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2. BASES TEÓRICAS

2.2 Pós-modernidade e Educação

2.2.3 A ação na dimensão educativa

Nesta subseção, apresento uma articulação entre a palavra ação e a palavra docência, que amplie o que o léxico da nossa língua nos permite compreender sobre ambas palavras. Trata-se de uma tentativa de valorizar e destacar as contribuições

de Tescarolo (2007), ao formular a ideia de magistério da ação e voltar, recursivamente, às aproximações teóricas entre Arendt (2007) e Morin (2003, 2008, 2009), feitas na subseção 2.1.3 desse capítulo.

Para compreender as concepções de ação na dimensão educacional e na perspectiva do conceito de magistério da ação de Tescarolo (2007), interessa antes resgatar a concepção de sujeito a partir da aproximação teórica entre Arendt (2007) e Morin (2004, 2005). Há que se resgatar o sujeito concebido no princípio da unidade, na multiplicidade e na complementaridade, emergente da trindade indivíduo/sociedade/espécie e de labor/trabalho/ação, postulados por Morin (2003) e Arendt (2007), respectivamente.

De Arendt (2007), a maior contribuição, neste momento, refere-se à compreensão do labor do trabalho e da ação como constituintes da condição humana, nos quais os sujeitos se inserem e que também, podem transformar. Ao retomar o conceito do labor e do trabalho dessa autora, há de se destacar a diferenciação que ela faz entre ambos os conceitos.

Em síntese, o labor é compreendido como a atividade humana que visa produzir tudo que é vital ao homem. Para ela, esse homem concebido como animal laborans, ou seja, o homem que retira da natureza tudo de que precisa para a manutenção da vida, confere o caráter biológico dessa atividade ligada ao naturalismo radical do ser humano e se vincula à conservação da espécie e da vida como tal. Pode-se compreender que essa atividade é a que se apresenta como dimensão humana próxima das dimensões comuns a todos animais, inclusive o homem. Na Grécia antiga, essa atividade poderia ser compreendida no cotidiano da vida dos escravos submetidos à sociedade grega e que, para viver, laborava (ARENDT, 2007).

Já o trabalho, na concepção de Arendt (2007), é a atividade de transformação da natureza, ou seja, uma atividade em que o homem é concebido como homo faber, isto é, o que fabrica seus instrumentos e que, para isso, possui a virtude intelectual, a techné, que pode ser compreendida como a capacidade ou inteligência que produz algo, uma técnica. Nesse sentido, o trabalho, pela techné, produz um mundo artificial entre o homem e a natureza. Pela techné, o homem cria objetos duráveis, que a autora vai relacionar com a futilidade humana de manter a obra,20 a

20 Aqui, compreendo o sentido que Arendt (2007) confere à obra como aquilo que insere o homem com status de quem produz; ou seja, que merece ser reconhecido como sujeito social e não mais como o escravo que

partir do trabalho.

O pensamento de Arendt (2007) contribui, de forma essencial, para os estudos que envolvem a condição humana na pós-modernidade, especialmente, por sua articulação entre os conceitos de labor e trabalho e ação que também permite introduzir a concepção de sujeito da educação, que espero definir e posicionar.

A ação é a dimensão que amplia a condição humana para as questões políticas e ideológicas que envolvem os sujeitos, pois compreende-se que, para Arendt, labor e trabalho se confundem no mundo em que as relações de consumo precisam ser mantidas a partir dos processos produtivos. Assim, o desejo ideológico, que constitui as forças de dominação, pode desenvolver uma visão que evidencie a techné em detrimento da ação, ou seja, o trabalho para o homem comum, imerso nas ideologias, que não reconhece o valor da dimensão política em que ele se constrói como sujeito na relação que estabelece com os outros (ARENDT, 2007). Entretanto, o trabalho, como dimensão humana e prática social na contemporaneidade, se revela como ponto articulador das transformações sociais, ou seja, o homem precisa dominar a techné para que possa se manter na sociedade pós-moderna.

Ampliando a compreensão na perspectiva de Arendt (2007), para inseri-la no contexto da educação, destaco que Morin também apresenta uma compreensão da ação como aquilo que envolve as escolhas humanas “para além daquilo que se simplifica” (MORIN, 2000, p. 87). Resgato a ideia de ecologia da ação que Morin (2003, 2008) formula como aquilo que é, em suma, levar em consideração a complexidade que ela supõe, ou seja, o aleatório, o acaso, a iniciativa, a decisão, o inesperado, o imprevisto, a consciência de derivas e as transformações, também pensadas pela visão de Arendt (2007),nesse caso, as transformações da realidade, a partir da ação. Nesse sentido, destaco a palavra ação como ponto central da presente pesquisa, pois trata-se de uma palavra que carrega consigo os sentidos mais complexos que a envolvem e, por isso, a escolha da palavra ação no centro da discussão desse trabalho.

A ação que, de natureza complexa (MORIN, 2003, 2008, 2009) e política (ARENDT, 2007), pode auxiliar na compreensão das interações humanas que ocorrem no espaço educativo. Articulando as concepções sobre a ação do ponto de

vista de Arendt (2007) e de Morin (2003, 2008, 2009), abrem-se outras possibilidades de compreender as relações educativas que envolvem os sujeitos no contexto da educação, especialmente no que se refere à docência para além do ensino de conteúdos, mas também como prática social e humana.

A partir dessas aproximações entre Arendt e Morin, resgato, na próxima subseção, a ideia e sujeitos complexos no âmbito da educação; considerando as contribuições de Tescarolo (2007, p. 49) a respeito da ação educativa como “o princípio de que toda pessoa é essencialmente livre e capaz de um protagonismo responsável”, ou seja, a ação educativa confere à docência um extrapolar, em certa medida, as prescrições que permeiam os sujeitos da educação.