• Nenhum resultado encontrado

A atividade bancária e a imagem da banca cooperativa

Nas diversas motivações para a adoção de práticas apontadas pela CFI, destaca-se o acesso às fontes de capital e a redução do custo de capital (IFC, 2009; OECD, 2015). É inegável a interdependência entre as várias instituições financeiras, tanto ao nível nacional como internacional. Como recentemente assistimos, aquando da entrada do programa de assistência financeira a Portugal, o acesso aos mercados internacionais estava vedado, pelo menos a custos aceitáveis. Nesta situação em concreto, a imagem das instituições financeiras portuguesas foi afetada pelo contexto económico do país, mais veio efetivamente reforçar a ideia de interdependência. Deste ponto de vista, a imagem perante as outras instituições financeiras é algo fundamental, área em que as práticas de corporate governance podem dar um contributo importante.

60

O contexto do país onde as empresas operam é uma forte condicionante da sua atividade. O caso da banca não é uma exceção a esta regra. Por exemplo, Joh (2003)

verificou que as características dos países explicam muito mais a variação nos índices de corporate governance (que variam de 39% a 73%) do que as características observáveis das empresas (variando de 4% a 22%). Este autor mostrou ainda que as características da empresa pouco explicam a variação nos índices de corporate governance em países menos desenvolvidos e que o acesso aos mercados de capitais globais representa um forte incentivo às empresas para adotarem melhores práticas de corporate governance.

Para melhorar o corporate governance, o governo e o banco central obviamente têm um papel importante a desempenhar, através do reforço das leis que protegem os interesses dos acionistas e da melhoria da execução dessas leis e regulamentos. Por outro lado, também é importante que as próprias empresas adotem voluntariamente medidas neste sentido (Bai et al., 2004).

A questão que se coloca, no âmbito deste estudo, é se a única razão para a adoção de práticas de corporate governance é a presença nos mercados de capitais mundiais. Porém, no caso da banca corporativa, esta questão não é a mais importante, não só pela forma societária, mas também pela reduzida dimensão. Todavia, a imagem que a instituição tem perante os outros competidores e perante os reguladores apresenta-se crucial para o acesso aos mercados, ponto essencial no programa de assistência financeira a que tem vindo a ser alvo. O estudo apresentado por Bai et al. (2004) evidenciou que as práticas de corporate governance aumentam o valor de mercado das empresas e reduzem seu custo futuro do investimento.

Até porque, para a prática de corporate governance de uma empresa ter um efeito positivo sobre o seu valor de mercado, é necessário reunir duas condições. A primeira é que a boa governação se traduza efetivamente numa melhoria dos retornos para os acionistas da empresa, e a segunda é que o mercado de capitais seja suficientemente eficiente para que os preços das ações reflitam o valor da empresa (Bai et al., 2004). Todavia esta discussão nem sempre é clara na bibliografia, uma vez que existem estudos que comprovam que um melhor corporate governance não parece prever uma maior

61

rendibilidade da empresa (Black et al., 2006). Todavia estes autores comprovaram que a adoção de melhores práticas de corporate governance contribuem para melhorar o acesso ao mercado de capitais interbancário. É uma questão em aberto saber até que ponto os preços das ações é mais elevado nas empresas mais bem governadas e se isso se reflete num aumento do valor global de empresa.

Os estudos de Black et al. (2006) comprovam ainda que um melhor desempenho não se reflete, pelo menos de uma forma direta, numa melhor rendibilidade da empresa. No sentido de colmatar esta possibilidade, Carleton et al. (1998) reconhecem a importância das instituições se tornarem mais ativas no corporate governance, sobretudo no contexto em que as instituições financeiras são cada vez de maior dimensão. Este facto vem no sentido contrário à regra de Wall Street através da qual se entende ser mais fácil vender a participação numa empresa em que não se concorda com a gestão do que tentar mudá- la.

Se, por um lado autores como Bai et al. (2004) demonstram que a importância das práticas de corporate governance se traduz numa melhoria da imagem e do valor da empresa, outros autores tendem a concluir o oposto (Black et al., 2006). No entanto, parece haver consonância no que respeita à influência positiva que a adoção de práticas de corporate governance tem no acesso ao mercado de capitais interbancário.

A questão central consiste na proteção dos diversos stakeholders. Práticas que favoreçam a transparência do negócio e a proteção dos investidores e dos colaboradores são sempre decisivas na imagem e são aspetos sensíveis à opinião pública e política (Pagano e Volpin, 2005). Segundo referem estes autores, a disponibilidade para apostar nas organizações é também função dos aspetos legais e da proteção do capital em vigor no país.

Neste contexto, o trabalho de investigação em curso considera fundamental haver uma separação entre dois grupos de instituições. Em primeiro lugar, é importante avaliar as implicações das práticas de corporate governance perante as outras instituições de crédito, na medida em que é importante garantir o acesso ao crédito. Em segundo, a imagem perante a entidade reguladora (Banco de Portugal) é também muito importante,

62

uma vez que são emitidos rankings e relatórios para o mercado que poderão colocar em causa a prestação da Caixa de Crédito Agrícola.

Tendo em vista a adoção de boas práticas que contribuam para uma boa imagem da empresa e do próprio setor, a OCDE apresenta um conjunto de princípios (Silva et al., 2006: 178):

 “Deve assegurar-se a divulgação atempada e objetiva de todas as informações relevantes para a sociedade (incluindo informação financeira, desempenho, participações sociais, governo);

 As informações devem obedecer a rigorosas normas contabilísticas e aos requisitos de divulgação vigentes;

 Deve realizar-se auditoria anual por auditor independente e qualificado, visando assegurar que a informação financeira reflete a situação financeira e o desempenho da empresa nos aspetos relevantes;

 Os auditores externos devem responder perante os acionistas;

 O governo das sociedades deve ser complementado por análises e pareceres de analistas, intermediários e sociedades de “rating”, em apoio às decisões dos investidores, mas evitando conflitos de interesses que possam comprometer a integridade dessas análises e pareceres.”