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5 PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES RUMO AO OBJETO DA PESQUISA

5.2 A AMAZÔNIA NO CONTEXTO DO MODELO NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO

A Amazônia passou por profundas mudanças estruturais em séculos de ocupação. Essas mudanças, segundo Becker (1990), são resultantes da abertura de estradas para o escoamento de recursos naturais, o que favoreceu a migração de nordestinos, mineiros,

goianos, baianos, paranaenses, gaúchos etc., para as diversas localidades dessa região. As mudanças são também resultado dos avanços no campo das telecomunicações, que permitiram articulação local/nacional e local/global. Para Becker (1990), em termos de economia, a Amazônia deixou de ser exclusivamente extrativista e passou a ser um polo industrial (indústria de mineração e a construção da Zona Franca de Manaus17), integrando-se,

assim, de forma definitiva ao projeto econômico nacional e à macropolítica mundial.

Ao tratarmos sobre as mudanças estruturais ocorridas na Amazônia, considera-se imprescindível evidenciar o processo de formação e transformação do território amazônico. Entende-se ser necessário colocar em evidência esse processo primeiro para desmontar a ideia construída no imaginário da sociedade brasileira e mundial deque a Amazônia é um grande vazio demográfico; e, segundo, para deixar evidente que, desde o século XVI, esse território está sendo disputado pelas nações imperialistas.

De acordo com Becker (2001), a formação e a transformação ocorrem em quatro períodos consecutivos: o de formação territorial, o de delineamento da Amazônia, o de definição dos limites e o de planejamento regional.

O período de formação territorial situa-se entre 1616 e 1777. É caracterizado pela exploração dos portugueses que, motivados pela exportação das drogas do sertão, avançaram para além da linha imaginária de Tordesilhas, promovendo a apropriação lenta e gradativa do território.

O segundo período, identificado como “delineamento da Amazônia”, situa-se entre 1850 e 1899. Sua característica é a internacionalização da navegação dos grandes rios e a explosão da economia decorrente do ciclo da borracha.

O terceiro período, denominado “definição dos limites”, situa-se entre 1899 e 1930. A delimitação do território amazônico resultou da ação da diplomacia internacional e da ação do Exército no controle do território, concomitantemente à implantação do Estado Novo. O planejamento para ocupação acelerada da Amazônia foi impulsionado pela modernização do aparelho estatal e também pelas intervenções deste na economia e no território.

O quarto período da história da Amazônia, identificado como “planejamento regional”, situa-se entre 1930 e 1985 (BECKER, 2009). A partir da década de 1930, o Brasil pautou-se em um projeto nacional desenvolvimentista baseado na industrialização como modelo de desenvolvimento econômico. Iniciou-se, desse modo, o processo de povoamento e implantação de projetos na Amazônia. A partir da década de 1970, esse modelo se instalou na

17Indústria instalada em meio à economia extrativista, produtora de bens de consumo duráveis, tais como indústria de duas rodas, telefonia e biotecnologia (PEREIRA, 2011).

região por intermédio de grandes projetos pautados no discurso de “inserção da região no projeto nacional de desenvolvimento” (VASCONCELLOS, 2006, p. 15).

O Modelo Nacional de Desenvolvimento não é a questão central desta pesquisa, no entanto, é imprescindível destacar alguns aspectos históricos no contexto do desenvolvimento econômico nacional para consubstanciar a análise no cenário amazônico, levando-se em consideração a implantação de grandes projetos, como o da exploração mineral na região, no contexto do Programa Grande Carajás.

Dessa forma, para se compreender a adoção do modelo desenvolvimentista baseado na industrialização, volta-se ao ano de 1920, a partir do qual se instalou no Brasil uma crise na agricultura, mais especificamente na lavoura cafeeira, base da econômica nacional. Essa crise teve seu ápice com a grande depressão em 1929 (BRENER, 1998).

A essa crise da agricultura cafeeira, somaram-se a crise no mercado internacional e as dificuldades de importação em decorrência ainda da Primeira Guerra Mundial, fazendo surgir, então, em 1930, o novo modelo econômico baseado na industrialização, implementado pelo presidente Getúlio Vargas, em substituição ao modelo econômico agroexportador.

Esse novo modelo econômico se caracterizava pela substituição das importações de bens não duráveis, até então vindos de outros países, por bens produzidos no Brasil. Vasconcelos (2006) evidencia que essa substituição se realizou como um empreendimento cujo objetivo era o desenvolvimento interno e o atendimento das demandas nacionais, minimizando desse modo a dependência do mercado externo. Esse modelo desenvolvimentista representou um novo reordenamento e uma nova forma de atuação da política econômica brasileira, voltada para o próprio país (IANNI, 19991).

Concomitantemente ao processo de industrialização, ocorreu o processo de urbanização, com grande força nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Consequentemente, delineia-se um novo cenário no Brasil: surge a burguesia industrial e o proletariado urbano, e verifica-se o aumento da classe média. Todavia, a industrialização, considerada polo de atração de mão de obra, não absorveu os grandes contingentes de trabalhadores provenientes da zona rural (MORAN, 1990).

Em 1955, com a posse do presidente Juscelino Kubistschek, instaurou-se outro modelo de desenvolvimento econômico com o Plano de Metas (1955-1960), o qual objetivava colocar o Brasil em um novo nível de desenvolvimento industrial baseado no crescimento econômico acelerado, com subsídio do governo para a área de infraestrutura, concessão de facilidades e estímulo aos investimentos privados (FIORI, 2003).

Na década de 1960, após a euforia da implantação do modelo de expansão econômica acelerada, o Brasil enfrentou uma crise desencadeada pelo golpe militar de 1964. Esse fato implementou nova abordagem desenvolvimentista no país, pautada em um regime autoritário-burocrático e em uma pseudoideologia modernizante (VASCONCELLOS, 2006).

Brum (1997) afirma que as forças que assumiram o poder político em 1964 possuíam como objetivo implantar quatro diretrizes integradas e complementares no aspecto econômico do país. Segundo o autor, essas diretrizes consistiam em

[...] criar e assegurar condições para a continuidade do sistema econômico acelerado, consolidar o sistema capitalista no país, aprofundar a integração da economia brasileira ao sistema capitalista internacional e transformar o Brasil em uma potencia mundial, fazendo com que o país saísse da condição de subdesenvolvido projetando-se como pertencente ao primeiro mundo (BRUM, 1997, p. 136).

Para a consecução dessas diretrizes, o Estado implantou três planos nacionais de desenvolvimento: o I PND (1970-1974); o II PND (1975- 1979); e o III PND (1980- 1985), todos inseridos no contexto do Regime Militar e fortemente marcados pela ideologia da Segurança Nacional (VASCONCELLOS, 2006).

Na visão da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL)18, as nações

industrializadas, entre os anos de 1940 e 1980, constituíam-se como modelo ideal a ser seguido pelos países classificados como subdesenvolvidos. Na concepção da CEPAL, os países industrialmente atrasados possuíam inúmeras desvantagens quanto ao fornecimento de produtos primários para o mercado internacional (MANTEGA, 1995).

O projeto desenvolvimentista incentivou a implantação de grandes indústrias de exploração de recursos naturais sob a forma de matéria-prima destinada à exportação, objetivando posteriormente o beneficiamento desses recursos e a implantação efetiva de grandes indústrias na região amazônica.

Destaca-se que esse período também foi marcado pela intensificação do processo migratório no Brasil. Nessa fase, o país, que havia sido alvo de uma grande corrente migratória de origem europeia para os cafezais da região sudeste, conheceu outro movimento populacional: a migração de nordestinos para a Amazônia (FURTADO, 2009). Esse movimento migratório se tornou garantia de mão de obra durante a implantação dos projetos na Amazônia brasileira.

18 A CEPAL surgiu no final da década de 1940 com o objetivo de explicar o atraso da América Latina em relação aos denominados centros desenvolvidos e encontrar as formas de superação desse atraso (VASCONCELLOS, 2006)

5.3 INSTALAÇÃO DOS GRANDES PROJETOS NA AMAZÔNIA: O PROGRAMA