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5. SÍNTESE DOS CONHECIMENTOS E ELABORAÇÃO DE PROPOSTA

5.2 A alfabetização de crianças nos primeiros anos do ensino fundamental

Surgiu para nós o seguinte questionamento: Como deve ser o ensino para crianças que estão vindo frequentar a escola aos 6 anos, primeiro ano do ensino fundamental? A partir de então, mostraremos o posicionamento de Martins (2014) e de D'Elboux (2014), duas alfabetizadoras, sobre o período de alfabetização da criança nos primeiros anos do ensino fundamental I.É nessa etapa que o professor pode variar de metodologias ou maneiras de abordagens sobre os conteúdos, o professor pode achar o uso de apostilas ultrapassado, podendo confeccionar em casa seu material de trabalho, ou levar uma variedade de material impresso para explorar em sala de aula, como por exemplo, revistas, livros, jornais e, sempre preocupado com a evolução da escrita de seus alunos, fazer portifólios para reconhecer com clareza os níveis dessa escrita em que cada um se encontra. Mas, o que fazer com as crianças que não acompanham ou não mostram evolução, apesar de todos os esforços? Enquanto ensinamos, aprendemos, segundo Martins (2009, p. 20-21). Freinet defendia que não podemos deixar a criança desenvolver-se por si própria na educação, não podemos concordar com uma gama excessiva de atividades escolares nem com o trabalho escolar nos modelos dos adultos, mas a criança não se desenvolve sem a ajuda de um adulto.

A proposição defendida por Freinet (1977), segundo Martins (2009, p. 21), transcende a polêmica que divide, de um lado, os defensores de uma educação precoce, e os que querem proteger a criança do ingresso precoce no mundo da alfabetização sistematizada. Esse

educador mostra outro horizonte. Para ele, o fluxo natural de aprendizagem e seu desenvolvimento, com suas leis, precisam se reencontrar, e alerta que a educação e sua valorização sejam o meio mais fácil de reconduzir as crianças a uma forma natural de desenvolvimento de aprendizagem. Dessa maneira, esse é um método que liberta a criança "das amarras impostas por uma educação artificial, excessivamente intelectualizada, [...] no domínio de regras e preceitos, da preponderância de um ensino normativo, calcado nos moldes adultos" (MARTINS, 2009, p. 22). A educação não é aquela imposta pelo ambiente exterior, no ambiente alfabetizador somente, mas de uma educação em que o ambiente seja dinâmico e integrado ao meio ambiente; que contenha materiais com os quais a criança possa trabalhar e evoluir; uma educação com modelos de diversos gêneros, como na fala, na escrita, na música, no desenho, no comportamento geral e também com atividades auxiliadas por adultos, tanto na escola como na família (MARTINS, 2009, p. 23).

Para Freinet (1977), a criança revela o domínio da escrita alfabética aos seis anos de idade, e isso pode ser uma conquista normal e desejável. Por outro lado, quando usa-se métodos artificiais e estranhos ao universo cognitivo da criança, bloqueia-se essa força vital e o resultado pode aparecer numa folha de papel; uma realidade que vem dominando as escolas públicas: crianças chegarem ao quinto ano do ensino fundamental sem dominarem de forma satisfatória nem a leitura, nem a escrita (Idem, 2009, p. 23).

Para Martins (2009, p. 48) as contribuições para o ensino e aprendizagem da escrita devem partir da compreensão que temos hoje a respeito da aquisição de língua materna, que é muito diferente daquela que predominava a cem anos atrás. A escrita deve ser vista como uma forma de linguagem, e não como transcrição da língua falada; e a aprendizagem da língua materna é tão complexa que não faz mais sentido ensinar a criança a escrever na base do be-a- bá, e de tal forma complexo é o universo cognitivo do ser humano que também é possível ensinar-se algo do que seja a escrita na antiga base do be-a-bá, fato que confunde professores e educadores alfabetizadores. Para Vigotsky a escrita pode ser aprendida letra a letra, sílaba a sílaba, mas a essência da escrita não se resume só a isso, diz o pensador (MARTINS, 2009, p. 49).

Precisa-se desritualizar a escrita. Segundo Martins (2009, p. 51) não devemos ensinar a escrita na base do be-a-bá, sem uma função significativa, devemos inseri-la em situações reais de uso, transformando-a numa prática social que seja mobilizada para se adquirir significado; como espaço para a criança se manifestar genuinamente e não apenas copiar letras e palavras dos outros; para a criança exercer o papel na comunidade a que pertence e assim manifestar-se enquanto sujeito social.

Concorda-se com D'Elboux (2014), quando diz que a alfabetização é a etapa mais importante da escolarização, que dela depende qualquer aprendizado;mas hoje não existe uma definição clara de como esse processo deve ser desenvolvido, não há consenso acerca da idade certa para o início e o término desse trabalho. Nas escolas particulares, geralmente as crianças são alfabetizadas a partir dos 6 anos de idade, e a maneira de ensinar a ler e escrever, está fundada na teoria da psicogênese da língua escrita, comumente chamada de construtivismo, pelos educadores. Na escola pública, a alfabetização se inicia aos 6 anos e pretende-se que aos 8 anos ela esteja concretizada. Segundo essa autora, as falhas na nossa alfabetização aparecem no fraco desempenho em leitura dos estudantes de 15 anos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Desde 2000, o Brasil ocupa posição entre os últimos do ranking, composto por 65 países. Em 2012, os alunos brasileiros alcançaram 410 pontos em leitura, ficando em 55º lugar na lista e 86 pontos abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) (D'ELBOUX, 2014).

Diante dessas informações, D'Elboux (2014) informa que não temos mecanismos que medem o nível de alfabetização dos estudantes brasileiros nos primeiros anos do ensino fundamental.Por exemplo, os resultados da Provinha Brasil realizada com esse fim pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), permanecem com os gestores e professores da rede pública e até 2013 não eram tabulados sistematicamente para comparações posteriores. No ano passado, foi realizada pela primeira vez a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), no 3º ano do ensino fundamental, instituída pelo Ministério da Educação (MEC) como parte das ações do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), criado em 2012. Entretanto, os resultados obtidos ainda não foram divulgados.

D'Elboux (2014) informa que o estudo mais recente que existe para se ter uma ideia de como anda a alfabetização no Brasil, além do Pisa, é a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo da Alfabetização), aplicada em 2012, iniciativa do movimento Todos pela Educação (TPE) em parceria com a Fundação Cesgranrio, o Instituto Paulo Montenegro/Ibope e o Inep. Dos 54 mil alunos do 3º ano do ensino fundamental avaliados pela Prova ABC, menos da metade apresentou proficiência adequada em leitura (apenas 44,5%). Em escrita, o desempenho foi ainda menor: 30,1% e, em matemática, somente 33,3% possuíam os conhecimentos adequados.

Concomitante a essa pesquisa, segundo D'Elboux (2014), o governo investe no Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), "estimulando estados e municípios a

assumirem o compromisso de alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental", ideia não compartilhada por todos os especialistas.Para muitos, a alfabetização deveria acontecer aos 6 anos de idade. Alejandra Meraz Velasco, gerente da Área Técnica do Todos pela Educação, discorda e diz que a alfabetização não é só a decodificação do alfabeto, ela entende que é um processo que ocorre com a capacidade de autonomia de leitura e escrita, de modo que a língua seja um instrumento para a criança continuar aprendendo.

Por outro lado, D'Elboux (2014) traz o pensamento da professora Onaide Schwartz Mendonça, que tem convicção de que os alunos, inclusive os da rede pública, apresentam condições de serem alfabetizados antes dos 8 anos de idade. Essa linguista afirma que aos 5 anos as crianças já leem e escrevem e que até os 7 anos de idade já estão prontos para ler e escrever, interpretar e produzir pequenos textos. Para ela, Mendonça diz que o problema atual nessa etapa é herança de uma pedagogia fundamentada em um construtivismo distorcido, em que muitos linguistas compreenderam essa teoria como a habilidade de a criança descobrir e reconstruir a língua por si só, e algumas técnicas como a da formação silábica, acabaram abolidas da sala de aula. “O ensino das sílabas é extremamente produtivo e indispensável para que a criança aprenda a ler e escrever. O construtivismo mal interpretado e mal utilizado foi um desastre para o nosso País".

D'Elboux (2014) traz outros pensamentos para confirmar que a alfabetização pode ocorrer de várias maneiras, e uma delas seria pelo método da relação letra e som.Para ela, existem evidências científicas suficientes que mostram as vantagens do aprendizado da leitura e da escrita por meio de uma base fônica, ou seja, calcado na relação entre letras e sons. Morais, professor doutor em psicolinguística, diz que diferentemente das teorias construtivistas, a decodificação do sistema alfabético não é algo que o indivíduo seja capaz de fazer sozinho, não vem espontaneamente na criança nem no adulto, ressalta, acrescentando que, se isso fosse verdade, não haveria analfabetos. Segundo Oliveira, a falta de conhecimento científico e a repetição do discurso ideológico fazem com que as crianças não sejam alfabetizadas aos 6 anos, pois “a conclusão da comunidade científica, com base em centenas de estudos no mundo inteiro, é a de que o método fônico [que ensina a relação entre fonemas e grafemas] é mais eficaz”, destaca que a razão da eficácia está relacionada à forma como o cérebro aprende a ler.

D'Elboux (2014) cita Magda Soares pesquisadora no campo da alfabetização que defende o aprendizado sistemático da relação entre os fonemas e as letras com ressalvas. Para ela, o método fônico pula uma etapa importante na aprendizagem da criança, ou seja, faz com

que a criança não perceba que a escrita representa o oral, e grande parte do que chamam de dificuldade de aprendizagem reside no fato de a criança ainda não ter descoberto que a escrita representa a oralidade, defende Soares, que prefere utilizar os termos alfabetização e letramento para um conceito mais amplo do processo. É importante ensinar as relações entre grafemas e fonemas inseridas em um contexto de textos reais, diferentemente do que, segundo ela, o método fônico faz.

Os linguistas e os especialistas em educação divergem quanto aos métodos mais eficazes de alfabetização, e as políticas públicas não oferecem ainda um direcionamento preciso de como esse trabalho deve ser realizado. Entretanto, D'Elboux (2014) diz que não existe dúvida de que o caminho para melhorar a qualidade da alfabetização no Brasil passa pela universalização da educação infantil e pelo aprimoramento na formação do professor, visto que a maioria das faculdades não tem disciplinas voltadas para o tema.

Portanto, para D'Elboux (2014), quando o professor tem formação real e condizente com as necessidades dos alunos, a alfabetização poderá, sim, ocorrer aos 6 anos de idade, senão, a criança chegará ao ensino fundamental II, provavelmente aos 10 anos de idade, sem saber ler ou escrever. Para isso, apresenta as seguintes dicas de alfabetização para o professor:

Conteúdo – Em primeiro lugar, o professor deve descobrir quais temas interessam

aos alunos e praticar o diálogo sobre esses assuntos com as crianças, para motivar a aprendizagem. É importante ouvir os estudantes com atenção e elaborar novos questionamentos com base nas respostas. Na sequência, o docente poderá induzir os alunos a refletirem sobre o tema para que desenvolvam a consciência crítica.

Leitura – É fundamental desenvolver atividades de leitura diariamente, em que o

aluno lê, e não o professor. Estimular a leitura do alfabeto na ordem, do meio para o início, de trás para frente, do meio para o final e alternando letras também constitui recurso útil para que os alunos decifrem a língua. Dessa forma, os estudantes aprendem a ler qualquer tipo de informação em qualquer lugar.

Ritmo – Cada criança tem seu ritmo de aprendizagem. Assim, é imprescindível que

o professor prepare, no mínimo, cinco atividades diárias para os alunos mais avançados, uma média de três para os de nível médio de desempenho e uma ou duas para aqueles com severas dificuldades de aprendizagem, que terão de receber atendimento individualizado do professor.

Avaliação – Para verificar como anda a aprendizagem, recomenda-se aplicar uma

atividade de sondagem por semana. Uma opção rápida, prática e objetiva consiste em colocar 16 imagens, com base nos conteúdos trabalhados, em uma folha para que o aluno escreva os nomes dos objetos impressos. Ao analisar a escrita da criança, o docente poderá identificar imediatamente o nível de aprendizagem e direcionar sua prática.