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A ATIVIDADE FÍSICA E A QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

Como se viu, na sociedade ocidental, de modo geral, ser velho e envelhecer têm conotação negativa, sendo mesmo objeto de preconceito.

Neri (1991), apud Okuma (1998), diz que esse processo e essa fase são marcados por um estereótipo social negativo, que se baseia estritamente no declínio biológico, o que fundamenta uma idéia falsa de que o envelhecimento causa necessariamente incompetência comportamental.

“Em conseqüência desse estereótipo, parte daqueles que chegam à velhice, sobretudo à aposentadoria, perde poderes político e econômico, perdendo também status, respeito e valor. Se, ao mesmo tempo, houver o acometimento de doenças e pobreza, a situação do velho se agrava, pois se somam à falta de prestígio e de poder a dependência física, psicológica e financeira em relação à família e à sociedade. Esse conjunto de mudanças pode ter reflexos na identidade pessoal da pessoa idosa” (OKUMA, 1998).

Assim, a velhice, como já se disse, modifica a relação do indivíduo consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com o tempo, conclui essa autora e, citando Simone de Beauvoir, acentua que a vivência dessas relações acontece de forma diferenciada, de acordo com o maior ou menor grau de deteriorização do corpo.

A concepção de velhice vem sendo lentamente modificada, e este é um feito universal, que é visto como um tempo para novas liberdades, para explorações pessoais excitantes, para crescimento psíquico e prazer de viver.

Isto tem feito com que a qualidade de vida da população idosa esteja melhorando.

Berger (1986), apud Okuma (1998), diz que dentre a variedade de fatores envolvidos nessas mudanças, como os econômicos, os sociais, os psicológicos, a importância da educação física na melhora das funções físicas e psicológicas do idoso é reconhecida e posta em prática. A atividade física é vista como elemento decisivo para a aquisição e a manutenção da saúde, de aptidão física e do bem-estar físico, pré-requisitos para a qualidade de vida, além da sua prescrição para tratamento de doenças importantes como patologias cardíacas e respiratórias, hipertensão, hipercolesterolemia, obesidade, diabetes, osteoporose, doenças resultantes do sedentarismo.

Para Guedes (1995), atividade física é definida “como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em gasto energético maior que os níveis de repouso”. Assim, a quantidade de energia necessária à realização de determinado movimento corporal deverá traduzir o nível de prática da atividade física exigido por esse mesmo movimento.

Mas Barbanti (1994), refere-se a essa terminologia como sendo a totalidade de movimentos executados no movimento do esporte, da aptidão física, da recreação, da brincadeira, do jogo de exercício. Num sentido mais restrito, “é todo movimento corporal, produzido por músculos esqueléticos, que provoca gasto de energia”.

A prática da atividade física bem orientada traz ao idoso inúmeros benefícios, que se tornam ainda mais fundamentais com a chegada da idade: aumento da eficiência do transporte do oxigênio, aumento dos pequenos vasos sanguíneos, diminuição do peso e da gordura corporal, aumento da massa muscular, melhor coordenação motora, melhoria no equilíbrio psicológico e redução do índice de colesterol.

Atividade física e intelectual e boa alimentação são a chave para um envelhecimento saudável, dizem os especialistas. Eles incentivam encontros sócio-culturais com atividade física e lazer, como bailes e caminhadas.

Nunca se falou tanto em corpo físico, atividade física, como na atualidade, mas esse modismo tem atrelado a idéia da performance perfeita, da estética, do consumo. Surge também a febre do circuito, das caminhadas, das bicicletas. Todas essas opções são reforçadas pela rede de informações, pela multimídia, que acaba privilegiando um tipo especial de público consumidor: os mais jovens. Assim, o que importa não é a pessoa, mas os produtos comercializáveis que possuem consumidores, que trarão aos “degustadores” forma e estética corporal invejável.

Mergulhar na corporeidade do idoso é entender a substituição da beleza esteticamente no corpo jovem pela vivência madura das emoções. É acreditar que essa maturidade vem de dentro para fora nas relações inter- subjetividade que aflora à convivência dos seres humanos.

Maluf (1998), comenta: o convívio com o corpo idoso deve fundamentar-se em três princípios básicos: participação, ludicidade e prazer. A união desses princípios expõe a corporeidade como sinônimo de vida. O idoso deve recuperar o potencial de vida, mesmo limitado com o processo natural de envelhecimento.

Levi-Strauss (1976), salienta que ninguém, na verdade, abordou ainda esta tarefa imensa que consiste em fazer o inventário e a descrição de todos os “usos” que o homem, no decurso da história e no mundo, fez e continua a fazer dos seus corpos. Continua-se, ainda, a ignorar as possibilidades que dispõe o corpo do homem em cada cultura. Conclui o autor, que este conhecimento das modalidades de utilização do corpo humano é bastante necessário, numa época em que a tecnologia e a ciência estão à disposição do homem e tendem a desviá-lo do seu corpo/movimento. Este tipo de investigação traria conhecimentos bastante significativos sobre as migrações, contatos culturais e o uso do corpo/movimento que foram transmitidos de geração em geração.

Bruhns (1992), salienta que se age como prisioneiro de uma vida que esmaga o corpo e que, desta maneira, o prazer se torna uma imposição à timidez do corpo, impedindo-o de afirmar o sofrimento, de sentir-se esgotado. São cobradas determinadas tarefas, nem que para isso o preço a ser pago seja negação de si mesmo.

Em relação ao movimento humano e corpo, em virtude do que vem se instalando no mundo “civilizado” e moderno, do qual os seres humanos fazem parte e ajudaram a construir, quase que num olhar de desespero sobre esse mundo não se encontra espaço para expressar idéias e sentimentos, porém se encontram atividades em maior número, prontas para fragmentar o homem.

A Europa, do século XVIII ao início do século XIX, desenvolveu, através de determinadas políticas de saúde, formas explícitas de controle das populações urbanas, em que o corpo dos indivíduos e o corpo do social são tomados como objetos mensuráveis/generalizáveis e que podem ser classificados de forma neutra (FOUCAULT, 1988). Este autor esclarece que o corpo é uma realidade bio-política e que foi no biológico, no somático, que, antes de tudo, a sociedade capitalista investiu.

Barbanti (1990), acredita que nunca é demais insistir nas vantagens do exercício físico em todas as idades, sobretudo na terceira idade.

O idoso deve experimentar os benefícios psicológicos e sociais de um programa regular de atividade física. Quem se considera mais saudável tem uma posição mais ativa diante do envelhecimento, além de que, a atividade física pode ser um meio eficiente contra o isolamento social e a solidão, contribuindo para o desaparecimento do tédio.

Uma das hipóteses usadas para explicar os benefícios afetivos associados com a atividade física é a endorfina. Quando se faz exercício, o cérebro produz e libera na corrente sanguínea uma substância equivalente à morfina (porém não tóxica), chamada endorfina, que tem a capacidade de reduzir a sensação de dor e produzir um estado de euforia e diminuir a sensação de fadiga.

Em pesquisa realizada por Berger (1986), verificou-se que a qualidade de vida é resultado das condições subjetivas de um indivíduo nos vários subdomínios que compõem sua vida, como seu trabalho, sua vida social, sua saúde física e seu humor e, indiretamente, na sua vida social.

“A influência do exercício no processo de envelhecimento afeta diretamente a qualidade, se não a quantidade, de vida” (BARBANTI, 1990).

Hoje, a atividade física é muito divulgada em grandes centros. Assim, tenta passar a importância da atividade física para o idoso não só como aptidão funcional, mas também como participação social, contribuindo de maneira positiva para o bem-estar geral, ou seja, para a qualidade de vida.

Dentre os diferentes programas que começam a serem oferecidos ao aumento de sua qualidade de vida e ao crescimento de sua participação na sociedade, encontram-se os programas de atividades físicas. Essa expansão decorre do aumento do número de profissionais buscando orientações para elaborar e organizar tais programas, do aumento do número de palestras, debates e eventos científicos a respeito do tema, da ampliação de cursos de atualização e extensão universitária, além da criação de cursos de especialização em Educação Física para idosos. A ampla divulgação que os meios de comunicação vêm dando à atividade física como uma das atividades mais importantes para manter a qualidade de vida na velhice, contribui para esse processo.

“Velho é você, eu pratico atividade física” – esta expressão, em breve, poderá tornar-se bastante comum. Segundo os especialistas, as pessoas nascidas nesta década, têm 50% de chances de atingirem os 100 anos de idade, pelo menos nas regiões mais desenvolvidas.

A maioria dos que freqüentam esses programas é formada por mulheres, em geral viúvas, separadas ou ainda as que estão casadas, mas muito entristecidas com a partida dos filhos que se casam e vão viver suas próprias vidas. Esse é um problema que atinge quase todas as mulheres, independente de classe social; mas, para quem está na periferia tem, quase

sempre, o mesmo perfil. Quando as mulheres nessa situação se aproximam do grupo já formado, o passeio preferido delas é o Posto de Saúde do bairro. Na medida que vão participando das reuniões e das atividades, elas descobrem que muitas pessoas no grupo vivem os mesmos problemas e isso lhe dá segurança.

Os grupos também possibilitam chamar a atenção pública para as questões do envelhecimento, rompendo o isolamento social a que quase sempre estão relegados os mais velhos. Leva aos mais jovens um novo olhar sobre a velhice. Os grupos oferecem uma oportunidade dos mais jovens refletirem sobre que tipos de idosos querem ser mais tarde.

Em qualquer fase do desenvolvimento social a influência dos grupos de participação é de primordial importância para a manutenção do sentimento de pertinência e da valorização pessoal, tendo como objetivo garantir ao cidadão com mais de 60 anos, condições necessárias ao pleno exercício da cidadania, provendo sua autonomia e integração efetiva na sociedade.

Os grupos devem ser criados à partir das expectativas levantadas pelas pessoas que irão compô-los. Poderão ser formados para atividades recreativas, culturais, educacionais, de saúde e de sociabilização.

Okuma (1998), afirma que:

“A atividade física representa para os idosos a oportunidade de estarem vinculados a compromissos, o que é fundamental para a maioria dos idosos. Ao se sentirem comprometidos com algo (a educação física e a participação em grupos como os bailes), com objetivos a serem alcançados, surgiu uma qualidade de envolvimento, levando a uma maior valorização da vida, de si mesmo e daquilo que fazem”.

Percebeu o autor que, com os velhos que estudou, os quais viveram essa experiência, uma nova rotina se estabeleceu no cotidiano dessas pessoas, pois ter algo definido para fazer implicava um horário certo para

levantar, um bom motivo para se arrumar e sair de casa, o que representava responsabilidades para com o outro.

“Tal compromisso, por sua vez, mostrou-se como a oportunidade de os idosos darem continuidade a suas buscas e a manutenção de sua atuação no meio social, de ampliarem seus horizontes, terem uma nova visão do mundo, de poderem olhar para seus valores positivos e do mundo que o circunda. Para alguns idosos, estar vinculado a compromissos talvez seja o único meio de manter-se ligado ao mundo da convivência, evitando o isolamento, não incomum nessa fase da vida” (OKUMA, 1998).

CAPÍTULO III

BASES CONCEITUAIS DA PESQUISA – A DANÇA

Dentre as atividade físicas adequadas e possíveis à terceira idade, destaca-se a dança, objeto desta pesquisa por ter sido a modalidade preferida pelos idosos que freqüentam o Clube da Terceira Idade “Dona Dalila”, criado pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, para atendimento à essa faixa etária.

Esta modalidade de atividade física foi a escolhida dentre outras conforme pesquisa anterior, realizada em 1998.

Por esta razão, este capítulo é dedicado à dança, à dança de salão e seus componentes: movimento, ritmo, expressão corporal, convivência corporal e criatividade.

Para VOLP (1994), “a dança, através de seus movimentos, pode ser uma maneira de expressão pessoal ou grupal, podendo encantar, educar, dentre outros”.