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A ASSESSORIA AO PROFESSOR DO BLOCO ALFABETIZADOR

No documento Bloco alfabetizador (páginas 108-113)

4 A ATUAÇÃO DOS GESTORES NO FAZER DO PROFESSOR E NO PROCESSO

4.2 A ASSESSORIA AO PROFESSOR DO BLOCO ALFABETIZADOR

Para os diretores a assessoria ao professor do Bloco Alfabetizador acontece de modo pontual e casual; um trabalho onde o diretor aponta os responsáveis e reconhece como necessidade para o Bloco Alfabetizador, porém carregado de descontinuidade e como uma tarefa que se delega. Conforme as falas abaixo:

Dependendo da necessidade do professor, sabe, assim, orienta, né [sic], eu mesma, assim, às vezes. (Jadna, Escola C)

É [...] Sempre [...] As meninas aqui, as supervisoras, as orientadoras, elas sempre dão o foco maior, tá [sic], porque é onde a gente tem um problema maior, que é de 1º ao 3º ano. (Dora, Escola D)

É, essa assessoria é assim, ó [sic], por nós não termos a [...] o quadro específico de supervisora, mas como o pedagógico, agora, neste momento, tu, que é [sic] administradora sabe que estão direcionando as funções, redirecionando as funções e quem sabe as orientadoras vão pegar parte desse trabalho, né [sic], então assim, ó [sic], a gente contava com o auxílio de uma professora a [...] readaptada, de séries iniciais, que dava essa [...] esse suporte, né [sic], não 100%, porque ela [...] ela [...] também cuidava da biblioteca.

(Mateus, Escola A)

[...] então esse material é todo preparado para ela, pra [sic] ela trabalhar. ‘Hoje preciso trabalhar no auditório, porque eu vou trabalhar com vídeo’, então é tudo preparado pra [sic] ela. Ela só, né [sic], ela só nos [...] nos informa o que que [sic] ela precisa e a gente prepara todo o trabalho para a professora. Se ela precisa, né [sic], em sala de aula, ‘preciso deste material’, então, é a forma que a gente tem de tá [sic] assessorando. (Paula, Escola E)

Na verdade, é a nossa assessora, a Raquel, juntamente com a orientação e supervisão. (Rosa, Escola B)

Essa forma de atuação no assessoramento pedagógico, evidenciada nas falas acima, vai na contramão da perspectiva democrática. Não pode ser classificado como assessoria pedagógica o que os diretores dizem ser realizado na escola. São momentos pontuais, desarticulados e talvez até desconhecidos do diretor.

A diretora da Escola D revela perceber que o Bloco Alfabetizador exige uma atuação mais intensa dos gestores, embora não possa precisar como isto se daria:

E existe, eu não sei assim como queres esta resposta minha, mas existe. A gente tá [sic] assim se dedicando, ajudando, tá [sic] sempre [...] então a participação maior com estes professores. (Dora, Escola D)

E esta atenção diferenciada, segundo a gestora, acontece devido à necessidade sentida pelos professores e pelos próprios gestores:

Que esta diferença está na própria dificuldade do professor tá [sic] enfrentando em sala de aula, dele trabalhar com as crianças. Porque, principalmente na 3ª série, tá [sic], onde a gente tem uma maior dificuldade. É o próprio professor e a gente também sente, tá [sic]. Tem os dois lados. Porque a gente recebe muito pai aqui também, daí tá [sic] vendo que existe a necessidade. (Dora, Escola D)

Os especialistas apresentam formas diferentes de encaminhar sua atuação na escola, indicando duas perspectivas no que diz respeito à assessoria dada ao professor do Bloco Alfabetizador. A primeira perspectiva relaciona-se ao trabalho realizado de forma fragmentada, presente, significativamente, na Escola A, cujo grupo de especialistas é formado por orientadores. Além de não conceberem a assessoria ao professor do Bloco Alfabetizador como uma tarefa sua, ignoram que isso não esteja ocorrendo na escola, assegurando, equivocadamente, que este trabalho tem acontecido sob a responsabilidade de outra gestora que, mais de uma vez durante a entrevista, informou não estar conseguindo desenvolver este trabalho:

Isso aí é com a professora Mere, ela que acompanha, ela que conhece, ela que faz esse trabalho de acompanhamento mesmo. (Magda, Escola A)

A orientadora da Escola B (Rosana), que afirma não atuar na assessoria ao Bloco Alfabetizador, dá informações que são confirmadas pela supervisora, apontando, ao menos, certa comunicação entre estas nesses momentos.

Quem trabalha com o Bloco Alfabetizador e até com as séries, com as séries iniciais de um modo geral, é a supervisão pedagógica. Trabalha mais especificamente com eles. Apesar da gente organizar o pedagógico, organizar esses encontros, mas quem fica mais trilhando o caminho, quem fica mais ali com eles, dando até um apoio, né [sic], um, um, [sic] né [sic], em todas as partes necessárias ali pro [sic] bloco, é a supervisão. (Rosana, Escola B)

A fragmentação, compreendida no contexto onde atuam os gestores, é concebida como a prática de dividir as tarefas que compõem o cotidiano da escola, com reduzida ou nenhuma articulação entre estas, em que cada tarefa tem valor por si mesma, sem tomar parte num projeto que sintetize objetivos, intenções e metas de uma proposta pedagógica

radicalmente refletida. A exemplo do modelo de produção taylorista/fordista cujo processo de trabalho é parcelado e reconfigurado na década de 1990, adquirindo um design mais flexível, na escola se daria processo semelhante, pois absorvendo tal dinâmica reproduziria práticas dissociadas que enfraqueceriam o conjunto da força de trabalho em detrimento de objetivos desprezados pela produção capitalista.

O outro grupo, da segunda perspectiva, demonstra conhecimento do processo que ocorre na escola, bem como participa deste, atuando a partir dos resultados alcançados pelas crianças e parcialmente sobre o planejamento do professor, já que, conforme as respostas dadas à pergunta sobre o planejamento, não há um acompanhamento sistemático quanto a essa questão.

Eu fiquei responsável de 1º ao 5º ano, meu foco é do 1º a o 5º ano, né [sic], mesmo porque eu tenho experiência de 1ª a 4ª série e eu gosto muito de alfabetização, me identifico muito com alfabetização. Então, eu fiquei à frente, né [sic], de 1º ao 5º ano. Eu fiquei mais à frente disso, né [sic], das dificuldades da sala de aula, de tomar leitura deles. Até o método que elas adotaram, os professores adotam, trabalham, se é silábico [...] De procurar recursos, procurar materiais, os livros, ‘ó [sic] de que forma nós vamos atender aquela, aquela quantidade de alunos que não estão, não chegaram, não atingiram os conceitos essenciais da série’. Eu procuro, busco livros. Eu fiquei mais responsável por eles,

assim, com as professoras. (Rute, Escola B)

É, daí é visto cada necessidade, inclusive a gente também trabalha com [...] com trabalho de reforço, é [...] fichas de leitura, então, cada criança, ela [...] ela vai tendo um [...] um trabalho extra, que é montado por nós. Então, além do que o professor planeja a gente também tem um apoio pedagógico diferenciado, que a gente faz os conteúdos, organizamos os [...] os assuntos e [...] e: ‘ Aquela criança que é preciso, então, é chamado [sic] os pais, é colocado, né [sic], quando precisa do apoio pedagógico. (Daiane, Escola D)

[...] a assessoria do Bloco Alfabetizador, a gente, nós não conhecemos os alunos, né [sic], então existem registros que a gente passa para o professor e vamos tentando ver quais as dificuldades. Aí vai afunilando, né [sic]. Então depois, nós vamos trabalhar com o professor, que recebe o material, vai trabalhar com a turma toda. Só que têm aqueles alunos que vão ter mais dificuldade, onde tem esse atendimento individual. Então, a gente precisa ajudar também o professor, ele solicita ajuda e nós vamos oportunizar. (Dalva, Escola D)

A assessora pedagógica esclarece que a assessoria acontece de forma irregular devido à falta de tempo, tanto sua quanto do professor.

[...] porque tem professor que trabalha 40 horas, trabalha em outra escola particular, não tem como. Então, assim, o horário que a gente faz, assim, de repente, faz um horário com uma aula de Artes e uma Educação Física, faixa, pra [sic] gente poder está atendendo [sic], né [sic]. Não, porque assim, eu atendo do Pré ao 5º ano, né [sic], aí não tem como deixar uma [...] (Joice, Escola C)

A professora readaptada, indicada pela quase totalidade dos colegas de sua escola como o profissional responsável pela assessoria ao Bloco Alfabetizador, alega não conseguir realizar o trabalho proposto, aparentemente por ela, baseado na produção de recursos pedagógicos, em virtude da falta de tempo e recursos.

Seria assim, ó [sic], de organizar materiais e [...] e [...] e confeccionar, inclusive, a gente fez bastante confecção assim de jogos com a 8ª série, não tem?! Pros [sic] professores terem subsídios, e busca de material, CD [...] Isso, é. E assim [...] e fazer esse trabalho, né [sic] de acompanhamento assim, é de [...] individual, né [sic]. E eu sinto assim, é essa dificuldade do tempo, né [sic], que o professor não tem tempo pra [sic] conversar com o outro, pra [sic] trocar experiência e a gente também, né [sic], com o professor, e é a falta de [...] de estrutura, de condições mesmo assim, né [sic], tudo muito jogado. (Mere, Escola A)

A gestora exprime um esforço pessoal quanto à assessoria ao professor do Bloco Alfabetizador, que se configura como uma iniciativa individual, denunciando a ausência de um processo coletivo na escola de discussões e deliberações sobre a questão.

E eu tinha muita vontade assim, que [...] Já tentei fazer com algumas turmas, é complicado. Assim, de a gente tá [sic] mais presente em sala de aula, tá [sic] ali acompanhando mais o aluno de perto, pra [sic] poder dar mais subsídios pro [sic] professor, assim. (Mere, Escola A)

O fato de ela ser responsabilizada pelos demais para esse trabalho pode ser mais um indício de que estes se mantêm alheios a alguns processos e que os resultados alcançados

pelas crianças, pela escola, não são objeto de análise do grupo e, portanto, não demandam ações do grupo.

Os assessores de direção confirmam a organização empreendida nas escolas para esse trabalho expressa pelos demais gestores (Sou eu, a Rosana, que é orientadora, [...] e a

supervisora. - Raquel, Escola B) e (Isso, isso. Comigo, pela diretora [...] - Patrícia, Escola E), que não foca no Bloco Alfabetizador, sem informar, entretanto, como esta aconteceria, sendo possível depreender-se que estes podem compreender como assessoria toda tarefa desenvolvida com esta etapa da escolarização, sem representar um trabalho que intervenha na prática de sala de aula.

A assistente técnico pedagógica indica ser um profissional sem um perfil definido, que, ocasionalmente, atua junto ao professor:

Porque é assim, ó [sic], eu, tô [sic] aqui há seis anos, quando eu vim pra [sic] cá esta coisa do ATP era uma coisa meio ‘Severino’, meio sem função. Então, praticamente, fiquei seis anos na secretaria, mas sempre de vez em quando junto com os professores. Do curso pra [sic] cá, que eu comecei a pegar mais firme com eles. Mas, eu posso te tomar, que se você vier aqui no ano que vem a coisa esteja mais enga [...] engajada sim. Que eu tô [sic] bem confiante. (Maira, Escola A)

O deslocamento dessa gestora diante do desconhecimento das atribuições inerentes à sua função e à carência de articulação entre a equipe gestora da escola fica evidente em sua fala.

É nítida a impressão de que a fragmentação do trabalho é realidade presente nas escolas e que a assessoria se resume quase sempre à preparação de materiais e espaços e não no pensar juntos o processo de ensino e aprendizagem.

4.3 A ATUAÇÃO DOS GESTORES QUANTO ÀS DIFICULDADES DE

No documento Bloco alfabetizador (páginas 108-113)