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A abordagem dos inibidores e facilitadores aplicados ao turismo

Não obstante o grande volume de estudos efetuados sobre a temática dos inibidores do lazer, não se tem verificado, curiosamente, o mesmo interesse pela sua aplicação no âmbito do turismo. Nesta secção, propomo-nos analisar a investigação que, neste domínio, tem sido desenvolvida com enfoque na participação em atividades turísticas. Vários autores têm vindo a chamar a atenção para o facto de a riqueza do conhecimento e dados empíricos acerca do turismo representar um enorme recurso por explorar para os estudiosos do lazer, podendo daí advir muitos benefícios, nomeadamente a oportunidade de testar e validar a teoria dos inibidores do lazer e dos seus constructos (Valentine, Allison & Schneider, 1999; Hinch & Jackson, 2000). Para além disso, para os investigadores da área disciplinar do turismo, seria de grande utilidade a utilização dos avanços teóricos do estudo dos inibidores para ajudar a compreender os mecanismos de participação e processo de decisão nas atividades turísticas (Hinch & Jackson, 2000; Nyaupane, Morais, & Graefe, 2004).

Os estudos realizados, sustentados neste paradigma, têm analisado os inibidores do turismo em diferentes contextos, nomeadamente em atividades específicas (Bialeschki e Henderson (1988); Gilbert & Hudson, 2000; Williams & Fidgeon, 2000; Nyaupane et al., 2004), nas variações sazonais da atividade turística (Hinch & Jackson, 2000), no segmento dos turistas seniores (Blazey, 1987, 1992, Fleischer & Pizam, 2002, Nimrod 2008), no segmento dos turistas com incapacidade (Turco et al., 1998, Daniels et al. 2005), no segmento dos turistas jovens (Silva, 2007) e nos inibidores percecionados em determinado ambiente (Pennington-Gray & Kerstetter, 2002), conforme resume o Quadro 8.

Enfoque (atividade ou segmento) Autores

Seniores

Blazey (1987, 1992) Zimmer et al. (1995) Fleischer & Pizam (2002) Nimrod (2008)

Turistas com deficiência Turco, Stumbo e Garncarz (1998) Daniels et al. (2005)

Capítulo 3:Inibidores e facilitadores associados ao processo de tomada de decisão em turismo

83 Turismo de Natureza Bialeschki & Henderson (1988)

Pennington-Gray & Kerstetter (2002) Nyaupane et al., (2004)

Ski Gilbert & Hudson (2000)

Evento desportivo Kim & Chalip (2003)

Sazonalidade Hinch & Jackson (2000)

Atracões culturais David & Prentice (1995)

Cruzeiros Hung, & Petrick (2010)

Destino Especifico (Tailândia) Destino Especifico (Arizona)

Rittichainuwat & Mongkhonvanit (2010) Nyaupane & Andereck, (2008)

Quadro 8. Inibidores na área do turismo: síntese da revisão da literatura Fonte: Elaboração própria.

As abordagens utilizadas no contexto da investigação dos fatores inibidores das decisões turísticas assumem os inibidores como sendo tridimensionais, de acordo com a proposta de Crawford e Godbey (1987): intrapessoais, interpessoais ou estruturais. Embora grande parte dos estudos sugiram a estrutura tripartida dos inibidores como um instrumento conceptual válido e fidedigno (Hung & Petrick, 2010), outros não o validam completamente, como é o caso de Kim & Chalip (2004) e de Gilbert & Hudson (2000).

Kim & Chalip (2004), que estudaram o fator mediador dos inibidores de turismo na relação entre motivação e intenções de viagem para participar em eventos desportivos, obtiveram pouca consistência interna nos inibidores interpessoais. Gilbert & Hudson (2000), por sua vez, concluíram que os três níveis de inibidores não são independentes, e no caso da atividade em análise, o ski, não se verificam, na maioria dos casos, inibidores interpessoais nos participantes.

Além destes, outros estudos, na área disciplinar do turismo, têm procurado operacionalizar o modelo hierárquico dos inibidores de Crawford et al. (1991), como é o caso por exemplo de Hinch & Jackson, (2000), Nyaupane et al. (2004), Nyaupane & Andereck, (2008), Hung & Petrick, (2010). Alguns destes autores sugerem que os inibidores no contexto do turismo podem assumir uma estrutura diferente daquela que se aplica nos contextos de lazer (Kim & Chalip, 2004; Nyaupane et al. 2004, Nyaupane & Andereck, 2008; Hung & Petrick, 2010).

Na realidade, um dos pressupostos do modelo hierárquico de Crawford é a ideia de que é possível identificar e distinguir as diferentes categorias de inibidores. No entanto, nos estudos analisados, nem sempre é possível operacionalizar os inibidores na estrutura tripartida proposta, sendo a sua identificação considerada, por vezes, problemática. É o caso do estudo de Nyaupane et al. (2004) e de Gilbert & Hudson (2000), estes últimos assumindo o inibidor custo como intrapessoal, enquanto na generalidade este é assumido com estrutural (dado que impede a formação das preferências do lazer). Esta incongruência é assumida pelos próprios autores, ao esclarecerem que, no caso da

atividade em análise, o ski, a antecipação do custo pode ser vista como um fator que desmotiva, desde logo, a participação. Por sua vez, os estudos desenvolvidos por Nyaupane et al. (2004), Nyaupane & Andereck (2008) e Hung & Petrick (2010) colocam em evidência a complexidade da dimensão estrutural dos inibidores no contexto do turismo. Sublinham, por isso, a necessidade desta dimensão ser reanalisada, propondo a existência de sub dimensões no constructo dos inibidores estruturais: custo, falta de tempo e atributos do destino.

O paradigma dos inibidores tem sido utilizado, com frequência, no sentido de comparar os inibidores percebidos por participantes e não participantes e de explicar as diferenças nestes dois grupos (Gilbert & Hudson, 2000; Blazey, 1987; Williams & Fidgeon, 2000; Hung & Petrick, 2010, entre outros). Diferentes inibidores podem ser identificados nos participantes e não participantes. Como seria de esperar, os não participantes são afetados por um maior número de inibidores e, de uma forma geral, podem ser identificadas diferenças no que respeita às variáveis sociodemográficas como o sexo, a idade, a perceção do estado de saúde e o rendimento (Blazey, 1987). Por outro lado, o grupo dos não participantes é mais afetado por inibidores intrapessoais (Gilbert e Hudson, 2000; Hung & Petrick, 2010) e interpessoais do que o dos que participam (Hung & Petrick, 2010).

Fleischer & Pizam (2002) concluíram que os fatores inibidores das viagens eram muito homogéneos entre diferentes grupos etários, sendo os principais fatores que condicionavam a duração das viagens o aumento do tempo de lazer depois da reforma, o rendimento discricionário e a deterioração do estado de saúde.

Ao estudar as diferenças entre participantes e não participantes nos programas de viagens seniores, a investigação desenvolvida por Blazey (1987) revelou que os inibidores são semelhantes aos relatados pelos seniores noutras atividades de lazer (dinheiro, saúde, falta de companhia). Outro estudo de Blazey (1992) centrou-se na reforma e, não tanto na idade, tendo apontado o facto de não se verificarem alterações significativas, antes e depois da reforma, mas registando diferenças, sobretudo, no tipo de inibidores encontrados.

Outros autores defendem que o estudo dos inibidores deve ser direcionado não tanto para grupos de pessoas com características particulares, mas devem ser estudados no âmbito de atividades específicas. É o caso, por exemplo, de Bialeschki & Henderson (1988), de Gilbert & Hudson (2000), de Pennington-Gray & Kerstetter’s (2002) e de Nyaupane et al. (2004).

Gilbert & Hudson (2000), ao estudar os inibidores que influenciam a prática de ski por participantes e não participantes desta atividade, concluíram que os participantes eram mais afetados por fatores inibidores estruturais como a falta de tempo e de dinheiro, sendo este último o mais significativo, enquanto os não participantes eram sobretudo confrontados por medos pessoais (inibidores intrapessoais) em relação à prática da atividade.

Numa perspetiva distinta, Pennington-Gray & Kerstetter’s (2002) procuraram perceber os fatores que restringiam os indivíduos de participar em atividades na natureza em geral (não centradas em nenhuma atividade em particular), nas suas viagens de lazer,

Capítulo 3:Inibidores e facilitadores associados ao processo de tomada de decisão em turismo

85 e concluíram que a forma como eram percebidos esses inibidores era similar a outras atividades de lazer. Outra conclusão relevante deste estudo aponta para o facto de os inibidores estruturais serem os mais importantes (dinheiro e tempo), sendo os menos importantes os interpessoais (influência de amigos) e intrapessoais. Assinalaram, além disso, que as variáveis sociodemográficas influenciavam, em larga medida, a forma como os participantes percecionam os inibidores, com os indivíduos mais velhos, e aqueles que têm filhos, mais constrangidos por inibidores do que aqueles que vivem sozinhos.

Nyaupane et al. (2004) procuraram testar o modelo de Crawford e Godbey em turistas entusiastas da natureza, tentando analisar se há diferentes perceções de inibidores em relação a atividades distintas, neste caso, rafting, canoing e equitação. Os resultados obtidos apenas validam o modelo parcialmente. Em geral, para diferentes atividades, são percebidos inibidores distintos, o que tem implicações importantes para a promoção e comercialização das atividades em causa.

Utilizando uma metodologia mista, Hung & Petrick (2010) desenvolveram uma escala de medida dos inibidores de turismo aplicada no contexto dos cruzeiros, procurando analisar os inibidores dos participantes e não participantes. Os resultados sugerem a prevalência de mais inibidores intrapessoais e interpessoais nos não participantes do que nos participantes, mais afetados por inibidores estruturais, o que vai de encontro à natureza hierárquica dos inibidores sugerida por Crawford et al. (1991). Assim, a presença de inibidores intra e interpessoais pode impedir a intenção de participar, neste caso, num cruzeiro, e por isso deve ser negociada antes de serem negociados os inibidores estruturais.

No Quadro 9 apresenta-se uma síntese dos inibidores intrapessoais, interpessoais e estruturais em atividades turísticas identificados na revisão da literatura.

Autores Inibidores Intrapessoais

Inibidores Interpessoais

Inibidores

Estruturais Contexto Metodologia

Hung & Petrick (2010) Saúde, medos pessoais, segurança, Falta de companhia, relações pessoais na viagem Tempo, dinheiro, responsabilidades profissionais, responsabilidades familiares. Cruzeiros Investigação Qualitativa/ quantitativa Nimrod (2008) Saúde Falta de companhia Dinheiro, responsabilidades familiares Seniores Penington- Gray e Kerstetter (2002) Informação turística, segurança, competências pessoais para participar Companhia de viagem, influência de amigos, interesse da família

Dinheiro, tempo, clima, equipamento e condições das estradas

Atividades de turismo da natureza Investigação quantitativa Gilbert & Hudson (2000) Medos pessoais, competências pessoais para participar, Companhia de viagem, Responsabilidades pessoais, status,

Dinheiro, perceção das características do destino, tempo, infraestruturas Ski Investigação qualitativa/ Focus groups 30 entrevistas

antecipação de despesa influência de família longas Técnica de comparação constante Nyaupane et al. (2004) Medos pessoais, risco, competências pessoais para participar, resistência física Falta de interesse dos amigos e da família, falta de companhia Responsabilidades familiares, custo, falta de tempo, falta de informação, distância às atrações Atividades de turismo da natureza Investigação quantitativa Williams & Fidgeon (2000) Medos pessoais, competências pessoais para participar - Custo, tempo, responsabilidades profissionais, responsabilidades familiares, SKi Mista Bialeschki & Henderson (1988) Saúde, falta de informação, idade Falta de

companhia Tempo, dinheiro

Trilhos pedestres Fleischer e Pizam (2002) Idade, saúde, perceção de incapacidades físicas Falta de companhia Dinheiro, tempo, atributos dos destinos e infraestruturas Seniores Investigação quantitativa Inquéritos em larga escala Nyaupane & Andereck (2008) Risco, falta de interesse, saúde Falta de companhia, influência da família e de amigos

Custo, tempo e atributos do destino (clima, trânsito, distância, falta de informação) Destino específico (Arizona) Investigação quantitativa Daniels et al. (2005) Sentimentos e motivações, perceção de incapacidades físicas e mentais Companhia para viajar, estranhos, fornecedores de serviços Atributos do destino Pessoas com deficiência Qualitativa Silva (2007) Medos Pessoais, experiências turísticas anteriores, saúde Companhia para viajar, influência da família

Dinheiro, tempo Jovens Investigação qualitativa

Quadro 9. Inibidores Intrapessoais, interpessoais e estruturais em atividades turísticas Fonte: Elaboração própria.

A maioria dos estudos realizados no âmbito dos inibidores de turismo adotou metodologias captadas diretamente do contexto do lazer, concluindo que há semelhanças entre os inibidores do lazer e do turismo. Mas, em alguns casos, isto pode não ser igualmente aplicável, dada a diferença da sua natureza, sobretudo ao nível da sua dimensão estrutural, como defendem Nyaupane et al. (2004), Nyaupane & Andereck (2008) e Hung & Petrick (2010).

Capítulo 3:Inibidores e facilitadores associados ao processo de tomada de decisão em turismo

87 Além disso, os inibidores não são homogéneos entre diferentes grupos de pessoas e de atividades. Por isso, para analisar os inibidores, associados a uma população ou atividade específica, é importante situá-los nesse contexto específico, e não no público, ou num contexto das viagens, em geral. Neste sentido, importa salientar a relevância dos fatores sociodemográficos uma vez que estes podem ser a base para a existência de condições específicas que determinam a participação, ou a não participação, dos indivíduos em viagens de lazer. Para além da idade, já referido, outros fatores desempenham, igualmente, um papel relevante no enquadramento da tomada de decisão, como o ciclo de vida familiar, a ocupação profissional, a classe social/estatuto socioeconómico e a raça ou etnia, tal como vem sendo reconhecido em numerosos estudos (ex: Blazey, 1987, 1992; Fleischer & Pizam, 2002; Gilbert & Hudson, 2000; Kim & Chalip, 2003; Nyaupane et al., 2004; Pennington-Gray & Kerstetter, 2002 e Silva, 2007).

Baseada nestes pressupostos, a investigação levada a cabo por Silva (2007) sugere a existência de um contexto micro e macro sistémico, de inserção do indivíduo, dos quais emerge a interação entre as três dimensões de facilitadores e inibidores – intrapessoais, interpessoais e estruturais. O micro sistema é aqui assumido como os contextos imediatos da pessoa - a família, o emprego e a casa, enquanto o macro sistema se refere ao contexto mais lato, no qual o indivíduo se insere, incluindo o sistema de crenças culturais e outros aspetos societais, como os fatores sociodemográficos.

Apresentam-se, de seguida, numa lógica tridimensional, os principais inibidores da participação em atividades turísticas identificados na revisão da literatura, de acordo com a proposta de Crawford e Godbey (1987): intrapessoais, interpessoais ou estruturais. Dada a grande abrangência dos estudos no âmbito do lazer, optámos por selecionar apenas aqueles que se reportam ao contexto de turismo, assumindo, desde logo, que estes englobam os primeiros.

No Quadro 10, estão representados os inibidores intrapessoais, que, como já referimos, são os fatores individuais, ou condições psicológicas que afetam a formação das preferências.

Inibidores

Intrapessoais Autores

Saúde Nimrod, 2008; Hung & Petrick, 2010; Bialeschki & Henderson, 1988; Nyaupane & Andereck, 2008; Silva, 2007; Andereck, 2008

Idade Bialeschki & Henderson,1988; Fleischer & Pizam, 2000; Andereck, 2008

Medos pessoais Nyaupane et al., 2004; Gilbert & Hudson, 2000; Williams & Fidgeon, 2000; Hung & Petrick, 2010; Nyaupane & Andereck, 2008; Silva, 2007 Segurança Penington-Gray e Kerstetter, 2002; Hung & Petrick, 2010

Perceção de competências pessoais

Daniels et al., 2005; Pennington-Gray e Kernstetter 2002; Fleischer & Pizam, 2002

Experiências turísticas

anteriores Silva, 2007

Quadro 10. Inibidores intrapessoais à participação em atividades de turismo Fonte: Elaboração própria.

Os inibidores interpessoais constituem os fatores sociais que afetam a formação das preferências do lazer, e que decorrem das interações que as pessoas estabelecem com os outros. No Quadro 11, apresentam-se os fatores inibidores interpessoais mais frequentes na literatura científica.

Inibidores Interpessoais Autores

Falta de companhia

Bialeschki & Henderson 1988; Daniels et al. 2005; Gilbert & Hudson 2000; Penington-Gray & Kerstetter, 2002; Nimrod, 2008; Hung & Petrick 2010; Andereck, 2008, Hinch & Jackson, 2000; Nyaupane & Andereck, 2008; Silva, 2007

Interesse/influência da família

Gilbert & Hudson, 2000; Penington-Gray & Kerstetter, 2002; Nyaupane & Andereck, 2008;

Relações pessoais na viagem Hung & Petrick, 2010

Influência de amigos Penington-Gray & Kerstetter, 2002; Andereck, 2008

Quadro 11. Inibidores interpessoais à participação em atividades de turismo Fonte: Elaboração própria.

Por fim, os inibidores estruturais são constituídos por fatores externos, que ocorrem depois da formação das preferências do lazer, mas antes da participação ter lugar (Crawford & Godbey, 1987). Tomando como referência a proposta de Nyaupane & Andereck, (2008), optámos por organizar os inibidores estruturais, no domínio específico das atividades turísticas, em três sub- dimensões: tempo, custo/ dinheiro e atributos do lugar, conforme o Quadro 12.

Inibidores Estruturais

Autores

Tempo

Bialeschki & Henderson, 1988; Hung & Petrick, 2010; Williams & Fidgeon, 2000; Pennington-Gray e Kernstetter, 2002; Nyaupane & Andereck, 2008; Silva, 2007

Dinheiro / custo

Bialeschki & Henderson 1988; Hung & Petrick, 2010; Williams & Fidgeon 2000, Pennington-Gray e Kernstetter 2002; Fleischer & Pizam 2002, Nyaupane & Andereck, 2008; Silva (2007)

Capítulo 3:Inibidores e facilitadores associados ao processo de tomada de decisão em turismo 89 Atributos do lugar / Perceção das características dos destinos

Blazey, 1987, 1992; Fleischer e Pizam, 2002; Gilbert & Hudson, 2000; Hinch & Jackson, 2000; Daniels et al., 2005; Pennington-Gray &

Kernstetter 2002; Nyaupane & Andereck, 2008; Williams & Fidgeon, 2000

Quadro 12. Inibidores estruturais à participação em atividades de turismo Fonte: Elaboração própria.

3.6. Conclusão

Definidos inicialmente como barreiras à participação no lazer, os estudos e discussões posteriores sugerem que os inibidores do lazer são mais complexos e abrangentes, podendo ajudar a compreender os fatores e influências mais vastos que condicionam o comportamento de lazer das pessoas.

Um dos pressupostos fundamentais da investigação dos inibidores do lazer baseia- se no facto de a participação estar dependente não da ausência de inibidores, embora isso, em alguns casos, possa ser verdade, mas da sua negociação. O conceito de negociação, como já referimos no capítulo anterior, sugere que os inibidores podem formatar a realização dos objetivos e benefícios do lazer, mas não os impedem, pois os indivíduos desenvolvem esforços para os ultrapassar, a eles adaptando-se através de estratégias cognitivas ou comportamentais que favorecem a participação.

Embora o turismo seja considerado uma forma de lazer, havendo, por isso, semelhanças nos inibidores à participação, os itens e as estruturas dos inibidores do turismo podem ser diferentes dos que afetam a experiência no domínio do lazer e, por isso, a investigação sobre inibidores de turismo deve ser desenvolvida em função de um determinado contexto turístico específico.

A investigação sobre os inibidores do lazer tem sido dominada pelo paradigma da psicologia social, segundo a qual a atenção é focada nos indivíduos, e o comportamento é explicado pelas características pessoais do indivíduo (atitudes, aspetos demográficos, etc.) ou pelo reportório de respostas a estímulos do ambiente (Samdahl, 2005). Isto justifica a ênfase individual que tem sido dada aos mais diversos estudos que se focam nas estratégias de negociação de participação no lazer, em que se assume que os indivíduos são capazes de definir estratégias ou recursos que lhes permitem ultrapassar os inibidores, de várias formas, e assim, participarem nas atividades que desejam.

Sendo esta a abordagem dominante, tem, mesmo assim, sido alvo de algumas críticas, nomeadamente por parte de Samdahl, que se posiciona numa perspetiva crítica da teoria da negociação, defendendo uma abordagem mais abrangente e centrada no contexto social do indivíduo. Aspetos como falta de tempo, discriminação, falta de dinheiro, maternidade, entre outros aspetos, são mais do que simplesmente inibidores ao lazer, fazendo parte do contexto social e cultural em que se criam e perpetuam significados na vida das pessoas.

Nesta linha de pensamento, Samdahl, Hutchinson, & Jacobson, (1999) defendem uma perspetiva mais crítica, mais focada no contexto social dos indivíduos, que reconheça que os indivíduos configuram e criam as suas vidas num mundo habitado por outras. As pessoas diferem na sua capacidade para resistir aos significados que lhes são impostos, mas a negociação bem- sucedida desses fatores permite-lhes situarem-se confortavelmente no contexto social das suas vidas.

Este raciocínio é particularmente pertinente no caso da participação das pessoas com incapacidade no lazer, ou no turismo em particular. Sem dúvida, admite-se a existência de uma dimensão importante individual no processo de negociação dos

Capítulo 3:Inibidores e facilitadores associados ao processo de tomada de decisão em turismo

91 inibidores, mas existe, também, uma responsabilidade social na eliminação de inibidores, sobretudo os estruturais, que deve ser analisada neste contexto.

No próximo capítulo, iremos debruçar-nos sobre os inibidores e facilitadores específicos que influenciam as decisões de viagem das pessoas com incapacidade, bem como as estratégias para os superar, e a forma como estas dimensões se interrelacionam. Tal permitirá enquadrar com mais precisão o tema em estudo e sustentar o modelo teórico da nossa investigação.

CAPÍTULO 4

M

ODELO CONCEPTUAL E A

Capítulo 4:Modelo Conceptual e a Operacionalização de Constructos

95

4.1. Introdução

A revisão crítica da literatura permitiu-nos situar, claramente, o nosso trabalho em relação aos quadros conceptuais reconhecidos. Foi possível verificar, no campo da investigação do turismo para pessoas com incapacidade, a inexistência de uma compreensão clara sobre os fatores que influenciam o seu processo de decisão de participação em atividades turísticas, bem como as estratégias de negociação que enquadram este processo.

Neste capítulo, procurámos sintetizar a informação mais relevante, que serve de base à construção do modelo, e, que é, assim, o culminar da revisão da literatura que efetuámos anteriormente. Explicamos os constructos mais relevantes, integrando as variáveis aplicáveis, e a forma como se relacionam, de modo a tentar ultrapassar as lacunas no quadro teórico existente, no âmbito da tomada de decisão turística do consumidor com deficiência.

4.2. Inibidores à participação das pessoas com incapacidade no turismo: o