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Organograma 2 – Argumentos dos pesquisadores sobre as relações na pesquisa ação.

6 SOBRE OS ENTENDIMENTOS VIVIDOS E OS ACORDOS CONSTRUÍDOS: ALGUMAS “RESPOSTAS”, NOVAS PERGUNTAS

6.2 OS PRESSUPOSTOS QUE SUSTENTAM A PESQUISA-AÇÃO: ALGUNS ACORDOS ALCANÇADOS

Os Círculos Argumentativos, momentos de diálogos entre os autores-pesquisadores, permitem-nos algumas considerações acerca dos pressupostos que sustentam os argumentos teórico-metodológicos dos autores quanto à pesquisa-ação. Emergem como pressupostos que sustentam a pesquisa-ação nos estudos que versam sobre a inclusão de alunos com NEE, as relações entre autores (pesquisadores) e atores (participantes do contexto); os papéis atribuídos a esses sujeitos; a constituição do problema de pesquisa; a dinâmica da pesquisa-ação (suas estratégias metodológicas) e a dialética entre compreensão e transformação da realidade.

Esses pressupostos indicam-nos que o Discurso empreendido a partir do entendimento mútuo possibilitou-nos alcançar um primeiro acordo, provisório e contextual, acerca das bases teórico-epistemológicas que têm sustentado os argumentos dos autores em suas escolhas pela metodologia da pesquisa-ação. A literatura científica destaca esses princípios. O que procuramos em nosso estudo foi desvelar como eles são abordados pelos autores e, em seu conjunto, qual o pilar que une esses pressupostos. Evidenciamos que a ação está no cerne dos pressupostos da pesquisa-ação.

O diálogo sobre esses pressupostos mostraram que a implicação do pesquisador no campo de pesquisa é um pressuposto relevante, que merece algumas considerações. O conceito de implicação desenvolvido por Barbier (1985) traz importantes contribuições epistemológicas para a pesquisa-ação, pois diz do envolvimento do pesquisador no campo de pesquisa e das relações desenvolvidas

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com os participantes, aspectos unânimes destacados pelos autores-pesquisadores que dialogaram conosco. Observamos que, quando o autor, por escolhas teórico- epistemológicas, não assume essa implicação, procura manter-se distante do objeto e dos participantes. Em vários momentos tende a produzir um agir estratégico, guiados por interesses privados. Quando o pesquisador assume a implicação sem conhecimento epistemológico pode sucumbir a vontades individuais, seja de si próprio seja do ator. Já quando o conceito de implicação é assumido e incorporado ao estudo com devida apropriação dos saberes, a tendência é de estabelecer uma verdadeira relação com o outro na pesquisa. Consideramos que os pesquisadores precisam apropriar-se dos saberes acerca da implicação, no sentido de qualificar as perguntas que são constituídas e buscar novas respostas, como diz Sánchez- Gamboa (2009).

Desse modo, estabelecemos, neste primeiro momento, um diálogo com os autores que se dedicaram, em seus estudos, a discutir os referenciais teórico-metodológicos para a pesquisa-ação, quanto às definições que são atribuídas à pesquisa-ação. Alguns defendem que a pesquisa-ação diz respeito a planos de ação que devem ser controlados com intervenções previamente planejadas. Outros argumentam por uma pesquisa-ação que enfatize a mudança a partir de um processo de compreensão da realidade. A posição de ambos os grupos de autores converge quando argumentam que a pesquisa-ação diz da participação direta do pesquisador no campo; da relação entre pesquisador e participantes que tende a ser conjunta, e da busca pela transformação das práticas.

No que tange às variações de termos, alguns utilizam a pesquisa-ação como sinônimo de intervenção ou de investigação-ação. Essa evidência motivou-nos a aprofundar o diálogo com os autores, no sentido de problematizar a relevância de que os termos utilizados nos estudos refletem os pressupostos epistemológicos e teóricos, o que requer do pesquisador a apropriação dos saberes científicos relativos à produção de conhecimentos, à pesquisa educacional e, especialmente, à pesquisa-ação.

Esse movimento permite-nos afirmar que a complexidade que essa perspectiva metodológica carrega requer o aprofundamento nos conhecimentos e nas práticas investigativas de pesquisa-ação. Temos como hipótese uma certa discrepância nos

textos das teses e dissertações. Em alguns estudos, os capítulos referentes à metodologia trazem princípios, fundamentos e bases teórico-metodológicas para a pesquisa-ação, discutem os conflitos no campo e a necessidade de negociação. Quando avançamos a leitura dos textos, observamos nos capítulos referentes aos resultados a ausência da concretização dos e elementos teórico-epistemológica destacados anteriormente no processo de pesquisa. Parece-nos que muitos pesquisadores se aprofundam nos saberes referentes aos pressupostos da pesquisa-ação no momento de construção do texto final, e não durante a pesquisa, o que, no caso dessa forma de investigação, pode ser responsável por muitas das ambiguidades e dificuldades sentidas e pelo tipo de conhecimento construído. A sistematização dos diálogos permite-nos argumentar que, para iniciar uma pesquisa- ação, o pesquisador deve ter bases sólidas na fundamentação teórico-metodológica, o que nos remete a pensar a formação do pesquisador no âmbito da pós-graduação.

Outra reflexão nesse contexto diz da força dos argumentos dos pressupostos teórico-metodológicos que se vão consolidando no conjunto dos estudos analisados, com o passar dos anos. Essas questões estão inseridas na historicidade das produções em pesquisa-ação no Brasil. Até meados da década de 1990, poucos estudos dedicaram-se à problematização dos pressupostos, dos aspectos implícitos e explícitos nos estudos dessa natureza metodológica. Aqueles existentes internacionalmente ganham maior divulgação a partir do momento em que as produções pela via da pesquisa-ação deixam de ocupar o lugar de metodologia não científica e passam a ser encaradas na academia como processo de pesquisa sério, visto que “[...] a pesquisa-ação, mais do que uma abordagem metodológica, é um posicionamento diante de questões epistemológicas fundamentais, como a relação sujeito-objeto, teoria e prática, reforma e transformação social” (MIRANDA; RESENDE, 2006, p. 516).

Nesse contexto, argumentamos pela constituição de grupos de pesquisa comprometidos com as questões da pesquisa-ação. Acreditamos na construção de uma comunidade autocrítica de pesquisadores preocupados com as bases que sustentam os pressupostos da pesquisa-ação. Essa necessidade se faz, também, devido a outra evidência que as análises nos permitem fazer: observamos que especialmente as dissertações que estão inseridas num conjunto de produções de um mesmo grupo ou linha de pesquisa que tem a pesquisa-ação como eixo para o

trabalho metodológico mostram maior apropriação dos fundamentos da pesquisa- ação e coerência no fazer da pesquisa. Se, por um lado, as condições de produção de dissertações em nosso País exigem um volume de créditos a cumprir e a realização da pesquisa em até trinta meses, por outro, essa forma de pesquisa coloca o pesquisador iniciante diante de um conjunto complexo de investigação, que envolve o compreender e o transformar a realidade. Quando o mestrando pertence a um grupo que aborda essas questões, participa de pesquisas coletivas, tem possibilidade de desenvolver sua pesquisa-ação com maior apropriação. Nossa experiência no Grupo de Pesquisa Educação Especial e Inclusão Escolar/PPGE- UFES tem mostrado a importância da partilha e da crítica coletiva acerca dos meandros que envolvem a pesquisa-ação.

No período que desenvolvemos nosso estudo de mestrado, participamos de uma pesquisa coletiva, coordenada pela Prof.ª Dr.ª Denise Meyrelles de Jesus252, que teve como foco a formação continuada de professores com vistas à ressignificação das práticas escolares. A pesquisa-ação era empreendida por um grupo de pesquisadores (professora orientadora, mestrandos e bolsistas de iniciação científica) e profissionais de uma rede municipal de ensino. É possível afirmar mos que essa pesquisa teve grande influência na realização de nossa dissertação (ALMEIDA, 2004).

Outra consideração acerca desse grupo de pesquisa diz da variedade de termos utilizados nas teses e dissertações. Observamos, a partir das análises, que as fronteiras entre as perspectivas colaborativa, crítica, emancipatória e institucional são muito próximas. O estabelecimento de ações colaborativas no processo de pesquisa, a busca pela interação constante entre sujeito que conhece e objeto a ser conhecido e a abordagem compreensiva do fenômeno caracterizam essas tendências no grupo.

Essa variedade de termos e perspectivas, embora próximos, mostra-nos aprendizagens e apropriações sobre os saberes científicos da pesquisa-ação, provindos por vezes de um processo solitário do autor no momento de escrita do

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A pesquisa “Construindo uma prática pedagógica diferenciada pela via da formação continuada”, foi

implementada pelo Programa de Pós-graduação em Educação da universidade Federal do Espírito Santo através da linha de pesquisa Educação Especial: abordagens e tendências, com o apoio do FACITEC/PMV, no período de 2003-2005.

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