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2 A APOSENTADORIA POR IDADE URBANA A LUZ DA LEI 8.213/91

2.1 A APOSENTADORIA POR IDADE RURAL APÓS A LEI 9876/99

A aposentadoria por idade rural se difere da aposentadoria por idade urbana na faixa etária para a concessão do benefício. Através da lei 9876/99, que deu origem a redação do §1º do art. 48 da lei 8213/91, a qual versa sobre a aposentadoria por idade rural, foram estabelecidos os requisitos para a concessão deste benefício previdenciário para os trabalhadores rurais. (BRASIL, 1999).

Os trabalhadores rurais enquadrados nesta categoria devem preencher os requisitos etários de 60 (sessenta) anos se homem e 55 (cinquenta e cinco) anos se mulher, a carência previdenciária permaneceu a mesma da aposentadoria urbana que, atualmente, é de 180 (cento e oitenta) meses contributivos, tudo conforme art. 48 §1º da lei 8213/91:

§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados neste artigo e seus parágrafos.

14 Lei 10.666 de 8 de maio de 2003:

Art. 3o A perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão das aposentadorias por tempo de contribuição e especial.

§ 1o Na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão desse benefício, desde que o segurado conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do requerimento do benefício.

Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher.

(...)

§ 1o Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cinco anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11. (BRASIL, 1991).

A lei 8213/91 apresenta quatro categorias diferentes de trabalhadores rurais: os empregados rurais, o trabalhador avulso, o contribuinte individual e o segurado especial. (BRASIL, 1991).

O empregado rural é todo aquele que presta serviço de natureza rural à empresa, em caráter não eventual, sob subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado. (BRASIL, 1991).

O trabalhador avulso é quem presta, em diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviços de natureza rural. É necessária a intermediação obrigatória do órgão de mão-de-obra ou do sindicato da categoria. (BRASIL,1991).

O contribuinte individual rural poderá ser aquele que presta serviço rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego. (BRASIL, 1991).

Já o segurado especial é a pessoa física residente do imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros nas condições legais

estabelecidas15. (BRASIL, 2008).

O segurado especial poderá trabalhar no meio rural individualmente ou em regime de economia familiar. O trabalho em regime de economia familiar é aquele exercido pelo produtor, pelo parceiro, pelo meeiro e pelo arrendatário rural e o

15 Art. 11 da lei 8.213/91: (...)

a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:

1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) 2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida;) b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida; e

c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.

pescador artesanal, bem como os cônjuges, sem empregados permanentes (BRASIL, 1988).

Contudo, se houver algum membro do grupo familiar do segurado que exerce atividade urbana, não haverá descaracterização da qualidade de segurado especial, conforme súmula nº 41 da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais:

A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto. (BRASIL, 2010).

O segurado poderá ser enquadrado assim no regime individual, sendo este caracterizado por aqueles que exercem atividades individuais como produtor usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rural (BRASIL, 1991).

A dimensão do imóvel na qual o segurado especial exerce a atividade rural poderá ser maior àquela legalmente trazida pela lei 11.718/2008, isto é, quatro módulos fiscais, conforme Súmula número 30 (trinta) da TNU:

Tratando-se de demanda previdenciária, o fato do imóvel ser superior ao módulo fiscal não afasta, por si só, a qualificação de seu proprietário como segurado especial, desde que comprovada nos autos a exploração em regime de economia familiar. (BRASIL, 2002).

Para comprovar o efetivo exercício da atividade rural para a concessão do benefício, o trabalhador rural deverá apresentar inícios de prova material, não sendo aceita prova exclusivamente testemunhal. Sobre este tema, conforme súmula 149 do STJ “A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário”. (BRASIL, 1995).

A respeito do início de prova material para comprovação do período de carência, a TNU editou a seguinte súmula número 14 (quatorze): “Para concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de prova material corresponda a todo período equivalente à carência do benefício” (BRASIL, 2004).

O início de prova material não precisa abranger todo o período cujo reconhecimento é postulado. Em decisão proferida no Recurso Especial

1.348.633/SP16 que seguiu o rito dos recursos repetitivos, o STJ firmou entendimento de que as provas testemunhais, tanto do período anterior ao mais antigo documento quanto do posterior ao mais recente, são válidas para complementar o início de prova material do tempo de serviço rural. (BRASIL, 2014).

Cumpre ressaltar também o entendimento sumulado firmado pelo STJ na súmula nº 577 a respeito da extensão da validade do início de prova material:

“Possível reconhecer o tempo de serviço rural anterior ao documento mais antigo apresentado, desde que amparado em convincente prova testemunhal colhida sob o contraditório”. (BRASIL, 2016).

Logo, a lei 8.213/91 trouxe à tona um rol de documentos que servem como início de prova material, conforme artigo 106:

Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será feita, alternativamente, por meio de:

I – contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social;

16 PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.

APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. ART. 55, § 3º, DA LEI 8.213/91. TEMPO DE SERVIÇO RURAL. RECONHECIMENTO A PARTIR DO DOCUMENTO MAIS ANTIGO. DESNECESSIDADE. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CONJUGADO COM PROVA TESTEMUNHAL. PERÍODO DE ATIVIDADE RURAL COINCIDENTE COM INÍCIO DE ATIVIDADE URBANA REGISTRADA EM CTPS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A controvérsia cinge-se em saber sobre a possibilidade, ou não, de reconhecimento do período de trabalho rural anterior ao documento mais antigo juntado como início de prova material. 2. De acordo com o art. 400 do Código de Processo Civil "a prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso". Por sua vez, a Lei de Benefícios, ao disciplinar a aposentadoria por tempo de serviço, expressamente estabelece no § 3º do art. 55 que a comprovação do tempo de serviço só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, "não sendo admitida prova exclusiva mente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento" (Súmula 149/STJ). 3. No âmbito desta Corte, é pacífico o entendimento de ser possível o reconhecimento do tempo de serviço mediante apresentação de um início de prova material, desde que corroborado por testemunhos idôneos. Precedentes. 4. A Lei de Benefícios, ao exigir um "início de prova material", teve por pressuposto assegurar o direito à contagem do tempo de atividade exercida por trabalh ador rural em período anterior ao advento da Lei 8.213/91 levando em conta as dificuldades deste, notadamente hipossuficiente. 5. Ainda que inexista prova documental do período antecedente ao casamento do segurado, ocorrido em 1974, os testemunhos colhidos em juízo, conforme reconhecido pelas instâncias ordinárias, corroboraram a alegação da inicial e confirmaram o trabalho do autor desde 1967. 6. No caso concreto, mostra-se necessário decotar, dos períodos reconhecidos na sentença, alguns poucos meses em função de os autos evidenciarem os registros de contratos de trabalho urbano em datas que coincidem com o termo final dos interregnos de labor como rurícola, não impedindo, contudo, o reconhecimento do direito à aposentadoria por tempo de serviço, mormente por estar incontroversa a circunstância de que o autor cumpriu a carência devida no exercício de atividade urbana, conforme exige o inc. II do art. 25 da Lei 8.213/91. 7. Os juros de mora devem incidir em 1% ao mês, a partir da citação válida, nos termos d a Súmula n. 204/STJ, por se tratar de matéria previdenciária. E, a partir do advento da Lei 11.960/09, no percentual estabelecido para caderneta de poupança. Acórdão sujeito ao regime do art. 543 -C do Código de Processo Civil. (BRASIL, 2014).

II – contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural;

III – declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS;

IV – comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar;

V – bloco de notas do produtor rural;

VI – notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7o do art. 30 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do nome do segurado como vendedor;

VII – documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à cooperativa agrícola, entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante;

VIII – comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção;

IX – cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural; ou

X – licença de ocupação ou permissão outorgada pelo Incra. (BRASIL, 1991). Ainda que existam documentos que não estejam elencados no art. 106 da lei 8.213/91, estes poderão servir de início de prova material para o segurado comprar o exercício da atividade rural, já que o rol do dispositivo legal é meramente exemplificativo. Assim, pode-se admitir outros documentos que estejam no nome do grupo familiar ou ex patrão. (LA BRADBURY, 2020).

A contribuição previdenciária mensal dos trabalhadores rurais que se enquadram na categoria de segurado especial é calculada sobre a receita bruta proveniente da comercialização de sua produção. Desta forma, o segurado especial, através desta contribuição possuía direito apenas a aposentadoria por idade, conforme súmula número 272 do STJ: “O trabalhador rural, na condição de segurado especial, sujeito à contribuição obrigatória sobre a produção rural comercializada somente faz jus à aposentadoria por tempo de serviço, se recolher contribuições facultativas”. (BRASIL, 2002).

O salário mensal de aposentadoria por idade rural paga pelo INSS ao segurado

especial será de um salário mínimo nacional, ressalvado o caso em que o segurado especial contribuir cumulativamente como facultativo. (BRASIL, 1991).

2.2 AS MUDANÇAS APÓS A REFORMA DE PREVIDÊNCIA – A NOVA

APOSENTADORIA PROGRAMADA

No mês de novembro do ano de 2019, foram aprovadas novas regras para a concessão de benefícios previdenciários no Brasil através da EC nº 103 (Reforma da

Previdência). Logo, a aposentadoria por idade passou a ser chamada de aposentadoria programada conforme art. 2º da portaria nº 450/2020 do INSS:

Art. 2º Com a vigência da EC nº 103, de 2019, as aposentadorias por idade e por tempo de contribuição foram substituídas por uma única espécie, a aposentadoria programada, da qual derivam a aposentadoria especial e a aposentadoria programada do professor. (BRASIL, 2020).

Com isso, a aposentadoria programada após a EC nº 103/19 passou a ser devida aqueles segurados que, em momento posterior a entrada em vigor da Emenda Constitucional (13/11/2019), preencherem os requisitos etários de 65 (sessenta e cinco anos) se homem e 62 (sessenta e dois anos) se mulher, ressalvadas as hipóteses de regras de transição. (BRASIL, 2019).

O tempo de contribuição previdenciária para o segurado homem, isto é, a carência, passou a ser de 20 (vinte) anos para a concessão do benefício previdenciário da aposentadoria programada, já para a mulher permaneceu a mesma necessária anteriormente, isto é, 15 (quinze) anos de contribuição.

Art. 7º São requisitos para concessão da aposentadoria programada, cumulativamente:

I - 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos, se homem;

II - 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20 (vinte) anos, se homem; e

III - 180 (cento e oitenta) meses de carência. (BRASIL, 2020).

Já a aposentadoria por idade rural não sofreu alterações com a EC nº 103/19, conforme regulamentou a portaria nº 450/2020 do INSS, mantendo-se assim os requisitos etários de 60 (sessenta anos) se homem e 55 (cinquenta e cinco) anos se mulher, e 15 (quinze) anos de contribuição para ter direito ao benefício. (BRASIL, 2019).

Art. 4º Ficam mantidas as concessões da aposentadoria por idade rural, agora denominada de aposentadoria do trabalhador rural e do garimpeiro, e as aposentadorias da pessoa com deficiência da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013, nas mesmas condições anteriormente previstas, inclusive quanto ao seu valor, observadas, no entanto, com novas regras quanto à formação do Período Básico de Cálculo - PBC. (BRASIL, 2020).

Contudo, conforme portaria nº 450/2020, a nova aposentadoria programada possui uma nova formula de cálculo do valor de benefício. Passou-se assim a integrar

a base de cálculo do valor do benefício 100% (cem por cento) dos salários de contribuição a partir de julho de 1994 ou desde o início das contribuições se posterior a esta competência. (BRASIL, 2020).

Já a renda mensal inicial da aposentadoria programada passou a ser de 60% (sessenta por cento) do salário de benefício acrescido de 2% (dois por cento) para cada ano que exceder 15 (quinze) anos se mulher e 20 (vinte) anos se homem. (BRASIL, 2020).

Portanto, através das leis 8.213/91 e 9879/99 o legislador unificou a proteção social no Brasil e trouxe, de forma igualitária para o seio da proteção previdenciária os segurados urbanos e rurais, garantindo para cada um pleno desenvolvimento social em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.

No entanto, ainda se restaram excluídos aqueles segurados que, ao longo de sua vida laboraram parte do período no meio rural e, em virtude do êxodo rural, tiveram que migrar para o meio urbano em busca de oportunidades de trabalho, não tendo assim alcançado nenhum dos requisitos legais exigidos para a concessão tanto de aposentadoria urbana como aposentadoria rural tema este que será abordado no capítulo a seguir.

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