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Estudos feitos até agora em relação à dança enfatizam os aspectos que seguem, e servirão como ponto de partida para base conceitual da pesquisa a ser realizada. É difícil determinar, hoje em dia, quando e porque o homem dançou pela primeira vez. Há quem distinga nas figuras gravadas nas cavernas de Lascais, pelo homem pré-histórico, figuras dançando. E como o homem da idade da pedra só gravava nas paredes de suas cavernas aquilo que lhe era importante, como a caça, a alimentação, a vida e a morte, é possível que essas figuras dançantes fizessem parte de rituais de cunho

religioso, básicos para a sociedade de então, a cujos costumes esse tipo de manifestação já estaria incorporado (FINI, 1987)

A dança tem um sentido cultural, como elemento de organização e de trabalho dos povos primitivos. Os primeiros registros de atividades dançantes datam do paleolítico superior, quando o homem estava apenas preocupado com a coleta de alimentos. Não há sinais de que cultivava divindade, mas sim, parecia acreditar que, através da representação pictórica, pudesse alcançar determinados objetivos: abater um animal, por exemplo. Sendo assim, poderia interpretar as pinturas e desenhos encontrados nas paredes e tetos das cavernas habitados pelos homens do Paleolítico Superior, como figuras humanas disfarçadas de animais.

A dança faz parte do desenvolvimento histórico da humanidade, participando da cultura de várias civilizações, sendo “instintiva ao homem”.

Retomando a história, vê-se que a dança e a música vêm desde a mais remota antiguidade, tendo florescido, mesmo, entre os judeus, persas, egípcios, entre outros.

Segundo Fornaciari (1957),

”as lendas mitológicas representam os primeiros documentos de valor, merecedores de minuciosa análise. Elas falam de vários templos pagãos, cheios de exotismo, onde se oficializa de vez a “Dança Sagrada”. Formosas dançarinas, em trajes leves, no meio das fumaças das piras, dançam magnificamente, observando ritmos impecáveis; as vestais, as sibilas, as sacerdotisas de todo o paganismo cultuam os seus deuses, com magistrais passos de dança. O ritmo se apodera dos rituais”.

Fornaciari (1957), relata que a ilha de Lesbos atrai as mulheres gregas, já se espalhando pela Grécia, de canto a canto, os açucarados versos do poeta Safo. A poetisa, lá no meio de sua ilha, é um chamamento vivo, ardoroso, quase que volúpia, bulindo com a vaidade das formosuras gregas. Funda-se a “Escola Sáfica”, onde se processa o exercício de todas as artes, destacando-se a dança.

Imperadores, como Augusto, favoreceram a prática de dança, entusiasmando-se com a arte de dançar.

Épocas houve em que se atacou essa arte, mas o objeto da decadência não foi a arte em si, e sim a degradação dos costumes, principalmente em Roma. Daí a razão pela qual o Cristianismo fulmina a dança, com o rigor de suas leis.

Faro (1986), comenta que Platão (428-437 a.C.), em suas “Leis”, distinguia a dança popular da que se denominava “dança nobre”, e apenas a esta concedia sua aprovação. Considerava não adequada aos cidadãos as danças de natureza báquica e de caráter lascivo. Não reputava como arte as danças de caráter guerreiro, veneratório, propiciatório de chuvas, fertilidade, dentre outras.

O que se acredita, é que a dança nasceu da religião ou junto com ela, ao se observar na escrita de povos antigos sua participação em cerimônias religiosas. Os Deuses eram convocados em ocasiões de nascimento, casamento, morte, guerra, colheita, quer para agradecer, quer para oferecer. Dançando, o homem solicitava o auxílio divino em suas necessidades.

Os povos, vivendo numa sociedade rudimentar onde todos ocupavam a mesma posição social, com costumes patriarcais e caráter pastoril e agricultor, se identificavam com as danças estáticas e tranqüilas; usavam jóias e máscaras, cantavam, batiam palmas ou taquaras no chão. Tempos mais tarde, surgem os primeiros instrumentos de percussão (tambores feitos de tronco), seguidos pelos de sopro (flautas de bambu ou de ossos e trombetas de chifre).

Um traço que marca as danças antigas é a dança agrícola, executada para favorecer o plantio e a colheita.

Além dessas duas características, a dança enfocava aspectos eróticos, bélicos, fúnebres, guerreiros e outros.

“Sabemos, por exemplo, que os soldados romanos executavam, antes de cada batalha, danças guerreiras nas quais pediam o apoio de Marte, deus da guerra, para a luta que iria começar“ (FARO, 1986).

É interessante notar que, durante vários séculos, a dança era apanágio do sexo masculino, e só muito mais tarde as mulheres começaram a participar das danças folclóricas. Até hoje, em certas regiões da União Soviética, como o Cáucaso, a Ucrânia e as Repúblicas Orientais, existem danças matrimoniais em que as mulheres só tomam parte passivamente: os homens dançam em torno delas, principalmente da noiva, sem que elas esbocem qualquer gesto. Não há dúvida de que essas danças descendem diretamente de outras, de cunho religioso, em que só os homens tomavam parte.

Durante vários séculos, essas manifestações de dança, como já citado, foram apanágio das cortes, e só aos poucos o povo foi tendo acesso às exibições, transformando-se assim em teatro popular aquilo que até então era privilégio de uma pequena minoria.

No Romantismo nascera uma arte eminentemente política no terreno da literatura, da pintura, da música, que não afetaria, entretanto, a área da dança.

Uma revolução estética e formal da dança, paralela à que se fazia no teatro, já era visível nos primeiros anos do século XX. A principal responsável por isso era uma jovem americana, nascida na cidade de São Francisco, em 1878, que fez suas primeiras aspirações públicas em Paris no ano de 1900: Isadora Duncan.

Isadora trouxe para o palco a dança livre, libertada de regras e modelos, abrindo com isso, perspectivas que beneficiariam futuramente o próprio balé (MENDES, 1987).

O conceito da dança, como arte imitativa, iria influenciar futuramente as idéias européias, o que explica o fato de a dança, como manifestação espontânea do homem, já estar, nos primórdios da civilização ocidental, substituída por uma atividade definida e cultivada.

O reconhecimento deste fato não significa, entretanto, que se deva apontar os caminhos por onde a dança continuará seu desenvolvimento. Ela saberá encontrá-los naturalmente, porque é parte da natureza do homem, tão velha quanto ele, talvez expressão primeira do seu obscuro impulso para

diferenciar-se dos outros animais. Pois dançando, o feiticeiro do Paleolítico Superior deu um grande passo dentro do processo que levaria gradativamente o homem do pensamento mágico ao pensamento lógico, desenvolvendo a capacidade de raciocínio que caracteriza sua espécie e preparando as bases para o estádio superior de reflexão. Dom que tornou o homem senhor da natureza, com todas as trágicas implicações que o fato atualmente representa.

Mas o homem continua dançando, de uma forma ou outra, e isto constitui uma esperança de vida.

Tendo se transformado em diversão das classes abastadas, a dança foi se sofisticando e adquirindo movimentos cada vez mais rotulados e específicos. A descrição das danças daquele tempo mostra-nos que elas obedecem a uma verdadeira coreografia, a qual, sem dúvida, foi se formando e se enriquecendo através dos séculos. Já quando chegamos aos séculos XVI e XVII, quando a corte Européia seguiu rígidas etiquetas, esses verdadeiros códigos de comportamento diziam até como se deveria dançar, quem poderia dançar com quem, etc. Foi nesta época que uma manifestação que nascera livre e espontânea atingiu um estágio de verdadeira “camisa-de-força”.

Através dos tempos, a dança passa a ser um fator social e de elemento de educação.

“É reconhecido hoje como arte proveitosa, elemento para o desenvolvimento físico, das boas maneiras e age como fator para as interações sociais” (FORNACIARI, 1957).

Com rápida difusão, florescem em cada país danças características e originais, executadas ao som de instrumento típico de seu povo: na Espanha o Bolero; na Itália a Tarantela, a Forlana, a Trevisana; na Polônia a Polka e a Mazurca. Ultimamente novas formas têm-se acentuado no mundo do ritmo de criação americana nos Estados Unidos da América do Norte, o swing e o fox-trot; no México o Bolero; em Cuba a Rumba e a Conga; na Argentina o Tango. No Brasil tem-se a ressaltar o muito conhecido e apreciado Samba.