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5 CAPÍTULO V – CONCLUSÕES, CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1 A aplicação do modelo de Provus na pesquisa

O Modelo de Provus foi o eixo norteador da pesquisa, pois auxiliou na definição das etapas a serem seguidas para a realização deste trabalho. O modelo de avaliação apresentado por Provus foi de importância ímpar para o alcance dos objetivos propostos pela pesquisa. Para que se estabeleça a discrepância entre o real e o ideal Provus apresenta três categorias que estão divididas em Input, Process e Output. Por sua vez estas se dividem em cinco estágios que têm como objetivo final avaliar a prática do orientador. Relacionando as três categorias e os cinco estágios com as etapas realizadas nesta pesquisa obtêm-se o seguinte quadro :

Input Process Output

Modelo/Instalação Análise documental e revisão de literatura/ conhecimento da realidade do orientador

Instalação/

Processo O da realidade / conhecimento

relatos e resultados da ação

Processo/ Produto Relatos e resultados

da ação / reavaliação das atribuições definidas nos documentos legais

Produto/ Custo Recomendações para

a ação do orientador. Quadro 26: Relação do modelo de Provus com as etapas utilizadas na realização da pesquisa.

Correspondente ao que Provus apresenta como 1° estágio—Modelo-- foi realizada a análise documental do decreto nº 72.846/73, o eixo norteador da pesquisa. Como foi assinalado, esse documento constitui o fundamento legal definidor das atribuições do orientador, como também revisa toda a trajetória histórica, política e filosófica da Orientação Educacional. Vale ressaltar a importância desse momento para a pesquisa em virtude da identificação do documento interno utilizado pelas orientadoras de escolas públicas, a Orientação Pedagógica nº 10. Ele resume o componente ideal no modelo de Provus.

Instalação é definida pelo autor como o 2º estágio. Consiste na comparação entre o real e o ideal. Ao se analisar todas as atribuições do orientador educacional no contexto escolar citadas no documento legal que as define, mostrou-se relevante verificar a realização dessas atribuições na prática do orientador. Assim, surgiu a necessidade de se estabelecer uma metodologia que conseguisse evidenciar a aplicação dessas atribuições no cotidiano do Or.E. Optou-se pelo relato de um incidente crítico que marcou a prática dos participantes e a partir do relato o orientador deveria identificar quais atribuições havia realizado. A partir desse momento, o objetivo da pesquisa começava a ficar evidente, pois muitos participantes não sabiam definir quais atribuições exerceram naquele incidente e principalmente não conheciam a existência do decreto. Dessa forma, foi necessária a apresentação das atribuições para que os

orientadores educacionais identificassem as atribuições realizadas. Esse estágio foi extremamente relevante para o resultado da pesquisa, pois a partir do mesmo se evidenciou a falta de conhecimento sobre as atribuições que o orientador deve realizar nas escolas.

Processo é o 3º estágio apresentado por Provus. Ele dá suporte à investigação da relação entre processo e produto; ou seja, como se realiza a prática do orientador educacional em seu cotidiano, tornando possível identificar quais as atribuições realizadas, com o objetivo de tornar evidentes os resultados das ações realizadas (produtos provisórios). Após o levantamento da realidade vivenciada pelos orientadores educacionais e seus respectivos resultados, buscou-se aplicar o conceito do 4º estágio de Provus, ou seja, produto. Este estágio se evidencia na comparação do grau do produto final em relação ao modelo padrão. Esta relação constitui o objetivo deste trabalho no que se refere à comparação da realidade de atuação do orientador educacional com o modelo padrão prescrito no decreto nº 72.846/73. Finalmente, o 5º estágio do modelo de Provus, custo, consiste, neste estudo, nas recomendações propostas no final do trabalho, oriundas das lições nele aprendidas.

5.2 Análise dos incidentes críticos

No estudo e análise dos dados evidenciou-se que um incidente crítico relatado pelos orientadores associava-se a mais de duas atribuições descritas no parecer. Essa constatação confirma a necessidade de o orientador estar atento às particularidades de cada atendimento em função de realizar de forma coerente as atribuições que lhes são dadas. Outro ponto importante observado nos incidentes críticos foi o fato de o orientador educacional não realizar ações para as quais não foi capacitado, tendo o bom senso de encaminhar a outros profissionais os casos que necessitassem de acompanhamento individualizado. É peculiar ressaltar que o orientador educacional deve ter a consciência de trabalhar em equipe, ouvindo, dialogando e trocando informações com os especialistas tendo como foco o pleno desenvolvimento do aluno.

Ainda no que se refere à análise dos dados coletados, observou-se a necessidade de quantificar os dados obtidos, diferenciando-os em positivos e negativos. Essa quantificação é explicitada na tabela 1, inserida a seguir. A tabela requer explicitação a

fim de que os dados fiquem inteligíveis. Como se pode ver, agruparam-se os incidentes críticos nas duas categorias de atribuições da Orientação Educacional, ou seja, funções coordenativa e participativa. A coluna seguinte explicita cada uma das 18 atribuições. A seguir, os incidentes críticos são grupados por categoria de escola, ou seja, pública e particular. Computou-se em cada categoria de escola a diferença entre o número de incidentes críticos positivos e negativos. Dessa forma, quando os positivos superam os negativos o resultado é precedido pelo sinal +; contrariamente, se os incidentes negativos excedem os positivos, a diferença é precedida pelo sinal -. Quando a diferença resulta nula, esse dado é representado pelo algarismo zero. Ilustrando com um exemplo da tabela.

Atribuição Escolas Incidente

positivo Incidente Negativo Resultado Escola

Pública +5 -4 +1

Participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos;

Escola

Particular +6 -6 0

Função Atribuição Diferença escola pública Diferença escola particular Planejar e coordenar a implantação e

funcionamento do Serviço de Orientação Educacional,

Ø +2

Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-o ao processo educativo global,

Ø +1

Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando,

+2 Ø

Coordenar o processo de informação educacional e profissional com vista à orientação vocacional,

Ø +2

Sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao conhecimento global do educando

Ø +1

Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial,

Ø Ø

Ministrar disciplinas de Teorias e Práticas da Orientação Educacional, satisfeitas as exigências da legislação específica do ensino.

Ø Ø

Supervisionar estágios na área da Orientação

Educacional Ø Ø

Coordenar o acompanhamento pós-escolar, Ø +1

Coordenativas

Emitir pareceres sobre a matéria concernente

à Orientação Educacional Ø Ø

Participar do processo de identificação das

características básicas da comunidade, +3 +2

Participar no processo de caracterização da clientela escolar,

+3 +2 Participar no processo de elaboração do

currículo pleno da escola

Ø Ø Participar na composição, caracterização e

acompanhamento de turmas e grupos

+1 - 1

Participar do processo de avaliação e recuperação de alunos

+1 Ø Participar do processo de encaminhamento

e acompanhamento dos alunos estagiários

Ø Ø Participar no processo de integração escola-

família-comunidade +2 - 1

Participa

tiva

s

Participar realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional.

Ø Ø Tabela 2: Quantitativo dos incidentes críticos negativos e positivos de escolas públicas e particulares.

Ao se analisar os dados apresentados na tabela 2, pode-se, ainda, resumi-los de outra maneira, resultando a seguinte tabela (Tabela 3):

Total Pública Particular Ø 12 9 +1 2 3 +2 2 4 +3 2 Ø

- 1 Ø 2

Tabela 3 – Resumo quantitativo dos incidentes críticos.

Não ficaram evidentes nesta pesquisa diferenças entre o trabalho realizado pelos orientadores de escolas públicas e particulares, no que se refere à execução das atribuições do orientador; entretanto, a relevância adquiridas pelas atribuições na prática do orientador ajustam-se à particularidade de cada realidade. Os orientadores de escolas públicas realizam mais as atribuições participativas, integrando- se à equipe diretiva na identificação das características básicas da comunidade, na caracterização da clientela escolar, na composição e acompanhamento de turmas e grupos e no processo de integração escola-família-comunidade. Por outro lado, os orientadores das escolas particulares identificaram em seus relatos as atribuições coordenativas mais dominantemente. Entre as atribuições relatadas constam: planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional, coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-o ao processo educativo global, coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando, coordenar o processo de informação educacional e profissional com vistas à orientação vocacional, sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao conhecimento global do educando, sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial.

Apesar de ser uma atribuição participativa, o acompanhamento do processo de avaliação e recuperação dos alunos é a atribuição mais evidenciada nos incidentes críticos de teor negativo ou positivo. As orientadoras enfatizaram a importância de o

orientador acompanhar o aproveitamento escolar dos educandos, utilizando para isso estratégias preventivas e terapêuticas, tais como: trabalhar hábitos de estudos, organização da agenda e trabalhos em grupos, acompanhamento sistemático das avaliações, testes, trabalhos, tarefas de casa, entre outros. Essas intervenções devem ser realizadas de forma sistemática e planejadas a fim de diminuir qualquer problema no final do ano. Outro fator relevante na execução dessa atribuição é a devolutiva dada à família, com o objetivo de informar aos responsáveis todas e qualquer dificuldade apresentada pelo aluno.

Ao se analisarem os dados, percebe-se que a atribuição que foi mais relacionada aos incidentes críticos com teor negativo foi a que se refere à integração da família- escola. Em alguns momentos das falas das participantes, fica clara a necessidade que sentem em relação à participação da família no processo educacional do aluno. Sentimentos de frustração e euforia caminham juntos no que se refere ao trabalho do orientador educacional com o mais importante agente educativo: a família. Muitas são as dificuldades encontradas pelas orientadoras para a efetivação desse trabalho: ausência dos pais na escola, falta de recursos para os mesmos se dirigirem até a escola, orgulho em não aceitar ajuda, prepotência em acreditar que o filho está sempre certo, entre outras. Apesar de todos os obstáculos, os orientadores educacionais acreditam que devem insistir e criar estratégias para envolver a família no processo educacional.

Sobre o conhecimento das atribuições, a grande maioria ressaltou que só tinha conhecimento de suas atribuições por meio do Regimento Interno da escola, o qual define suas atribuições de acordo com a particularidade de cada realidade. O que elas não sabiam é que todos os documentos internos devem ter como base - no que se refere à definição das atribuições – o decreto nº 72. 846/73. Após os depoimentos, muitas orientadoras solicitaram a cópia do decreto na tentativa de praticá-lo. Evidenciaram, também, a necessidade de se criar uma entidade ou associação de orientadores educacionais com o objetivo de trocar experiências e unificar a classe.

Assim, percebe-se que o orientador educacional é agente imprescindível no ambiente escolar, pois o mesmo é capacitado a trabalhar os mais diversos problemas existentes no contexto escolar. Vale ressaltar que, apesar de não ser conhecido, o decreto nº 72.846/73 é o eixo norteador do trabalho do orientador. É necessário,

portanto, o conhecimento do mesmo com vistas ao desenvolvimento de um trabalho preventivo não só pelo Or.E., mas por todos: comunidade, pais, alunos, professores, funcionários a fim de evitar o esgotamento deste profissional em funções que não lhe dizem respeito.

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Apêndice A - Incidentes Críticos Relacionados à Realização das Atribuições do Orientador Educacional em Escolas Públicas e Particulares.

I. Caracterização

1. Sexo: ( ) masculino ( ) feminino 2. Idade: ______________

3. Escola: ( )Pública ( ) Particular

4. Tempo de profissão: ________________

II. Percepções do Orientador Educacional em relação a realização de suas