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3 PROJETO CONCEITUAL

3.1 A BACIA DO RIO BACACHERI

A geologia da Bacia do Rio Bacacheri, apresentada na Figura 7, é composta por rochas do complexo gnáissico migmatítico e por depósitos sedimentares recentes

e da Formação Guabirotuba. No trecho norte da bacia, correspondente às áreas de nascentes do rio e de seu principal afluente, predomina o complexo gnáissico migmatítico, com a presença de morros e colinas e constituído por rochas mais friáveis e erodíveis, enquanto nas planícies de inundação são encontrados os sedimentos recentes, principalmente no médio e baixo curso (RIBEIRO, 2007). Esses sedimentos são compostos por areias finas a grossas, além de cascalhos, possuindo matriz entre síltico-argilosa e síltico-arenosa (SALAMUNI; SALAMUNI; EBERT,1999).

FIGURA 7 – GEOLOGIA DA BACIA DO RIO BACACHERI

FONTE: Adaptada de IPPUC (2013c) e MINEROPAR (2004).

A Formação Guabirotuba, principal unidade geológica da bacia, é composta por “depósitos argilíticos pouco consolidados, areias arcosianas, depósitos rudáceos com matriz areno-argilosa, lentes de areias quartzosas e depósitos carbonáticos restritos” (SALAMUNI, 1998, p. 43). Sua ocorrência é predominante nas áreas de média e baixa altitude do entorno do Rio Bacacheri (RIBEIRO, 2007). A argila mais comum nesta formação pertence ao grupo das esmectitas, que são expansivas, higroscópicas e, por consequência, altamente retrativas e sujeitas à erosão, sendo prejudicial às obras de Engenharia Civil (FELIPE, 2011).

Segundo Ribeiro (2007), as formações geológicas presentes na Bacia do Rio Bacacheri acarretam a constituição de solos predominantemente argilosos, com baixa capacidade de infiltração, favorecendo o escoamento superficial. Desse modo, a autora indica que a condição induz em maior erosão superficial e modelação do terreno, com o desenvolvimento de um relevo mais arredondado, com baixas declividades.

Conforme a caracterização geológica e geotécnica presente no plano de manejo do Parque General Iberê de Mattos, ocorrem “argilitos que gradam para termos mais grossos de forma interdigitada ou abrupta” (CURITIBA, 2008, p. 64) na área do parque. Além disso, inserido em região de várzea do Rio Bacacheri, o local apresenta sedimentos compostos por argila cinza orgânica e areia fina impura com teores de argila, contendo em alguns pontos elevado grau de matéria orgânica. Ademais, verificou-se por sondagens a trado a presença de migmatito em alteração, indicando que o embasamento cristalino se dá a uma profundidade média de 5 a 8 m (CURITIBA, 2008).

Quanto aos aspectos geotécnicos, o plano de manejo destaca que o parque é composto quase inteiramente por solo argilo-arenoso, de alta plasticidade, umidade e teor de matéria orgânica, apresentando ainda baixo grau de compactação (CURITIBA, 2008). Nas sondagens efetuadas, detectou-se a presença de materiais de despejo, tais como plásticos, madeira, concreto e metais. Com relação ao lençol freático, o estudo aponta que este ocorre a baixa profundidade, de 0,7 a 2,5 m, prioritariamente nas camadas mais arenosas do solo (CURITIBA, 2008).

Os parâmetros morfométricos da bacia, avaliados por Ribeiro (2007), estão apresentados na Tabela 3. O coeficiente de compacidade, de 1,51, indica que a bacia é alongada e, portanto, pouco propícia à ocorrência de enchentes. Por outro lado, a ocupação irregular do leito de inundação do rio e a falta de áreas verdes na bacia, por exemplo, contribuem para o aumento da incidência de cheias (RIBEIRO, 2007).

TABELA 3 – PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS DA BACIA DO RIO BACACHERI

Parâmetro morfométrico Bacia do Rio Bacacheri

Área (km²) 30,81

Perímetro (km) 29,73

Comprimento do canal principal (km) 12,5

Comprimento da bacia (km) 10,4

Comprimento total dos talvegues na bacia 76,3 Coeficiente de compacidade da bacia 1,51 Densidade de drenagem (km/km²) 2,48 Sinuosidade do canal principal (m/m) 1,20 Desnível topográfico da bacia (m) 128 Variação de altura do canal principal (m) 120

Relação de relevo (m/km) 12,31

Gradiente do canal principal (m/km) 9,6 FONTE: Adaptada de RIBEIRO (2007).

A autora destaca ainda que a bacia apresenta padrão subdendrítico de drenagem e densidade de drenagem (2,48 km/km²) que indica média capacidade de escoamento. Os valores de relação de relevo da bacia (12,31 m/km) e de gradiente do canal principal (9,6 m/km) sinalizam a ocorrência de declividades pouco acentuadas, com baixa energia nas encostas da bacia e no leito do Rio Bacacheri – ou seja, com menor susceptibilidade à erosão –, bem como com a possibilidade de acúmulo de sedimentos em alguns trechos do álveo (RIBEIRO, 2007).

A região de estudo apresenta temperatura média anual de 17 a 18 °C, sendo a média no inverno de 13 a 14 °C e no verão de 20 a 21 °C – caracteriza-se como um clima do tipo Cfb – clima temperado propriamente dito (NITSCHE et al., 2019). Sua precipitação média anual varia de 1400 a 1600 mm, com valores entre 400 e 500 mm no trimestre mais chuvoso e entre 200 e 300 mm no mais seco, correspondentes ao verão e ao inverno, respectivamente. Ademais, a umidade relativa média é de 80 a 85% e a evapotranspiração potencial anual de 700 a 800 mm.

A Bacia do Rio Bacacheri apresenta praticamente toda a sua área com algum tipo de modificação decorrente de ação antrópica. No levantamento sobre o uso do solo na Bacia do Alto Iguaçu, realizado pela SUDERHSA em 2002 e apresentado na Figura 8, é perceptível que as ocupações urbanas de alta e média densidade predominam na região. As escassas áreas verdes restantes se limitam principalmente à região de montante da bacia, aos parques, bosques e praças e em áreas na proximidade do aeroporto e do quartel do Bacacheri. Apesar de existir poucas indústrias na bacia, essas se localizam próximas às margens do Rio Bacacheri. Há ainda a presença de ocupações irregulares nos leitos de inundação e da bacia nas planícies aluviais, contribuindo para a poluição dos rios e erosão de suas margens (RIBEIRO, 2007).

Tal ocupação contribui para a diminuição da permeabilidade da bacia, já que há a diminuição da cobertura vegetal e o aumento das áreas construídas, em geral impermeáveis. Nesse sentido, Ribeiro (2007) aponta que o total de áreas impermeáveis na bacia cresceu de 1,1%, em 1952, para 62,9%, em 2000. Outro fator que agrava essa situação é a presença de argilas da Formação Guabirotuba, altamente impermeáveis. Além disso, a retificação realizada pela Prefeitura Municipal de Curitiba em alguns trechos do rio e de seus afluentes aumenta a velocidade das águas, intensificando as enchentes e a erosão a jusante (RIBEIRO, 2007).

FIGURA 8 – USO DO SOLO NA BACIA DO RIO BACACHERI

FONTE: Adaptada de IPPUC (2013a, 2013c) e SUDERHSA (2002).