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3. JUVENTUDE, EXPERIÊNCIAS E OS PROJETOS DE SI

3.1 JUVENTUDE

3.1.2 Dilemas do termo juventude

Tem sido bastante frequente a utilização dos termos adolescência e juventude nas pesquisas que se referem a essa fase da vida. León (2005) chama atenção para um evidente desenvolvimento dos estudos em torno da conceituação das noções de adolescência e juventude, nas duas últimas décadas, na América Latina, tanto na perspectiva das ações das políticas públicas, quanto do ponto de vista analítico das concepções.

Os conceitos de adolescência e juventude correspondem a uma construção social, histórica, cultural e relacional, que através de diferentes épocas e processos históricos e sociais vieram adquirindo denotações e delimitações diferentes. (LEÓN, 2005, p.10)

39 Nesse sentido, Abramo (2005, p.20) destaca que, sobre o tema das políticas de juventude, a literatura latino-americana tem consolidada uma classificação de diferentes concepções sobre a juventude. Essas concepções coexistem e, por vezes, competem entre si nos diferentes campos que compõem a arena múltipla de ações dirigidas à juventude no atual momento.

Segundo Pais (1993, p. 37) em seu estudo sobre as culturas juvenis, “a juventude deve ser olhada não apenas na sua aparente unidade, mas, também na sua diversidade”. O autor reconhece a inexistência de um conceito único de juventude que envolva os “diferentes campos semânticos que lhe aparecem associados” (PAIS, 1993, p. 37), o que gera diferentes modos de olhar a juventude e, portanto, diferentes teorias.

Ao agrupar essas teorias, Pais (1993) divide-as em duas vertentes: a corrente geracional e a corrente classista. Na primeira, a juventude é entendida no sentido de fase de vida na qual “a reprodução se restringe à análise da conservação ou sedimentação (ou não) das formas e conteúdos das relações sociais entre gerações” (1993, p. 44). Na segunda, “a reprodução social é fundamentalmente vista em termos de reprodução das classes sociais” (1993, p. 44).

Dayrell (2002) aponta ainda que a juventude deve estar no plural, “juventudes”, uma vez que ela pode variar de acordo com aspectos como classe social, lugar onde vivem, gerações as quais pertencem e a diversidade cultural. Isto é, estas noções vão muito além das classificações ou categorizações de cunho biológico ou da idade, e tomam outros pontos de análise para buscar diferentes dimensões desta ampla categoria.

A psicologia, tradicionalmente, trabalha com o conceito de adolescência que se difere da ideia de juventude, pois este último é mais amplo e possui um maior atravessamento de temas sociais, culturais, políticos, econômicos, territoriais, dentre outros. Assim, a adolescência se refere ao encontro de situações sociais com a transformação da energia psíquica que demanda do sujeito posicionamento frente aos diferentes conflitos. (MOREIRA; ROSÁRIO; SANTOS, 2011, p. 457)

De acordo com a recente Lei nº 12.852 de 05/08/2013 (Estatuto da Juventude) o jovem é definido como a pessoa entre 15 e 29 anos de idade. Com isso, acaba por atingir parcela do segmento alvo de outra lei, o Estatuto

40 da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8069/1990), qual seja, o adolescente na faixa dos 15 aos 18, instituindo assim, uma relação dialógica entre as duas legislações.

Entretanto, a nova lei da juventude é clara neste sentido, estabelecendo em seu art. 1º, § 2º: “Aos adolescentes com idade entre 15 e 18 anos aplica-se a Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral do adolescente.”

Deste modo, isso impõe a conclusão de que atuação na política de atendimento da criança e do adolescente, sempre norteados pelas diretrizes do ECA, deverão agora também atentarem-se para o Estatuto da Juventude, pautando suas estratégias em convergência a esse novo contexto normativo, tão bem atualizado aos novos tempos, aos novos direitos e à linguagem do adolescente-jovem.

Pesquisadores como León (2005), Groppo (2000) e Abramo (2005), anunciam a ideia de juventude pode estar vinculada a um processo temporal que revela movimentos humanos em direção a um ideal de realização, no caso a maturidade intelectual.

Entretanto, Groppo (2000, p.8) observa que “a juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos a ela atribuídos”. O autor observa ainda que, na sociologia da juventude, as definições do seu objeto se dividem em dois critérios que não se conciliam. São eles, o etário e o sóciocultural.

O critério etário é enfatizado quanto à sua relatividade, pois “o jovem e seu comportamento mudam de acordo com a classe social, o grupo étnico, a nacionalidade, o gênero, o contexto histórico, nacional, regional, etc.” (GROPPO, 2000 p. 10).

Além disso, o autor explica a sua opção pelo uso da “categoria social juventude” e considera que esta tem significativa importância para o entendimento de diversas categorias das sociedades modernas, seu funcionamento e suas transformações. O autor complementa, afirmando que “acompanhar os significados e vivências sociais da juventude é um recurso iluminador para o entendimento das metamorfoses da modernidade em

41 diversos aspectos”, como o cultural, de lazer, de mercado, das relações cotidianas, da política, entre outros.

Deste modo, torna-se necessário definir que este trabalho adota a visão de juventude baseado em autores como Groppo (2000) Freitas (2005), Abramo (1994) e Léon (2005) que entendem a juventude de uma forma ampla, que pode considerá-la como um período etário pré-estabelecido, porém transcende essa ideia, compreendendo a juventude em sua amplitude como um período no qual possui relação com a construção da identidade e que ocorre um reconhecimento de si mesmo num coletivo maior, isto é, nos diferentes contextos que determinam uma situação comum de vida e convivência.

3.2 EXPERIÊNCIAS FORMADORAS E A BUSCA DE SI AO LONGO

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