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4 NARRATIVAS DE EXPERIÊNCIAS: UMA ABORDAGEM POR

4.10 A ANNA CAROLINA TROUXE UM MATERIAL SOBRE O TEMA

A Anna Carolina trouxe para nós uma reportagem do jornal Diário de Santa Maria.

Figura 77 – Reportagem do jornal Diário de Santa Maria

Fonte: Jornal Diário de Santa Maria (23/06/2017).

Li a reportagem para as crianças e foi uma ótima oportunidade das crianças se darem por conta que existem outras fontes de pesquisa além da internet. Digo isso, porque sempre que pergunto onde podemos pesquisar as crianças falam sempre falam em computador, celular, tablet. Então fui mostrando para as crianças que também podemos usar o jornal como fonte de pesquisa, assim como livros.

Como não esperava que trouxessem uma reportagem, resolvi mudar meu planejamento. Inclusive meu planejamento vem sendo construído quase que diariamente, pois meu desejo é que ao ouvir as crianças, possa considerar o que dizem, pensam, gostam ou não e, assim, planejar a ação educativa com elas, mesmo que não percebam, pois “[..] planejar na Educação Infantil, é firmar um compromisso com as crianças e seu desenvolvimento”. (CORSINO, 2009, p. 121).

Esse processo de planejar e replanejar, demandou um olhar sensível para o dia a dia vivenciado, para que, de fato e de direito se pudesse mediar e construir um planejamento que trouxesse a criança como centro do processo educacional na Educação Infantil.

A rotina também é alterada de forma tranquila, pois seria dia de irem até o Laboratório de Informática, ou seja, jogar jogos educativos. Cabe aqui refletir sobre o significado do tempo e espaço a partir de uma abordagem por meio de projetos. Refletir sobre essa questão na escola é inicialmente fazer uma referência de como a unidade escolar foi edificada e em um determinado tempo e espaço social que a configura em termos organizacionais. Os espaços educacionais estão relacionados a uma certa organização de tempo que na Modernidade foi tão bem disseminado em nossas escolas.

Os espaços e tempos na escola moderna se constituíram nas intensas mudanças na organização social, política e econômica da sociedade, que por sua vez repercutiram em um modelo curricular hierárquico, na fragmentação do tempo, no qual a disciplina passa a atuar de modo muitas vezes imperceptível na forma como se organizam os espaços e tempos para a infância na Educação Infantil.

Para que eu conseguisse aos poucos construir uma nova forma de organização dos tempos foi necessário superar a ideia de um tempo linear, organizado em etapas em ascensão, calcado na ideia de um percurso único para todos e da produtividade. Foi preciso pensar o tempo como processo, como construção histórica e cultural.

Minha experiência confirma o relaxamento das rotinas, onde a organização do espaço e do tempo vão se organizando em função dos interesses das crianças e não de forma linear, na qual o tempo é delimitado rigorosamente para cada atividade. Brincar na sala, brincar no parque, lanche, educação física, atividade, assistir vídeo ganham destaque nesta perspectiva linear e, muitas vezes, atividades são impostas pelo professor sem considerar a importância de ouvir as crianças e suas manifestações de interesses e participação na organização do tempo e espaço da sala de aula.

A escola foi dividida em tempos e espaços determinados e estruturados e as crianças vão sendo hierarquizadas dentro deles. Os espaços e tempos fixos que a Modernidade buscou levaram à homogeneização das turmas, afinal, era preciso que todos estivessem em um mesmo ponto do desenvolvimento para ocupar um determinado lugar em um determinado tempo. É a espacialização do tempo, onde o tempo passou a ser redutível ao espaço e pensado em função do espaço. (VEIGA- NETO, 2002).

O espaço e o tempo escolar não são neutros, e sim definidos pelos determinantes dos modos de ensino e aprendizagem. Eles também educam e fazem parte da cultura das instituições educativas.

E romper com essas concepções de tempo e espaço determinados, hierarquizados e homogeneizados, pode pressupor a construção de “Um tempo para se pensar juntos, para decidir, coletivamente, o que fazer, como fazer, porque fazer [...] Um tempo [...], que podia „ser tempo de criação‟ e não o que se vivia nos últimos anos [...] tempo de repetição”. (SAMPAIO, 2002, p. 190).

Mas, que espaços educacionais permitiriam viver o tempo como “tempo de criação”? A reportagem trazida pela Anna Carolina permitiu que se criasse uma nova experiência para aquela tarde. O tempo e o espaço se expandiram, se tornaram mais interativos, ilimitados, flexíveis. Uma outra configuração espacial rompeu com as barreiras da sala de aula ao saímos para o pátio em um horário que não era comum para construirmos um “livrão” sobre os principais cuidados que os animais de estimação precisam no inverno.

E com esse episódio imprevisível, passamos a usar a quadra da escola, onde as crianças em grupos ficavam responsáveis por representar um dos cuidados que por elas foram destacados após a leitura da reportagem.

Busquei folhas de cartolina. Em nossa escola há grande quantidade de material e caso não tenha algo que precisamos é providenciado pela direção. Dividi as crianças em grupos e cada um ficou responsável por determinado cuidado.

Li para cada grupo o cuidado que precisam desenhar e as crianças se puseram a trabalhar. Senti um forte senso de responsabilidade neles, se concentraram de tal forma que parecia que não havia crianças no pátio. Não que não falassem entre sim. Falavam sim, pois a todo momento eu ia circulando entre os grupos e percebia a interações entre eles.

Figura 78 – Atividade em grupos

Figura 79 – “Livrão” sobre os cuidados com os pets no inverno

Fonte: Arquivo pessoal de Stafford (2017).

Segundo Coelho:

No discurso educacional contemporâneo encontramos tentativas de reagrupar, interconectar os conhecimentos e buscar metodologias globalizadoras num esforço para superar os modelos fragmentados da construção moderna de escola e currículo todavia há pouca ênfase na organização dos tempos e espaços para acolher práticas pedagógicas que tenham a investigação como princípio e um tempo que permita a maturação, a experimentação e a experiência para superar uma escola de respostas fechadas e alicerçadas em verdades. (2014, p. 06).

Minhas vivências diárias com as crianças vão me auxiliando a entender a organização do tempo e do espaço como essenciais para a uma prática por meio de projetos na Educação Infantil, pois investigar, experienciar implicam num tempo que não pode ser determinado de maneira linear e homogeneizado. Trabalhar nesta perspectiva é trabalhar com a ideia do imprevisível, no qual os projetos são construídos e determinados pelos tempos, espaços e sujeitos em questão.

Trabalhar na perspectiva da experiência é também relacionar com o tempo:

A experiência é cada vez mais rara por falta de tempo. Tudo se passa demasiadamente depressa, cada vez mais depressa [...]. A velocidade com que nos são dados os acontecimentos e a obsessão pela novidade, pelo novo, que caracteriza o mundo moderno, impedem a conexão significativa com o acontecimento. (LARROSA, 2002, p. 23).

O tempo assim vivido parece ser o tempo sendo reto, uniforme, esvaziado de experiências, de sentido, de sensações. O que se busca ao trabalhar numa perspectiva da experiência é viver o tempo como processo, como construção. Processo que vai construindo práticas a partir das experiências.

4.11 NOSSO SEGUNDO PASSEIO DE PESQUISA E O PODER DE UM PEDAÇO