• Nenhum resultado encontrado

A aprendizagem colaborativa e cooperativa no Currículo Nacional do Ensino

Parte II Trabalho de Investigação

1.3. A aprendizagem colaborativa e cooperativa no Currículo Nacional do Ensino

O currículo engloba todos os conceitos de práticas de ensino, cujas definições se centram na linha de pensamento de Machado, Gonçalves, Formosinho, (1991) “à roda do processo de ensino e das atividades educativas expressamente planeadas para transmitir conhecimentos, valores ou atitudes” (p. 43). O Currículo é um elemento da dimensão docente e na esteira de Roldão (2000) é uma área de ação do próprio professor, a quem se dá o título de especialista do currículo. É importante que um professor segundo a mesma autora, consiga “(…) assumir conscientemente uma postura reflexiva e analítica face ao que constitui a sua prática quotidiana, concebendo- a como campo de saber próprio a desenvolver e aprofundar e não como normativo que apenas se executa sem agir sobre ele” (Roldão, 2000, p. 17).

Assim sendo, o currículo é visto como um elemento multidisciplinar que inclui os conhecimentos assimilados nas aulas e os conhecimentos assimilados fora delas. Numa visão construtivista, Alonso (2005) define o currículo como um contexto assente nas competências essenciais que facilitam a capacidade de “aprender a aprender”, dotando os alunos de mais autonomia, no acesso ao conhecimento e na participação na vida em sociedade. Roldão (1999), considera que é necessário preparar os alunos para uma emancipação futura, dotá-los das competências para aprender, que são necessárias nas sociedades atuais. O sentido é introduzir inovação na organização e no desenvolvimento curricular, no propósito de focar na atenção do aluno e nas aprendizagens essenciais (Despacho n.º 5908/2017) do Diário da República.

Durante a leitura e análise do documento “Currículo Nacional do Ensino Básico – competências essenciais” (2001) verificámos que logo no capítulo das “Competências Gerais” é mencionado que o aluno deverá adquirir dez dessas mesmas competências, mencionadas pelo Ministério da Educação, na reta final da educação básica. Neste sentido, e porque consideramos que o trabalho cooperativo e colaborativo deve ser fomentado, em sala de aula, procuramos evidenciar se o mesmo é visível ou não no currículo.

A cada uma das competências do documento estão intrínsecos princípios que nos remetem para a importância do trabalho colaborativo e cooperativo como metodologia de ensino. No entanto, é de salientar que nessas mesmas competências, a aprendizagem que é mais visível é a cooperativa, uma vez que esta metodologia é centrada na prática do professor, ou seja, o mesmo é que “controla” as ações do aluno, daí ouvirmos a celebre frase: “o currículo está centrado no professor, não no aluno”. Já

a aprendizagem colaborativa, não está tão visível no currículo, sendo esta uma metodologia mais centrada no aluno, na qual o professor apenas se limitam a orientar as aprendizagens dos mesmos. Como podemos verificar, a nona competência evidencia logo, a aprendizagem cooperativa, “Cooperar com os outros em tarefas e projetos comuns” (Ministério da Educação, 2001, p. 15).

No geral, todas estas competências visam que o aluno se desenvolva, quer a nível intelectual, como pessoal. É importante que o mesmo se torne um indivíduo consciente, que seja livre, responsável e crítico. Que este respeite o outro, que cumpra com os seus deveres, que coopere e que se relacione com o mundo e com os outros, mas para isso é importante que o mesmo no fim do ensino básico tenha vivenciado as duas metodologias de trabalho (colaborativo e cooperativo).

Neste mesmo documento é feita uma alusão, muitas das vezes, mais percetível do que outras, face à utilização da aprendizagem colaborativa e cooperativa, evidenciada numa tabela, com vários pontos, denominada por “ações a desenvolver por cada professor” face a cada uma das competências gerais. No que diz respeito à competência geral, de acordo com o Ministério da Educação (2001, p. 1), é necessário mobilizar saberes culturais, científicos e tecnológicos para compreender a realidade e abordar situações e problemas do quotidiano” (p. 17), sendo evidenciada a aprendizagem cooperativa através da ação a desenvolver por cada professor, na qual o mesmo deve, “organizar atividades cooperativas de aprendizagem, orientadas para a integração e troca de saberes”. Na quarta competência geral “usar línguas estrangeiras para comunicar adequadamente em situações do quotidiano e para apropriação de informação” (p. 19) é evidenciada a aprendizagem cooperativa através da ação a desenvolver por cada professor, na qual o mesmo deve: “organizar atividades cooperativas de aprendizagem em situações de interação entre diversas línguas e culturas” (p. 20). Na quinta competência geral, “adotar metodologias personalizadas de trabalho e de aprendizagem adequadas a objetivos visados” (p. 20) é evidenciada a aprendizagem cooperativa através da ação a desenvolver por cada professor, “organizar atividades cooperativas de aprendizagem” (p. 21). Na oitava competência geral “realizar atividades de forma autónoma, responsável e criativa” (p. 21) é evidenciada a aprendizagem colaborativa e cooperativa através da ação a desenvolver por cada professor, “organizar o ensino prevendo e orientando a execução de atividades individuais, a pares, em grupos e coletivas”; “promover intencionalmente (…) atividades dirigidas para o trabalho cooperativo, desde a sua conceção à sua avaliação e comunicação aos outros”; “fomentar atividades cooperativas de aprendizagem com

explicitação de papéis e responsabilidades”; “organizar o ensino com base em materiais e recursos diversificados adequados a formas de trabalho cooperativo” e; “desenvolver a realização cooperativa em projetos” (p. 25). Na décima competência geral “relacionar harmoniosamente o corpo com o espaço, numa perspetiva pessoal e interpessoal promotora da saúde e da qualidade de vida” é mencionada a aprendizagem cooperativa através da ação a desenvolver por cada professor que mais se destaca é, “organizar atividades cooperativas de aprendizagem e projetos conducentes à tomada de consciência de si, dos outros e do meio” (p. 26).

Podemos concluir que a cooperação aparece várias vezes ao longo do documento orientador do currículo do Ensino Básico, como uma competência transversal fulcral. Sendo estes documentos orientadores, no nosso entendimento, seria uma grande mudança começar a utilizar também a competência colaborar neste e noutros documentos, sendo esta o progresso face à outra competência. Gemignani (2012) considera que as complexidades dos problemas atuais da sociedade exigem a alteração do currículo para que os alunos possam adquirir “novas competências além do conhecimento específico, tais como: colaboração, conhecimento interdisciplinar, habilidade para a inovação, trabalho em grupo, educação para o desenvolvimento sustentável, regional e globalizado” (p. 3).

Assim sendo e aproveitando o facto deste documento também mencionar que os professores devem adotar uma postura e uma mentalidade aberta face à inovação e à mudança, porque não promover entre os alunos atividades de partilha de informação ao mesmo tempo que desenvolvem laços e valores entre os mesmos. Nos dias de hoje, é fulcral que os docentes percebam o quão, num mundo globalizante, é importante a mudança e a atualização, face a oportunidade de melhoria. Os docentes têm que perceber que a inovação não nos trás obstáculos como muitos pensam. A mudança visa uma melhor aprendizagem. Em suma, Fullan (citado por Oliveira & Courela, 2013) reflete que a inovação, “centra-se nas escolas, nas salas de aula e nas práticas dos professores e agrega três componentes: a utilização de novos materiais ou tecnologias, o uso de novas estratégias ou atividades e a alteração de crenças por parte dos intervenientes” (p. 97). Morais (2014) define a inovação em Educação, (…) como o processo de criar ou aperfeiçoar uma prática pedagógica que tenha alguma característica diferenciada das práticas pedagógicas tradicionais e que reflita numa mudança de paradigmas em relação ao papel do professor como transmissor de conhecimentos e do aluno como mero recetor do conhecimento (p. 48). Neste sentido a inovação é vista como um

reflexão da ação do docente sobre o que o mesmo se propõe a mudar, de forma intencional, sendo este um processo gradual num determinado contexto, a sala de aula. Dado o enquadramento legal a aprendizagem cooperativa e colaborativa, exploramos a seguir as mesmas, no processo de ensino-aprendizagem das Ciências.

1.4. Papel da aprendizagem cooperativa e colaborativa no processo de