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3 METODOLOGIA

3.4 OS PASSAGEIROS DA VIAGEM

Os passageiros da viagem, ou seja, os sujeitos dessa pesquisa foram 20 crianças na faixa etária de 4 a 6 anos que compõem a turma de Pré-Escola Mista A. A turma é considerada mista porque abrange crianças tanto do nível A (4 anos completos até 31 de março2) e como do nível B (5 anos completos até 31 de março). Destas 20 crianças, 11 são meninas e 9 meninos, sendo que 7 ingressarão no 1º ano do Ensino Fundamental em 2018.

Tabela 1 – Total de crianças agrupadas por idade

Total de crianças Idade

11 4 anos

7 5 anos

2 6 anos

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Tabela 2 – Médias3

máxima e mínima das idades das crianças da turma expressa em anos Média Máxima Mínima 4 6 4

Fonte: Elaborado pelo Autor.

A metade da turma começou a frequentar uma escola pela primeira vez esse ano. Essa diversidade de idade que vai dos 4 aos 6 anos, assim como a questão de

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A Resolução nº 6/2010 do Conselho Nacional de Educação (CNE), orientada pela Lei nº 11.274/06, definiu as diretrizes operacionais para matrícula na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Nelas, o CNE estabeleceu que para ingressar na pré-escola, a criança deve completar 4 anos até o dia 31 de março do ano vigente e, para ingressar no Ensino Fundamental, a criança deve completar 6 anos até 31 de março do ano vigente.

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Média é a soma das idades das crianças expressa em ano, dividido pelo número de crianças. Para a organização dos dados da Tabela 01 e 02, considerei a data limite de 14 de julho, que foi o início do recesso escolar.

as crianças terem tido ou não experiências em outro ambiente escolar propiciou, a partir do convívio entre elas, uma rica fonte de aprendizado. No caso da abordagem por projetos, ao se esperar que ocorra aprendizagem e que essa seja potencializada, é interessante que a criança se relacione não apenas com seus pares, pois os mais velhos fazem coisas que os menores ainda não conseguem fazer sozinhos e isso é um convite ao aprendizado.

Mas antes de iniciar a pesquisa com as crianças, assim, que o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos – CEP/ UFSM aprovou o projeto, foi entregue para os pais o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual apresentou todos os detalhes da pesquisa, seus objetivos, metodologia, riscos e contribuições. Todas as famílias consentiram na participação dos seus filhos. As famílias já sabiam que meu projeto de mestrado estava em processo de aprovação desde as entrevistas individuais que realizo no início do ano letivo. Reforcei a informação na reunião de pais que tivemos em março. Nesses dois momentos, expliquei como seria desenvolvido meu projeto e que estava aguardando a liberação para enviar os termos. Assim, o TCLE não era uma novidade, os pais já estavam cientes da necessidade desse documento. Todas as famílias consentiram na participação de seus filhos e filhas como sujeitos dessa pesquisa.

Não achei necessário organizar um Termo de Assentimento (TA), pois quando submeti o projeto pensei: “As crianças nem sabem assinar seus nomes” e, também, duvidei da capacidade delas entenderem os dados de um TA. Um parecer expedido pelo CEP em abril, solicitava a ampliação de algumas informações e mencionava a apresentação deste documento apenas.

Ao escolher obter o aceite formal das crianças, acredito que esse caminho dialoga com os valores do reconhecimento da criança como um sujeito histórico de direitos e de direitos de expressão e me lanço ao desafio de criar um TA direcionada aos pequenos.

Não foi muito fácil pensar em uma proposta de documento para obter o aceite das crianças, geralmente, procuramos nos basear em trabalhos já realizados e que podem proporcionar contribuições às nossas intencionalidades, mas não encontrei muitos materiais e os que tive acesso, não eram adequados para a criança pequena, pois estavam organizados em textos corridos, de forma bem parecida com os termos direcionados para os adultos.

O TA foi elaborado em 3 páginas, com a introdução de pequenos textos com linguagem acessível as crianças. Tive a preocupação de colocar fotos minha e da

professora Roseane, para que as crianças conhecessem minha orientadora. Também utilizei figuras para que pudessem entender em que momentos da nossa rotina estaria fazendo as gravações, bem como dos instrumentos usaria para fazer os devidos registros. Pensando que algumas crianças poderiam apresentar dificuldade para assinar o material, deixei um campo de assinatura na página final e um campo específico para colocarem a digital a base de tinta. Afinal, nada disso tem sentido, se o processo de explicar a pesquisa para a criança não for esclarecedor.

Figura 8 – Fragmento do termo de assentimento orientadora e orientanda

Fonte: Arquivo pessoal Stafford (2017).

Figura 9 – Fragmento do termo de assentimento momentos e instrumentos para coleta de dados

Figura 10 – Fragmento do termo de assentimento local para assinatura e/ou impressão digital

Fonte: Arquivo pessoal Stafford (2017).

Com a aprovação do projeto no CEP/UFSM, e com o retorno do TCLE com as autorizações dos pais, dou início ao processo de explicação do material para as crianças. Esse processo foi todo registrado por meio do gravador de voz e com algumas crianças realizei filmagens, sendo desenvolvido individualmente no Laboratório de Informática.

Figura 11 – Imagem gerada através do vídeo gravado durante a explicação do TA

Algumas crianças falavam com voz baixa, como se estivessem com vergonha de serem gravadas e apenas respondiam o que eu perguntava. Outras interagiram dinamicamente com o material, sendo que alguns detalhes específicos chamaram a atenção delas, principalmente a foto da orientadora, por ser uma pessoa desconhecida, e o campo disponível para elas marcarem a digital com o polegar.

Aproveitei a oportunidade para perguntar se elas conheciam a palavra pesquisa, se sabiam o que era pesquisar. Dezessete crianças disseram que não conheciam a palavra pesquisa e nem sabiam o que era pesquisar. Mas três demonstraram já ter concepções próprias a respeito.

Quando perguntei para a Anna Carolina se sabia o que era pesquisar, ela me disse:

-Pesquisar é ver as coisas.

E como fazemos para ver as coisas Anna Carolina? -Vamos no computador.

Já a Débora me contou que: -Pesquisar é aprender.

Mas a Débora não soube me dizer onde podemos fazer pesquisas, diferente de outra colega, a Ana, que também citou o computador como fonte de pesquisa.

Entende que as respostas colhidas estão marcadas pelo contexto sociocultural em que essas crianças se encontram, sendo produtos da interação destas com os outros. As falas das crianças retratam suas visões de mundo baseadas nas experiências vivenciadas por elas.

Todas as crianças aceitaram participar da pesquisa, com exceção de uma que não quis, pois não gosta que tirem foto nem filmem ela. Isso mostra que essa criança se coloca como um sujeito que tem vontades, desejos, cabendo a mim como pesquisadora respeitar seu desejo e valorizar seu posicionamento, bem como, implica em um convite à valorização da fala e do pensamento infantis, como recursos principais na investigação do que é vivenciado pelas crianças.