artigos publicados pela imprensa local que puderam nos dar um quadro, ainda que genérico, dos resultados da Feira das Feiras. As notícias sobre a realização do evento evidenciam o sucesso da Feira das Feiras como aconteceu na Coluna “Campinas: Vida Cultural” (CORREIO POPULAR, 1979, 21), na qual o colunista elogiou a iniciativa, ressaltando a grande participação do público e o movimento cultural que proporcionou na cidade. Na coluna Livros, do jornal Diário do Povo, o jornalista Carlos Menezes fez referência ao evento anotando os lançamentos dos livros que aconteciam na Feira do Livro e destaca a presença de um número grande de pessoas que participavam do evento (DIÁRIO DO POVO, 1979, p.13). Em outro artigo, curiosamente, o evento foi elogiado, mas também criticado em função do barulho provocado pelos shows musicais apresentados durante a Feira (CORREIO POPULAR, 1979, p.10). A imprensa local

73 Chamadas para a campanha: “Para eles é muito... para você é pouco”, jornal Correio Popular,

25/10/1979, p. 03;e “Você deve aliar-se a esta cruzada de cultura”, jornal Correio Popular, 27/10/1979, p. 07 e “Dura realidade!”, jornal Correio Popular, 21/10/1979, p. 03.

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Desconto nos preços e trocas de livros na Feira das Feiras, Diário do Povo, 24/10/1979, coluna Viver, p. 11. Presença do SESI na Feira do Livro, Correio Popular, 24/10/1979, p. 12.

75A avaliação da Feira do Livro, na primeira edição, foi realizada através de questionários distribuídos

entre os participantes e analisados pelos organizadores. O questionário foi distribuído para uma amostra de 100 pessoas que visitaram a feira e participaram das atividades.

dedicou espaço generoso à Feira das Feiras e ao 2º COLE, publicando vários artigos ao longo de um período relativamente amplo — entre 13 de outubro e 02 de novembro de 1979 – que destacavam, em especial, as atividades culturais da Feira. Essa divulgação contribuiu fortemente para os resultados positivos da Feira, especialmente quando consideramos a limitação das formas de divulgação disponíveis naquele momento. De qualquer forma, é preciso considerar que os dados a respeito da participação do público da Feira das Feiras referem-se ao apenas ao aspecto quantitativo.

Há ainda uma última consideração em relação aos orientadores de leitura na segunda edição da Feira do Livro. Embora não haja registros relativos à equipe de apoio, supomos que houvesse um grupo que auxiliou na organização e no andamento das atividades. Um dos indícios é a realização de atividades em estandes de troca de livros e de doações para bibliotecas escolares, pressupondo a intermediação de colaboradores como os orientadores de leitura, conforme ocorreu na primeira edição. Podemos inferir ainda que, pela dimensão do evento, a equipe de apoio poderia ter sido ampliada, com a adesão de colaboradores que comporiam o staff de organização da Feira e do 2º COLE.