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A Análise de Três Redações: em Busca das Marcas Linguísticas da

O capítulo 3 compõe os processos que fundamentam nossa pesquisa: identificar, descrever e analisar as marcas linguísticas presentes em três redações produzidas por três participantes para análise por amostragem.

A execução dos processos de identificação, descrição e análise da presença da estrutura narrativa far-se-á na busca pela presença das sequências textuais narrativas e descritivas, das marcas linguísticas dos substantivos, adjetivos e verbos da ordem do narrar com ênfase na sequência narrativa, postuladas por Adam (2011). Entretanto, torna-se inviável separar as análises das sequências descritivas e narrativas por tópicos devido a imbricação que, conforme Adam (2011), postula a não linearidade das sequências quando se organizam no texto da narrativa, ou seja, não há linearidade nas três produções, as partes componentes alternam-se, verticalizam- se conforme a necessidade de cada produtora quando da materialização do texto.

Essencialmente, estas análises compor-se-ão das sequências textuais narrativas e descritivas, as relações temporais e espaciais, postuladas por Adam (2011), além dos grupos nominais, que são formados pelo substantivo e pelo adjetivo e pela classe dos verbos formadores de passado. Sendo assim, grifo nosso, o primeiro

corpus para análise, que compõe o processo diagnóstico por amostragem aplicado e executado na e pela participante N. S. (ANEXO A), assim se materializou em:

Marco e Lucca eram irmãos. Marco era um cosmólogo reconhecido e bem-suscedido na sua área. Lucca diferente de seu irmão era desempregado, morava e dependia de sua mãe.

Como de costume Marco foi ao almoço de domingo na casa de sua mãe. Ao chegar lá deparou-se com seu irmão e lhe disse que presisavam conversar após o almoço. O almoço acabou e então os irmãos foram até o quarto de Lucca para dar início a conversa. Marco logo começou dando um sermão no irmão dizendo-o que deveria ter mais responsabilidade, arrumar um emprego pois já passava da hora de sair da casa da mãe, mas Lucca lhe

respondeu de forma grosceira que não sairia de lá pois não passava da

obrigação dela, cuidar dele. Marco voltou a dizer que não era justo e ela não

havia nenhuma obrigação de sustentar Lucca porque ela só tinha o dinheiro

da aposentadoria que, além de ser pouco tinha que pagar o aluguel, comprar os remédios caros e ainda sustentar um marmanjo, e que um dia ele ia

acabar matando a mãe. Lucca não deu importância e saiu do quarto dizendo que ela iria ter que sustentá-lo até morrer. Marco então se despediu da mãe e foi embora.

Após 5 dias a mãe dos irmãos passou muito mal pois tinha deixado de comprar um de seus remédios, para dar o dinheiro ao Lucca ir a uma festa.

Passaram-se 2 meses da internação da mãe, até que ela chegou a falecer.

Apesar da tristeza Marco ficou indignado e disse que o dia do velório de sua mãe seria o último dia que iria ver seu irmão. O velório acabou e Marco se

mudou para Rússia para ampliar ainda mais seus conhecimentos. Lucca foi

despejado de sua casa por falta de pagamento de aluguel levando-o a morar nas ruas e começou a pedir esmolas para comprar bebidas e drogas. Mas não durou muito. Ele foi assassinado cruelmente por dever dinheiro para a boca de fumo e foi enterrado como indigente.

Nesta redação produzida pela aluna N. S., nossa análise visa comprovar a presença dos elementos linguísticos constitutivos da sequência descritiva como elemento de base à construção da narração. Por exemplo, as questões postuladas por Adam (2011), relativas ao processo de tematização assentam-se em três níveis de operação: a tematização, a aspectualização e a operações de relação.

Como forma de ilustrar os três processos de tematização, conforme Adam (2011), o tema do texto discussão entre irmãos abre a situação inicial e estabelece uma operação de relação fraterna e por semelhança em que N. S. situa temporal e continuamente os dois irmãos, através do verbo ser / ‘era’ no imperfeito. Para isso, vale-se de um conector ‘e’ como organizador aditivo inicial para estabelecer esta relação comparativa entre os dois irmãos ao expor seus perfis opostos. A aspectualização dos dois irmãos é retomada pelo caráter qualificatório avaliativo, exibido pelo contraste dos perfis de Marco e Lucca. Marco é classificado pelos grupos nominais formados pelo substantivo ‘cosmólogo’, e pelos adjetivos de qualificação

todo x parte ‘reconhecido’ e ‘bem-sucedido’ de forma positiva para o leitor. Em contrapartida, Lucca recebe uma qualificação avaliativa negativa, através do adjetivo ‘diferente’ qualificador resumitivo da expressão substantiva indicadora de posse ‘de seu irmão’ como avaliativo negativo, para organizar o texto numa sequência descritiva linear contrastante entre os perfis humanos. Esta relação contínua acontece pelo pretérito imperfeito descritivo presente no verbo ‘ser / era’, que é retomado por uma redundância verbal de ser / era, o que denota baixo nível lexical de substituição de termos que se repetem. A oração explicativa, formada só por elementos nominais ‘diferente de seu irmão’ cria um contraste negativo entre os irmãos. Reforça o contraste negativo entre os irmãos, o emprego das sequências descritivas através do adjetivo ‘desempregado’, além disso, os verbos ‘morava’ e ‘dependia’, ambos de pretérito imperfeito, utilizados como critérios classificatórios de negação, cuja dependência de ‘Lucca’ associa-o aos termos nominais ‘de sua mãe’. Esta sanção negativa dada a Lucca, ativará no leitor um argumento questionador em relação ao comportamento dele e da mãe que se omite ao permitir que o filho adulto a explore.

A narrativa de N. S. possui os elementos básicos pertencentes ao gênero narrativo. Este texto de N. S. é um modelo curto. Ocupa-se de uma introdução x situação inicial e uma situação final. Na situação inicial, que é extensa e composta de muita caracterização para um modelo textual curto. Os dois irmãos são alocados no espaço pelos verbos de descrição ‘ser’ e pelos verbos de exposição ‘morar’ e ‘depender’. Também projeta um nó x conflito, que pode ser inferido em mais de uma oportunidade, por conta das complexas relações afetivas e emocionais, pelas quais passam os personagens centrais – os dois filhos. Dessa forma, confirma-se a presença da estrutura narrativa no texto de N. S., ao identificarmos e descrevermos uma organização de texto convencional historicamente definido.

Sequencialmente, o principal elemento complicador é introduzido: ‘um dia ele ia acabar matando a mãe’. Mas, o primeiro parágrafo dá ao leitor uma primeira ideia de que a diferença de perfis dos irmãos Marco e Lucca: trabalhador versus não- trabalhador seria o conflito textual materializado pela produtora / locutora. Todavia, o segundo parágrafo também estabelece um clima tenso entre os dois irmãos e denota ao leitor que este seria também outro conflito gerador, motivado em torno do tema proposto – dois irmãos com perfis opostos: honesto versus desonesto. Mas o

verdadeiro conflito estabelece-se quando Marco e Lucca discutem e o primeiro acusa fortemente o irmão em “um dia ele ia acabar matando a mãe” [...]. Para Marcos, a ação do irmão traria consequência irreversível: a morte da mãe. A locução adverbial ‘um dia’ é o desencadeador final das emoções anteriormente citadas como possíveis conflitos nesta narrativa curta. N. S. materializa uma espécie de pequenos complicadores, como se houvesse um pavio a queimar lentamente, até o momento definitivo.

N. S. desenrola a narrativa até o ápice / clímax / desenlace, que transborda em “... até que ela chegou a falecer” [...] como uma consequência óbvia para a personagem ‘mãe’, entretanto, interessante faz-se a maneira como a personagem ‘Lucca’ é retomado pelo conceito da ‘Avaliação’, proposto por Adam (2011), ao estabelecer o protagonismo apenas para os dois irmãos: Marco versus Lucca; alocando a ‘mãe’ como personagem secundária, logo, esta narrativa tematiza sobre responsabilidade versus irresponsabilidade que fora desencadeada inicialmente pela ‘discussão’ entre os dois irmãos, como uma moral, uma avaliação a ser ensinada aos mais incautos, mais irresponsáveis, materializada pela personagem ‘Lucca’, metáfora para o termo irresponsável.

Por conseguinte, o modalizador ‘até que’ produz uma circunstância final provocada pelas repetidas ações irresponsáveis de Lucca, consequentemente, impõe que o locutário / interlocutor revisite a lição de moral, ou seja, a avaliação proposta.

O tempo verbal predominante no texto de N. S. constitui-se do pretérito perfeito do indicativo e pode ser representado pela lista ‘foi, deparou-se, acabou, foram, começou, respondeu, voltou, deu, saiu, despediu-se, passaram-se, faleceu, acabou, mudou, levou, durou’, verbos cuja função é inserir ações e ou transformações concluídas no texto materializado.

O interessante é perceber nestas sequências narrativas de transformação o movimento argumentativo oriundo da narração, ao analisar o modalizador adverbial sublinhado em ‘tinha que pagar o aluguel, comprar os remédios caros e ainda sustentar um marmanjo, [...]’ há a introdução de uma relação temporal ao fato narrado, além de enfatizar o discurso de Marco sob a alegação de que o irmão Lucca é um peso morto, que vive às custas da minguada aposentadoria da mãe e também

acrescenta de um discurso crítico, que revisita um hábito comum em muitos lares brasileiros: jovens que dependem dos pais financeira e emocionalmente, além estarem despreparados para cuidar de si próprios.

Também percebemos pela análise, a coloquialidade textual, quando do uso de locuções verbais no infinitivo ‘precisavam conversar’ e no gerúndio ‘começou dando’, o que denota claramente a não aquisição da norma padrão escrita durante o processo ensino-aprendizagem até esta série, o primeiro ano do ensino médio. Estes erros de escrita repetem-se várias vezes na materialização do texto, todavia, para efeito de ilustração, citamos apenas os dois casos anteriores porque nossos objetos de análise são: as sequências narrativa e descritiva, os grupos nominais, formados por substantivos e adjetivos; os verbos de pretérito, que podem auxiliar no desenvolvimento da produção escrita.

Para conclusão da análise desta primeira redação, reafirmamos que este texto se compõe dos elementos estruturais da narrativa ao iniciar-se pela introdução versus situação inicial até a conclusão versus situação final. Esta redação possui ainda, os dois eixos centrais de uma narrativa: o conflito / complicador e o clímax / desenlace, o tempo verbal de pretérito como predominante, os personagens – protagonista, antagonista, secundários, o tempo e o espaço cênico e também se utiliza de uma repetição absoluta das sequências narrativas, conforme preconiza Adam (2011, p. 225) classificando o texto da participante como narrativo por que materializa-se através da sequência narrativa predominante, em relação as demais sequências.

E, para reiterarmos a defesa, inserimos o texto de N. S., no quadro abaixo em forma de resumo, conforme Adam (2011 apud SILVA, 2012, p. 130):

Situação inicial Marco e Lucca são dois irmãos com perfis diferentes; Marco é

bem-sucedido e responsável, Lucca é preguiçoso e irresponsável e vive às custas da mãe aposentada e doente.

Marco e Lucca discutiram no quarto e Marco acusou Lucca de que ele mataria a mãe se não mudasse de postura.

Re-ações Lucca afirmou que a mãe tinha a obrigação de cuidar dele indeterminadamente, então Marco deixou a casa da mãe chateado.

Desenlace A mãe dos rapazes sofreu uma crise devido à falta de medicamentos de uso controlado. Ela ficou dois meses internada e faleceu.

Situação final Marco foi ao velório indignado e afirmou que nunca mais procuraria o irmão. Lucca perdeu a casa, pois não trabalhava e passou a morar na rua, beber e usar drogas.

Avaliação final A irresponsabilidade cobrou seu preço: Lucca fora assassinado pelo tráfico.

Desta forma, encerramos a análise da primeira redação produzida por N. S. e reiteramos como a predominância da sequência narrativa desenvolveu-se no texto materializado, por que, segundo Silva (2012), um dos três processos possíveis para a confirmação do gênero narrativo ocorre quando resumimos o texto produzido com base no tempo verbal de pretérito para definir a sequência dominante. Sendo assim, no quadro, modelo I, os verbos de pretérito perfeito do Indicativo constituem a maioria dos verbos que resumem o texto de N. S.

3.4 A Análise de Três Redações: em Busca das Marcas Linguísticas da Sequência Descritiva e Narrativa na Redação 2

É interessante comparar como a redação 1 analisada anteriormente e a redação 2 desenvolvem processos de escrita comuns, como por exemplo, a possibilidade de resumir o texto, conforme Adam (2011 apud SILVA, 2012). É possível identificarmos as sequências descritivas com seus aspectos teóricos: a tematização, os marcadores de espaço e de tempo e posteriormente as sequências narrativas e sua estrutura presente no corpus.

Para este processo analítico, digitamos em forma de citação o texto 2 de R. A. (ANEXO B), tal qual foi escrito e, por conseguinte, identificamos em

Melanie uma mulher competitiva se achava melhor que os outros,

viu a oportunidade certa de entrar na mais importante empresa da cidade. se importava tanto com bens financeiros e deixava o amor ao próximo de lado.

para a empresa encontrar alguém com o currículo melhor que o dela. Ao receber a notícia que poderia perder o emprego para outra, se revoltou e

daria um jeito.

A nova funcionária já estava trabalhando, mostrando seu desempenho. O que fazia os demais ficarem admirados e a inveja crescia no coração de Melanie.

Um dia qualquer Melanie pega dinheiro de sua bolsa e coloca no

da funcionária nova e saiu sem que ninguém percebesse.

Na hora de ir embora ela chegou até o chefe e explicou que seu dinheiro havia sumido e alguém teria roubado. Na presença de alguns funcionários o chefe pediu por livre espontânea, vontade que abrissem suas bolsas, a nova funcionária abriu e ali estava o dinheiro.

___ Eu juro, nem encostei nesse dinheiro! ___ Não é isso que vejo senhorita.

___ Alguém colocou

___ Chefe! Eu tenho provas que não é ela, olhe.

O chefe, viu o momento que Melanie colocou o dinheiro na bolsa e a coitada nem percebeu que tinha câmera no local. Por fim foi mandada embora com peso na consciência.

Nos dias atuais, não é de se espantar que o ser humano quer ser melhor em tudo e sempre o primeiro. Vivem por si só, não necessitam da opinião de ninguém, sua resposta é sempre a última! Mas e quando a enfermidade chega? O que parece insensível aos olhos para essas pessoas egocêntricas é apenas um ponto para querer pisar sobre o outro que oferece a mão para ajudar.

Não importa se parente, amigo, colega, até nos momentos difíceis da vida, sempre irá se elevar ao extremo. E despensar a ajuda daqueles que

estão próximos.

Quando a enfermidade chega para essas pessoas egocêntricas o mínimo que deve fazer é segurar na mão daquele que ofereceu. E sempre lembrar que dias de perdas e ganho virão e terá valido a pena tudo o que

viveu

que esta redação produzida por R. A. nos moldes de redação escolar e conforme a estrutura historicamente definida pelos gêneros, incidem muitas ocorrências que dialogam com as teorias propostas, conforme Adam (2011), Fiorin (1996), Sparano et al. (2012), Bronckart (1999) para elucidar questões como a estrutura componente de um texto e a forma como uma intencionalidade discursiva materializa-se através da escrita de determinado gênero textual.

Sendo assim, é observável na introdução e ou situação inicial, conforme Adam (2011), da narrativa produzida por R. A. como os aspectos da tematização estão presentes através da sequência descritiva e moldam o perfil da protagonista para o leitor. Primeiro, ocorre a descrição por analogia ao atribuir à personagem Melanie através do adjetivo valorativo ‘competitiva’ uma comparação todo versus parte, isto é, Melanie está acima, é superior aos demais seres humanos que circulam naquele

espaço comum de trabalho. Além disso, reforçam a sequência descritiva ainda as relações de contiguidade temporal em que Melanie é posta como objeto de discurso em um tempo individual, isto é, ela e só ela importava.

A outra relação é espacial, isto é, Melanie torna-se o centro da tematização ao ser aspectualizada como egoísta e gananciosa por duas orações formadas por sequências expositivas de pretérito imperfeito ‘se importava tanto com bens financeiros e deixava o amor ao próximo de lado. ’ Para finalizar, Melanie recebe uma sanção positiva cuja marca verbal recai sobre o pretérito perfeito conclusivo ‘conseguiu’, quebrando a linearidade da situação inicial ao introduzir uma relação de causa e efeito; todavia não se configurou como o nó, conforme postula Adam (2011).

A normalidade da situação inicial é quebrada novamente pela chegada de outro elemento comparativo, uma outra funcionária superior a Melanie, cujos efeitos estão marcados por sequências narrativas pelos verbos de pretérito perfeito conclusivo ‘passou’ e motiva uma transformação, conforme Fiorin (1996), exposta pelo verbo de pretérito perfeito conclusivo e reflexivo ‘se revoltou’.

E, a partir desse ponto, os efeitos em Melanie são marcados pelo futuro do pretérito ‘poderia ter’ e ‘daria’ para enfatizar as ações de Melanie motivadas pela causa: o substantivo adjetivado ‘nova funcionária’ que, pelo processo catafórico é retomado pelo pronome indefinido ‘alguém’. Este pronome indefinido ‘alguém’ assume a categoria de substantivo ao nomear a personagem antagonista.

A produtora R. A. altera o plano de texto convencional da narrativa. Primeiro, a história inicia-se com uma situação inicial linear ao alocar Melanie em seu espaço de ação e posteriormente insere um agente humano que provoca uma mudança, conforme Adam (2011), que cria uma tensão, conforme Bronckart (1999), em Melanie que sofre os efeitos desse agente não intencional.

Todavia, a produtora R. A. retoma o curso da situação inicial ao usar novas sequências descritivas com o verbo ‘estava’ qualificando o sujeito através do adjetivo no gerúndio de continuidade ‘trabalhando’. A produtora também utiliza uma elipse repetitiva do verbo estar / estava através do gerúndio ‘mostrando’, além das sequências expositivas em ‘ficarem’ complementado por um adjetivo de particípio

passado ‘admirados’ e em ‘crescia’ por uma locução adverbial de lugar ‘no coração’ de Melanie que configura um sentido de posse ao termo.

Como metodologia para definir o texto de R. A. como historicamente pertencente ao gênero narrativo, identificamos que predominam no texto sequências verbais de pretérito perfeito do indicativo, perceptíveis pela lista ‘viu, conseguiu, passou, revoltou, saiu, chegou, explicou, pediu, abriu, encostei, viu, colocou, percebeu’ ao se repetirem pelo texto todo. Estas ações marcadas pelo pretérito perfeito são classificadas, conforme Adam (2011), em ações promovidas por um agente / ator, no caso, humano que desenvolve relações de causa e consequência para cada ato.

Compõem a estrutura desse texto narrativo, uma situação inicial comparativa, marcada pelo verbo pronominal de pretérito imperfeito ‘se achava’, a que segue uma sequência narrativa de pretérito perfeito ‘viu’, mas que semanticamente introduz uma ação expositiva, que seria melhor reescrita pelo mesmo verbo ‘via’ no pretérito imperfeito e de outro imperfeito pronominal ‘se importava’ reiterando o perfil egoísta e ganancioso da personagem. Esta reiteração pode ter como objetivo suscitar no leitor uma análise argumentativa questionadora em relação aos aspectos psicológicos expostos pela personagem.

A narrativa de R. A. é marcada também por um grande número marcas espaciais e temporais -- os advérbios e expressões adverbiais como ‘na empresa’, ‘de lado’, ‘muito tempo’, ‘no coração’ e a principal, que introduz o conflito na narrativa “Um dia”. Esta expressão ‘Um dia qualquer’ marca uma tensão de continuidade, conforme Bronckart (1999) e ou uma mudança, conforme Adam (2011), além disso, conforme Fiorin (1996), a expressão ‘Um dia qualquer’ funciona como ancoragem para os tempos verbais enunciativos em que o narrador insere a voz da personagem em concomitância com o momento de referência através de duas sequências expositivas de presente pontual ‘pega’ e ‘coloca’, seguidos de um pretérito perfeito conclusivo, dinâmico, pontual em ‘saiu’, ao que se segue o verbo ‘percebesse’ um pretérito imperfeito de subjuntivo marcador de presente, que indica probabilidade de que ninguém veja as ações de Melanie.

Como fechamento da análise desse texto narrativo de R. A., exporemos um resumo do texto em questão, no quadro abaixo, conforme Adam (2011 apud SILVA, 2012, p. 130), dividido em:

Situação inicial Melanie foi uma mulher competitiva que se achava superior aos

outros seres humanos, mas que só importou com sua ganancia e egoísmo. Ela conseguiu o emprego dos sonhos e se revoltou contra outra funcionária que poderia tomar seu lugar naquela empresa.

Melanie pegou o dinheiro que estava em sua bolsa e colocou na bolsa da outra funcionária sem que ninguém percebesse.

Re-ações Quando ia embora, Melanie disse ao chefe que o dinheiro dela havia sumido. O chefe pediu que os outros funcionários abrissem suas bolsas e o dinheiro apareceu dentro da bolsa da nova funcionária que foi acusada por Melanie de roubo.

Desenlace Um personagem neutro entrou em cena e provou que fora Melanie que colocara o dinheiro na bolsa da nova funcionária que fora acusada de roubo.

Situação final O chefe concluiu que Melanie fora a verdadeira culpada e a

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