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4. A ATUAÇÃO DAS DEPUTADAS

4.1. Análise da pesquisa

A relevância da pesquisa repousa no fato de que os dados colhidos possibilitam conclusões em relação à participação das mulheres na Câmara dos Deputados brasileira durante a 54ª Legislatura. A pesquisa reuniu as comissões de que as Deputadas fizeram parte bem como os temas dos projetos apresentados por elas no período.

Vale destacar que, conforme mencionado anteriormente, a participação dos parlamentares nas comissões depende de fatores diversos e não é exclusivamente uma questão de afinidade do parlamentar com o tema discutido na comissão. Desse modo, optou-se por incluir na pesquisa as comissões de que as Deputadas fizeram parte com o intuito de que os dados integrem o panorama geral da atuação feminina na Câmara, sem desconsiderar o fato de que as comissões podem não oferecer indícios concretos da preferência da Deputada pelo tema em questão.

Em relação aos projetos, por sua vez, as tendências das Deputadas podem ser analisadas com mais clareza, uma vez que não existem vagas a serem preenchidas proporcionalmente pelos partidos, como é o caso das comissões. Não se pode, do mesmo modo, desconsiderar os fatores políticos que levam os parlamentares a propor projetos relativos a determinados temas. Entretanto, a pesquisa do presente trabalho propõe-se a sistematizar a produção legislativa das Deputadas Federais como um meio de compreender de que modo as mulheres têm atuado na política institucional.

O primeiro questionamento teórico realizado foi acerca do confinamento ou não das mulheres em áreas de atuação “tipicamente” femininas, como as relacionadas à filantropia e caridade. Assim, através da classificação dos projetos e comissões em grupos (soft, middle, hard,137

irrelevantes e igualdade de gênero), é possível concluir se as mulheres restringiram a atuação política a áreas específicas. Ao analisar-se o panorama geral dos temas

137A classificação dos projetos e comissões segue o modelo criado por Luis Felipe Miguel e Fernanda Feitosa, e

publicado no artigo O gênero do discurso parlamentar: homens e mulheres na tribuna da Câmara dos Deputados (In: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1, p. 201-221, 2009).

majoritariamente presentes na atuação das Deputadas será possível concluir se persiste o estereótipo de que as mulheres não atuam em áreas politicamente relevantes, permanecendo como coadjuvantes, ou se, por outro lado, as mulheres têm estendido sua atuação a áreas “tipicamente” masculinas, como política fiscal, relações internacionais e segurança pública.

O segundo questionamento a ser respondido através dos dados obtidos está relacionado à produção legislativa das mulheres especificamente em relação à igualdade de gênero. Não se pretende, com a presente pesquisa, presumir que as mulheres naturalmente defenderiam interesses femininos ou que sejam mais afeitas à igualdade de gênero do que os homens. A pesquisa propõe-se, justamente, a reunir elementos que possam oferecer um quadro acerca da atuação das mulheres e verificar se existe uma inclinação das Deputadas a elaborar projetos relativos à condição feminina e à igualdade, de modo a diminuir a distância entre as oportunidades conferidas aos homens e aquelas conferidas às mulheres. O panorama apresentado será um indicativo acerca da tendência das mulheres em relação ao tema.

A coleta de dados acerca da produção legislativa das Deputadas encontra-se descrita nas Tabelas 1 e 3. Trata-se da organização da produção das mulheres que ocuparam assentos na Câmara dos Deputados como titulares, no período correspondente à 54ª Legislatura. A Tabela 1 indica o número de comissões de que as Deputadas faziam parte no término de seus mandatos, tanto como titulares quanto como suplentes, classificadas de acordo com o tema principal. No mesmo quadro, encontram-se tabelados os projetos apresentados por cada Deputada, classificados de acordo com o principal assunto.

A Tabela 3, por sua vez, apresenta os dados colhidos através da pesquisa na forma de porcentagens. Com a exposição, é possível verificar a tendência de cada Deputada em relação às áreas classificatórias do presente trabalho (hard, soft, middle, irrelevante e igualdade de gênero138).

A Tabela 2 apresenta ordenadamente as Deputadas, seus respectivos partidos e informa se a Deputada apresentou ou não algum projeto relativo à igualdade de gênero. A Tabela 4, por sua vez, considerando a importância da pertença partidária na política brasileira,

138 Destaca-se que os critérios utilizados foram apresentados por Luis Felipe Miguel e Fernanda Feitosa, e

publicados no artigo O gênero do discurso parlamentar: homens e mulheres na tribuna da Câmara dos Deputados (In: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1, p. 201-221, 2009). Ressalta-se que no trabalho original dos autores mencionados não foi utilizado o critério “igualdade de gênero”, aqui incluído por constituir, justamente, o foco da presente pesquisa.

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retratou, dentre os partidos que possuíam Deputadas Federais titulares na 54ª Legislatura, quais deles apresentaram, por meio delas, projetos relativos à igualdade de gênero.

No Brasil, os partidos políticos têm grande influência na atuação de seus parlamentares, não sendo razoável supor que é possível sustentar um mandato sem o apoio partidário. Desse modo, mostra-se de grande relevância a análise apresentada na Tabela 4, que indica quais partidos patrocinaram projetos relativos à igualdade de gênero apresentados por mulheres.

Acerca da influência partidária na política brasileira pode-se destacar o fenômeno chamado de presidencialismo de coalizão, apresentado por Argelina Cheibud Figueiredo e Fernando Limongi, na obra Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional.139 De acordo com o estudo apresentado, os trabalhos legislativos no Brasil são altamente centralizados e encontram-se ancorados na ação dos partidos, impedindo que parlamentares atuem de modo a perseguir interesses particularistas.140 Afinal, a própria obtenção de recursos depende do voto disciplinado, de acordo com as orientações partidárias.

O alcance do referido fenômeno ultrapassa a relação parlamentar/partido e rege toda a política institucional, definindo inclusive as relações entre os Poderes Executivo e Legislativo. Atualmente, é necessária, portanto, de acordo com a estrutura política brasileira, a formação de alianças e coalizões para que seja possível governar.

Pode-se afirmar, além disso, que os líderes partidários controlam o fluxo dos trabalhos parlamentares em razão de diversas prerrogativas regimentais. Desse modo, é imprescindível que se considere a relevância dos partidos políticos a que pertencem as parlamentares ao analisar-se a produção legislativa das Deputadas Federais, uma vez que dificilmente um projeto será apresentado sem o apoio do partido.

Considerando, portanto, a morfologia da política institucional brasileira e as limitações que, de certo modo, engessam a atuação individual dos parlamentares, a pesquisa pretende apresentar o que foi efetivamente produzido pelas Deputadas Federais da 54ª Legislatura.

139 FIGUEIREDO, Argelina Cheibud; LIMONGI, Fernando. Executivo e Legislativo na nova ordem

constitucional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001. p.19.

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