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Os Tempos Verbais de Pretérito Segundo Adam e Fiorin

É de suma relevância em nossa dissertação, abordarmos os tempos de pretérito perfeito e imperfeito. Dois processos que constroem a sequência textual narrativa e descritiva bem como os textos do narrar em geral.

Adam (2011) defende que a “as variações enunciativas marcadas pelas formas verbais fazem parte dos efeitos de sentidos próprios aos textos”, em resumo, Adam (2011) afirma que os tempos verbais do francês dividem-se em passado composto para marcar a relação de pretérito perfeito concluído e passado simples para marcar a relação com o momento do discurso. Em suma, o passado composto do francês se relaciona ao pretérito perfeito do português e o passado simples do francês ao nosso imperfeito.

Semelhante relação teórica é perceptível em Fiorin (1996) quando afirma que o discurso linguístico define o tempo e para Benveniste (1974 apud FIORIN, 1996, p. 142) o tempo crônico é diferente do tempo da língua. O discurso instaura um agora, conforme o momento exato em que a enunciação ocorre.

Para o enunciatário, este momento é concomitante se houver marcações por ancoragem que respaldem a ideia de tempo cronológico quando, por exemplo, da leitura de um texto narrativo escrito anteriormente ao ato da leitura.

Podemos comprovar essa diferença temporal quando associamos grupos de palavras que têm em si o sentido do agora, como por exemplo ‘Viajo para São Paulo amanhã’ em que o presente marcado pelo verbo ‘viajo’, difere do advérbio de tempo ‘amanhã’ que explicita um ato futuro. Este grupo de palavras pertence à classe dos advérbios e expressões adverbiais que colocam os enunciados em posições temporais opostas e ou contraditórias ao verbo, mas são vitais à construção das sequências narrativa e descritiva, entre outras.

Inclusive, para Fiorin (1996), tempo linguístico e tempo crônico têm divisões distintas. Em um primeiro momento, quando a recepção do texto produzido não é simultânea ao ato da enunciação, isto é, narrador e interlocutor estão em tempos distintos, pois, este fator distancia o leitor do ato de produção do momento enunciativo.

Em um segundo momento, quando o leitor lê o texto há um lapso temporal que o distancia literalmente do enunciador, mas que o aproximará deste mesmo enunciador através dos processos de ancoragem tempo-espaço.

Por isso, em textos como a narrativa curta ou extensa, os marcadores temporais e espaciais atualizam a cronologia modo-temporal dos verbos e de seus sentidos no enunciado para situar o enunciatário em um dado momento em relação ao ato da escrita e da leitura.

Da mesma maneira, conforme Fiorin (1996), o tempo linguístico ordena-se em relação ao momento da enunciação quando é gerado o discurso, mas que tem em comum com outros tipos de tempos as noções de ordem, duração e sucessão.

Para a língua portuguesa, por exemplo, estas relações de sucessividade são demonstradas pelo pretérito perfeito, pelo pretérito mais que perfeito e pelo futuro anterior ou futuro do pretérito.

Consecutivamente, Fiorin (1996), afirma que há dois sistemas temporais: o primeiro é aquele que ocorre no ato da enunciação ou enunciativo; o segundo, é

aquele que ocorre em função de momentos de referência instalado no enunciado ou enuncivo.

Em conformidade com Fiorin (1996), os tempos verbais sistematizados organizam-se em termos do sistema temporal em “enunciativos” e “enuncivos”. Para Fiorin (1996), o presente marca um acontecimento a partir do momento do acontecimento e o momento de referência presente.

O autor divide o presente em três casos. No primeiro caso ou presente pontual, ocorre quando existe coincidência entre o momento de referência e o momento do enunciado e este fator acontece quando os verbos indicam estados ou transformações que se referem ao agora.

No segundo caso ou presente durativo, o momento de referência é mais longo do que o momento de enunciação. Fiorin (1996) classifica como iterativo quando ocorre uma descontinuidade no texto ou continuidade quando há um presente de continuidade.

Em síntese, este tipo de presente se organiza conforme o gênero textual, ou seja, uma crônica organizar-se-ia pelo presente iterativo, descontínuo, porém os romances, desenvolveriam um presente contínuo devido às constantes retomadas dos personagens quando o narrador insere as vozes dos personagens pela debreagem temporal de segundo grau, ou seja, as falas do personagem são alocadas no texto pelo narrador, pelo processo da concomitância.

No terceiro caso ou momento omnitemporal / gnômico, Fiorin (1996), classifica- o como o presente de verdades incontestáveis, o texto reproduz um discurso escrito que se propaga eternamente, comuns em textos científicos, religiosos e ou de sabedoria popular.

Em Fiorin (1996), encontramos a definição de pretérito perfeito I, que marca uma relação de anterioridade entre o momento do acontecimento e o momento de referência presente, ou seja, enquanto voz do narrador o momento é anterior e, enquanto voz do personagem, o momento é do agora.

Fiorin enfatiza as diferenças entre o português e as línguas românicas; por exemplo, no francês quando a voz do narrador ou da história chamar-se-ia de passado composto / anterioridade e a voz do personagem passado simples ou tempo do discurso / concomitância. Sendo assim, comparativamente o passado simples ou pretérito perfeito em português mantém sua validade temporal, já o pretérito composto mantém apenas a relação aspectual no texto.

Em relação ao futuro do presente, Fiorin (1996), situa o fato acontecido em um momento posterior que busca uma referência no momento presente, isto é, a ação que se pretende é tomada pelo discurso escrito / oral no momento atual. Já em relação ao futuro, Fiorin (1996) afirma que este tempo, através de uma proposição, exprime uma verdade atemporal já que seu valor de verdade não pode ser determinado no momento da enunciação.

Para Fiorin (1996), o pretérito perfeito e o imperfeito exprimem relação de concomitância e estão distintamente definidos quando, no primeiro ocorre um aspecto limitado, acabado, pontual, dinâmico e; no segundo, não-limitado, inacabado, durativo, estático.

Em síntese, Fiorin (1996), define que o pretérito perfeito é o tempo que melhor atende à narração, devido ao valor de conclusão das cenas materializadas pelo texto e o pretérito imperfeito é o tempo que melhor atende à descrição.

Dessa forma, fica claro que estes dois tempos verbais, o pretérito perfeito e o imperfeito retomam a hipótese formulada por Adam (2011) que, quando em maior incidência nos textos promovem a manutenção das sequências como método eficaz para se produzir um texto.

Embora sejam conceitos diferentes e em consequente evolução, há uma proximidade entre os tempos verbais do português e do francês, já que a língua portuguesa sofreu historicamente muitos processos de inclusão lexical e linguística por imposição de povos dominadores.

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