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Capítulo II. O TURISMO NO TERRITÓRIO

2.3 A Aptidão do Território para o Turismo

Com o fim da II Guerra Mundial, a reorganização mundial e a Europa em processo de retoma económico, mais concretamente nos anos 50, o turismo entrou numa fase denominada de turismo de massas8 (Costa, 2006; Vera et al., 1997). Resultou neste período o aparecimento de um conjunto de áreas com um maior enfoque no turismo, quer do lado da receção sobretudo no litoral caso do mediterrâneo, como da emissão de turistas nomeadamente a Europa (Vera et al., 1997). Estas áreas para os autores que analisam o turismo, sob o ponto de vista da geografia, assumem diferentes denominações (lugares, regiões, espaços) em função da sua escala (internacional, nacional, regional, local). Contudo o termo mais utilizado, além de “destino turístico” é o de região turística, face aos limites administrativos territoriais e pelo facto da _______________

6 Para Cunha (2006: 306) um cluster é “um grupo de atracções, turísticas, infraestruturas, equipamentos,

serviços e organização concentrados numa área geográfica delimitada.”

7 Redes é considerado uma organização dos agentes económicos e das instituições no sentido de

cooperarem entre si (Barquero, 1999; cit por Vareiro, 2008).

8 Caracteriza-se pelo elevado número de turistas, por uma oferta de serviços indiferenciada, por viagens

informação existente sobre o turismo reportar-se a este nível. Já na abordagem pela economia o mais comum é efetivamente “destino turístico”.

Ainda do lado da análise do turismo pelo enfoque geográfico, existe o entendimento que o turismo não se localiza de forma aleatória no território e apresenta uma concentração espacial, que pode ser de caráter pontual ou por zonas (Vera et al., 1997; Cerro, 1993). Aliás Lopes (1987, cit por Reigado, 2000) refere que nada se localiza por acaso, tudo o que se distribui no espaço é o resultado de decisões planeadas. Por outro lado, no que concerne à análise da organização do espaço, nomeadamente a localização do povoamento e das atividades económicas, verifica-se que esta tem a sua génese na geografia de onde importa destacar a teoria dos lugares centrais: o modelo de Christaller.

Christaller relacionou a procura de um bem com a distância necessária para a sua aquisição, no sentido que quanto maior for o custo com o transporte, menor será a

procura do bem. Cumulativamente, o facto de existir um raio de ação de um bem9 faz

com que os fornecedores se agrupem em lugares centrais de forma a diminuir os custos com a deslocação (Lopes, 1995; Bradford e Kent, 1987). Contudo, de acordo com este autor não se aplica ao turismo a tendência de concentração, uma vez que o turista procura áreas diferentes do seu local habitual de residência, pelo que a tendência será de desenvolver-se fora das áreas centrais e, das áreas de maior densidade populacional, bem como em espaços diferenciados (Jamal e Robinson, 2009; Silva, 2004).

Já Gunn (2002) e Inskeep (1991) referem que nem todos os locais dispõem de condições para se desenvolverem ao nível turístico, pois são as características únicas de um destino que determinam a deslocação do turista (Gunn, 2002). Constata-se assim que, existem lugares cujas características únicas e diferenciadas, tenderão a _______________

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desenvolver-se turisticamente, e conforme decorre do referido no ponto 2.2.1 Destino Turístico e Território Turístico, poderão vir a ser potenciados via decisão administrativa.

No que concerne à teoria de Christaller efetivamente alguns dos “produtos turísticos” de maior amplitude no turismo caso dos resort’s tendem a instalar-se fora das áreas populacionais e desta forma, tendencialmente em solo rural, ou mesmo o caso do turismo de natureza, contudo não explica o crescimento do turismo cultural que se desenrola, efetivamente, nos espaços urbanos (solo urbano), ou seja, em zonas consolidadas. Já Vera et al. (1997) apresentam uma distinção de espaços turísticos, segundo a sua condição geográfica a saber: litoral, rural, natural e urbano, cuja importância varia em função do próprio desenvolvimento turístico.

Desta forma, poderemos concluir em primeira instância que todo o território poderá ser turístico em função da sua condição geográfica e caso seja esse o uso que se pretende potenciar. No que respeita à identificação dessa condição, verifica-se que as primeiras referências bibliográficas relativas à identificação de lugares ou regiões aptas para um potencial desenvolvimento turístico, são da autoria da União Internacional de Organismos Oficiais do Turismo, que identificou um conjunto de fatores relacionados com aspetos físicos do território quer naturais como construídos, como referência na seleção de lugares para fins turísticos. Bem como, do geógrafo D. Pearce, que agrupou esses mesmos fatores em categorias e introduziu a componente do uso e condicionantes territoriais (Cerro, 1993).

Do conjunto de fatores enunciados resulta um consenso que os fatores físicos como o clima, acessibilidades e sobretudo os recursos (naturais e patrimoniais) são determinantes no desenvolvimento turístico do território (Cunha, 2008; Vera et al., 1997; Cerro, 1993, Mill e Morrison, 1992). Efetivamente o desenvolvimento turístico de

uma dada área, encontra-se desde à muito relacionada com a existência de recursos naturais, históricos ou culturais. Mas estes só por si não determinam o caráter turístico, ou que o destino se desenvolva em termos turísticos, para tal é necessário que estes sejam valorizados e a partir deles criados novos fatores de atração (Cunha, 2008; Cerro, 1993).

Ainda de acordo com Vera et al. (1997) são também responsáveis pela localização da atividade turística: a disponibilidade de infraestruturas de suporte (alojamento) e recursos humanos; o capital financeiro que é em grande parte detido por grandes operadores turísticos internacionais; a política monetária e a conjuntura económica; e finalmente, o fator “moda”, que determina em parte o tipo de “produto turístico” e inclusive os períodos de consumo. Cumulativamente, é ainda reconhecida a importância de um conjunto de fatores que extravasam a questão espacial, como seja: os locais que dispõem de recursos mas encontram-se em áreas de instabilidade política e zonas de guerra; e a intervenção institucional relativa à política e à promoção turística (Vera et al., 1997).

Para terminar, verifica-se que conceitos tais como aptidão, potencial e vocação turística são hoje recorrentemente empregues, apesar de ainda não constar da literatura uma identificação clara do seu significado (Almeida, 2006). Veja-se o caso do PROT Algarve que na primeira versão fazia referência a áreas de potencial turístico10e na sua última redação a espaços com vocação turística. Na presente investigação considerou-se que a aptidão encontra-se consubstanciada no facto do local já dispor de características, únicas, diferenciadas e intrínsecas ao turismo, enquanto o potencial ou a vocação, resulta da aptidão existente e das características que se pretende potenciar.

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