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4. APRESENTANDO O QUEM DO SER ENFERMEIRO OU TÉCNICO DE

4.2. Unidades de Significação

4.2.3. A abertura para o cuidado

Ser-com-o-outro e angustiar-se com sua situação. Pode abrir o tratado essencial do Dasein da enfermagem. Essa equipe supera seus medos, convicções e estão disponíveis para realização do cuidado de forma transformadora, mesmo que a cura (em português) não seja possível. Mas se abre a cura (em latim). “(...) nessa determinação, porém, já se acham também colocados os outros dois momentos estruturais da cura, a saber, o já ser-em e o ser-junto-a” (HEIDEGGER, 2013 [1927], p. 260).

Imergir, palavra que significa afundar-se. Pode se exemplificar dizendo que um mergulhador emergiu no mar. Ou seja, afundou no mar e como mergulhador hábil os olhos naturais não conseguem mais avista-lo no fundo do oceano. Tal explicação só serve para aproximar da imagem que Heidegger descreve sobre tal palavra, quando afirma: “imergir no impessoal junto ao ‘mundo’ das ocupações revela algo como uma fuga de si mesmo da presença” (2013, p.250).

Contudo, ‘a disposição fundamental da angústia como abertura privilegiada da presença’, § 40 da obra Ser e Tempo. Determina que para se colocar diante de si o ser de presença, a saber, o Dasein deve fugir energicamente dessa forma de ser no mundo, imersa na falação do cotidiano que não enaltece o cuidado. Trata-se de uma existência com medo, em uma constante fuga de si. E é desta existência fugitiva que ‘foge’ um ser de presença. Afinal, “é justamente daquilo que se foge que a presença corre ‘atrás’” (HEIDEGGER, 2013 [1927], p.251).

Waldow (2001) identifica o cuidado como a observação global do paciente. Nunca de forma isolada, mas sempre em atitude de parceria, completude, para possibilitar o crescimento de todos os envolvidos. Sua proposta é gerar uma evolução simbiótica no campo da saúde. Com outras palavras, uma unidade intransferível de confiança, amor, ajuda entre o ser cuidado e todos seus cuidadores envolvidos nesse processo. Desta forma, a cura seria um dos grandes objetivos, mas não a centralidade no processo que é desenvolvido. Assim afirma a ENF. 1:

“Depois a gente vai procurando trabalhar esse sentimento, a aceitação maior, procurando oferecer o conforto, cuidado com conforto. Na minha visão essa é a prioridade que precisa dar a esse paciente”. “Eu penso que, na verdade quando passamos a cuidar do paciente em cuidado paliativo, de fim de vida ou um paciente idoso com doença neurológica bem avançada, progressiva. Eu penso que é um olhar que precisamos desenvolver mais” (Enf. 1).

Compartilhar com o outro em um momento único de sofrimentos e incertezas possibilita o abrir-se para a essencialidade do cuidado. A equipe de enfermagem tem a potencialidade para esse tratado ontológico pela vivência constante dessa realidade. Boff (2013), afirma que toda mudança paradigmática só é possível frente a uma certeza da existência. Isto é, somos seres nesse mundo constituídos para o cuidado. Portanto, o único paradigma fundamental é se abrir a esse tratado de sempre dar o melhor, dedicar-se ao máximo perante aquele que necessita do seu suporte, como afirma Téc. Enf. 1:

“Eu acho que a gente tem que dar o melhor para o paciente, mesmo que esse paciente esteja já... entendeu? no leito de morte mesmo. a gente tem que fazer tudo para que isso não aconteça. Mas, como te falei é independente da vontade. Acho que a gente tem que lutar sempre para preservar a vida. Acho que a gente tem que cuidar bem do paciente” (Téc. Enf.1).

Heidegger (2013, p.258) afirma que “a presença é um ente que, sendo, está em jogo seu próprio ser”. Somente um ser de angústia percebe seu próprio existir, a saber, suas ações perante o mundo que o circunda. O Dasein não é aquilo que imagina ser, mas sim, aquilo que realiza sendo com-o-outro e consigo mesmo. Apesar de seres de linguagem é na facticidade que se constitui verdadeiramente como ser de presença.

A cotidianidade que é fundamental para a pesquisa fenomenológica, pois é a partir da real vivencia que o fenômeno pode ser profundamente narrado, também pode ser o mundo das ocupações. Imerso nele, o Dasein se apequena e sua fonte primária não é atingida e o cuidado não exala em seu ser. Ou seja, esse ser de presença está obscurecido, alicerçado pelo falatório da existência decadente (HEIDEGGER, 2013 [1927]). A equipe de enfermagem para gerar um cuidado verdadeiro deve lutar contra o falatório. Nesse caso a frieza, o desprezo, o fazer unicamente técnico – fazem parte do som que emergem das falas desnecessárias. A ‘pegada’ heideggeriana é atenta nos detalhes como descrevem as Téc. Enf. 3 e 5:

“Muita gente diz que com um tempo você esfria. Que a morte vai ser tornando uma coisa banal. Mas para mim a morte não é uma coisa banal. Eu não consigo ainda conviver com a perda, indiferente de ser de parente, amigo, paciente. Eu não consigo lidar com a perda. O serviço mecânico você aprende com a experiência. Você o que fazer, na hora de fazer, então você coloca em prática seu conhecimento.

Mas seus sentimentos ainda é o de lá atrás quando você começou” (Téc. Enf.3).

“É complicado. Dependendo do estado geral do paciente – a gente vai investir a gente não vai ser pessimista. Vai tentar da o melhor da gente para ele em termo de cuidado” (Téc. Enf.5).

Portanto, a abertura para o cuidado ficou evidente em diversos momentos perante as entrevistas. O que é papável são as falas doadas pelas equipes de enfermagem nos diversos setores. Mas os olhares, os gestos, as emoções frente à lembrança reconfirma o narrado. Não se trata simplesmente do procedimento, que sem dúvida é importante, mas de algo mais profundo, como doa a Téc. Enf. 9: “É uma pessoa, não é meu familiar, mas tem uma aproximação de cuidar, do seu carinho, de querer bem, é um ser humano que depende de você nesse momento”.

A abertura para o cuidado:

Enf. 1 “procurando oferecer o conforto, cuidado com conforto. Na minha visão essa é a prioridade que precisa dar a esse paciente”.

Téc. Enf. 1

“Eu acho que a gente tem que dar o melhor para o paciente”.

Téc. Enf. 3

“Mas seus sentimentos ainda é o de lá atrás quando você começou”.

Téc. Enf. 5

“Vai tentar da o melhor da gente para ele em termo de cuidado”.

De forma sintética a apresentação do cerne da questão.