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IDENTIFICAÇÃO ORIENTADOR

3.3 O PROCESSO DE PESQUISA E A ANÁLISE DOS DADOS

3.3.2 A análise da produção científica pela via do discurso argumentativo

Após a etapa de mapeamento e discussão dos dados, tomando o “estado da arte”

da produção científica em Educação Especial/inclusão escolar, iniciamos o processo interpretativo-crítico dos textos. Constituir uma metodologia de análise dos textos consistiu num dos grandes desafios desta tese. Queríamos, na coerência com o referencial teórico assumido, construir um diálogo com os autores dos textos. Mais que extrair categorias ou unidades de análise, buscamos ouvir os outros pela via do entendimento mútuo. Ao mesmo tempo, o processo de leitura dos textos mostrava

que a pesquisa-ação, pela sua dinâmica processual, necessitava de uma metodologia de análise que permitisse discutir com os autores os diferentes momentos do fazer da pesquisa. Mais que determinar ou classificar os estudos, precisávamos compreender o processo de pesquisa.

Num primeiro momento, a análise epistemológica, além de identificar os temas estudados, os sujeitos, os objetos de pesquisa, apresentou-se como possibilidade de

[...] aprofundar os problemas e questões que geraram o conhecimento a elucidar os métodos, as estratégias os conflitos teóricos e paradigmáticos e o confronto dos resultados; também permitem revelar os vazios conceituais, a limitação ou extensão das categorias e as perspectivas históricas de uma ciência em particular (SÁNCHEZ-GAMBOA, 2007, p. 61).

A análise epistemológica supõe a compreensão da prática pedagógica ou da obra científica como um todo lógico que articula diversos fatores, que lhe dão unidade de sentido (SÁNCHEZ-GAMBOA, 2007). É o estudo das articulações entre o processo de investigação científica e os pressupostos filosóficos.

A análise epistemológica contribuiu para desvelarmos os pressupostos teórico- metodológicos, epistemológicos e filosóficos, à medida que nos forneceu maior compreensão de questões acerca da relação sujeito-objeto, dos instrumentos e métodos de pesquisa, da concepção de ciência, entre outras.

Se a análise epistemológica nos deu os primeiros eixos condutores para a organização e interpretação dos dados, a teorização de Habermas acerca da

racionalidade comunicativa conduziu o processo de análise a partir do diálogo com

os autores-pesquisadores das teses e dissertações.

Nessa perspectiva, na esfera do discurso os argumentos são levantados sobre os atos de fala dos sujeitos, com vistas a fundamentar pretensões de validade. No pensamento de Habermas (2003), o discurso é um momento filosófico privilegiado em que os sujeitos (sociais) são atores-agentes do conhecimento com base no mundo vivido. Na perspectiva da racionalidade comunicativa, os atos comunicativos assumem pertinência na busca pelo entendimento e pela produção do conhecimento.

Em nosso caso, as situações de discurso deram-se pela proposição de Círculos Argumentativos, constituídos em conjunto com os outros autores, levando-se em conta os “atos de fala”, expressos nos textos escritos das teses e dissertações. Concebemos o discurso, portanto, como espaço de debate para que os enunciados do mundo social dos processos de escolarização de alunos NEE na pesquisa educacional fossem problematizados, e as pretensões de validade, desafiadas. Por meio dos processos argumentativos, os autores puderam expor seus argumentos acerca dos pressupostos utilizados na pesquisa-ação (1º momento da análise) e do modo como esses pressupostos são empregados em seus estudos (2º momento).

Tanto no primeiro quanto no segundo momento, buscamos um diálogo com os autores, no qual procuramos reconhecer os argumentos colocados por eles. Alguns acordos foram alcançados pela via do reconhecimento intersubjetivo, como os pressupostos que sustentam a pesquisa-ação na visão dos 45 autores que participaram dos Círculos Argumentativos. Assim, a opinião pôde ser transformada em conhecimento (HABERMAS, 1987d) sobre a pesquisa-ação na área de Educação Especial, numa perspectiva inclusiva.

Os círculos tornaram-se momentos privilegiados para o exercício da escuta do outro, da abertura para todos e cada um exporem livremente suas proposições, reflexões e argumentações; um espaço-tempo de debate e confronto de ideias, pressupondo o respeito e a ética discursiva; um momento de busca por acordos que pudessem sinalizar, provisoriamente, alguns consensos acerca dos fundamentos e conhecimentos produzidos pela pesquisa-ação.

Nesse contexto, as análises ocorreram por meio de debates abertos, num sentido habermasiano, em dois Círculos Argumentativos. Tomamos, então, o seguinte percurso:

1º. Círculo Argumentativo: Na perspectiva da teoria habermasiana, ocorreu mediante a organização de um primeiro diálogo, que possibilitou a participação dos “sujeitos/autores”, tendo todos a “[...] mesma oportunidade de falar sobre o assunto discutido” (HABERMAS, 2002, p. 67). Buscamos considerar os argumentos de todos os autores quanto à justificativa teórico-epistemológica do pesquisador ao optar pela pesquisa-ação.

Propusemos aos autores/interlocutores uma primeira situação de Discurso, uma primeira arena de debates acerca das proposições argumentativas sobre a pesquisa-ação, a qual chamamos de “Círculo Argumentativo”. Participaram desse 1º. Círculo todos os sujeitos/autores que apresentaram problematizações e asserções acerca do tema proposto, ou seja, os 45 autores.

Procuramos ouvir a todos os autores, levando em consideração o texto escrito (tese ou dissertação), sem excluir nenhuma ideia, pressuposto ou justificativa apresentada como base teórico-filosófica para a pesquisa-ação. Extraímos para o quadro

esquemático as próprias palavras e frases dos autores, procurando manter suas

pretensões de validade argumentativa.

Chegamos, assim, aos pressupostos teórico-metodológicos e epistemológicos que sustentam a pesquisa-ação para esses autores. A partir deles, aprofundamos a discussão acerca dos termos e conceitos utilizados para designar a metodologia da pesquisa-ação e discutimos as articulações entre referencial teórico e metodológico. Apropriamo-nos da análise epistemológica para compreender as diferentes perspectivas de pesquisa-ação utilizadas no conjunto dos estudos.

2º. Círculo Argumentativo: O primeiro Círculo Argumentativo evidenciou a força da

ação como pressuposto para a pesquisa-ação. Convidamos os autores para um

segundo diálogo acerca da forma como eles utilizam esses pressupostos e princípios no processo – nas ações – de pesquisa. O discurso prosseguiu com os argumentos levantados no 1º. Círculo: as relações estabelecidas entre os envolvidos na pesquisa-ação bem como os papéis assumidos pelo autor e pelo ator; como se dá a constituição do problema de pesquisa; a relação entre compreensão e transformação da realidade e o processo/instrumentos utilizados na pesquisa-ação.

Os argumentos foram analisados a partir das perspectivas de ações sociais e não- sociais abordadas por Habermas: o agir comunicativo, que busca entendimento mútuo; o agir comunicativo forte, que busca um acordo comum; o agir estratégico, no qual os sujeitos agem conforme seus interesses individuais, exercendo influências uns sobre os outros, e o agir instrumental, que se constitui a partir de deliberações monológicas.

Nosso foco consistiu em abordar os diferentes momentos da pesquisa-ação e observamos que um mesmo estudo pode apresentar diferentes formas de ação.

Esse percurso teórico-metodológico é retomado no capítulo quinto com maior aprofundamento, pois, por se tratar de um processo de análise cooperativo, acreditamos que essa construção deva ser “contada” em conjunto com os outros autores-pesquisadores.

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