ANEXO IV – DADOS GERAIS pág
1.6. A BIOLOGIA MOLECULAR COMO FERRAMENTA FARMACOLÓGICA
A identificação das principais alterações moleculares envolvidas no processo
neoplásico desvenda a possibilidade da elaboração de estratégias terapêuticas dirigidas
especialmente para o bloqueio desses fenômenos. As terapias alvo-direcionadas prometem
significantes avanços no tratamento do câncer através do desenvolvimento de agentes mais
específicos, menos tóxicos, menos indutores de resistência e, portanto, mais efetivos.
Uma das novas abordagens consiste na inibição da expressão e/ou da atividade das
CDKs nas células tumorais, impedindo a progressão do ciclo celular e, assim, ativando
mecanismos apoptóticos. O Flavopididol, um inibidor sintético não-específico de CDKs,
aparece como um promissor exemplo dessa classe, já figurando em estudos clínicos (Shapiro,
2004). Outra alternativa seria a restauração ou a reintrodução dos inibidores naturais das
CDKs (genes supressores tumorais) quando estes estivessem mutados. A terapia genética com
o gene p53, introduzido através de vetores virais ou lisossomos catiônicos, têm demonstrado
sucesso no bloqueio da ciclagem celular e reativação da apoptose, melhorando a resposta de
algumas neoplasias (inclusive os astrocitomas) à quimioterapia convencional (Chang et al.,
Outro potencial alvo molecular é representado pelo conjunto de receptores de
superfície celular do tipo tirosino-quinase. Múltiplos agentes, compreendendo anticorpos
monoclonais, moléculas inibitórias e imunotoxinas, têm sido desenvolvidos na tentativa de
coibir os subtipos específicos desses receptores envolvidos na transformação e progressão
neoplásicas (Mendelsohn & Baselga, 2000). O Imatinib foi a primeira droga produzida a
partir desse conceito, atuando no bloqueio do domínio tirosino-quinase das proteínas abl-bcr
na leucemia mielóide crônica (Thiesing et al., 2000).
O impacto positivo do Trastuzumab (um anticorpo monoclonal recombinante
bloqueador do receptor ErbB2) no tratamento do câncer de mama avançado abriu caminho
para a geração dos agentes específicos contra os receptores da família ErbB (Cobleigh et al.,
1999). O Gefitinib, um inibidor seletivo do EGFR já em uso no carcinoma de pulmão
metastático, vem apresentando bons resultados experimentais na sensibilização de gliomas
malignos à radio e à quimioterapia (Stea et al., 2003). Novas preparações como o Erlotinib
(inibidor do domínio intracitoplasmático do EGFR), o Cetuximab (anticorpo monoclonal
contra a porção extracelular do EGFR) e o Canertinib (inibidor irreversível pan-ErbB)
encontram-se em adiantadas fases de diversos ensaios clínicos (Hamid, 2004).
Ainda com relação às vias de sinalização nas células tumorais, surge também a
possibilidade do bloqueio das moléculas transdutoras intracelulares. A inibição da enzima
farnesil-transferase tem se mostrado promissor artifício de inativação das proteínas Ras. A
farnesilação (adição pós-traducional de resíduos de 15 a 20 carbonos no domínio C-terminal)
promove a ativação e ancoragem à membrana citoplasmática desse grupo de proteínas,
tornando-as responsivas aos estímulos por parte dos receptores de membrana (Crul et al.,
2001). Nesse sentido, drogas que suprimem a atividade catalítica das enzimas farnesil-
transferases, como o Ionafarnib e o Tipifarnib, têm mostrado eficácia no tratamento de
tumores astrocíticos não detectaram respostas objetivas à terapia com esses agentes, embora
alguns pacientes tenham demonstrado estabilização da doença (Delmas et al., 2002).
A inibição dos fatores implicados na angiogênese tumoral representa mais uma nova
tendência no tratamento do câncer. O reconhecimento de distúrbios moleculares e de
mecanismos fisiológicos ativadores dos fenômenos angiogênicos delimitou alvos terapêuticos
específicos, possibilitando a elaboração de diversas abordagens. Dentre as terapias anti-
angiogênicas atualmente em avaliação clínica, destacam-se os inibidores de proteases (ex.:
Velcade), os antagonistas dos fatores/receptores VEGF (de vascular endothelial growth
factor) (exs.: Bevacizumab, Semaxanib), os inibidores das integrinas (exs.: Talidomida,
Cilengitide), as toxinas endoteliais (ex.: Atrasentan), os inibidores das metaloproteinases
(exs.: Marimastat, Prinomastat), os supressores naturais da angiogênese (ex.: Angiostatina) e
os inibidores da ciclooxigenase-2 (ex.: Celecoxib) (Tremont-Lukats & Gilbert, 2003).
Outra vertente terapêutica aponta para o direcionamento do sistema imunológico no
sentido do reconhecimento e eliminação de células tumorais. Esta tarefa apresenta-se como
um grande desafio, visto os versáteis mecanismos de escape imunológico desenvolvido pelas
neoplasias. Todavia, a expressão diferencial de antígenos nas células cancerosas como
resultado de mutações ou alterações regulatórias nos proto-oncogenes tem possibilitado
consideráveis progressos (Mariani, 2003). As propostas imunoterápicas abrangem a
imunização passiva com anticorpos monoclonais (ex.: Rituximab), a imunização passiva com
células T ou natural killer ativadas, o uso de citocinas imunomoduladoras (ex.: IL-2), a
transfecção com os genes das citocinas (ex.: IL-12), a reversão da imunossupressão tumoral
(ex.: bloqueio do TGF-β2), bem como o uso de vacinas anti-câncer desenvolvidas a partir de peptídeos tumorais ou com células dendríticas ativadas (Liu et al., 2003).
Uma das mais recentes promessas na terapia molecular do câncer é representada pelas
ferramentas de silenciamento genético pós-transcricional. Nestas, a inibição se dá através não
mais da proteína oncogênica, mas sim do seu transcrito (RNA mensageiro, RNAm). O
princípio da técnica consiste na introdução de moléculas de RNA complementar (RNA
antisense) ou pequenos fragmentos de RNA (RNA interference) em células neoplásicas.
Estes, por sua vez, reconhecem seqüências específicas de transcritos oncogênicos, formando
RNAs dupla-fita híbridos que são em seguida degradados por ribozimas (Hannon, 2002). A
constatação do livre acesso dos RNAs antisenso e de interferência através da barreira
hematencefálica desperta ainda mais o interesse nessa estratégia como uma potencial
abordagem contra tumores do SNC (Fan & Weiss, 2005).
Dessa forma, a conjunção entre o conhecimento dos distúrbios moleculares ativadores
do processo tumorigênico, a detecção dos mecanismos de quimiorresistência, o uso racional
da quimioterapia clássica e a aplicação das novas estratégias alvo-direcionadas sugere um
novo tempo na prática oncológica, onde a abordagem individualizada e molecularmente
2. OBJETIVOS
GERAL
Investigar a expressão de genes envolvidos no processo tumorigênico e nos
mecanismos de resistência dos tumores astrocíticos.
ESPECÍFICOS
Descrever alguns indicadores clínico-epidemiológicos (incidência anual, distribuição por idade e sexo dos pacientes, localização tumoral) referentes aos astrocitomas
diagnosticados no município de Fortaleza;
Avaliar a influência dos achados histopatológicos na determinação do diagnóstico dos tumores astrocíticos, especialmente aqueles que consistem em critérios de graduação;
Identificar alterações moleculares implicadas na tumorigênese dos astrocitomas;
Examinar a expressão de enzimas relacionadas a mecanismos de quimiorresistência em tumores astrocíticos;
Correlacionar as alterações moleculares observadas à graduação histológica e aos achados histopatológicos relativos aos tumores astrocíticos;
Estabelecer as possíveis vias tumorigênicas dos astrocitomas através da análise combinada das alterações moleculares detectadas;
Identificar potenciais alvos terapêuticos baseados na expressão diferencial de moléculas nos tumores astrocíticos;
Determinar o melhor indicador de proliferação celular para os tumores astrocíticos dentre os marcadores estudados.