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4. APRESENTANDO O QUEM DO SER ENFERMEIRO OU TÉCNICO DE

4.2. Unidades de Significação

4.2.2. A percepção perante o fenômeno da morte de idosos

A morte é a possibilidade própria de cada ser-no-mundo. O agora da morte é a certeza única do Dasein. Contudo, “a morte se desvela como perda e, mais do que isso, como aquela perda experimentada pelos que ficam” (HEIDEGGER, 2013 [1927], p. 312). O ser idoso representa a integridade da vivencia humana em sua plenitude – e vivenciar a morte deste corresponde a abertura do fenômeno existencial.

A decadência fisiológica é fundamental, pois o ser de presença normalmente deseja viver por longo tempo, a realidade e não a fantasia faz parte de um amadurecimento saudável. A pesar de todos desejarem a autonomia na vida idosa algumas limitações físicas e epistemológicas podem acompanhar o processo de envelhecer. Se somos o que realizamos na facticidade da existência e se todo ser vivente morre, somos, sem sombra de dúvidas, seres- para-morte (HEIDEGGER, 2013 [1927]).

Não é possível vivenciar o fato de sua própria morte e a partir dele tornar-se ser de presença. O fato é simples, o tempo já teria cessado para aquela existência. Portanto, somente pela morte do outro que abertura a autenticidade se faz possível como afirma Heidegger: “A morte dos outros, porém, torna-se tanto mais penetrante, pois o findar da presença é ‘objetivamente’ acessível” (2013, p. 311). Portanto, o ‘outro’ tem dupla importância para o Dasein, possibilita a abertura para presença e para o cuidado. As Enf. 1 e 3 doam o sentido que o fenômeno da morte em idoso lhe provocam:

“No caso do paciente idoso, agente entende, dependendo da patologia dele, a morte como algo já esperado”(Enf.1).

“Quando eles chegam aqui para gente, são pacientes bem idosos, caquéticos, demenciados, com algumas doenças de base muito progressiva. Que já estavam sofrendo bastante. Pode até ser insensibilidade da minha parte, na verdade, mas de algumas formas a gente sente até um alivio. A gente vê que eles relaxaram, descansaram”(Enf.3).

O outro não mais é uma presença. A totalidade de sua existência findou-se (HEIDEGGER, 2013 [1927]). Se Heidegger descreve que a abertura ontológica só se faz a partir da contemplação da morte do outro, existe profissão com maior potencialidade para tal ideal que as ligadas à saúde? Em especial a equipe de enfermagem que administra basicamente todos os cuidados solicitados pela equipe ampliada de saúde. São esses profissionais que percebem as alterações que são indicadas a psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, médicos. Assim afirma Boff:

Concretamente, incluir a morte na vida implica aceitar que ela não vem de fora como uma ladra a nos roubar o que mais apreciamos. Desde que começamos a existir ela nos acompanha. Porque amamos a vida, mesmo mortal, esforçamo-nos por acercá-la de cuidados e preocupações [...] (BOFF, 2013, P. 208).

A morte não é banal, superficial ou desnecessária. O ser que perde a vida não perdeu sua importância ele ainda é no mundo, não mais como ser de presença, mas sim, como ser de história, ou seja, “o ser ainda simplesmente dado é ‘mais’ do que uma coisa material, destituída de vida. Nele encontra-se algo não vivo, que perdeu a vida” (HEIDEGGER, 2013 [1927], p.312). Grande importância tem o ser que não é mais presença como atribui a Enf. 2:

Essa semana mesmo teve um paciente de 58 anos, a mesma idade que eu, com tumor de cabeça, de pâncreas. Os filhos... Quantas coisas ela vai deixar de viver? Quantas coisas ele podia ter? Estou aprendendo a pensar a morte com o adulto de novo. Que é complicado! (Enf.2)

Só poderá experimentar a morte em sua plenitude quando ela lhe alcançar. Mas a consciência de sua existência futura, na realidade, no agora. Com outras palavras, somente no agora de ‘nossa morte’ experimentaremos plenamente tal fenômeno da existência. Mas o Dasein é consciente de sua finitude e o sofrimento do outro desvela essa certeza. Portanto, a ontologia da morte é experimentada pelos que ficam como é descrito: “[...] de maneira que se teria acesso nos outros àquilo que, na própria presença, não se deixa experimentar” (HEIDEGGER, 2013 [1927], p.313).

Olhar para o outro e perceber que a morte se fará presença transmite profundamente a filosofia heideggeriana, ser-para-morte na profundidade filosófica é todo Dasein que não se esconde no falatório e aceita sua finitude em uma vida autêntica. Afinal, “cada presença deve, ela mesma e a cada vez, assumir sua própria morte. Na medida em que ‘é’, a morte é, essencialmente e cada vez, minha” (HEIDEGGER, 2013 [1927], p.314). O sentido atribuído pelos Téc. Enf. 4 e 5 e pelos Enf. 4 e 5 demonstram essa aproximação heideggeriana.

“Eu acho que essa relação com o paciente idoso. A gente sente a impotência por está diante da morte. Mas ao mesmo tempo, agente sente que pela idade avançada, eu penso, que para o paciente seja um descanso. Embora que o paciente, mesmo idoso, ele não quer morrer. Ele quer continuar vivo, ele quer ter a vida dele e ele está sempre com aquele esperança de que vai ter mais vida”(Téc. Enf.4).

“Dependendo da situação do idoso, no caso. Eu acho – como é que eles ficam com varias úlcera de pressão pelo corpo, sofrendo, sucumbindo. Às vezes ficam no leito, ali. Meses e meses e meses. Isso emocionalmente para família, pra gente e para eles que estão sofrendo. Eu acho uma tortura. Uma tortura mesmo. já vi vários casos aqui. Investir, investir, investir. É a ultima coisa que podemos fazer por eles para ter uma melhora, investir, investir, para ter uma melhora”(Téc. Enf.5).

“Em relação à morte do paciente. A morte de nosso paciente é mais peculiar. Geralmente nosso paciente não expressa muito, não interage muito conosco. Principalmente nesse período quando está mais instável”(Enf.4).

“Em relação ao idoso. Eu penso muito no sofrimento. Paciente de terapia intensiva, paciente idosos de terapia intensiva, penso muito no sofrimento dele. Paciente que eu pego de terapia intensiva – por que, são pacientes entubados, pacientes graves, com sepse, que sente dor intensa. Que a gente ver pelos sinais e sintomas dele. Então fico pensando o que dentro dele está se passando. Se seria realmente o prolongamento daquela vida a melhor opção ou a gente ter uma qualidade de vida. É diferente você ter a vida e ter a qualidade de vida. Às vezes eu penso que aquela morte foi melhor para o paciente”(Enf.5).

Desta forma, assumir o ser-para-morte é fundamental para abertura ontológica do cuidado. Deve ser reconhecido que o nascer está para com o morrer e isso proporcionará o corte com o inautêntico (NUNES, 2004). Consequentemente gerando a autenticidade existencial em plenitude. Ou seja, “Não me deixar, me sentir fria em relação à morte por fazer parte do nosso processo de trabalho. Respeito com aquele corpo que está ali já sem vida, pela dor dos familiares, na hora de atuar – mesmo sabendo que a técnica não vai reverter. Mas procurar fazer tudo aquilo que se espera de mim” (Tec. Enf. 7).

Percepção da morte de idosos

Enf. 1 “No caso do paciente idoso, agente entende” “a morte como algo já esperado”. Enf. 3 “Quando eles chegam aqui para gente são pacientes bem idosos”. “A gente ver

que eles relaxaram, descansarão”.

Téc. Enf. 4

“Eu acho que essa relação com o paciente idoso. A gente sente a impotência por está diante da morte”.

Téc. Enf. 5

“Dependendo da situação do idoso”. “Eles ficam, com varias úlcera de pressão pelo corpo, sofrendo, sucumbindo”. “Eu acho uma tortura”.

Enf.4 “Geralmente nosso paciente não expressa muito, não interage muito conosco’. Enf. 5 “Em relação ao idoso. Eu penso muito no sofrimento”.