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CAPÍTULO II UM OLHAR SOBRE AS POLÍTICAS DE COMUNICAÇÃO

2.3 CONHECENDO ALGUNS ASPECTOS SOBRE AS PRÁTICAS DA TELEVISÃO

2.3.2 A ação do Estado como modelo de sustentabilidade

O Instituto Cubano de Rádio e Televisão forma parte dos Organismos de la Administración Central del Estado (Órgãos da Administração Central do Estado). Como tal, e em consonância com o modelo estatal do sistema de meios de difusão massiva implantado no país, o financiamento das diferentes entidades pertencentes ao ICRT é essencialmente estatal.

Os canais de cobertura provincial e municipal como parte integrante do Sistema de Televisão Nacional são concebidos como unidades financiadas a partir de fundos estatais, prévia aprovação do Ministro de Economia e Planejamento – encarregado de autorizar a criação, a transferência, a fusão e a extinção de qualquer tipo de empresa, união de empresas, bem como outras organizações econômicas e unidades financiadas pela Administração Central do Estado. Para a autorização de qualquer uma destas ações, o Ministro de Economia e Planejamento tem que ouvir as considerações de outros Ministérios tais como o de Finanças e Preços, o de Trabalho e Seguridade Social, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, o Ministério das Comunicações bem como outros órgãos, segundo corresponda no caso.

O financiamento estatal compreende a infraestrutura (construção dos locais onde funcionarão os canais), o equipamento necessário para a produção e transmissão de sons e imagens, a contratação e o pagamento de salários aos recursos humanos (profissionais, técnicos, pessoal administrativo, etc.), bem como financiamento posterior para a manutenção das instalações e dos equipamentos.

Nas Teses e Resoluções sobre os meios de difusão massiva, aprovadas no I Congresso do PCC, celebrado no ano 1975, na cidade da Havana, se definiram as diretrizes da política no país para o financiamento das TVs:

A política do Partido tem como finalidade essencial abordar a problemática dos meios de difusão massiva em toda sua complexidade; garantir sua qualidade; assegurar o desenvolvimento de sua base material em consonância com as possibilidades da economia do país para incorporar os avanços da revolução cientifico-técnica e fortalecer de forma continuada suas respectivas infraestruturas de modo que cumpram suas funções educativas, de informação, de mobilização, organizativas, de entretenimento e culturais em plena identificação com a política do Partido e os objetivos do Estado socialista (ROJAS, 1978, s.p., tradução própria).

O I Congresso do PCC foi um momento importante na formação do Sistema Nacional de TV. Nele foi definida uma nova divisão político-administrativa para a ilha caribenha, substituindo uma divisão datada da época colonial, que não se correspondia com as necessidades de desenvolvimento do país. Como acordo do Congresso começam a serem criados nas províncias Órganos del Poder Popular (Órgãos do Poder Popular), que são assembleias legislativas regionais. Essa diretriz de organização política contribuiu à descentralização da formulação e implementação das decisões políticas no país e possibilitou que as províncias pudessem atuar com maior autonomia em diversas áreas.

As diretrizes gerais do financiamento das TVs são definidas pelo Conselho de Ministros de Cuba como órgão administrativo do Estado cubano. Assim, no ano 1984, foi aprovado o investimento para a criação das primeiras televisões provinciais, que tem sua gênese a partir dos Centros Regionais de Televisão. Segundo Cabrera e Legañoa (2007, p.74), surgem neste período as sete primeiras televisões provinciais, que começam a produzir programas próprios para seus territórios e a transmitir duas horas diárias das 16:00 às 18:00.

No começo da década dos anos 1990 se inicia o processo de criação de emissoras nas províncias que ainda não contavam com centros de TV. A difícil situação econômica vivenciada pelo país após a queda do campo socialista dificultou os investimentos amplos no setor nesse período34. O sistema de televisão provincial somente se completou no ano 2000 com uma emissora funcionando em cada província do país.

Deve-se apontar que a maior parte dos recursos financeiros na implementação das televisões provém do ente estatal em nível nacional, porém é importante destacar que os governos provinciais contribuíram ao longo do processo com a transferência de recursos, a disponibilização de locais e a mobilização e incentivo de diversas entidades do território a colaborarem com a criação das emissoras.

No caso das televisões de cobertura municipal, a sua criação começou no ano 2003 e o financiamento se deu a partir de um plano governamental nacional. O primeiro grupo de oito emissoras foi implementado no final de 2004 e ao longo de 2005. A partir de novembro de

34 A desaparição do bloco de países socialistas, fundamentalmente da União Soviética, afetou profundamente a

economia e o desenvolvimento de Cuba. Durante a primeira metade da década de 1990 foram adotadas

reformas estruturais emergentes na maioria dos setores econômicos e produtivos do país. A crise afetou também à imprensa e ao sistema de mídia em geral. Em 1990, houve jornais que tiveram a sua circulação suspensa, e outros que passaram a circular com frequência semanal, em lugar da frequência diária como Juventud Rebelde e Trabajadores. Os jornais de circulação nas províncias diminuíram o número de exemplares para distribuição e muitas revistas tiveram as edições suspendidas. A rádio, a televisão e o cinema também foram atingidos pela crise. Diminuíram as horas de transmissão e as produções. Segundo estatísticas, houve uma diminuição de 58,8 % do número de publicações e 34,9% das horas de transmissão. A maioria dos projetos de criação de novos veículos de transmissão de sons e imagens nas províncias se estagnou no período.

2006 retoma-se o processo de criação das TVs em outros municípios do país. Atualmente existem 30 canais municipais, sendo que 13 foram inaugurados nos municípios principais de cada província onde também estão localizadas as emissoras provinciais. Nesse período também tem sido implementadas no país 71 sucursais de televisão municipal, que funcionam essencialmente como produtoras de informação para as televisões provinciais e recentemente tem realizado transmissões de pouco tempo (30 minutos) e rádio de cobertura restrito.

A construção dos locais para o funcionamento das emissoras municipais de TV foi realizada pela Empresa de Aseguramiento Material, Servicios Generales y Construcciones (Empresa de Materiais, Serviços Gerais e Construções - ASTOC). Os primeiros oito canais criados no país começaram a funcionar sob condições excepcionais, em locais provisionais e precários, com um mínimo de recursos tecnológicos e materiais e com pessoal que ainda estava no processo de formação (HERRERA, 2008, p. 81). Já num segundo momento, a partir do ano 2006, foi aprovado o financiamento para a construção de instalações adequadas, para a aquisição da tecnologia de produção e transmissão de sinais e, na mesma época, começam a serem planejados e construídos outros nove canais de cobertura local em diferentes regiões do país.

Nesta segunda etapa, foi criado um Projeto Típico de desenho do Canal Municipal visando uma maior funcionalidade dos centros a serem implementados e um melhor aproveitamento do espaço físico.

Cada um dos 17 canais municipais recebeu uma dotação de equipamento tecnológico para o processo produtivo. A dotação é homogénea em todos os centros. A respeito, a pesquisadora Dagmar Herrera concluiu em estudo sobre a televisão local que,

O equipamento é qualitativamente superior ao que possuem os telecentros provinciais e os canais nacionais de televisão. Sua adequação aos padrões técnicos internacionais favorece consideravelmente o processo produtivo nos canais e a qualidade técnica dos produtos comunicativos, porém no começo constituiu um entrave para os trabalhadores. O pessoal enfrentou uma tecnologia diferente da que vem sendo utilizada nas demais estruturas da Televisão Cubana e não tinha capacidade para operá-la (HERRERA, 2008, p. 85, tradução própria).

A capacitação do pessoal que desempenha as diferentes funções nas emissoras, ou seja, produção, programação, transmissão assim como os jornalistas é uma tarefa sob a responsabilidade estatal e das instâncias políticas e de governo nos territórios. No documento

Acciones de formación, entrenamiento, habilitación, superación profesional y general, de capacitación y desarrollo de los Telecentros y Corresponsalías de Televisión (Ações de

desenvolvimento dos Canais e Sucursais de Televisão) de 2006 são explicitadas as seguintes diretrizes de atuação:

- A realização de cursos de Qualificação e Aperfeiçoamento em todas as profissões próprias da televisão, assim como seminários, especializações e estudos pós- graduados (mestrado) que sejam previamente coordenados e planejados com o Canal Provincial e a Televisão Cubana.

- Trabalhar para a superação político-ideológica bem como técnico-profissional do pessoal e a realização de cursos vinculados com os fundamentos da televisão, a informática e as novas tecnologias, os estudos de línguas, questões jurídicas e do meio ambiente, questões econômicas, aspectos relacionados com a proteção do trabalho, a defesa, a gestão de recursos humanos, dentre outros.

- A formação e treinamento a estudantes que concluíram o nível superior ou os estudos de nível médio para que comecem a trabalhar nas emissoras ao concluir seus

estudos, assim como a seleção e treinamento de jovens que tenham concluído

estudos e de trabalhadores que tenham condições para iniciar diferentes cursos da Faculdade de Arte de Meios de Comunicação Audiovisual.

- A atenção ao processo de acesso direto de trabalhadores - sem estudos de nível superior - para a realização de estudos através das Sedes Universitarias Municipales (Centros Universitários Municipais) em áreas afins com o trabalho nos meios de difusão massiva tais como Comunicação Social, Estudos Socioculturais, História, Psicologia, etc.

- O trabalho continuado com estudantes que cursem estudos técnicos ou de nível superior durante os períodos de estágio laboral que abra possibilidades para a futura contratação deles ao término de seus estudos nas emissoras (ICRT, 2006b, s.p, tradução própria).

Em nível nacional também existem diversas iniciativas para incentivar e garantir a capacitação dos recursos humanos que são oferecidas de forma gratuita pelas instituições vinculadas à radiodifusão e outras entidades culturais e de nível superior no país. Nas emissoras de TV, a capacitação e o aperfeiçoamento é uma exigência para o pessoal empregado.

Nas duas modalidades de TV as dificuldades decorrentes da carência de recursos no país constituem entraves de considerável incidência. Televisões como as provinciais não tem transmissores próprios; a programação, mesmo com propostas novas por parte dos realizadores, permanece bastante regular e estável devido às limitações relacionadas com a quantidade e qualidade das câmeras e dos recursos para a produção; são veiculados – em grande proporção – programas importados para preencher as grades das TVs e resulta muito difícil para o Estado cubano realizar a manutenção continua dos equipamentos, assim como sua substituição.