• Nenhum resultado encontrado

3. JUVENTUDE, EXPERIÊNCIAS E OS PROJETOS DE SI

3.2 EXPERIÊNCIAS FORMADORAS E A BUSCA DE SI AO LONGO DA

3.1.2 A busca de si no processo de formação e da vida

No caminho da vida, através das nossas experiências, aprendemos e unimos ao nosso ser, de modo (in)consciente, imagens e aspectos que nos compõem. Desde nossa chegada ao mundo iniciamos uma viagem repleta de situações que nos afastam e nos aproximam de nós mesmos. A vida é uma constante caminhada cheia de passagens e portas que levam para todos os lados e nesse processo frequentemente olvidamos a nós mesmos.

Em muitos casos, não há tempo de se entrar em contato com nossa verdadeira essência e não poucas vezes duvida-se da existência desse si mesmo que é inerente a todos. Somos a fonte, mas algumas vezes não a

48 encontramos. Todavia existe um lugar em cada um de nós onde reside o sentido real da nossa própria existência. Narrar nossa vida é ir ao encontro dessa fonte, é entrar em contato com as nossas experiências e nos tornarmos sujeito de nós mesmos.

Para esta reflexão me baseio no Cheminer vers soi (JOSSO, 1991) traduzido para o português – Caminhar para si – no qual Josso estuda em si mesma e revisita experiências formadoras que, pela força de significação, foram fundadoras e desencadearam os rumos de sua vida. Partindo de uma visão retrospectiva e prospectiva, extraiu de seu percurso vivências que se transformaram em experiências e contribuíram para sua (trans)formação.

A autora esclarece que a apresentação de sua narrativa foi um desafio a que se propôs, pois a reflexão sobre seu percurso de vida, de formação e do lugar de conhecimento estruturam a síntese de sua atividade de pesquisadora, os processos de formação, conhecimento e aprendizagem. Sustenta que, com a elaboração de sua narrativa, foi possível demonstrar a integração da subjetividade do pesquisador no trabalho de pesquisa, justificando que “essa integração permite evidenciar os pressupostos de qualquer pesquisa, seus contextos de significação e enseja ao leitor discutir os saberes produzidos” (JOSSO,2010, p.153).

Essa busca de si é abordada por Josso (1991) através da metáfora do “caminhar para si” como meio de ter o controle da própria vida, de tornar-se sujeito de si, adotando uma postura ativa frente as suas experiências e a sua vida.

A metáfora sugere a atividade de um sujeito que inicia uma viagem e no decorrer do caminho, a partir dos encontros e acontecimentos, ele localiza- se no espaço-tempo do aqui e agora e procura compreender o que o orientou durante essa caminhada, fazer o registro das suas bagagens e recordar os seus sonhos e desilusões, procurando voltar para si a partir dos caminhos percorrido. Nas palavras de Josso (2010, p. 84), “ir ao encontro de si visa à descoberta e à compreensão de que viagem e viajante são apenas um”. A partir desse encontro de si, o sujeito reflete sobre suas vivências e consequentemente transforma-se em alguém capaz de coordenar a sua própria vida. A tomada de consciência das experiências formadoras revela aspectos do sujeito que emergem como um referencial experiencial e pode ser considerado

49 como pressuposto constitutivo da maneira de ser do sujeito ao alicerçar suas ideias e pensamentos e exteriorizar aspectos que manifesta em suas relações e no contexto em que se encontra.

Assim, cada pessoa precisa viver como autor de sua formação, ou seja,

[...] de adquirir a consciência necessária não apenas quanto à reivindicação de ser sujeito, mas também à sua realização, por mais difícil e frágil que ela possa ser. O projeto de conhecimento toma então toda sua amplitude, não apenas porque ele define um interesse de conhecimento e uma perspectiva de formação, mas também porque contribui para a constituição de um sujeito que trabalha a consciência de si e seu contexto, tanto quanto a qualidade de sua presença no mundo. (JOSSO, 1991, p.21)

Nesse processo de constituição do sujeito emerge o “caminhar para si”, pois todo esse percurso de reflexão e ressignificação das experiências formadoras trata-se de voltar para o entendimento de si e da vida. Nessa perspectiva, entender trata-se de encontrar o seu lugar no mundo e isso só é possível à medida que nos voltamos para tudo que vivemos ao longo da vida. Conforme Josso (2004),

O processo de caminhar para si apresenta-se, assim, como um projeto a ser construído no decorrer de uma vida, cuja atualização consciente passa, em primeiro lugar, pelo projeto de conhecimento daquilo que somos, pensamos, fazemos, valorizamos e desejamos na nossa relação conosco, com os outros e com o ambiente humano e natural. (JOSSO, 2004, p. 59)

O que está em jogo nesse conhecimento de si mesmo, não é apenas a compreensão de como nos formamos por meio de um conjunto de experiências acumuladas ao longo da vida, mas sim tomar consciência de que este reconhecimento de si mesmo como sujeito, permite a pessoa encarar a sua trajetória de vida, os seus investimentos e objetivos, articulando de uma forma mais consciente as suas experiências formadoras, os seus grupos de convívio, as suas valorizações, os seus desejos e todo o seu imaginário individual e social.

Assim, penso que é necessário o entendimento de que não somos seres isolados, somos partículas únicas de um todo que nos explica, nos faz ser quem somos. Assim, o mundo nos transforma e, ao mesmo tempo, é

50 transformado por nós. É um ciclo. Nesse sentido, as trajetórias experienciadas por cada um, delineiam-se em referência aos modelos e às representações do indivíduo, contendo as expectativas, as experiências, as referências compartilhadas da coletividade, e evoluem em função do contexto histórico e social e das transformações econômicas e tecnológicas.

O desafio que se perfila no horizonte de um projeto de conhecimento reside, neste ponto da reflexão, na capacidade de cada um viver como sujeito de sua formação, em outras palavras, de fazer tomadas de consciência não somente para a reivindicação de ser sujeito, mas para sua realização, por mais difícil e frágil que possa ser. (JOSSO, 2010, p. 27)

Nesta perspectiva da conscientização de si, pode-se dizer que, a atividade biográfica não é uma atividade episódica e circunstancial, limitada apenas a narrativa verbalizada, mas um das formas privilegiadas de atividade reflexiva do ser humano para representar e compreender a si mesmo como ser historicamente situado socialmente. Isto é, a dimensão da experiência e da aprendizagem de si não é dissociável da experiência e da aprendizagem dos mundos sociais que eles atravessam.

Voltando para a perspectiva da pesquisa, frente a essas afirmações, surgem as perguntas: Por que pesquisamos? O que buscamos? Na minha pouca experiência de vida, penso que no cerne da nossa existência buscamos “nos juntar”, unir os pedaços de nós que a vida, muitas vezes, se encarrega de fragmentar. Entretanto, a vida, com seus modelos sociais, religiosos, culturais, encarrega-se de nos compartimentar, nos transformar em muitos, ao ponto de nos distanciarmos e até mesmo de nos perdermos de nós mesmos.

Buscando pensar sobre essa questão, por meio das narrativas, o sujeito pode encontrar o meio de “reunir” sua experiência de um espaço social fracionado e dar a essa experiência a continuidade que esse espaço não lhe oferece. (DELORY-MOMBERGER, 2012)

Partindo do que foi exposto acerca do processo de caminhar para si, acredito que uma forma de fazer esse percurso, ou seja, de entender as próprias decisões e torna-se sujeito de si, seja vislumbrar ao longo da vida a imagem de um projeto futuro que transcende a ideia de uma concretização profissional e busca o entendimento, construção e o encontro de si mesmo no

51 mundo. Assim, trago como decorrência da pesquisa os caminhos percorridos, bem como as influências e relações criadas ao longo construção do “projeto de si” dos quatros jovens entrevistados. Para isso, apresento a seguir os caminhos teórico-metodológicos que nortearam a realização da pesquisa.

52

Documentos relacionados