• Nenhum resultado encontrado

2 MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

2.2 A AGENDA 2030 DA ONU

Entre os dias 25 e 27 de setembro de 2015, Chefes de Estado e de Governo e Altos Representantes se reuniram na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, para deliberar sobre os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável globais. Após a aprovação do documento intitulado “Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, governos de todo o mundo (193 países) deverão orientar suas decisões ao longo dos próximos quinze anos com base em 17 objetivos e 167 metas que entraram em vigor em janeiro de 2016. A

A

genda é um “plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade” (ONU, 2015b).

Os objetivos e metas estão ligados ao que o documento considera como áreas fundamentais para a humanidade e para o planeta. A proposta é que nos próximos 15 anos se estimulem ações relacionadas às pessoas, ao planeta, à prosperidade, à paz e à parceria. São os chamados 5Ps do desenvolvimento sustentável, conforme a figura abaixo:

Figura 1 - 5 Ps do Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Pnud

Os ODSs foram elaborados por meio de um processo participativo que durou mais de dois anos. Foram engajados no processo de consulta pública representações da sociedade civil e grupos

interessados nos temas propostos. A Agenda tem um foco especial nas pessoas e reconhece como o maior desafio global “a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema”. Dessa forma, afirma que essa ação é um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. Por isso, durante o processo de elaboração dos Objetivos, foi dada uma atenção especial aos mais pobres e mais vulneráveis (ONU, 2015b).

Além de combater a pobreza, a Agenda 2030 tem como propósito combater a fome, buscar a igualdade em nível nacional e entre os países; fomentar a paz, a justiça e a inclusão na construção das sociedades; empoderar mulheres e meninas, bem como promover a igualdade de gênero. Até 2030, também tem como meta que o planeta e seus recursos naturais sejam protegidos de forma duradoura, reafirmando o caráter intergeracional do desenvolvimento sustentável; além de “criar condições para um crescimento sustentável, inclusivo e economicamente sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente para todos, tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capacidades nacionais.” Os ODSs e suas metas são abordados na Agenda 2030 de forma integrada e indivisível e buscam equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: Ambiental, Social e Econômica, como considera a ONU.

A Agenda destaca que os Objetivos e Metas estabelecem uma visão ambiciosa e transformadora. Essa visão é focada em um mundo próspero, sem fome, miséria, violência, com garantias de acesso à educação de qualidade, à saúde e bem-estar, à água potável e ao saneamento destacados como um direito humano que, como todos os outros, devem ser respeitados. Assim como a dignidade humana, o Estado de Direito, a justiça e a igualdade. A visão do documento é ampla e também envolve questões relacionadas ao desenvolvimento econômico sustentado, o desenvolvimento social, a proteção ambiental e outras variáveis presentes nos 17 objetivos e suas respectivas metas. É perceptível um avanço em relação aos Objetivos do Milênio no que tange a variável ambiental, o que é fundamental para que realmente se alcance o caráter intergeracional da sustentabilidade. O conteúdo da Agenda é bastante abrangente e, apesar de seu caráter antropocêntrico, os objetivos e metas são colocados de forma integrada e indivisível, o que é a essência de uma visão ecológica ou sistêmica. Esse reconhecimento da inter-relação entre problemas e soluções pelos líderes mundiais é fundamental para a consecução da sustentabilidade. Essa necessidade já era apontada por Capra, em 1996:

Nossos líderes não só deixam de reconhecer como diferentes problemas estão inter-relacionados; eles também se recusam a reconhecer como suas assim chamadas soluções afetam as gerações futuras. A partir do ponto de vista sistêmico, as únicas soluções viáveis são as soluções "sustentáveis" (CAPRA, 1996).

Obviamente, nem todos os líderes que assinaram o documento têm essa compreensão. Alessandra Nilo (2015), ao avaliar os discursos dos representantes dos Países presentes na Assembleia da ONU em Nova Iorque que aprovou a Agenda 2030, refere que “apesar das inúmeras referências à capacidade transformadora dos objetivos, tamanha ênfase também era parte do composé de políticos experientes que jogavam com a plateia.” Ao citar, por exemplo, a Presidente do Brasil na época, afirmou que ela “demonstrou que, ao contrário de outros estadistas, ainda não entendeu que o potencial transformador da Agenda é justamente a articulação intrínseca dos seus dezessete Objetivos”.

Essa mudança de cultura e percepção, porém, não deve ser necessariamente assimilada por líderes que estão de passagem pelo poder. A sociedade deve levar adiante esse processo. A Agenda 2030, inclusive, dedica um item específico para a implementação. Intitulado “Meios de Implementação”, esse ponto trata da necessidade de se estabelecer uma parceria global em prol do Desenvolvimento Sustentável, que será executada com base na solidariedade global com foco nos mais pobres e vulneráveis. Essa parceria deve envolver todas as pessoas e instituições possíveis e incluir especialmente “governos, setor privado, sociedade civil, o Sistema das Nações Unidas e outros atores, mobilizando todos os recursos disponíveis” (ONU, 2015b).

A implementação dos ODSs depende de um volumoso montante de recursos financeiros e o documento que institui a Agenda sugere que recursos provenientes de finanças públicas, tanto em nível interno quanto externo, são fundamentais e devem ser associados a recursos advindos do setor privado, como microempresas, multinacionais, cooperativas e organizações da sociedade civil. Dessa forma, o documento expressa o compromisso da Assembleia Geral em aprovar a Agenda de Ação de Adis Abeba10, que é considerada parte integrante da

10 Trata-se da Terceira Conferência Internacional sobre o Financiamento para o

Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, sendo fundamental para sua implementação.

O documento dedica todo um Objetivo (17) à questão da implementação e da parceria, o qual estabelece que deve “fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável”. As metas desse objetivo vão além da questão de recursos financeiros e trata de temas como: Tecnologia, capacitação e comércio; e ainda dispõe sobre “questões sistêmicas” onde trata de coerência de políticas e institucional; parcerias multissetoriais; e dados, monitoramento e prestação de contas.

Segundo o World Watch Institute, um dos maiores desafios da agenda é que Processos de acompanhamento e avaliação não são compulsórios, vão ser voluntários e liderados pelos países, conforme dispõe o texto. Na opinião do Instituto, se não houver uma verdadeira responsabilidade internacional, os ODSs não serão mais do que uma “lista de desejos” do desenvolvimento11. A agenda não é juridicamente vinculante, portanto somente com mobilização e o engajamento amplo da sociedade esses objetivos terão possibilidade de virem a fazer parte da realidade do planeta. O importante, é claro, é trabalhar para atingir as metas no prazo. Contudo, mais importante ainda é o comprometimento da humanidade com a implementação dos ODSs mesmo que se ultrapasse a deadline, o que é bem provável que aconteça, pois normalmente essas metas não têm sido atingidas nos prazos determinados em documentos oficiais, seja no âmbito internacional ou nacional.

Os ODSs, além da fragilidade jurídica comum a documentos internacionais que não têm poder jurídico vinculante, desprovidos de obrigatoriedade (soft law), vão enfrentar o desgaste do termo “desenvolvimento sustentável”, que desde que se tornou notório tem sido interpretado de várias maneiras, beneficiando em geral, os detentores do poder político e econômico. Dessa forma, além de se reavaliar a interpretação do conceito de desenvolvimento sustentável, é importante que se defina melhor sua natureza jurídica para que seja utilizado com propriedade quando aplicado pelo direito.

11 “Perhaps the most significant challenge, however, is that the SDGs have no

enforced accountability. The 2030 Agenda states that review processes will be ‘voluntary and country-led.’ Without true international responsibility, these goals may do little more than serve as a development wish list.” (GOURMELON, 2016).

2.3 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONCEITO E