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Sentimento de Frustração Por Parte da Comunidade

CAPÍTULO 3 IMPACTOS SOCIAIS DO FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS

3.2 TRABALHO E ECONOMIA

Em se tratando da área urbana, as ofertas de trabalho derivam dos cargos comissionados no serviço público, comércio e pequenas empresas, serviços (restaurantes, hotéis e pousadas, turismo em geral). Contudo, não há muitas vagas disponíveis, sendo o desemprego um problema social forte em Parintins.

Com a movimentação em torno do Festival, pelo menos por três meses há absorção de mão de obra em Parintins para se trabalhar nos bois. Com o passar dos dias e a aproximação do evento, muitas pessoas se preparam para trabalharem com vendas de alimentos, artesanato e outros objetos relacionados aos bois.

O Festival Folclórico de Parintins, além de ser esperado pelo seu elemento festivo, tornou-se um momento muito esperado por várias famílias parintinenses, que veem no Festival uma chance de incrementar a sua renda. O que mais impressiona é o fato do evento durar 3 dias, mas a renda gerada é tão grande a ponto de repercutir no orçamento do ano inteiro para muitos parintinenses.

O Festival é o momento de maior circulação de dinheiro na cidade e é a galinha dos ovos de ouro para a economia parintinense. Os atores comprovam a importância econômica do evento, vejamos o que afirmam os entrevistados VP8, C12, FG15 e AA25, respectivamente:

[...] Em questão de município é algo bom para Parintins, em questão de renda, é uma renda que entra, muitos moradores se preparam para esta época. É bom, pois proporciona trabalho para o pessoal. É uma renda extra, venda de churrasco, passeio de barco, triciclo, é quando o povo se “faz” financeiramente.

[...] É ainda a única fonte de recursos para nós, mesmo que uma vez ao ano. A mudança positiva é que ele traz recurso para muitas famílias que esperam isso o ano todo.

[...]a cidade passou a existir por causa do boi. A vida econômica de algumas pessoas melhorou consideravelmente, há um interesse das pessoas para buscarem formação para podem conseguir algum lucro com o boi, são aqueles programas de emprego e renda, de desenvolvimento de tecnologias populares, então sentimos que ouve um despertar das pessoas para buscar um oportunidade durante este período, durante estes três dias.

[...] O Festival traz benefícios para a cidade, benefícios para as pessoas, elas conseguem ganhar algum dinheiro extra, ainda mais aqui no nosso município onde nós não temos fábrica. Antigamente as pessoas tinham poucos recursos, agora com esse festival elas conseguem mostrar seu trabalho, suas atividades. Há também as pessoas que alugam suas casas, é mais um recurso para melhorar o ambiente que elas moram.

Na percepção de alguns atores locais, se não fosse o Festival, Parintins entraria em estado de estagnação econômica, por isso o evento é comparado à Zona de Franca de Manaus para os parintinenses. Entretanto, faltam estudos específicos para mensuração do impacto econômico do Festival sobre Parintins, como aponta o entrevistado RB35:

[...] Em termos econômicos é um festival que tem dado algum retorno, mas ainda é pouco pra quantificar isso. A vantagem social é aglutinar um aporte financeiro pra cidade, o dinheiro circula mais no perímetro da sede, isso é inegável. Há um aspecto transitório, referente aos benefícios, os benefícios econômicos são passageiros. Dizer que o Festival beneficia economicamente a população é correto entre aspas, até certo ponto, precisa de mais pesquisas nesse ponto.

A possibilidade de complementar a renda familiar faz com que várias pessoas montem algum tipo de venda, durante o Festival. Há os vendedores de alimentos, vendedores de bebidas, vendedores de artesanato etc. No entanto, por não haver um controle específico para estabelecer quem pode vender e o que pode vender, um certo conflito social emerge quando pessoas de Manaus vão à Parintins concorrer com os parintinenses.

Além dos vendedores, como foi dito anteriormente, há aqueles que trabalham nos bois durante o período do Festival. Geralmente, o trabalho consiste na construção e montagem das partes das alegorias, dentro dos galpões dos bois. A participação destes trabalhadores já foi alvo do Ministério do Trabalho por conta de algumas irregularidades no que tange à segurança dos equipamentos de trabalho e más condições ambientais e de saúde, que os locais apresentam.

Após algumas multas, as agremiações passaram a enquadrar-se nas leis trabalhistas, buscando melhores condições de trabalho para os seus trabalhadores, mas mesmo assim, segundo alguns entrevistados, está ainda não é uma questão resolvida. Vejamos o que diz os entrevistados FG10, AD11 e GG21, respectivamente:

[...] Quanto ao trabalho, o Ministério (do Trabalho) está dando em cima, antes não tinha controle, mas hoje todo mundo trabalha com equipamentos de segurança, isso é o avanço.

[...] Se a gente for pensar em trabalho dentro dos galpões, vamos encontrar problemas sociais. A questão dos equipamentos de proteção individual, bem os bois tem começado a se organizar a respeito disso, tem começado a usar os equipamentos, mas o trabalho dentro do galpão é quase sem nenhuma qualidade ambiental para o trabalhador. É um galpão que não tem ventilação, eles trabalham com material altamente tóxico e ficam fechados naqueles galpões, sem nenhuma proteção adequada para isso.

[...] Em termos de crescimento social, não acredito, não consigo apontar algum tipo de compromisso social que a festa tenha produzido, a não ser, que agora há uma política dentro dos bois fruto de um exigência do Ministério do Trabalho para que os bois tenham o mínimo de respeito com seus trabalhadores, com carga horária, material de proteção etc.

Enquanto FG10 considera a questão da segurança dos trabalhadores, no que tange aos equipamentos utilizados, considerando a questão encerrada, AD11 vai além da questão dos equipamentos ao citar a qualidade ambiental do local de trabalho, apontando isto como um problema social a ser resolvido pelas agremiações. Por fim, GG21 fala em compromisso social do Festival, algo que ele não percebeu ainda na prática por parte das agremiações.

Além das questões levantadas até aqui, quais as mudanças que a sociedade parintinense mais percebem? Vejamos no próximo tópico.