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A AÇOMINAS e a grande usina do Vale do Paraopeba

2 INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

3.8 A AÇOMINAS e a grande usina do Vale do Paraopeba

A expansão da grande siderurgia de Minas Gerais continuou ainda após a criação da USIMINAS, sendo o maior passo nesta direção a criação da Aços Minas Gerais S. A. – AÇOMINAS. Empreendimento, também de origem estatal, que ampliou a siderurgia a base de carvão mineral.

Desde a sanção da lei estadual que criara a AÇOMINAS, em 1963, até a inauguração da usina no município de Ouro Branco, região do Vale do Paraopeba, decorreram 22 anos marcados por instabilidades políticas e econômicas que determinaram uma tortuosa trajetória até o início das operações da siderúrgica.

Entretanto, a criação da AÇOMINAS remete a fases ainda muito anteriores do processo de formação da base siderúrgica nacional. Sabe-se que o debate em torno do caso da Itabira Iron gerou variadas manifestações ao longo dos vinte anos em que esteve em pauta, sendo uma a criação de um decreto do então presidente da república Arthur Bernardes em 1924. Em tal decreto, de cunho nacionalista, o presidente sugeria a construção de três usinas siderúrgicas em território nacional com o apoio governamental. Uma na região do Vale do Rio Doce, onde anos mais tarde foi instalada a USIMINAS, outra no Vale do Paraopeba e a última no sul do país, próxima às reservas brasileiras de carvão mineral (SOUZA, 1985; BASTOS, 1959; GOMES, 1983). Posteriormente, durante o debate em torno da localização da CSN, o governo de Minas Gerais reivindicou para o município de Conselheiro Lafaiete, nas proximidades do Vale do Paraopeba, a localização da siderúrgica a ser instalada pelo governo federal (GOMES, 1983). Assim, pode-se dizer que havia entre os mineiros o entendimento que a região do Vale do Paraopeba estava apta, assim como o

Vale do Rio Doce, a receber uma grande usina siderúrgica. Deste modo, logo após a inauguração da USIMINAS e no bojo do processo brasileiro de industrialização via substituição de importações o governo de Minas Gerais se empenharia na instalação de uma grande siderúrgica também no Vale do Paraopeba.

Nesse contexto, em 1961 o governo de Minas criava a Metais de Minas Gerais S. A.- METAMIG uma sociedade de economia mista a qual objetivava atuar nas atividades de exploração, industrialização, exportação e demais formas de aproveitamento dos minérios provindos deste estado (SOUZA, 1985). No ano de 1963 o governo estadual sancionou a lei que criou a AÇOMINAS, entretanto a empresa somente foi constituída 3 anos mais tarde sendo sua incorporadora a METAMIG. O estado de Minas Gerais assumiu o controle da empresa em 1975, detendo participação de 79,6% do capital da siderúrgica. No mesmo ano o CONSIDER, órgão normativo do setor siderúrgico brasileiro, recomendava um processo de expansão das siderúrgicas de participação do governo federal: CSN, USIMINAS e COSIPA. Ainda ficou estabelecido que a USIMINAS deveria apresentar um estudo para a construção de uma nova usina. Este foi o contexto de viabilização da construção da AÇOMINAS.

Deste modo, no final de 1975 a USIMINAS apresentou um estudo de viabilidade para a instalação de uma usina no município de Ouro Branco, sendo esta integrada e com capacidade de produção inicial de 2 milhões de toneladas de aço em lingotes por ano, com possibilidades de expansão para a quantidade produtiva de 10 milhões de toneladas (SOUZA, 1985). Em 1976 a SIDERBRAS, uma empresa holding do sistema siderúrgico estatal, e o governo de Minas assinaram o acordo de acionistas segundo o qual a primeira passava a controlar a AÇOMINAS, marcando a entrada definitiva do governo federal no projeto. Ainda neste ano começaram as obras para a construção da usina de Ouro Branco. O projeto que contou com o financiamento de um grupo de bancos europeus e americanos, liderados por britânicos, se arrastou por nove anos até que fosse inaugurado. Dentre as dificuldades encontradas pela AÇOMINAS em sua fase de construção pode ser feita referência á crise da década de 1980 que teve sérios efeitos sobre a economia brasileira, o que levou à paralisação das obras no ano de 1984. Contudo, após um esforço final do governo federal as obras foram retomadas, sendo a usina inaugurada no ano de 1985 sob o nome de “Usina Presidente Arthur Bernardes”, em referência ao estadista que 61 anos antes indicara a região para abrigar uma grande unidade siderúrgica (SOUZA, 1985).

Da construção da AÇOMINAS cabe destacar dois pontos importantes, sendo o primeiro destes já mencionado: 1) a cooperação da USIMINAS no projeto, atuando esta como consultora durante a fase de implantação da siderúrgica do Vale do Paraopeba; 2) o estabelecimento de um convenio entre a AÇOMINAS e a Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – que, em 1982, deu origem ao curso de Especialização em Estrutura Metálica, para atender às demandas da usina em construção. Isso mostra algumas peculiaridades relevantes de um sistema de inovação: a cooperação entre as firmas, sendo que, mesmo não detendo um caráter espontâneo, este fator propiciou à AÇOMINAS a desfrutar do conhecimento anteriormente adquirido pela USIMINAS, facilitando alguns aspectos de sua estruturação. A USIMINAS atuou ainda fornecendo para a siderúrgica de Ouro Branco uma série de bens de capital através de sua subsidiária USIMEC (Usiminas Mecânica), que configurou umas das principais fornecedoras de máquinas e equipamentos para a usina em construção. A USIMEC foi um esforço bem sucedido da USIMINAS no seu processo de integração horizontal, com a incorporação da produção de bens de capital. Esta subsidiária atuou de forma positiva no processo de expansão da siderurgia brasileira levando a influência da siderúrgica de Ipatinga sobre os novos projetos siderúrgicos brasileiros, como no caso da AÇOMINAS (DINIZ, 1981). O outro ponto relevante assinalado é a cooperação entre universidade e empresa, o que fez com que os sistemas de ensino e pesquisa e de produção se alinhassem em torno de um projeto comum que traga benefícios para os dois lados. Neste caso, a AÇOMINAS se beneficiou das externalidades causadas pela proximidade da UFOP, que já atuava em atividades de ensino e pesquisa no setor por mais de 100 anos.

A criação da AÇOMINAS veio a consolidar o já relativamente maduro parque siderúrgico de Minas Gerais estabelecendo definitivamente a grande siderurgia a coque mineral neste estado. No ano de 1995, dez anos após sua inauguração, a usina do Vale do Paraopeba produziu 2,4 milhões de toneladas de aço. Em 2000 a AÇOMINAS foi responsável pela produção de 2,6 milhões de toneladas e atualmente a siderúrgica tem condições de produzir cerca de 4,5 milhões de toneladas de aço ao ano (IBS, 2001; 2008). Ou seja, a implantação da AÇOMINAS contribuiu para a continuidade da expansão da produção mineira de aço. Pela tabela apresentada no ANEXO 1 deste trabalho pode-se observar que a produção mineira de aço ganhou um novo impulso após a implantação da usina em Ouro Branco, em 1985, tendo a produção do estado saltado do patamar de 6,5 milhões de toneladas, em 1985, para o de 8,5 milhões, em 1990, e chegando aos 11 milhões de toneladas em 2007.

A implantação da AÇOMINAS constituiu o último grande esforço para a ampliação do parque siderúrgico de Minas Gerais, sendo o início de suas operações fundamental para assegurar a posição do estado como principal produtor siderúrgico do país. Porém, o demorado processo de implantação da usina coincidiu com o esgotamento da participação do estado em projetos de tal monta, que culminou com o processo de privatização das siderúrgicas estatais.

3.9 Privatização e reestruturação do sistema siderúrgico nacional e de Minas