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A Arquitetura Escolar no Ginásio de Aplicação

CAPÍTULO 3 – A CULTURA ESCOLAR E O GINÁSIO DE APLICAÇÃO

3.6 A Arquitetura Escolar no Ginásio de Aplicação

O Ginásio de Aplicação funcionou no prédio da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe desde sua fundação, em 1959, até 1968. Era uma construção nova, tendo em vista

que no antigo endereço localizado no Colégio Nossa Senhora de Lourdes não havia mais condições estruturais para a Faculdade manter funcionando seus cursos.

Por isto, o Mons. Luciano Duarte tratou de conseguir os meios para que a Faculdade tivesse seu prédio próprio onde pudesse desenvolver suas atividades. Foi então construído o edifício localizado na Rua Campos. No novo endereço, a Faculdade pode abrir outros turnos para os cursos que disponibilizava para a comunidade e também inaugurar um novo empreendimento que era o Ginásio de Aplicação. Como os cursos da Faculdade só funcionavam no turno da manhã e da noite, ficou o período vespertino disponível para as aulas dos adolescentes ginasianos.

Nesse sentido, e apropriando-nos da noção de arquitetura escolar de Frago e Escolano, entendemos que ela não se constitui em mero espaço físico descolado da realidade social, cuja construção careça de intencionalidade. Ao contrário, a arquitetura escolar é:

Uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um sistema de valores, como os de ordem, disciplina e vigilância, marcos para a aprendizagem sensorial e motora e toda uma semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos, culturais e também ideológicos. (FRAGO; ESCOLANO, 1998, p.26)

Estes valores transmitidos através da arquitetura da escola tornam-se mais evidentes quando analisamos a arquitetura do prédio da Faculdade Católica de Filosofia, mais especificamente do Ginásio de Aplicação. De arquitetura moderna, o prédio apresentava uma faixada contemporânea para a época, contendo salas de aula, laboratórios, biblioteca e auditório (FIGURA 9). Mais do que na sua aparência externa, é nos contornos e espaços internos que vamos observar as particularidades onde o espaço escolar se reveste de sua função cultural.

Figura 9. Faixada do Prédio da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe onde

funcionava o Ginásio de Aplicação

Fonte: Acervo pessoal da professora Rosália Bispo dos Santos.

As salas amplas que abrigavam os alunos eram dispostas de forma a se ter uma visão interna do todo da escola. Cada sala de aula possuía janelas de vidro, de onde era possível observar o que acontecia dentro dela.

A professora Rosália, além da observação com o andamento das aulas no interior das salas, visando evitar conversas e desatenção dos alunos com as explicações dos professores, procurava despertar nos alunos a preocupação com a conservação do prédio. Segundo Bezerra (2008) “Se você jogasse um papel de bala no chão, ela pegava você pela mão e fazia você tirar do chão. Mas [...] era pra não deixar sujo o pátio do colégio dela”.

Uma instituição criada para ser modelo tinha que traduzir esta condição em todos os sentidos, inclusive na higiene com que mantinha seus espaços. Daí toda a preocupação com a conservação da escola e em incutir nos jovens esse sentimento de cuidado com o seu colégio. Estas atitudes definem, em certa medida, o nível de prestígio do estabelecimento de ensino. Segundo Frago e Escolano (1998, p.37), “O prestígio da escola dependerá, pois, de como essa esteja instalada, de seu tamanho, limpeza, orientação”.

O pátio do Ginásio era a área mais aproveitada pelos alunos (FIGURA 10). Segundo a professora Rosália, foi ela e o Mons. Luciano Duarte que plantaram as mudas que

hoje correspondem a árvores frondosas no prédio que atualmente abriga um órgão do Governo do Estado de Sergipe.

Figura 10. Área interna do Ginásio de Aplicação

Fonte: Arquivo de fotografias da Universidade Federal de

Sergipe – Arquivo Central/UFS

Este era um espaço de encontro, de extravasar as energias nos horários de intervalos entre as aulas e onde se fazia o recreio. Segundo Bezerra, era um espaço privilegiado onde os alunos se sentiam à vontade, experimentando um sentimento de liberdade não visto em outras instituições.

De vez em quando, as galinhas fugiam. A gente aqui [...] subia e jogava daqui de cima, né! É! É interessante porque esse pátio já veio depois. Nisso, ele não era tão encimentado, era mais grama mesmo. [...] Isso é grande, é um “L” grande, pelo menos na nossa visão de adolescente [Risos!]. (BEZERRA, 2008)

A referência às galinhas provém da existência de um quarto próximo da quadra de futebol que ficava aos fundos do prédio e onde morava o vigilante que tomava conta da instituição. Então, era dele a criação de galinhas que fugiam e faziam a festa dos meninos no pátio do Ginásio. É importante destacar que estar no Ginásio representava para eles viver em

um mundo novo. Tanto que foi preciso em reunião de pais que a professora Rosália pedisse aos mesmos que não deixassem seus filhos virem tão cedo para o Ginásio, fato também recordado pela professora Carmelita Pinto Fontes:

Os meninos adoravam, isso era muito bom, chegavam cedo, 12h. Aí o colégio funcionava à tarde, a Faculdade era de manhã, aí pronto 12h estavam chegando. A gente ainda não tinha saído do expediente da manhã e eles já estavam chegando. Queriam mesmo o colégio, não queriam sair de lá, era um horror. Teve uma época que a gente teve que burilar isso um pouquinho pra não exagerar, que às vezes aperreava a mãe pra dar o almoço mais cedo. E aí eles foram pegando assim esse amor pelo colégio. (FONTES, 2008) Outro espaço importante que não pode ser desconsiderado neste trabalho é o Auditório da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FIGURA 11). Além da utilização pela própria Faculdade, o Auditório também era usado pelo Ginásio de Aplicação, principalmente para realização dos eventos e festas comemorativas celebradas por alunos e professores da instituição.

Figura 11. Auditório da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe Fonte: Arquivo de fotografias da Universidade Federal de

Erguido na segunda etapa de construção do prédio da Faculdade Católica de Filosofia, o auditório tinha capacidade para abrigar oitenta pessoas e era o espaço por excelência para difusão cultural dentro do ambiente do Ginásio de Aplicação.

Aqui é onde a gente fazia as palestras. Eu trouxe para Aracaju. O primeiro festival de Aracaju foi com o professor Vieira de Moraes. Foi trazido pelo grêmio com o presidente e o Vieira chegando daqui [...] É! Ele falou sobre casais e sexualidade. Aracaju parou para ouvir esse homem. Ele passou quinze dias aqui. (BEZERRA, 2008)

No Auditório da Faculdade de Filosofia era onde se viam as habilidades dos alunos ressaltadas nas produções apresentadas. Dentre as atividades lá desenvolvidas, podemos destacar as aulas de música ministradas pela professora Nair Porto e os ensaios das peças teatrais produzidas pela professora Carmelita Fontes, produções que tinham no Auditório o seu espaço reservado de destaque. Segundo ela, foi organizada uma apresentação geral de diversas atividades, como a apresentação de um filme produzido pelos alunos, o lançamento de um livro, um concerto de violão, tudo realizado no mesmo dia e tendo como palco o Auditório da FAFI:

O pai trouxe a máquina, passou o filme, fazia uma sessão e foi tudo numa noite só. Não fez uma festa, outra festa. A festa do livro, filme, foi tudo assim, agora o filme, tudo na mesma noite. Tinha mesa, mesa dos escritores e ficou linda. O concerto de violão, o concerto de cursos... mas todo mundo aprendeu aquela musiquinha pra tocar, não sei se eram 40 violões, um negócio assim bonito. Agora todo mundo aprendiz, né? E o GA daí pegou fogo, daí pra frente pegou fogo, sabe? (FONTES, 2008)

Outros eventos, como a apresentação de peças teatrais encenadas pelos alunos e também as comemorações do dia das mães e dos pais eram assistidas por pais, alunos e professores no Auditório da Faculdade. Os eventos da Faculdade de Filosofia como seminários e palestras também eram abertos aos ginasianos, que assistiam incentivados pelos professores e onde tinham a oportunidade de elevar o seu nível de conhecimentos. Corroborando com Frago e Escolano (1998, p.77), em seu entendimento sobre a influência educativa do espaço escolar, “a escola é espaço e lugar. Algo físico, material, mas também uma construção cultural que gera fluxos energéticos. [...] o espaço educa”.