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Melanie Klein, observando o funcionamento mental dos indivíduos, pode assinalar duas formas de relacionamento entre pessoas, às quais deu o nome de Posição5 Esquizo-Paranóide e Posição Depressiva. Estas duas posições, intercambiáveis entre si, igualmente fornecem material para que possamos compreender os processos de comunicação como decorrente de atividades mentais nas quais se encontram presentes fatores psicológicos determinantes da forma pela qual as mensagens, consumatórias ou instrumentais, possam ser aceitas, ou fecharem-se para a produção de conhecimento.

Para Klein, os conflitos de interesses sempre permeiam o encontro humano e sua administração encontra-se relacionada com o interjogo dinâmico das relações objetais estabelecidas na Posição Esquizóide e Depressiva, segundo a pauta em que se encontra o indivíduo. Klein concebe, no interjogo de ambas, a atuação das forças integradoras (Pulsão de Vida) e desintegradoras (Pulsão de Morte), mobilizadas pela angústia.

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O conceito de posição é dado por SEGAL (1975, p 11): “(...) uma configuração específica de relações de objeto, ansiedades e defesas, que persiste ao longo da vida”. Prossegue dizendo: “A Posição Depressiva nunca supera completamente a Posição Esquizo-Paranóide, (...) de modo que o indivíduo pode estar sempre oscilando entre as duas posições”.

Esta angústia pode estar relacionada com a preservação de si mesmo ou com a preservação do objeto.

Na Posição Esquizo-Paranóide, o objeto é percebido de forma parcial. Ou seja: quando gratifica é bom; quando frustra, é mau. A angústia relaciona-se com a preservação do próprio indivíduo (angústia paranóide6). Isto equivale a dizer que pessoas, conceitos ou teorias somente são percebidos como “bons” quando não contrariam o desejo, quando o satisfazem, quando ratificam determinada postura. O critério de veracidade não é depreendido da verificabilidade de um fenômeno, mas do prazer que ele propicia. Inclusive o prazer resultante da manutenção das próprias concepções. Por isso, trata-se de angústia relativa à preservação do próprio indivíduo, que sente aquilo que o contraria como ameaça a si próprio. Vê-se, nesta posição, a atuação daquilo que Freud denominou de pulsão de morte como o reino do inanimado, onde o que se deseja é o quietismo mental, a ausência de distúrbio provocado pelas diferenças. Frustração, na Posição Esquizo-Paranóide, é igual a retirada do amor ao objeto.

Se entendemos o conhecimento como um objeto ao qual podemos nos dedicar, poderíamos deduzir que na Posição Esquizo-Paranóide ele se torna inviável. De um lado, porque ao se produzir, pode imputar-nos a frustração representada pela incerteza, pela dúvida e mesmo pela constatação de que nossas crenças nem sempre se traduzem na melhor interpretação de um dado fenômeno; por outro lado, se o critério de veracidade é aquele do prazer, nada há a questionar em uma dada teoria: ela se torna, na fantasia, indefensável a qualquer crítica que se possa lhe opor. “Na Posição Esquizo-Paranóide, a frustração e a angústia de um lado e a gratificação e a satisfação de outro instalam um mundo bem definido (bom/mau), um mundo de certezas, onde campeia a onipotência dos pensamentos” (GONDIM, 1992, p 168). Na Posição Esquizo-Paranóide incluem-se as atividades psicóticas de pensamento, nas quais a comunicação se processa no sentido de exercer controle do objeto mediante

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a conversão das diferenças em igualdade, ou no sentido do emprego de termos como ação, que tende à abolição de estímulos.

Embora a frustração seja um sentimento desagradável e, portanto, aparentemente incompatível com o funcionamento mental que estará sempre subordinado ao Princípio do Prazer, na posição depressiva ela pode ser mais tolerada. Isto acontece porque o objeto é percebido com características ao mesmo tempo frustrantes e gratificadoras. Nesta posição, o objeto não é percebido como totalmente mau quando frustra. As diferenças capazes de importar frustração implicam na aceitação delas segundo a capacidade amorosa do sujeito que a experimenta. Isto é o mesmo que afirmar que as coisas não são boas ou más porque gratificam ou frustram, mas que assim podemos experenciá-las, dependendo de nossos próprios limites de aceitação (ou de amor). Esta percepção revela maior contato com a realidade e sua relatividade: bondade ou maldade tornam-se qualidades com as quais nomeamos as experiências que ultrapassaram ou não nossa própria capacidade de tolerância à frustração. Há, pois, discriminação entre realidade interna e externa, ambas limitadoras e possibilitadoras.

Outra característica assinalada por Klein, no tocante à posição depressiva, é a angústia relacionada com a preservação do objeto (angústia depressiva7). A percepção da realidade interna e externa permite a introdução da dúvida, beneficiando o objeto e gerando maior tolerância à frustração imposta por ele, ante ao temor de perdê-lo. Isto ocorre porque, junto à vivência da frustração, os aspectos gratificadores do objeto permanecem ou podem ser retomados em momento posterior à frustração.

“A Posição Depressiva e a instauração do Princípio de Realidade introduzem o reino da possibilidade, da hipótese, da dúvida, da convivência com o conflito entre o ego e a realidade e o ego e seus desejos e ideais”. (GONDIM, 1992, p. 168). Encontra-se, na Posição Depressiva, a possibilidade de adquirir conhecimento e inovar, pois nela se torna possível a convivência mais amigável com as angústias decorrentes das frustrações,

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porque se sabe e se aceita que não há absolutos, que todos somos falíveis e incompletos, que teorias – como as pessoas – nunca se encontram prontas e acabadas, mas enquanto vivas estão abertas a questões e a acréscimos que as reparam. Como diz ELIADE (1999, p. 210): “O homem faz-se a si próprio e não consegue fazer-se completamente senão quando se dessacraliza e dessacraliza o mundo”.

O pensamento científico, na Posição Depressiva, pode instalar-se, porque torna possível a convivência com a dúvida, até que o tempo e a experiência permitam esclarecê-la. Isto representa, em últimos termos, o que Bion denominou de capacidade negativa: adiamento da satisfação e contato com a frustração sem irritação.

A relação entre estímulos chegados ao psiquismo e tempo necessário para que sejam processados encontra-se, pois, relacionada à tolerância à frustração (convivência com dúvidas) e à ‘realização’ (respostas).

Alguns autores têm apontado para as atuais tecnologias de comunicação eletrônica, sobretudo a Internet, como meio no qual há o predomínio da atividade fantástica, o que representaria risco de perda da consciência para o indivíduo.8

Sob essa visão de tecnologia – como um meio propício ao distúrbio de pensamento – chegaremos ao seguinte paradoxo: como conciliar o pensamento científico - fruto da consciência e dos processos secundários, o que exige a diferenciação entre o real e o fantástico, possibilitados pela experiência em intervalo de tempo -, com a EaD que, necessariamente, precisa ser intermediada por meios tecnológicos? A EaD hoje emprega a Internet em diferentes gradações e mesmo exclusivamente. Neste ritmo, o

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BRUNO, (1999, p. 83), diz que “ (...) Quando o mundo pode estar em qualquer lugar e a qualquer hora, na ausência das diferenças espaço-temporais, sobrevêm uma espécie de indiferenciação do próximo e do distante, do real e do irreal, que pode embaralhar as consciências”.

uso das novas tecnologias da comunicação torna-se cada vez mais intenso, consolidando-se como indispensável às interações entre professor/aluno, aluno/aluno e aluno/conteúdo, para a obtenção de informações e conhecimento. Neste sentido, vale colocar a questão: em que medida a vastidão de informações existentes na Internet e a ruptura entre tempo e espaço podem provocar alterações sobre o pensamento? A EaD hoje emprega a Internet em diferentes gradações e mesmo exclusivamente. Nesse ritmo, o uso das novas tecnologias da comunicação torna-se cada vez mais intenso, consolidando-se como indispensável às interações entre professor/aluno, aluno/aluno para a obtenção de conhecimento. Nesse sentido, vale colocar a questão: em que medida a vastidão de informações existentes na Internet e a ruptura entre tempo e espaço podem provocar alterações sobre o pensamento?