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2.3 O BOI-BUMBÁ E FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS

2.3.3 A Brincadeira de Rua Ganha Arena, Mídia e Cresce.

A princípio, o local de apresentação dois bois era improvisado. Devido ao fato de a organização do, até então, pequeno evento estar a encargo da Juventude Alegre Católica (JAC), os espetáculos ocorriam na quadra da catedral do município. A JAC ficou responsável pelo Festival até o ano de 1982, momento em que o poder público municipal começa a atuar mais incisivamente e não como um mero parceiro.

A prefeitura de Parintins toma para si a responsabilidade de organizar o Festival e, um pouco depois, o poder público estadual e o federal assumem a organização. Neste período, uma maior infraestrutura é dada ao evento e, também à cidade, que passa a receber mais visitantes. Assim, o problema referente ao local de apresentação dos bois-bumbá é solucionado com a criação do Centro Cultural e Desportivo Amazonino Mendes, em 1988. Apesar de o local levar o nome do governador da época, a população escolheu outro nome para o palco do evento: bumbódromo.

A criação do bumbódromo, simbolicamente, representa o encurralamento do boi dentro de uma arena, a intensificação da mercantilização da cultura popular e a perda do controle dos bois por parte da população. Daí em diante, o comando de Garantido e Caprichoso passa das mãos das famílias “donas dos bois” para um grupo de associados (Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido e Associação Folclórica Boi-Bumbá Caprichoso) que elege seu presidente a cada quatro anos, os bois se tornam personalidades jurídicas (NOGUEIRA, 2008).

Fotografia 3 – Bumbódromo Autor: Frank Cunha Data: Julho de 2012

Fonte: Portal G1 (disponível em <http://www.g1.globo.com/am/amazonas/fotos/2012/07/veja-fotos-de-parintins- durante-o-47-festival-folclorico-no-am.html > acesso em: 15/04/2014).

Fotografia 4 – Bumbódromo em noite de apresentação. Autor: Alex Pazuello

Data: julho de 2012

Fonte: Portal G1 (disponível em <http://www.g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/07/bumbodromo-de- parintins-entrara-em-reforma-e-tera-capacidade-ampliada.html> acesso em: 15.04.2014)

A mídia descobriu o Festival de Parintins na década de 1980, a princípio nos jornais locais e regionais e, um pouco depois, a mídia nacional tomou nota da existência do evento. “Os repórteres da Rede Globo haviam descoberto, no meio da floresta amazônica, uma festa popular tão rica quanto o carnaval carioca, mais precisamente o carnaval de desfile público” (NOGUEIRA, 2008, p. 113).

Apesar do interesse da Rede Globo, a pioneira na transmissão do evento foi a Rede Calderado de Comunicação (RCC), que era filiada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), que transmitia o Festival somente para a cidade de Parintins. Após este início, as transmissões poderiam ser acompanhadas no mundo todo, por meio dos satélites do Amazonsat e a Rede Amazônica de Televisão passou a dedicar-se a divulgar e cobrir o Festival.

Após o período em que a Rede Globo deteve os direitos de transmissão, a Rede Bandeirantes de Televisão passou a transmitir o Festival. No último Festival Folclórico houve divisão sobre qual rede de televisão transmitiria o evento; a decisão não foi tomada em conjunto, mas as agremiações de Garantido e Caprichoso negociaram separadamente os direitos de imagem. Devido ao impasse, a apresentação do boi-bumbá Garantido foi transmitida pela Rede Calderado de Comunicação (RCC) filiada do SBT, enquanto que a apresentação do Carprichoso foi feita pelo Amazonsat.

Neste contexto em que a mídia passou a compreender o Festival como manifestação folclórica de relevância para ser mostrado em locais fora do Amazonas,

A presença da televisão na cobertura da festa dos bumbás de Parintins mobilizou, nos últimos 15 anos, repórteres do País e do exterior. No ano de 2001, a Agência de Comunicação do Governo do Estado (Agecom), responsável pelo credenciamento dos jornalistas, atestou que mais de cem veículos credenciaram profissionais para cobrir o evento. Mídias do Brasil, dos Estados Unidos, Alemanha, França e Japão, representando vários segmentos, interessaram-se pelo festival – ou consideraram a apresentação dos dois bois-bumbás como acontecimento relevante para seus públicos. Os bumbás, graça ao poder de sedução da televisão, também atraíram gente do mundo fashion que exerce influência sobre as camadas populares ditando tendências de consumo: artistas de TV, empresários, executivos e profissionais liberais bem-sucedidos. Artistas do porte do carnavalesco, João Clemente Jorge Trinta, Joãosinho Trinta, o mago do carnaval carioca, e do

designer Hans Donner, o artífice dos efeitos especiais da Rede Globo,

tornaram-se personagens de marketing testemunhal, porque não escondem o fascínio pela criatividade dos artistas que residem no meio da floresta amazônica (NOGUEIRA, 2008, p. 115-116).

O crescimento do Festival deve-se a vários fatores, mas destacam-se três. Dois já foram tratados, dos quais o primeiro é a intervenção do governo do Estado na parte de organização e investimento em infraestrutura (o maior exemplo disso é o “bumbódromo”). O outro foi a

mídia televisiva que acreditou no potencial comercial do Festival e passou a transmitir o evento para os mais diversos públicos.

O papel da mídia é de extrema importância para o crescimento do evento, pois o mesmo passou de uma simples brincadeira, totalmente desconhecida do resto do país para um megaevento televisionado que atrai investidores/patrocinadores e, talvez a maior consequência da divulgação, os turistas. Dentro do ciclo de vida dos destinos turísticos, Parintins encontrava-se na fase inicial, onde algumas pessoas de Manaus tomavam conhecimento sobre o evento e iam até o município para conhecer e participar da festa.

Após este período inicial, com a entrada da mídia, muitas outras pessoas puderam ter acesso à informação de que no seio da floresta amazônica havia uma manifestação folclórica de rara beleza e valor artístico-cultural; conformando, assim, um novo destino turístico, em princípio, com finalidade cultural. A partir do momento em que Parintins fica em evidência, a cidade sofre um grande boom turístico, que impulsiona mais investimentos em infraestrutura para melhor acomodação dos visitantes, o maior investimento dos patrocinadores (grande parte da Coca Cola) e maior investimento do governo estadual.

O terceiro fator de destaque em relação ao crescimento da festa é o trabalho dos artistas parintinenses. Ao longo dos anos, a parte artística foi a que mais evoluiu no Festival seja em relação aos artistas plásticos, aos cantores, compositores ou dançarinos. Como veremos mais tarde, a festa modernizou-se artisticamente, profissionalizou-se e incorporou elementos que agradam a diversos públicos.

O Festival traz novidades para a arena ano após ano e uma das cruciais mudanças, que indicaram uma evolução da brincadeira de rua para grande espetáculo turístico, foi a inserção de grandes alegorias. Esta mudança começou ainda nos 70, com Jair Mendes, que é o maior mestre artístico de Parintins. Jair Mendes, parintinense, morou alguns anos no Rio de Janeiro e lá foi bastante influenciado pelo carnaval carioca e suas alegorias. Voltando para Parintins, Jair percebeu que não havia carnaval no município, mas havia o boi.

Assim, Jair Mendes aos poucos começou a introduzir elementos carnavalescos no boi- bumbá de Parintins, “a questão significativa para que as mudanças introduzidas [...] fossem absorvidas foi o sentido da novidade e a aprovação do público” (SILVA, 2007, p. 88). Os novos itens começaram a serem construídos de forma tímida, as primeiras alegorias eram pequenas, mas já causavam impacto e surpresa na população, que acabou por gostar da novidade.

A técnica artística na construção de alegorias para o boi se aperfeiçoou de tal maneira, que os artistas de Parintins, dentre os quais se encontra o mestre Jair Mendes, frequentemente viajam para o Rio de Janeiro para emprestar seu talento às escolas de samba cariocas. O destino é imprevisível, pois, outrora o carnaval carioca influenciou a transformação no jeito de se festejar o boi em Parintins. Hoje, o boi-bumbá de Parintins influencia o carnaval carioca, fato que poucas pessoas sabem. Parintins é um celeiro de artistas e são estes que

produzem, de fato, o festival. Muitos artistas de Parintins se orgulham pelo fato de nunca terem passado por escolas de artes, pois usualmente o saber artístico é passado de pai pra filho, pela observação e experiência. Atualmente, há escolas de artes para as crianças em Parintins, fator que impulsiona mais ainda a veia artística da cidade, pois estas crianças, futuramente, levarão a frente o boi-bumbá.

Devido às poucas oportunidades de emprego, ser artista é algo além do fator emocional, envolve a questão econômica. Isto motiva os artistas a trabalharem para o crescimento e notoriedade do espetáculo, pois eles sabem que o seu trabalho estará posto em evidência perante o mundo todo.

Desta forma, é clara a ligação entre o crescimento do Festival e o desempenho de seus artistas, surgindo uma pergunta importante feita por Nogueira (2008, p. 119): “se o modelo de boi-bumbá parintinense é capaz de influenciar aquela festa popular que o influenciou, qual impacto não terá causado sobre as que lhe estão mais próximas?”. Tal questionamento demonstra a posição de referência que o Festival alcançou dentro e fora do Amazonas, levando-nos a considerar não somente o seu crescimento enquanto manifestação artística-cultural, mas seus impactos socioambientais.

Portanto, basicamente são estes os fatores que auxiliaram no crescimento do Festival Folclórico de Parintins: a intervenção do governo do estado na organização do evento, a cobertura da mídia e o talento/trabalho dos artistas. A figura 1 resume esta relação:

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Figura 1 – Fatores de Crescimento do Festival Folclórico de Parintins. Fonte própria.

Intervenção do Governo do