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4. OS LIVROS DIDÁTICOS E O ENSINO DE GRAMÁTICA NA ESCOLA DE

4.6 A organização dos livros didáticos Porta Aberta: letramento e alfabetização (1º ao 3º

4.6.3 O livro didático Porta Aberta: letramento e alfabetização– 3º ano

Seguindo na sequência da alfabetização da criança, o volume 3 amplia as possibilidades de novos desafios com a língua materna e, a partir deste ponto será necessário que o professor tenha claro que o ritmo de aprendizagem e a apreensão dos conteúdos gramaticais não será o mesmo para todos os alunos, a aprendizagem ocorrerá de forma progressiva e gradual.

Soares, Aroeira e Porto (2010, p. 16) postulam que a criança de 8 anos está no período operatório-concreto, segundo Piaget (de 7 a 12 anos), e a sua realidade passa a ser mais estruturada pela razão do que pela assimilação egocêntrica. Há a necessidade de explicar logicamente suas ideias e ações, substituindo a tendência lúdica do pensamento, por atitudes críticas.

A partir do 3º ano começa-se a usar algumas terminologias para designar os nomes que são dados às coisas, pessoas, plantas, lugares e sentimentos para o aluno, no nosso caso específico as terminologias substantivo e adjetivo, como podemos verificar no estudo da língua deste manual:

Figura 13: Estudo da língua (BRAGANÇA, A.; CARPANEDA, I. Porta Aberta: letramento e alfabetização. 3º

ano do ensino fundamental. São Paulo: FTD, 2011, p. 107).

Figura 14: Estudo da língua (BRAGANÇA, A.; CARPANEDA, I. Porta Aberta: letramento e alfabetização. 3º

Bragança e Carpaneda (2013) nomeiam substantivos; em seguida, classifica-os em próprios e comuns; na página seguinte 109, dizem que os substantivos comuns são os nomes dados a objetos, plantas, frutas, flores, sentimentos e são escritos com letra inicial minúscula, a não ser que venham depois de algum sinal de pontuação; e que os nomes dados a pessoas, lugares, animais domésticos chamamos de substantivos próprios, sempre são escritos com letra inicial maiúscula. Podemos perguntar: qual a função de aprender esses conhecimentos? A função de aprendê-los seria que os alunos concluíssem que na aquisição desse conteúdo, o importante é a percepção de como se poderia escrever determinada palavra,se com letra inicial maiúscula ou minúscula.

Dentro do tema abordado, substantivo, no livro Porta Aberta: letramento e alfabetização– 3º ano, temos a formação do plural dos substantivos, em que, normalmente, acrescentamos -s; porém, existem outras maneiras de formar o plural dos substantivos de acordo com suas diferentes terminações. Por exemplo:

Figura 15: Estudo da língua (BRAGANÇA, A.; CARPANEDA, I. Porta Aberta: letramento e alfabetização. 3º

ano do ensino fundamental. São Paulo: FTD, 2011, p. 147).

Outra questão importante seria fazer o aluno perceber que existem palavras iguais no singular e no plural, como as palavras 'lápis', 'ônibus', 'pires' e 'tênis', que, mesmo terminadas com o -s final, não indicam só plural, como nesta ilustração da página 148:

Figura 16: Estudo da língua (BRAGANÇA, A.; CARPANEDA, I. Porta Aberta: letramento e alfabetização. 3º

ano do ensino fundamental. São Paulo: FTD, 2011, p. 148).

Seguindo em nossas observações, verifica-se que, no tratamento dado aos substantivos em sua variação de tamanho, as autoras deste manual levam a uma confusão segundo alguns linguistas, entre tantos Bagno e Perini, que dizem que os substantivos apresentam as variações de tamanho, para eles não há uma classificação em graus, como faz Bragança e Carpaneda, dizem que as palavras passam a ideia de variação de tamanho. Para as autoras os substantivos apresentam três graus, mas que os graus aumentativos não terminam somente em -ão como em 'furacão', 'limão', 'feijão' etc. e o diminutivo não terminam somente em -inho ou -inha, como em 'farinha', 'cozinha', 'linha' etc. Segundo as autoras este assunto será aprofundado no livro do 4º ano. Veja:

Figura 17: Estudo da língua (BRAGANÇA, A.; CARPANEDA, I. Porta Aberta: letramento e alfabetização. 3º

ano do ensino fundamental. São Paulo: FTD, 2011, p. 183).

Quando fala-se em sistematizar substantivos e adjetivos, procura-se dar uma ordem para estes conteúdos. Assim observa-se no manual do 3º ano. Dando continuidade ao estudo da língua, no exemplo abaixo, estas autoras fazem uma introdução do conteúdo adjetivos trazendo referências aos substantivos, quando informam que os substantivos carregam características, e que o uso dos adjetivos tem a função de ressaltar essas qualidades:

Figura 18: Estudo da língua (BRAGANÇA, A.; CARPANEDA, I. Porta Aberta: letramento e alfabetização. 3º

ano do ensino fundamental. São Paulo: FTD, 2011, p. 267).

Durante esta atividade, sugere-se que as professoras ampliem as atividades, pedindo aos alunos que circulem outros adjetivos no texto e percebam que esses adjetivos se referem ao substantivo, e cheguem à conclusão para um conceito de adjetivo, como sugerem na figura abaixo:

Figura 19: Estudo da língua (BRAGANÇA, A.; CARPANEDA, I. Porta Aberta: letramento e alfabetização. 3º

Na gramática da tradição escolar, os adjetivos são palavras que expressam as qualidades, porém as qualidades não são permanentes e não participam da substância do ser, elas são flexíveis, modeláveis, plasmáveis (BAGNO, 2011, p. 665).

Para Kleiman e Sepulveda (2014, p. 125), a gramática tradicional define o adjetivo em relação à classe dos substantivos. Dizem que, na gramática de Cunha e Cintra, ele é um modificador do substantivo, que serve para caracterizar os seres, objetos nomeados pelo substantivo (deputado honesto) ou para estabelecer relações de tempo, espaço ou procedência com o substantivo (deputado estadual). Para as autoras:

o adjetivo expressa a noção de qualidade e, nessa função particularizadora dos objetos do mundo, forma, com o substantivo, uma unidade: substantivo e adjetivo (e outros modificadores) são partes do mesmo constituinte, da mesma estrutura na hierarquia de relação na frase. O adjetivo, assim como o artigo, concorda em número e gênero com o substantivo, a palavra que é o núcleo do sintagma nominal (KLEIMAN & SEPULVEDA, 2014, p. 125).

O professor deve fazer o aluno perceber a noção de unidade dessas classes de palavras, que são importantes para o ensino da concordância nominal, regra invariável sem exceções na escrita do português padrão, que os alunos estão aprendendo e que conflita com as formas do falar deles.Exige-se a marcação do plural apenas na primeira palavra do sintagma nominal, geralmente o artigo. Mas o ensino voltado apenas para essas questões normativas, apesar de necessário, perde o aspecto de usos do adjetivo, que é particularizar entidades, também, deixa de lado a função de categorizar a referir-se a mundos reais e imaginários, uma função realizada principalmente pelo substantivo (KLEIMAN e SEPULVEDA, 2014, p. 125). Baseadas em Dwight Bolinger, Kleiman e Sepulveda (2014, p.126) dizem que o linguista americano descreve a linguagem como uma arma carregada, e que os adjetivos são palavras enviesadas, porque o seu uso traz para nossas mentes escalas negativas e positivas, reforçando vieses e preconceitos, em que se pode melhorar ou piorar uma situação.Por exemplo, o adjetivo 'velho' poderia trazer associações já existentes, como 'velho', 'idoso', 'decrépito' e 'inútil'.

Assim, o que se observou na coleção Porta Aberta é que Bragança e Carpaneda (2011) concluem a exposição destes conteúdos gramaticais direcionados para o 3º ano do ensino fundamental I. O conceito apresentado pelas autoras às terminologias substantivos e adjetivos, apesar de estarem em um manual de estudos em pleno século XXI, ainda apresentam um conceito ligado às tradições, o que gera discussões para alguns linguistas neste livro didático

de português, e isso acaba gerando certa confusão entre os conceitos das gramáticas mais atuais, conforme pode-se verificar nas figuras 14 e 19.