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CAPÍTULO 2 – AS PONTES METÁLICAS EM PORTUGAL

2.1 A C ONSTRUÇÃO DE P ONTES M ETÁLICAS EM P ORTUGAL

As pontes metálicas em Portugal começaram a ser construídas em meados do século XIX.

A primeira de muitas obras construídas foi a Ponte Pênsil sobre o rio Douro, oficialmente denominada Ponte D. Maria II, com um comprimento de 170m, cuja inauguração data de 1843.

Esta ponte veio estabelecer uma nova ligação entre o Porto e Vila Nova de Gaia, após o desastre da Ponte das Barcas em 1809, no qual a ponte ruiu devido ao peso causado pela população em pânico em fuga das tropas da segunda invasão francesa (Figura 2.1 e Figura 2.2).

Figura 2.1 – Ponte das Barcas sobre o rio Douro (código: 13) [3]

Figura 2.2 – Desastre na Ponte das Barcas sobre o rio Douro (código: F.NP.CMP.7:2276) [3]

A Ponte Pênsil tinha um comprimento de 170 m com 6 m de largura e era suportada por 8 cabos (4 de cada lado) constituídos por fios de ferro, que agarravam a pilares de cantaria de 18 metros de altura (Figura 2.3). Esta ponte foi desmontada em 1887 após a inauguração da Ponte D. Luís (Figura 2.4), restando atualmente apenas os pilares e as ruínas da casa da guarda militar que assegurava a cobrança de portagens para a sua travessia.

Figura 2.3 – Ponte Pênsil sobre o rio Douro (código: 35) [3] Figura 2.4 – Ponte Pênsil e Ponte D. Luís (código: F.C:CMP:10:84.13) [3]

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Para além desta ponte suspensa, foram construídas ainda mais duas, a Ponte Pênsil de Leça do Bailio e a Ponte Pênsil da Trofa ou Ponte da Barca da Trofa sobre o rio Ave (Figura 2.5), inauguradas respetivamente em 1846 e 1858, em ferro e madeira. A Ponte Pênsil da Trofa foi demolida em 1935 por não reunir as condições de segurança necessárias.

Figura 2.5 – Ponte Pênsil da Trofa - Pintura a óleo de Alcino Costa

No início do século XIX havia uma forte tendência da engenharia europeia em conceber estruturas em arco, herdeiras das velhas pontes de pedra.

Deste tipo de construção, apenas se conhece em Portugal um viaduto ferroviário construído em 1854 – o viaduto ferroviário sobre a Rua de Xabregas em Lisboa com um vão de 15,60 m. Este viaduto era constituído por 6 arcos abatidos e paralelos, solidarizados transversalmente por tirantes envolvidos em tubos de ferro fundido. As vigas em arco deste viaduto foram substituídas em 1954 por vigas retas de forma a possibilitar a circulação de dois elétricos em simultâneo.

Figura 2.6 – Viaduto de Xabregas (1938) – (código: PT/AMLSB/EDP/001466) [4]

Figura 2.7 – Viaduto de Xabregas (1968) – (código: PT/AMLSB/ARM/S02880) [4]

Surge então na segunda metade do século XIX uma nova era na construção de pontes metálicas no país em pontes de vigas em treliça. O primeiro grande exemplo é a Ponte Ferroviária da Praia do Ribatejo inaugurada em 1862 e substituída após uma grande cheia. A atual ponte, que a veio substituir, foi inaugurada em 1889 e tem um comprimento total de 501,5 m, repartidos por nove tramos (Figura 2.8). Em 1959, devido ao mau estado da estrutura, foi construída uma nova ponte ferroviária ao lado da existente, assente nos mesmos pilares. A ponte ferroviária abandonada foi adaptada para tráfego rodoviário, tendo sido inaugurada em 1988 (Figura 2.9).

Capítulo 2 – As Pontes Metálicas em Portugal

Figura 2.8 – Ponte Ferroviária da Praia do Ribatejo (1889) – Planta do rio Tejo de Manuel J. Júlio Guerra

Figura 2.9 – Ponte Rodoviária e Ferroviária da Praia do Ribatejo (1988) [5]

Entre 1870 e 1880 foram construídas em Portugal várias pontes de tramos retos em treliça inferior. Referem-se, entre outras, a Ponte de Abrantes sobre o rio Tejo inaugurada em 1870 com 368 m de comprimento (Figura 2.10), a Ponte de Benavente sobre o rio Sorraia construída em 1875 com 42,6 m de comprimento de tabuleiro metálico (Figura 2.11), a Ponte de Portimão sobre o rio Arade inaugurada em 1876 com 332 m de comprimento (Figura 2.12), a Ponte de Freiria sobre o rio Maior inaugurada em 1876 e 42,7 m de vão (Figura 2.13), a Ponte do Barbancho sobre a ribeira das Alcobertas aberta à circulação em 1878 e 30 m de vão (Figura 2.14) e a Ponte D. Luís sobre o rio Tejo inaugurada em 1881 e 1195 m de comprimento total (Figura 2.15).

Figura 2.10 – Ponte de Abrantes sobre o rio Tejo [5] Figura 2.11 – Ponte de Benavente sobre o rio Sorraia [5]

Figura 2.12 – Ponte de Portimão sobre o rio Arade [5]

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Figura 2.14 – Ponte do Barbancho sobre a ribeira das Alcobertas [5]

Figura 2.15 – Ponte D. Luís sobre o rio Tejo [5]

Neste período construíram-se ainda pontes com recurso ao sistema estrutural “Bowstring” (vigas com o banzo inferior reto e o banzo superior parabólico) de que são exemplo a Ponte da Régua sobre o rio Douro concluída em 1872 com 290,4 m de comprimento de tabuleiro metálico (Figura 2.16), a Ponte da Portela sobre o rio Mondego concluída em 1873 com 197,98 m de comprimento de tabuleiro metálico (Figura 2.17) e a Ponte Ferroviária sobre o rio Ave na linha do Caminho de Ferro do Minho colocada em serviço em 1875, que foi posteriormente substituída em 1937 por outra em vigas em treliça Warren e que ainda se encontra ativa.

Figura 2.16 – Ponte da Régua sobre o rio Douro [5] Figura 2.17 – Ponte da Portela sobre o rio Mondego [5]

Foi ainda neste período que o ferro fundido foi substituído por aço laminado, tornando possível a execução de pontes de arcos articulados. Este tipo de pontes veio permitir a transposição de vales de grandes profundidades sem necessidade de recurso a pilares intermédios. São exemplos de referência a Ponte D. Maria Pia e a Ponte Luís I sobre o rio Douro no Porto.

A Ponte D. Maria Pia de Gustave Eiffel foi inaugurada em 1877 com o objetivo de dar continuidade à Linha Férrea do Norte com uma extensão total de 354 m (Figura 2.18 e Figura 2.19). Esta ponte foi desativada em 1991 com a entrada em serviço da Ponte de S. João.

Capítulo 2 – As Pontes Metálicas em Portugal

Figura 2.18 – Construção da Ponte D. Maria Pia sobre o rio Douro (código: D.PST:2090(8)) [3]

Figura 2.19 – Ponte D. Maria Pia sobre o rio Douro (código D.PST:809) [3]

A Ponte Luís I de Théophile Seyring, pupilo de Gustave Eiffel, tem um comprimento total de 395 m, correspondente ao comprimento do tabuleiro superior. O tabuleiro inferior tem um comprimento de 172 m. O tabuleiro superior foi aberto à circulação rodoviária em 1886 e o tabuleiro inferior foi aberto posteriormente em 1888 destinando-se a substituir a Ponte D. Maria II que já não se adequava ao crescente tráfego entre as duas margens do rio (Figura 2.20 e Figura 2.21).

Figura 2.20 – Construção da Ponte Luís I sobre o rio Douro (código: 543) [3]

Figura 2.21 – Ponte Luís I sobre o rio Douro (código: F.P:CMP:11:60) [3]

No final do século XIX surgiram ainda as pontes metálicas rodo/ferroviárias com dois tabuleiros sobrepostos estruturalmente constituídas por duas vigas retas e contínuas. São verdadeiros exemplos deste tipo de pontes a Ponte de Viana do Castelo sobre o rio Lima da Casa Eiffel inaugurada em 1878 e com 563 m de comprimento de tabuleiro metálico (Figura 2.22 e Figura 2.23), a Ponte Internacional de Valença do Minho sobre o rio Minho inaugurada em 1886 com 318 m de comprimento (Figura 2.24 e Figura 2.25) e a Ponte do Pocinho sobre o rio Douro inaugurada em 1909, já do início do século XX, com 262 m de comprimento total (Figura 2.26 e Figura 2.27). Esta última encontra-se fora de serviço desde 1988, data em que a Linha do Sabor encerrou à exploração.

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Figura 2.22 – Ponte de Viana do Castelo sobre o rio Lima (código: D.PST:2088(4)) [3]

Figura 2.23 – Ponte de Viana do Castelo sobre o rio Lima (código: D.PST:2088(5)) [3]

Figura 2.24 – Ponte Internacional de Valença do Minho sobre o rio Minho [5]

Figura 2.25 – Interior da Ponte Internacional de Valença do Minho sobre o rio Minho

Figura 2.26 – Ponte do Pocinho sobre o rio Douro [5] Figura 2.27 – Interior da Ponte do Pocinho sobre o rio Douro

Capítulo 2 – As Pontes Metálicas em Portugal Até 1927 verificou-se em Portugal a construção de inúmeras pontes metálicas sendo predominantes as pontes de vigas metálicas retas apoiadas em pilares de pedra, destinadas a vencer pequenos e médios vãos.

Entre 1929 e 1936, após a criação da antiga JAE (Junta Autónoma de Estradas), é nítido o início do abandono da construção metálica. As pontes metálicas eram regra geral, mais vantajosas no custo de construção, mas tornavam-se mais dispendiosas na sua conservação. Neste período foi concluída a construção das cinco pontes sobre o rio Sorraia, com vãos de 40 m (Ponte General Teófilo da Trindade (Figura 2.28), Ponte do Tijolo (Figura 2.29), Ponte do Pau (Figura 2.30), Ponte da Corroa (Figura 2.31) e Ponte sobre o Sorraia Velho (Figura 2.32)), da Ponte da Raposa (Figura 2.33) – todas do mesmo tipo e no distrito de Santarém - da Ponte das Enguias (Figura 2.34) e da Ponte de Santa Margarida do Sado (Figura 2.35), do distrito de Setúbal.

Figura 2.28 – Ponte General Teófilo da Trindade sobre o rio Sorraia [5]

Figura 2.29 – Ponte do Tijolo sobre o rio Sorraia

Figura 2.30 – Ponte do Pau sobre o rio Sorraia Figura 2.31 – Ponte da Coroa sobre o rio Sorraia

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Figura 2.34 – Ponte das Enguias sobre a ribeira das Enguias [5]

Figura 2.35 – Ponte de Santa Margarida do Sado sobre o rio Sado [5]

Nas novas pontes construídas neste período, recorreu-se quase sempre ao betão armado por passar a ser um material fornecido nacionalmente, sem necessidade de mão-de-obra especializada, pela rapidez de execução, pela facilidade de conservação e ainda por nalguns casos ser mais económico do que as soluções metálicas correspondentes.

Grande parte das pequenas obras metálicas existentes, que necessitavam de conservação mais profunda, foi substituída por obras em betão armado.

Entre 1936 e 1947 foram construídas algumas pontes metálicas com o material proveniente das pontes de caminho-de-ferro desativadas ou por construir, sendo disso exemplos a Ponte de Odemira sobre o rio Mira (Figura 2.36), a Ponte de Alcácer do Sal sobre o rio Sado (Figura 2.37), a Ponte de Vascão sobre a ribeira de Vascão (Figura 2.38), a Passagem Superior de Canha e a Ponte de Muge sobre a ribeira de Muge (Figura 2.39).

Figura 2.36 – Ponte de Odemira sobre o rio Mira [5] Figura 2.37 – Ponte de Alcácer do Sal sobre o rio Sado [5]

Figura 2.38 – Ponte de Vascão sobre a ribeira de Vascão [5]

Figura 2.39 – Ponte de Muge sobre a ribeira de Muge [5]

Capítulo 2 – As Pontes Metálicas em Portugal Até 1966 foram construídas mais algumas obras, mas as obras emblemáticas são a Ponte Marechal Carmona sobre o rio Tejo, em Vila Franca de Xira inaugurada em 1951 (Figura 2.40) e a ponte sobre o rio Tejo em Lisboa, atualmente denominada Ponte 25 de Abril, inaugurada em 1966 (Figura 2.41).

Figura 2.40 – Ponte Marechal Carmona sobre o rio Tejo [5]

Figura 2.41 – Construção da Ponte 25 de Abril sobre o rio Tejo [5]

As pontes metálicas permanecem até aos dias de hoje, tendo sido grande parte reabilitadas e/ ou reforçadas de forma a poderem continuar a desempenhar as suas funções, com garantias de segurança. Outras foram simplesmente substituídas por outro tipo de estruturas, habitualmente em betão armado, uma vez que a sua reabilitação não era viável quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista económico. Houve ainda casos em que as pontes ferroviárias desativadas foram adaptadas ao tráfego rodoviário.

A história das pontes metálicas em Portugal iniciou-se em 1843 com a construção de uma ponte suspensa sobre o rio Douro no Porto e mais de um século depois tem o seu apogeu com a construção de uma nova ponte suspensa sobre o rio Tejo em Lisboa em 1966.

Até aos nossos dias outras pontes foram construídas em Portugal com recurso ao aço. Destas destaca-se a Ponte da Figueira da Foz projetada pelo Prof. Edgar Cardoso, cuja construção veio substituir uma antiga ponte metálica de 1907, denominada por Ponte sobre o braço norte do rio Mondego na Figueira da Foz (Figura 2.42). Esta ponte do Prof. Edgar Cardoso foi concluída em 1982 e foi a primeira ponte de tirantes executada em Portugal. É constituída por um tabuleiro em estrutura metálica e tem um comprimento total de 405 m (Figura 2.43).

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Figura 2.42 – Antiga Ponte sobre o braço norte do rio Mondego na Figueira da Foz [5]

Figura 2.43 – Ponte da Figueira da Foz projetada pelo Prof. Edgar Cardoso

No entanto a evolução no cálculo automático permitiu avançar de uma simples construção metálica para uma construção mista aço-betão. Com esta nova técnica construtiva os dois materiais, que habitualmente integram diferentes elementos, passam a funcionar em conjunto contribuindo para o aumento da resistência da estrutura.

Estas soluções apresentam uma grande simplicidade construtiva aliada a uma rapidez de execução, o que lhes confere novamente competitividade em relação às soluções de betão armado pré- esforçado para vãos entre 40 a 65 m.

A conceção e construção de pontes metálicas sofreu uma grande evolução neste período de dois séculos e continuará essa grande evolução face às necessidades de novos desafios estruturais ou mesmo criativos.