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século XIX. São Paulo: Ed Universidade de São Paulo, 2008, p 115.

ANOS BARCELONA GÊNOVA LISBOA MÁLAGA MARSELHA TENERIFE TOTAL

2.4 A Associação Comercial de Pernambuco e os interesses mercantis, 1839 –

No dia dezoito de junho de 1839 foram dados os primeiros passos concretos para o estabelecimento de uma associação comercial em Pernambuco. Entre os seus fundadores, ao todo, contava-se cerca de vinte e seis pessoas;

José Ramos de Oliveira, João Pinto de Lemos, Bento José Alves, Manoel Alves Guerra, Gaudino Agostinho de Barros, Nuno Maria de Seixas, Joaquim José de Amorim, João Vieira Lima, José Jeronymo Monteiro, E.

330 De acordo com Carvalho (2009), 1845 a 1848, época do governo liberal em Pernambuco, intensificou-

se a partidarização da repressão ao tráfico. Apreendiam-se e investigavam-se os casos de desembarques de acordo com os interesses políticos envolvidos. Cf.: CARVALHO. M. J. M. de. A repressão do tráfico atlântico de escravos e a disputa partidária nas províncias: os ataques aos desembarques em Pernambuco durante o governo praieiro, 1845-1848. Tempo [online], Niterói, vol. 14, n°27, 2009, pp.133- 149.

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Comber, Jacob Herlich. S. Berry, A. S. Colbert, A. Hibbert, S.Schram, João Matheus, F. Saunders, Duprat, Miguel de O. Fenton, Luttreus, J. M. Gun, H. Christophers, José Lazary, G. T. Snow, Luís Gomes Ferreira & Mansfield.331

Reunidos no estabelecimento mercantil dos dois últimos negociantes, na praça de Comércio do Recife, o grupo acima destacado foi constituído, majoritariamente, por estrangeiros, muitos lusitanos, ingleses, norte americanos e franceses.

Na ocasião em que se reuniram para firmarem tal compromisso, um dos negociantes, G. T. Snow, negociante norte-americano, tomou a iniciativa de propor que fossem eleitos presidente e secretário na sessão preparatória para a criação da entidade, sendo eleitos, respectivamente, José Ramos de Oliveira e José Jeronymo Monteiro.332 Além do presidente e secretário, os convenentes escolheram uma diretoria composta por cinco membros, destacados no quadro 19 (p. 92), que ficou encarregada da redação dos estatutos. Assim, a instituição apresentou, desde os primeiros tempos de sua formação, uma organização fortemente hierarquizada, na qual a gestão era resguardada a um grupo restrito de indivíduos – notadamente, os membros de sua diretoria.333

Menos de um mês após essa reunião preparatória, isto é, no dia dois de julho de 1839, uma vez que o estatuto havia sido redigido, foi decidido pelos membros da diretoria que o tesoureiro, Gaudino Agostinho de Barros, então nomeado, ficaria incumbido de procurar o local onde devia funcionar a associação.334 Em seguida, ou seja, a vinte quatro do mesmo mês, foram discutidos e aprovados os estatutos e designou-se o dia 1° de agosto daquele ano para ter lugar a instalação da Associação Comercial de Pernambuco. 335

Na data previamente marcada, numa “casa do Largo do Comércio que foi das Diversas Rendas”,336 reuniram-se os negociantes para a instalação da Associação

Comercial de Pernambuco, a segunda associação comercial organizada no Brasil.337 Na reunião mencionada, participaram outros negociantes inclusive aqueles que estiveram presentes nas reuniões preparatórias, os quais decidiram promover uma votação para que fossem eleitos os cargos de presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiro da instituição.

331 ACP. Livro de Atas, Ata da sessão preparatória da Associação Comercial de Pernambuco,

18/06/1839, v.1, f.1.

332 ACP. Livro de Atas, Ata da sessão preparatória da Associação Comercial de Pernambuco,

18/06/1839, v.1, f.1.

333 Sobre a hierarquia existente dentro das associações comerciais brasileiras oitocentistas, cf.: RIDINGS,

op. cit., p. 44-46.

334 ACP. Livro de Atas, Ata da sessão preparatória da Associação Comercial de Pernambuco. v.1, f.2v. 335 ACP. Livro de Atas, Ata da sessão preparatória da Associação Comercial de Pernambuco, v.1, f. 3 336 ACP. Livro de Atas (1839-1851), v.1, fl.6

91 Para Ridings, de modo geral, o conselho de direção das organizações dos grupos de interesse econômico, no Brasil do século XIX, era “ocupado por capitalistas, banqueiros e industriais”.338 No caso específico dos grupos mercantis representados

pelas associações comerciais:

Os líderes das casas de comércio exterior foram a espinha dorsal dos conselhos das associações, dando aos grupos de interesse mercantil a feição de instituições oligárquica. Teoricamente receptivas à maioria dos membros, através de eleições democráticas e outros dispositivos, as organizações estavam, a rigor, guiadas por um pequeno número de seus homens de negócios mais ricos e influentes. 339

Conforme consta nos Quadro 19 e 20, entre os anos de 1839 a 1849, todos os membros da mesa diretora da Associação Comercial de Pernambuco (ACP) eram negociantes de grosso trato. Essa constatação, verificada a partir da observação dos referidos quadros, reforça a assertiva destacada de que “os líderes das casas de comércio exterior foram a espinha dorsal dos conselhos das associações”.340

A força da influência estrangeira nestes espaços ficou demonstrada a partir da verificação das nacionalidades presentes entre os membros das diretorias das mesmas associações. 341A maior parte dos membros da diretoria da ACP era composta por indivíduos estrangeiros, ingleses, “alemães” 342, norte-americanos e portugueses.343 No

caso dos lusitanos, constatou-se que todos os membros diretores dessa nacionalidade haviam adotado a cidadania brasileira, principalmente no Quadro 20 (p. 93), relativo aos anos de 1846 a 1849, período de forte sentimento antilusitano em todo o país e, principalmente na Província de Pernambuco – palco da Insurreição Praieira. 344

338 Ibidem, p. 49, tradução nossa. 339 Ibidem, p. 30, tradução nossa.

340 Os negociantes de grosso trato operavam ativamente no comércio de longa distância, sendo

hegemônicos no comércio de importação e exportação. CF. Notas 36

341 Não há nenhuma estatística precisa sobre a composição e a quantificação das diversas nacionalidades

que compunham os grupos de interesse mercantil brasileiros no século XIX. Entretanto, indivíduos portugueses, britânicos, franceses e alemães eram particularmente numerosos nos conselhos administrativos das associações comerciais das principais praças de comércio brasileiras. “Grã-Bretanha e Portugal seriam as nações que, aparentemente, exerciam a maior influência nos grupos de interesses mercantil, refletindo, respectivamente, a força econômica e numérica de seus membros”. RIDINGS, op. cit., p. 36, tradução nossa

342 A respeito dos negociantes alemães no Brasil do século XIX cf. LENZ, Sylvia Ewel. Alemães no Rio de Janeiro (1815-1866). Bauru, SP: EDUSC, 2008.

343 Os portugueses foram os membros mais numerosos nas diretorias das associações comerciais

brasileiras ao longo do Oitocentos. Os laços existentes entre Brasil e Portugal foram baseados na forte herança colonial, bem como nas constantes migrações entre os dois países. O grande contingente de indivíduos portugueses na direção das associações comerciais brasileiras conferiu a elas o <persistente apelido popular de “the old Portuguese associations” >. EDWARDS, C. D. Associações Comerciais

Brasileiras, in: A Missão Cooke no Brasil, Rio de Janeiro: FGV, 1949, p. 350 apud RIDINGS, op. cit., p.

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344 Sobre a chamada Insurreição Praieira, cf.: Nota 182, além do tópico 1.4 (p. 49) que aborda essa

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QUADRO 19 - Membros da diretoria da associação comercial de Pernambuco (1839-1846).

CARGO NOME (PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA ENDEREÇO COMERCIAL ATIVIDADES NATURALIDADES

Presidente José Ramos de Oliveira Rua da Cadeia Velha - Negociante de grosso trato - Presidente da Associação Brasil Vice- presidente João Pinto de Lemos

Rua do Torres - Negociante de grosso trato

Portugal, brasileiro naturalizado

Secretário José Jeronymo Monteiro

Rua do Trapiche - Negociante de grosso trato

Brasil

Diretores Bento José Alves - Negociante de grosso trato Brasil Gaudino Agostinho de Barros Atrás do Corpo Santo - Negociante de grosso trato Portugal, brasileiro naturalizado Harrison Lathan & .Hilbbert Rua da Alfândega - Negociante de grosso trato Inglaterra

Jacob Herlich Rua da Cruz - Negociante de grosso trato

Prússia

G.T. Snow Rua da Cadeia - Negociante de grosso trato - Cônsul dos Estados Unidos

Estados Unidos

Fonte: ACP. Atas das Sessões da Diretoria, 1839-1851, f.2-6; IAHGP. Fundo Inventários: João Pinto de Lemos (1871), Bento José Alves (1842); HEMEROTECA BRASILEIRA, Almanak Administrativo,

Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1844, p. 27; Diario Novo: 08/07/1843, n. 141, p.2; 18/03/1845,

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QUADRO 20 - Membros da diretoria da associação comercial de Pernambuco (ACP) c. 1846-c.

1849.

CARGO NOME (PESSOA

FÍSICA OU