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3. A CÂMARA DOS DEPUTADOS BRASILEIRA

3.1. A Câmara dos Deputados tem gênero definido

A Câmara dos Deputados tem sido reconhecida como o principal e mais emblemático exemplo de déficit de participação política feminina no Brasil.120 As razões para a baixa representação política das mulheres são de diferentes ordens e estão relacionadas a fatores socioeconômicos, culturais e ao próprio sistema eleitoral e partidário, como mencionado anteriormente.

Ressalta-se que, se hoje a Câmara dos Deputados é marcada pela pequena participação feminina, sua história, na verdade, é predominada pela ausência das mulheres nesse espaço político. A seção inaugural da Câmara, instalada para a Constituinte de 1823, era formada integralmente por homens.121 A Constituição que dela resultou, consequentemente, não fez qualquer menção ao direito de voto feminino.

O governo teve sua forma alterada para a República e, ainda assim, as mulheres não possuíam qualquer representatividade política. Apenas em 1934 foi eleita a primeira Deputada Federal do Brasil, Carlota Pereira de Queiroz, médica paulista. Como se pode perceber, desse modo, durante mais da metade de sua história, a Câmara dos Deputados foi constituída integralmente por homens.

Entretanto, mesmo após a entrada das mulheres nesse cenário político, sua participação e influência eram, de certo modo, pouco significativas. Destaca-se o fato de que o local onde se encontra instalado o Congresso Nacional foi projetado apenas com banheiros masculinos no Plenário, conforme relatou Eunice Michiles, a primeira mulher desde a Princesa Isabel a ocupar uma vaga no Senado Federal.122O passar dos anos não alterou

120 ARAÚJO, Clara; BORGES, Doriam. O “gênero”, os “elegíveis” e os “não-elegíveis”: uma análise das

candidaturas para a Câmara Federal em 2010. In: ALVES, José Eustáquio Diniz; PINTO, Céli Regina Jardim; JORDÃO, Fátima (org.). Mulheres nas eleições de 2010. São Paulo: ABCP/Secretaria de Políticas para Mulheres, 2012. p. 338.

121 Disponível em: <http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-sp-o-voto-feminino-pdf>. Acesso em: 10 de

maio de 2015.

122 Disponível em: <http://www.cenariomt.com.br/noticia/320584/nao-tinha-nem-banheiro-feminino-diz-

significativamente o cenário político do Poder Legislativo brasileiro. Em 1987, por exemplo, 95% da Assembleia Constituinte era formada por homens.

Mesmo após a promulgação da Constituição de 1988, que assegurou expressamente a igualdade entre os sexos, a participação das mulheres na política parlamentar não percebeu avanço significativo. Em 1990, 29 mulheres ocuparam assentos na Câmara (5,6% do total). Nas eleições de 1994, o número aumentou minimamente: foram 33 eleitas, perfazendo 6,3% de Deputadas Federais. Em 1998, a porcentagem diminuiu e novamente foram eleitas apenas 29 mulheres.123As eleições de 2002 e de 2006, por sua vez, elegeram 42 mulheres cada para a Câmara dos Deputados, totalizando 8,1% de participação feminina.124

Como se pode perceber, a tendência que se observa é a da lenta progressão da participação das mulheres na Câmara dos Deputados, o que faz com que o Brasil seja ultrapassado por outros países, em termos objetivos, no tocante à igualdade de gênero. Em março de 2003, por exemplo, o Brasil ocupava o 90º lugar no ranking mundial de igualdade de gênero na Câmara.125 Em março de 2011, havia passado para a 104ª posição126. Já em maio de 2015, a posição do Brasil era a de número 115.127

Podemos inferir, por um lado, que, apesar de a desigualdade de gênero ser uma realidade em todo o mundo, alguns países têm empreendido esforços eficazes no sentido de aumentar a representatividade política das mulheres. Por outro lado, a constatação de que o Brasil permanece em queda no ranking demonstra a ineficácia dos meios atualmente utilizados no país para o combate à desigualdade de gênero na política.

A Bancada Feminina128 da Câmara dos Deputados, apesar de reduzida em termos numéricos, tem sido um local de discussão próprio das Deputadas, onde se reúnem

123 MASCHIO, Jane Justina. Eficácia/ineficácia do sistema de cotas para mulheres. Resenha Eleitoral Nova

Série, v. 10, n. 1, jan/jun, 2003. Disponível em: <http://www.tre-sc.jus.br/site/resenha-eleitoral/edicoes- impressas/integra/2012/06/eficaciaineficacia-do-sistema-de-cotas-para-as-

mulheres/indexa710.html?no_cache=1&cHash=fc178ef27a5e1110c3e55d48cb9f3881>. Acesso em 10 de maio de 2015.

124 Informação disponível em :

<http://www.cfemea.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1746:eleicoes-2002-cresce-o- numero-de-deputadas-federais-e-senadoras-eleitas&catid=213:noticias-e-eventos&Itemid=148>. Acesso em: 10 de maio de 2015.

125 Disponível em: <http://ipu.org/wmn-e/arc/classif280303.htm>. Acesso em: 20 de maio de 2015. 126 Disponível em: <http://ipu.org/wmn-e/arc/classif310311.htm>. Acesso em: 20 de maio de 2015. 127 Disponível em: <http://ipu.org/wmn-e/classif.htm>. Acesso em: 20 de maio de 2015.

128 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/a-camara/conheca/camara-destaca/mulheres-no-

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independentemente de posicionamento político para tratar de temas relacionados às mulheres. Entretanto, os movimentos de mulheres têm constatado que são necessárias estratégias para a promoção de mudanças culturais,129 uma vez que apenas a presença de mulheres em posições de poder não tem sido eficaz per si para reduzir as consequências políticas da ideologia patriarcal, que resulta na baixa representatividade feminina.

3.2. Dados sobre a composição da Câmara na 54ª Legislatura (2011-2015)

A 54ª Legislatura, finalizada em 31 de janeiro de 2015, teve seu início no dia 1º de fevereiro de 2011, após a posse dos eleitos no pleito realizado em 2010. Nas eleições desse ano, foram eleitas 45 mulheres para ocupar cargos de Deputadas Federais (do total de 513 assentos disponíveis), totalizando o percentual de 8,7% da Câmara dos Deputados.

Destaca-se que a região que mais elegeu Deputadas foi a Sudeste (17 Deputadas, totalizando 38% das Deputadas eleitas). O Estado de São Paulo contou com sete representantes eleitas, totalizando 15,6% dos assentos ocupados por mulheres na Câmara.130 Em contrapartida, a região Centro-Oeste foi a que menos contribuiu para a eleição de mulheres para a Câmara dos Deputados, tendo sido eleitas apenas quatro representantes. Os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Roraima e Sergipe não elegeram Deputadas Federais para a 54ª Legislatura.

3.3. Deputadas federais titulares na 54ª Legislatura: metodologia da pesquisa

De modo a integrar o presente estudo, foi elaborada pesquisa acerca da atuação das Deputadas Federais da 54ª Legislatura da Câmara dos Deputados. A metodologia da pesquisa

129 CASTRO, Mary Garcia. Gênero e poder. Leituras transculturais – quando o sertão é mar, mas o olhar

estranha, encalha em recifes. Caderno Pagu. nº 16. Campinas, 2001. pp. 49-77. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332001000100004>. Acesso em: 21 de setembro de 2015. p. 24.

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