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século XIX. São Paulo: Ed Universidade de São Paulo, 2008, p 115.

ORIGEM 1839 1840 1842 1843 1845 1846 1847 1848 1849 TOTAIS ARACATY 1

BAHIA 1 1 BARCELONA 2 3 6 2 2 4 19 GÊNOVA 2 1 1 4 2 2 1 13 GIBRALTAR 1 1 HAVANA 1 3 1 1 6 MALAGA 1 1 MONTEVIDEU 1 1 PARAÍBA 2 2 PORTO RICO 2 1 3 6 PORTOS DO SUL 2 2 RIO DE JANEIRO 1 3 4 TOTAL 5 3 3 8 9 10 6 7 6 57

Fonte: CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, Movimento do Porto, 1839, 1840, 1842, 1843, 1845, 1846, 1847, 1848, 1849

Como mostra o quadro 8, as cargas enviadas pelo negociante para portos nacionais, ou seja, referentes ao comércio interprovincial, constituíram o menor quantitativo, perfazendo 10 embarcações. Aracati (CE), Bahia, Paraíba, Portos do Sul e Rio de Janeiro foram os destinos das referidas viagens. Quanto a natureza das cargas embarcadas para estes portos, algumas informações são imprecisas. Para os portos de Aracati e Paraíba, as cargas exportadas receberam a denominação vaga de ‘vários gêneros”.284 Já no caso das localidades Bahia, Portos do Sul e Rio de Janeiro - o porto

mais incidente -, os manifestos das embarcações indicam a nomenclatura “a mesma que trouxe” em relação a natureza da carga transportada. Suas cargas seriam provenientes de embarcações entradas no porto do Recife, posteriormente destinadas à distribuição para outras localidades. No quadro 9, está representada a incidência de nacionalidade das embarcações consignadas no período. Nele verificamos que entre as nacionalidades

284 CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, Coluna Movimento do Porto: 1846/09/19; 1847/02/08;

74 mais incidentes - das embarcações transportadas no comércio interprovincial pelo negociante – teve destaque a espanhola.

Quadro 9– Nacionalidade das embarcações consignadas para o comércio de exportação por

João Pinto de Lemos, entre nos anos 1839-40, 1842-43, 1845-49.

ANOS BRASILEIRA ESPANHOLA SARDA TOTAL

1839 - 3 2 5 1840 - 3 - 3 1842 - 3 - 3 1843 - 7 1 8 1845 - 6 3 9 1846 1 5 4 10 1847 1 2 3 6 1848 - 5 2 7 1849 - 5 1 6 TOTAL 2 39 16 57

Fonte: CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, Movimento do Porto, 1839, 1840, 1842, 1843, 1845, 1846, 1847, 1848, 1849

As embarcações de Pinto de Lemos destinadas à América Latina representam 22% do total estimado de consignações para esta região, como se verifica no quadro 8. Entre os destinos que aparecem para as cargas, destacam-se os portos de Havana e Porto Rico - cada qual com pelo menos 6 embarcações -, além de Montevidéu. A nacionalidade predominante destas embarcações foi a espanhola. Estes entrepostos receberam como carga algodão e couro, exportados do porto pernambucano por João Pinto de Lemos. Devemos mencionar que, os navios saídos do Recife, com destino aos portos de Havana e Porto Rico, haviam entrado em Pernambuco trazendo carnes dos portos de Buenos Aires e Rio Grande.285

A conexão entre os portos de Havana e Buenos Aires, com escalas no Brasil, foi percebida por Alan Ribeiro (2014), o qual afirmou ter sido o Rio de Janeiro, “uma espécie de entreposto para o comércio de carnes desde Montevidéu ou Buenos Aires, até Havana (e outras localidades)”.286 Alguns autores destacaram que a carne seca esteve

285 Conforme discutiremos a seguir, a carne foi um dos principais gêneros importados por João Pinto de

Lemos. Cf. Quadro 14, p. 94

286 RIBEIRO, Alan dos S. A firma Maxwell, Wright & Co. no Comércio do Império do Brasil (c. 1827

75 entre os principais gêneros alimentícios presentes na dieta dos escravos cubanos.287

Destarte, o comércio marítimo, por meio de seus circuitos mercantis, estava submetido à lógica da produção escravista do século XIX, e vice-versa.288 Assim, a vigorosa

produção açucareira cubana, alicerçada na mão de obra cativa, interligava-se à produção de charque e de outros produtos, em diferentes espaços da economia atlântica oitocentista.

Há evidências de que o Recife pode ter sido também um entreposto para circuito mercantil que levava carne da América do Sul para a América Central. A embarcação espanhola Pronto aportou em Pernambuco trazendo carne de Buenos Aires e, posteriormente, deixou o porto do Recife declarando levar este mesmo produto para Havana, em 1849.289 O mesmo aconteceu com a embarcação espanhola Esperança, em 1850.290 Outro circuito mercantil, no qual se inseriu o negociante João Pinto de Lemos, fornecia algodão pernambucano para os portos de Havana e Porto Rico, em embarcações que haviam ancorado no Recife trazendo vinho do porto de Málaga.291 Isso ocorreu, por exemplo, com o navio espanhol Ardilla, em 1840292 e 1845293, além da embarcação Adriano, também no ano de 1845. 294

287 Sobre a importância da carne seca para a dinâmica das trocas comerciais no Atlântico Oitocentista,

conferir os trabalhos de: SLUYTER, Andrew. “The Hispanic Atlantic’s tasajo trail”. In: Latin American Research Review, vol. 45, nº.1. 2010. Ver também: VARGAS, Jonas Moreira. Pelas margens do Atlântico: Um estudo sobre elites locais e regionais no Brasil a partir das famílias proprietárias de charqueadas em Pelotas, Rio Grande do Sul (século XIX). Rio de Janeiro, 2013. Tese (Doutorado em História). UFRJ. PPGHIS; RIBEIRO, op. cit.

288 Diante da concordância de alguns historiadores, o século XIX, usualmente tomado como o século da

emancipação da mão de obra escrava, foi também o período no qual se verificou o apogeu da escravidão no Novo Mundo, tanto do ponto de vista do número de escravos comercializados, como pelo valor obtido com a exploração do trabalho deles. Cf. TOMICH, Dale. Through the Prism of Slavery: Labor, Capital, and World Economy. Boulder, Co: Rowman & Littlefield, 2004; MARQUESE, Rafael de B.; PARRON, Tâmis Peixoto. Internacional escravista: a política da Segunda Escravidão. TOPOI, v.. 12, n. 23, jul-dez. 2011, p. 97-117.

289 Sobre a entrada da embarcação Pronto, cf: CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, 20/11/1849, n° 260,

p.3. Já para sua partida, cf. CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, 22/11/1849, n° 262, p. 3.

290 Sobre a entrada da embarcação Esperança, cf: ACP, Livro de Registro das entradas de embarcações no

Porto do Recife, 15/04/1850, p. 78v. Já para sua partida, cf. CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, 18/04/1850, n° 93, p. 2.

291 Como se verá mais adiante, o principal produto de importação consignado por João Pinto de Lemos foi

o vinho, majoritariamente, espanhol.

292 Sobre a entrada do navio Ardilla no Recife, declarou como carga “vinho e mais gêneros”. (Cf. Diario

de Pernambuco, 07/07/1840, n° 146, p. 2). Em sua partida, declarava levar algodão para os portos de Havana e Porto Rico. (Cf. Diario de Pernambuco, 14/08/1840, n° 168, p.2). O mesmo aconteceu com a referida embarcação em 1845. (Cf. Diario de Pernambuco, 24/05/1845, n°113, p. 2; 10/06/1845, n° 126, p.2.)

293 Sobre as entradas das embarcações Adriano, cf.: Diario de Pernambuco, 15/04/1845, n° 85, p. 3. Sua

saída do porto do Recife foi declarada em: Diario de Pernambuco, 05/05/1845, n° 98, p.2.

76 Contudo, as exportações de João Pinto de Lemos que apresentaram os maiores quantitativos foram aquelas destinadas ao mercado europeu, principalmente aos portos de Barcelona e Gênova. Como se verá mais adiante, também foram as importações do negociante no comércio exterior mais incidentes para estes mesmos portos. A importância do mercado europeu para as trocas mercantis realizadas em Pernambuco foi abordada no tópico anterior, no qual foi mostrada a proeminência de alguns entrepostos europeus para a dinâmica do comércio marítimo em Pernambuco. 295

Conforme está apresentado no quadro 8, suas embarcações consignadas ao mercado europeu representam o somatório de trinta e quatro, do total estimado de cinquenta e sete. Quanto os principais produtos remetidos à Europa, destacam-se algodão e açúcar. O primeiro produto constou no manifesto de dezoito embarcações.296 Já o segundo foi declarado como carga de quatorze viagens.297 Outros produtos como couro e fumo apareceram entre os principais produtos exportados. 298

De acordo com o quadro 9 as embarcações transportadas por Pinto de Lemos no comércio exportação apresentaram, em sua maioria, bandeiras espanholas ou sardas. Vale destacar que as embarcações sardas e espanholas apresentaram um quantitativo significativo no tocante à nacionalidade das embarcações empregadas no comércio exterior em Pernambuco. Conforme destacamos anteriormente, as embarcações da Sardenha ocuparam o quinto lugar entre as nacionalidades mais incidentes no comércio exterior pernambucano de exportação, e o terceiro lugar nas importações.299 No caso das embarcações de nacionalidade espanhola, elas corresponderam ao sexto lugar entre as nacionalidades mais incidentes, tanto no comércio exterior de exportação quanto no de importação. 300

Sobre a atuação do negociante no comércio marítimo de importação, vale destacar que este foi talvez o ramo no qual mais se concentraram suas atividades mercantis. Tal assertiva se confirma pela verificação do quantitativo demonstrado no

295 No que se refere ao comércio exterior de exportação, Grã-Bretanha, Estados Unidos e França foram os

principais mercados fornecedores de produtos para Pernambuco, entre os anos de 1842-45. Cf.: Tabela 2.

296 CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, Coluna Movimento do Porto: 1839/09/09; 1840/06/27;

1840/09/14; 1842/12/05; 1843/10/04; 1843/10/23; 1845/04/30; 1845/05/02; 1845/05/05; 1845/06/10; 1845/06/25; 1845/09/24; 1846/04/07; 1846/12/21; 1848/02/21; 1849/09/10; 1849/09/17; 1849/11/06.

297 CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, Coluna Movimento do Porto: 1842/12/10; 1843/02/03,

1843/02/20; 1843/05/17; 1845/05/05; 1845/06/20; 1846/01/15; 1846/02/09; 1846/03/17 1846/03/17; 1847/01/29; 1847/02/17; 1847/05/08; 1848/03/21 e 1849/06/08.

298 CRL/UFLAC, Diario de Pernambuco, Coluna Movimento do Porto: 1849/07/12; 1848/01/10. 299 Cf.: Quadro 5 e 6, p. 76-77.

77 quadro 10, onde estão representados os totais das embarcações consignadas por João Pinto de Lemos, entradas no porto do Recife, entre os anos de 1836-1852. Ainda em referência ao quadro 10, percebe-se que as importações realizadas pelo negociante foram provenientes de diferentes portos, somando 29 localidades distintas. Os locais mais incidentes declarados como origem destas viagens foram, respectivamente: Barcelona, com 36 entradas; Málaga, 33 entradas; Gênova, 26 entradas; Rio de Janeiro, 23 entradas e Montevidéu, 11 entradas. Estes números demonstram que o negociante concentrou suas atividades mercantis, de forma mais acentuadas, no comércio exterior de importação, uma vez que as origens portuárias internacionais são mais recorrentes do que aquelas relativas ao comércio interprovincial. Pode-se observar também que dos 188 registros de embarcações consignadas a Pinto de Lemos, 148 registros referem-se a entradas oriundas de portos estrangeiros, contra 40 registros de embarcações provenientes de portos brasileiros.

78

Quadro 10 - Mapa geral das importações de João Pinto de Lemos, 1836-1852 (em viagens)

ORIGEM 1836 1837 1838 1839 1840 1841 1842 1843 1844 1845 1846 1847 1848 1849 1850 1851 1852 TOTAIS