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5 PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES RUMO AO OBJETO DA PESQUISA

5.3 INSTALAÇÃO DOS GRANDES PROJETOS NA AMAZÔNIA: O PROGRAMA GRANDE

5.3.1 Infraestrutura do Programa Grande Carajás

O processo de implantação do Programa Grande Carajás apresentou dotação orçamentária do poder público, evidenciado pela doação ou venda simbólica de terras a correligionários, empresas construtoras e empresários amigos, ou seja, o Estado forneceu toda a infraestrutura para instalaçao e operação do Programa (PICOLI, 2006).

De acordo com a SEPLAN (1981, o Governo Federal incumbiu-se de organizar a infraestrutura do PGC, a qual se constituiu de núcleos urbanos, locais que, considerados integrantes dos grandes projetos, passaram por transformações urbanísticas repentinas. Nesse contexto, a cidade de São Luís, no Estado do Maranhão, foi completamente reurbanizada para receber os imigrantes (Figuras 2 e 3).

Em Tucuruí, no Estado do Pará, a população da cidade que, em 1970, era de 5.000 habitantes aumentou para 50.000 habitantes em 1982 (IBGE, 1990). A Eletronorte e suas empreiteiras tiveram de construir 6.000 casas e implementar aspectos de modernidade em um núcleo urbano nas proximidades do seu canteiro de obras (Figuras 4 e 5).

Figura 4:Barragem da hidroelétrica de Tucuruí; Figura 5: Nucleo urbano da cidade de Tucuruí. Fonte: INTERNET (2012).

Emprendimento semelhante, mas de menor tamanho, foi construído pela.Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) no núcleo urbano de Carajás, em Parauapebas, no Estado do Pará. Como se pode observar na figura 6, esse núcleo urbano foi estruturado de maneira planejada, bem organizada e com infraestrutura que incluía educação, esporte, lazer, saneamento etc. Essa situação, entretanto, não representava efetivamente a realidade das cidades dos entornos dos grandes projetos na Amazônia, os quais são considerados enclaves, visto que, “[...] dissociados do contexto local, são planejados fora da sua área de atuação e muito distante dos interesses e necessidades da população local” (ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR, 2013, p. 1).

A cidade de Marabá, no Estado do Pará, fundada em 1913, possuía aproximadamente 14.798 habitantesno no início da década de 1970, de acordo com o Censo (IBGE, 1970). Félix (2010) destaca que, em decorrência da implantação do PGC e da Hidrelétrica de Tucuruí, na década de 1980, a população de Marabá alcançou o número de 59.915 habitantes (IBGE, 1980).

Marabá transformou-se no principal polo regional devido à sua proximidade com o polo mineral de Carajás. Localizada entre os rios Tocantins e Itacaiunas, a cidade foi reconstruída à margem esquerda do Rio Itacaiunas (Figura 7).

Figura 7: Centro Histórico, construção da ponte sobre o Rio Tocantins e construção da Cidade de Marabá às margens do Rio Itacaiunas. Fonte: INTERNET (2012).

Vila do Conde, no município de Barcarena, no Estado do Pará, foi estruturada para receber o complexo industrial Albrás/Alunorte.

A cidade de Imperatriz, no Estado do Maranhão, consolidou-se como um distrito industrial às margens da BR 010 (PINTO, 1982).

Para ilustrar o empenho do Estado na implantação do PGC,organizou-se o quadro abaixo, no qual se encontram descritos os projetos relacionados às obras de infraestrutura

desse programa. São serviços de engenharia prestados às empresas estatais, dentre as quais a Companhia Vale do Rio Doce, Eletronorte e Portobras.

QUADRO 2: Projetos de infraestrutura do PGC Números e datas

Firma e descrição do Projeto Incentivos

Atos Declaratórios do ComitêInterministe rial 05/81, de 23-11-81; 08/82, de 17-08-82; 04/83, de 22-03-83;

Construções e Comércio Camargo Correa S.A.: visava à execuçãode obras

na Hidrelétrica de Tucuruí, sob contrato com a ELETRONORTE. IR, II,IPI

01/82, de 28-04-82; 18/82, de 03-09-82;

Construtora Norberto Odebrecht S.A.: visava à execução de obras de infraestrutura na Estrada de Ferro Carajás – São Luis, sob contrato com a CVRD.

II, IPI, ICM

03/82, de 28-04-82;

Empresa Industrial Técnica S.A.: visava à execução de obras do terminal Ferroviário do Porto da Estrada de Ferro de Carajás e outras obras e

serviços de infraestrtura da região do Programa. IR

04/82, de 28-04-82; Construtora Andrade Gutierrez S.A.: visava à execução de obras na Ferrovia Serra dos Carajás-São Luis IR

06/82, de 28-04-82; C.R. Almeida S.A. Engenharia e Construções: visava à execução de serviços de infraestrutura na Ferrovia Serra dos Carajás-São Luis, sob contrato com a CVRD.

07/82, de 28-04-82; ENEFER Consultoria, Projetos LTDA.: visava à execução de obras de infraestrutura na Ferrovia Serra dos Carajás-São Luis, sob contrato com a Construtora Norberto Odebrecht S.A.

IR, IPI

09/82, de 17-08-82; Cia. Mineira de Construções e Pavimentação execução de serviços de engenharia necessários à implantação do Projeto – CIMCOP: visava à

Ferro Carajás. IR

10/82, de 17-08-82; Construtora Queiroz Galvão S.A.: visava à execução de obras de infraestrutura na Estrada de Ferro Carajás – São Luis e das Rodovias BR230/422/PA e BR516/PA, sob contrato com a CVRD e DNER.

IR

11/82, de 17-08-82; 19/82, de 03-09-82; 02/83, de 22-03-83;

Construtora Rodominas S.A.: visava à execução de obras de infraestrutura na Ferrovia Serra dos Carajás-São Luis, sob contrato com a Construtora

Norberto Odebrecht S.A. II, IR, IPI

13/82, de 17-08-82 21/82, de 17-12-82

Portobrás: visava à execução de obras de infraestrutura no Porto de Vila do Conde (PA), das eclusas de Tucuruí (PA), do Porto de Itaqui (MA) e do Porto de Belém (PA).

IR,IPI, II, ICM

01/83, de 22-03-83 Construtora Tratex S.A.: visava à execução de obras civis de trecho da Estrada de Ferro Carajás. II, IR

07/83, de 22-03-83 Empresa Construtora Brasil S.A.: visava à execução de serviços de infraestrutura na Ferrovia Serra dos Carajás-São Luis e da Rodovia

PA150, sob contrato com a CVRD. IR

08/83, de 22-03-83 Construtora Cowan S.A.: visava à execução de serviços de infraestrutura na Ferrovia Serra dos Carajás-São Luis, sob contrato com a CVRD. IR

09/83, de 22-03-83 Themag Engenharia LTDA.: visava prestar serviços de engenharia a titulares de projetos integrantes do PGC. IR

10/83, de 22-03-83 Construtora Beter S.A.: visava à execução de obras na construção da ponte rodo-ferroviária sobre o Rio Tocantins em Marabá. IR Legenda. IR= Imposto de Renda; II= Imposto de Importação; IPI= Impostos sobre Produtos Indutrializados; ICM= Imposto de Circulação de Mercadorias. Fonte: Cota (2007): Carajás: a Invasão Desarmada

Durante o processo de instalação do PGC, a sociedade civil não foi consultada. Em função disso, as consequências da implantação para as populações da região foram drásticas, pois todas as medidas cabíveis para minimizar os impactos estavam subordinadas a projetos consumados que não permitiam as devidas reformulações (PINTO, 1982).

Empreendido pela Companhia Vale do Rio Doce, o PGC gerou consideráveis impactos e transformações no meio ambiente, nas relações sociais e de trabalho nas comunidades direta e indiretamente sob influência dos projetos. Houve expressivas alterações no espaço urbano das cidades e em suas proximidades, levando ao surgimento de novos núcleos urbanos, como, no Pará, das cidades de Marabá e Parauapebas, e, no Maranhão, da cidade de Açailândia (ALENCAR, 2008).

Nas populações tradicionais da região amazônica, o PGC produziu efeitos semelhantes aos de projetos de desenvolvimento econômico anteriores, tais como a construção da Rodovia Belém-Brasília (BR/010), em 1958, cujo objetivo era implantar um eixo pioneiro para articular a Amazônia Oriental a todo o Brasil; a criação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), em 1967, cujo objetivo era integrar a Amazônia Ocidental mediante a criação de um centro industrial com isenção de impostos; e a criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953,cujo objetivo era elaborar planejamentos quinquenais visando à valorização econômica da região. Em 1966, esse órgão foi substituído pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), que passou a coordenar e supervisionar planos e projetos no contexto regional da Amazônia (Becker, 1990).

Se forem analisados detalhadamente os objetivos de cada um desses projetos e o curto espaço de tempo de sobreposição de um em relação ao outro, como é o caso da SPVEA, criada em 1953 e substituída em 1966 pela SUDAM, consegue-se dimensionar seus impactos nas populações amazônidas desse período, como a transmissão de doenças a grupos indígenas, a remoção arbitrária de comunidades tradicionais, o desalojamento de posseiros e os conflitos pela posse da terra com o capital privado, que teve seus empreendimentos desenvolvimentistas subsidiados pelo governo militar.

No tocante à relação capital e natureza (aspectos físicos e naturais), houve poluição dos corpos d'água e destruição da floresta, uma vez que o Projeto Ferro Carajás atraiu milhares de produtores de carvão vegetal, que se estabeleceram ao longo da Ferrovia Carajás para alimentar as usinas de ferro-gusa (BENATTI, 1997, p. 88).