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A Arquitectura entre lógicas “estáticas“ e “dinâmicas“3.1

No documento noe garrocho aço pereira dissertacao (páginas 69-73)

A Arquitectura pode ser vista como um meio de síntese entre lógicas estáticas e dinâmicas. O seu imaginário é rico de referências e de história. Esta suporta que, quase sempre que se faz um Edifício novo, este seja inspirado pelas realizações que o precederam. A selecção destas cabe ao arquitecto.

Relativamente ao objecto de estudo desta dissertação, o espaço e a relação com o seu Utilizador, a dado momento, não se considera que seja uma categoria do estudo arquitectural, antes do modernismo. Corroborando essa noção, Solá-Morales diz que:

“A noção de espaço como uma categoria própria da Arquitectura é uma noção moderna” (tradução do autor)94.

O autor refere-nos ainda que esta noção modernista apenas ganha força a partir do momento em que as regras euclidianas de deinição espacial entram em crise. A partir daí o espaço não é mais considerado como uma representação homogénea e estável, como havia sido até então95. Refere ainda que:

“Podemos airmar que a ideia de que a Arquitectura é produção de espaço, de espaços pós euclidianos, no reportório ininito de possibilidades aberto pelas modernas ciências físicas, biológicas e psicológicas, é exacta- mente paralela ao desenvolvimento das investigações a que nos acabámos de referir” (tradução do autor)96.

Esta visão de Solá-Morales dá-nos explicação para a procura de novas formas de espacialidade, baseadas nas descobertas cientíicas. Para que esta procura seja ei- ciente, é necessário que o arquitecto de dote de maneiras de materializar os espaços por ele idealizados. Espaços que têm quatro dimensões. É por isso que Sá refere que:

“A procura de iguras da mediação é, assim, sinónimo da procura de um caminho, de uma orientação que permita estruturar e estabilizar visões do mundo organizadoras da experiência.” (Sá, 2001, p. 124).

94 - No Original: “La noción de espacio como una categoría propia de la arquitectura es una noción moderna.” (Solá-Morales, 1995, p. 111).

95 - Solá-Morales, 1995, p. 111.

96 - No Original: “Podemos airmar que la idea de que la arquitectura es producción de espacio, de espacios poseuclidianos, en el repertorio ininito de posibilidades abierto por las modernas ciencias físicas, biológicas y psicológicas, es exactamente paralela al desarrollo de las investiga- ciones a las que nos acabamos de referir” (Solá-Morales, 1995, p. 112).

Como nos indica o autor, a Arquitectura aparece como um meio capaz de sintetizar uma abordagem a questões de sobrevivência. Também aborda questões que concernem a um relexo do mundo em que se insere. Uma prova disso é a quantidade cada vez maior de especialidades que ocorrem aquando da realização de um projecto. São elas de carácter mais determinantemente técnico ou então de carácter social ou humano. Exem- plo é, entre outras, a componente artística. Neste mundo de relações entra certamente a conjugação dos factores constantes nos pontos anteriores. De um lado, uma abordagem ao espaço feita de forma estruturada permite quantiicar e reproduzir. De outro lado, uma abordagem fenomenológica permite qualiicar e reproduzir também, mas segundo um ponto de vista emocional. Para tal, é importante que a Arquitectura se dote de meios ca- pazes de interpretar as novas tendências sociais e descobertas cientíicas, integrando-as no projecto. Dessa forma, poderá o Arquitecto almejar atingir algo de novo? Poderá isso ser uma Fantasia Essata? Segundo Leonardo da Vinci ela é produto da fenomenologia e da estruturação quantiicada, como exempliica Machado:

“Um objecto fractal corresponde exactamente àquilo que Leonardo da Vinci Designava como fantasia essata, ou seja, algo que é ao mesmo tempo um achado da imaginação e um modelo do conhecimento.”

(Machado, 1993, p. 27). A complexidade que sentimos quando encaramos um fractal é tal, que se torna importante haver um sistema que regre a prática arquitectural. Mesmo que essa regra não seja uma que se depreenda que deva ser seguida. Ao adicionar o factor temporal às dimensões espaciais, o arquitecto cria um conjunto integrado que relecte as várias dimensões em jogo. Cria então uma experiência global, como explica Solá-Morales, in- spirado em Schmarsow:

“Movimento, visão e tacto actuam inseparavelmente produzindo uma experiencia global, sentimental segundo este autor, que signiica tanto como a realidade da obra arquitectónica, por exemplo, é inseparável da percepção humana e seus mecanismos activos perante o mundo” (tradução do autor)97.

Habituámos-nos a ver a Arquitectura como uma forma de arte. As suas realizações não são produto apenas das condições geográicas, técnicas ou materiais em que se inerem. Mais que isso, traduzem a visão do mundo que o arquitecto tem. Esta é resumida através de formas e espaços que tocam, emocionalmente, à percepção humana98. É uma

noção que implica que o espaço não é um dado determinado à partida. Ao invés, este é 97 - No Original: “Movimiento, visión y tacto actúan inseparablemente produciendo una experi- encia global, sentimental según este autor, lo cual signiicatanto como que la realidad de la obra arquitectónica, por ejemplo, es inseparable de la percepción humana y sus mecanismos activos ante al mundo.” (Solá-Morales, 1995, p. 113).

uma consequência da prática arquitectural – ele resulta da criação arquitectónica: “O espaço, as ininitas experiências espácio-temporais que a Arqui- tectura podia criar, eram objecto inal da intervenção artística desta disciplina. Não eram a causa mas a consequência, num universo em que a realidade não só físico-matemática, psicológica e ilosóica constituía um ponto de vista completamente novo para a concepção da realidade” (tradução do autor)99.

Cabe, portanto, à Arquitectura a tarefa de seguir os seus próprios princípios. É uma conjugação consciente de factores. Estes podem ser estruturados permanentemente. Também podem ser dinâmicos e que se vão alterando, acompanhando a pesquisa arqui- tectural e o desenvolvimento humano. Solá-Morales refere que a Arquitectura:

“É um trabalho que não se faz com principios gerais, nem desde o vazio da inovação. Surge, pelo contrário, de terras e céus, de luzes e sombras, de imagens e histórias que existem antes da Arquitectura, que são literalmente ancestrais.” (tradução do autor)100.

É da conjugação deste conhecimento que se vai acumulando que vive a Arqui- tectura. Bebe tanto do seu passado como dos desenvolvimentos contemporâneos. Na sua produção, na obra de Arquitectura, estes factores apresentam-se como uma unidade criativa. Ela sintetiza o imaginário humano e as condicionantes geográicas. Desse modo produzindo, nesta abordagem integrada, a arte da Arquitectura – “a Arquitectura ilumina raízes, traços, invariantes” (tradução do autor)101.

Na realidade o papel da Arquitectura parece ser o de um maestro de uma orques- tra. Os instrumentos que a compõem são a cidade com os seus cruzamentos e luxos energéticos. São o Edifício e o espaço público, são as pessoas. É como se toda a prática arquitectural resultasse num instante polifónico, produto da vida humana102.

99 - No Original: “El espacio, las ininitas experiencias espacio-temporales que la arquitectura podía crear, eran el objeto inal de la intervención artística de esta disciplina. No eran la causa sino la consecuencia, en un universo en el que la relatividad no sólo físico-matemática, sino biológica, psicológica y ilosóica constituían un punto de vista completamente nuevo para la concepción de la realidad.” (Solá-Morales, 1995, p. 111).

100 - No Original: “Es una labor que no se hace con principios generales, ni desde el vacio de la innovación. Surge, por el contrario, de tierras y cielos, de luces y sombras, de imágenes e histo- rias que existen antes de la arquitectura, que son literalmente ancestrales.” (Solá-Morales, 1995, p. 115).

101 - No Original: “la arquitectura ilumina raíces, trazas, invariantes.” (Solá-Morales, 1995, p. 117).

“Não é um solo, a idelidade a umas imagens, a força da topograia ou a memória arqueológica. É antes uma fundação conjuntural, um ritmo do tempo e no tempo, capaz de ixar um ponto de intensidade própria no caos universal da nossa civilização metropolitana” (tradução do autor)103.

103 - No Original: “No es un suelo, la idelidad a unas imágenes, la fuerza de la topografía o de la memoria arqueológica. Es más bien una fundación coyuntural, un ritual del tiempo y en el tiempo, capaz de ijar un punto de intensidad propia en el caos universal de nuestra civilización metro- politana.” (Solá-Morales, 1995, p. 125).

Da “Máquina“ industrial ao Interface Cibernético

No documento noe garrocho aço pereira dissertacao (páginas 69-73)