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1.3 O Processo de Comunicação na Aprendizagem

1.3.1 A aprendizagem formal presencial

O adjetivo presencial acrescido à educação formal torna-se - na atualidade - necessário em virtude da existência de processos formais de educação desenvolvidos a distância a partir do desenvolvimento técnico. Desta última modalidade trataremos posteriormente, quando enfocarmos especificamente a Educação a Distância.

Entende-se por educação formal aquela que é efetivada nas instituições escolares com objetivos e grades curriculares específicas, sob a supervisão do Ministério da Educação e com estrutura burocrática estabelecida, em nosso país, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

A educação formal, tanto quanto a informal, visa a socialização do indivíduo. A diferença entre elas reside no fato de que esta última é processada incidentalmente, enquanto que a primeira possui estrutura planejada. Em ambas, a comunicação desempenha papel privilegiado,

porque não há possibilidade de socialização sem interação, e esta é feita mediante os processos de comunicação.

Embora a escola e a família representem, respectivamente, o “loco” onde são efetivadas a aprendizagem formal e a informal, seria um equívoco atribuir tais aquisições apenas às mencionadas instituições. Diríamos que família e escola instrumentalizam o indivíduo para que o aprendizado se efetue em diferentes situações, pois “um conhecimento não se constrói a

partir do nada, esta construção supõe um conhecimento existente”.

(FIALHO, 1998).

O mesmo autor diz:

“a aquisição de conhecimento resulta de se colocar em prática as diversas atividades cognitivas das quais, somente algumas são mentais”. “A aquisição de conhecimentos é o subproduto das atividades de compreensão, dos processos de memorização seletiva concernentes aos resultados da ação, das inferências feitas a partir dos elementos memorizados para formar e verificar hipóteses, generalizar resultados, ou reconhecer, após ter resolvido um problema que este faz parte de uma classe de problema para os quais já existe um procedimento” (Notas de aula sobre Aquisição do conhecimento, 1999)

Entre os requisitos necessários à aquisição de conhecimento destacamos a importância dos processos afetivos que atuam sobre a memória, tornando-a seletiva, e sobre o aprendizado como um todo. A ansiedade gerada pelo fato de querer acertar, por exemplo, pode produzir maior distância entre a lógica de utilização e a lógica de funcionamento.8 A angústia decorrente do fato de desejarmos respostas rápidas pode determinar o fechamento para a convivência com hipóteses diferentes e, por vezes, contrastantes entre si. A característica de dor psicológica, que

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Lógica de funcionamento é aquela que estabelece a finalidade para qual determinado artefato ou conceito foram criados. Lógica de utilização é o uso diferente, de um artefato ou conceito, daquele para o qual foi concebido. Quando a lógica de utilização não corresponde à lógica de funcionamento, o resultado é entendido como erro.

acompanha os eventos traumáticos, podem, segundo Freud, atuar sobre a memória eliminando e falsificando dados.9

A educação formal presencial pertence à classe de interações face a face descritas por Thompson (1998), como já vimos, como capazes de possibilitar acesso a extensas deixas simbólicas pelo fato não apenas de se constituírem como comunicação dialógica – algumas formas de educação a distância que empregam técnicas possibilitadoras do diálogo também o são - , mas também pelo fato de haver a presença, no mesmo espaço e tempo de professor e aluno, com possibilidades mais estendidas de percepção, já que o confronto abrange todos os sentidos de forma direta, sem intermediação de aparatos tecnológicos.

Esta possibilidade de apreensão sensorial ainda é ampliada pelo fato do professor poder movimentar-se dentro da sala e estabelecer contatos informais com os alunos nos pátios, corredores ou fora da instituição escolar. Isso lhes permite interações mais completas, pois, ao lado da informação, há a relação face a face a presidir as trocas daquele gênero. Referindo-se ao estudo de caso dos quatro primeiros módulos do Mestrado em Engenharia de Produção fornecido pelo LED/UFSC para a Equitel (1996/1997), CRUZ e BARCIA (1999) relatam:

“outro aspecto importante levantado pelos professores foi o da mudança na forma de contato, já que os alunos estão do outro lado da tela da televisão. Um dos professores, acostumado a andar pela sala, disse que se sentia frustrado inclusive por não ver nitidamente as expressões faciais dos alunos. (...) Todos concordaram que a interação com o aluno diminui bastante”.

Sobre este último aspecto - a interação - desejamos ressaltar que tal fato não depende apenas da situação presencial, mas de características

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A eliminação de dados da consciência é explicada na teoria freudiana pela repressão de conteúdos periféricos em que gravitam em torno do trauma. Na falsificação de dados o mecanismo é aquele ao qual Freud se refere em Lembranças Encobridoras (Psicopatologia da Vida Cotidiana (1900/1901).

de personalidade relacionadas à extroversão e à introversão de ambos interlocutores, isto é, professor e aluno. Se não houver disponibilidade para o estabelecimento de efetiva comunicação de qualquer das partes, a interação permanece verticalizada, privilegiando apenas um dos aspectos do indivíduo: o intelecto. Não se está com isto pretendendo desqualificar a relação de caráter temporário estabelecida com objetivos definidos e nem tão pouco exortar o estabelecimento de relações de amizade entre professores e alunos. Estas, como o amor, são afinidades eletivas e alunos e professores são tão somente pessoas que o acaso reuniu para cumprir um papel complementar e assimétrico. O que pretendemos frisar é o peso da proximidade física como elemento capaz de ampliar as possibilidades de perceber de forma mais próxima à realidade, a capacidade e limites de alunos.

Resumindo, a aprendizagem formal e informal apesar de possuírem como local privilegiado a escola e a família, respectivamente, não se confina àqueles espaços. Entretanto, ao extrapolá-los, os indivíduos podem levar consigo suas características atávicas de angústia perante o desconhecido e a submissão do pensamento a verdades inquestionáveis fundadas, por vezes, mais na fantasia do que no teste da realidade. A aprendizagem formal presencial, como interação face a face, por reproduzir o modelo das relações estabelecidas no início da vida, oferecem - além de maior conforto para o emissor e o receptor – a possibilidade de obtenção de maior número de informações recíprocas, pois permitem o acesso sensorial direto. A presença face a face não implica, porém, na remissão de equívocos no processo de comunicação.

Na educação a distância, em especial de terceira geração, a situação se configura como uma autêntica mudança de paradigma10 perceptual, pois o modelo de relação internalizado no indivíduo compreende objetos percebidos tridimensionalmente pela apreensão sensorial direta.

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“Los paradigmas son marcos de referencia, orientaciones, matrices, estructuras o vias de racionalidade desde los que se mantienen determinados supuestos, valores o creencias y que pueden desembocar en teorias”( ARETIO, 1994)